domingo, dezembro 21, 2003

O NATAL DOS CEMITÉRIOS

Antigamente havia "um Natal dos Hospitais". Não deixava de ser um acontecimento televisivo. Talvez só houvesse um, porque também só havia uma televisão. Agora há vários, porque há várias televisões. E também há a TVI. Que não é uma televisão, nem pretende ser, mas, só de natais dos hospitais já vai pr'aí em três - deve ser "o natal dos hospitais", o "natal das clínicas", o "natal das maternidades" e, até ao dia de Natal propriamente dito, ainda devem emitir o "natal dos asilos", o "natal das ambulâncias" e o "natal dos desastres" (que consistirá em fazerem um espectáculo de cantorias numa qualquer auto-estrada). Para além disto, também já existe o "natal das prisões", o que é justo porque há muito de semelhante entre uma prisão e um hospital.
E para que é que servem os natais nos hospitais, nas prisões, asilos e etc? Para além do essencial -promoção nacional da música pimpa das editoras pimba e das televisões pimba - há também o acessório que passa por essencial, ou seja, o apoio solidário a todos aqueles que, por infortúnios diversos, se encontram acamados, internados, em suma, separados inapelavelmente dos seus entes queridos durante a quadra natalícia. Enfim, caridadesinha melodiosa com o seu quê de sadismo (para aquela minoria de pessoas de bom gosto que seja apanhada sem se poder defender - tipo aquele acidentado todo engessado e entubado que é levado de maca, directo da sala de operações para a plateia, pela senhora enfermeira ansiosa dum autógrafo do Marco Paulo.)
Pois, tudo isto está muito bem. Mas já que falamos em internamentos, ao menos sejam coerentes e consequentes e lembrem-se daqueles que, mais que a um internamento temporário, se vêem sujeitos a um internamento perpétuo e compulsivo. É isso mesmo: deixo aqui um apelo sentido à TVI, para que corra a cobrir esta lacuna e organize urgentemente um... "Natal dos Cemitérios"!

É que aí, ao menos, nenhuma das vítimas se vai baldar!...

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