Antigamente havia "um Natal dos Hospitais". Não deixava de ser um acontecimento televisivo. Talvez só houvesse um, porque também só havia uma televisão. Agora há vários, porque há várias televisões. E também há a TVI. Que não é uma televisão, nem pretende ser, mas, só de natais dos hospitais já vai pr'aí em três - deve ser "o natal dos hospitais", o "natal das clínicas", o "natal das maternidades" e, até ao dia de Natal propriamente dito, ainda devem emitir o "natal dos asilos", o "natal das ambulâncias" e o "natal dos desastres" (que consistirá em fazerem um espectáculo de cantorias numa qualquer auto-estrada). Para além disto, também já existe o "natal das prisões", o que é justo porque há muito de semelhante entre uma prisão e um hospital.
E para que é que servem os natais nos hospitais, nas prisões, asilos e etc? Para além do essencial -promoção nacional da música pimpa das editoras pimba e das televisões pimba - há também o acessório que passa por essencial, ou seja, o apoio solidário a todos aqueles que, por infortúnios diversos, se encontram acamados, internados, em suma, separados inapelavelmente dos seus entes queridos durante a quadra natalícia. Enfim, caridadesinha melodiosa com o seu quê de sadismo (para aquela minoria de pessoas de bom gosto que seja apanhada sem se poder defender - tipo aquele acidentado todo engessado e entubado que é levado de maca, directo da sala de operações para a plateia, pela senhora enfermeira ansiosa dum autógrafo do Marco Paulo.)
Pois, tudo isto está muito bem. Mas já que falamos em internamentos, ao menos sejam coerentes e consequentes e lembrem-se daqueles que, mais que a um internamento temporário, se vêem sujeitos a um internamento perpétuo e compulsivo. É isso mesmo: deixo aqui um apelo sentido à TVI, para que corra a cobrir esta lacuna e organize urgentemente um... "Natal dos Cemitérios"!
É que aí, ao menos, nenhuma das vítimas se vai baldar!...
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