terça-feira, fevereiro 20, 2024

Pepsoxident, o dentífrico da consciência





«Aprovação de Putin na Rússia é de 81%»

Mas fora da Rússia, no Oxidente, é mínima e só não é declarada abaixo de zero porque a manipulação daria demasiado nas vistas. E isso é que conta. Assim, é superlativamente imperdoável e gritantemente inadmissível que a Rússia persista num governo não escolhido pelo Oxidente. Que diabo, é nisso que consiste a democracia e o estado de direito na Terra: o Oxidente, que é sábio, clarividente, racional, sagrado, amigo do ambiente, das minorias, dos migrantes e dos animais vítimas de violação, bem como auto-delegado tutor da humanidade, micróbios e pinguins, elege - prévia e convenientemente - os governantes (pessoas decentes, abnegadas e recomendáveis todas elas). Pretender que sejam as populações autóctones a escolher os governantes que as dirigem é uma forma, vil, torpe e suja, de populismo. Esse vício repugnante e intolerável em países civilizados e evoluídos, vade retro!...

Na União Europeia, por exemplo, a popularidade dos governantes junto dos governados é péssima. Mas isso apenas certifica da sua excelência. Já que ao nível do Oxidente, a sua aprovação é máxima e com distinção. Os eleitores devem compenetrar-se que devem depor a cruzeta nos candidados que o oxidente, prévia e solenemente, teve o cuidado de lhes escolher. Populações renitentes, relapsas ou cépticas deste - higienizado e soberano - processo apenas merecem ser devidamente punidas e flageladas por sanções, bloqueios, sabotagens e pelourinhamento global. Sim, e bombardeamentos, caso refilem. Já os governantes escolhidos pelo Oxidente, é melhor que entendam duma vez por todas, não estão lá para agradarem aos governados, mas, isso sim, exercerem uma curadoria em nome do Oxidente. É natural que doa, é natural que arda, é natural que cause sofrimento: o que arde cura.

Em que consista o Oxidente é assunto cabeludo. Basicamente, é uma forma de ruído - um alarido (ou enchido) mediático - que faz as vezes de "consciência planetária". Tudo muito protestante e bem desinfectadinho, como manda a transdicção.

2 comentários:

Vivendi disse...

Na Europa do Oxidente, vota-se para tudo e para nada, menos para a eleição de Presidente da Comissão Europeia, o único cargo que realmente conta e que nos levou ao Estado a que isto chegou.



Anónimo disse...

“Na União Europeia, por exemplo, a popularidade dos governantes junto dos governados é péssima“
Nada mais natural. Então afinal isso não é o Graal da ditadura? O povo subjugado à vontade do núcleo ditatorial?
Assim versou Antero de Quental Justitia mater:
“Nas florestas solenes há o culto
Da eterna, íntima força primitiva:
Na serra, o grito audaz da alma cativa,
Do coração, em seu combate inulto:

No espaço constelado passa o vulto
Do inominado Alguém, que os sóis aviva:
No mar ouve-se a voz grave e aflitiva
D'um deus que luta, poderoso e inculto.

Mas nas negras cidades, onde solta
Se ergue, de sangue medida, a revolta,
Como incêndio que um vento bravo atiça,

Há mais alta missão, mais alta glória:
O combater, à grande luz da história,
Os combates eternos da Justiça!”
Anónimo da Poesia