domingo, fevereiro 25, 2024

Anabismotomia da Revolução - 8. Proto-revolução ou Cripto-restauração




 «Apoiada por e constantemente apelando para os semiletrados, a revolução social em Münster era decididamente anti-intelectual. Os anabaptistas faziam alarde da sua ignorância dos livros e declaravam que eram os iletrados que tinham sido escolhidos por Deus para redimir o mundo. Quando saquearam a catedral fizeram gala em manchar, rasgar e queimar os livros e manuscritos da sua velha biblioteca. Finalmente, em meados de Março, Matthys baniu todos os livros com excepção da bíblia. Todas as outras obras, mesmo em posse privada, deviam ser levadas para a catedral e lançadas a uma grande fogueira. Este acto simbolizava um corte total com o passado, sobretudo uma completa rejeição do legado intelectual das gerações precedentes. Em particular, privou os habitantes de Münster de todo o acesso a especulações teológicas a partir de Padres, assegurando assim para os chefes anabaptistas o monopólio da interpretação bíblica.»

  - Norman Cohn, "Na Senda do Milénio".


Münster, Vestfália. Fevereiro de 1534.

Os Anabaptistas instalam-se na cidade. Uma seita protestante animada por singulares intuitos milenaristas. O seu primeiro grande profeta é Jan Mattys, um alucinado holandês com ideias muito claras e concretas acerca da salvação. Apregoa ter-lhe sido revelado que urge pegar na espada e, desferindo-a solenemente sobre os ímpios, abrir passagem ao Milénio.  No seguimento de outras jornadas igualmente sanguinárias, como a de Tomás Müntzer, entretanto executado, os anabaptistas de Münster desencadeiam a violência e a matança como método redentor. Anima-os não apenas o espírito de seita iluminada e incendiária, mas igualmente um ímpeto militante: não se ficam pela visão religiosa; têm também um projecto político, que coincide com um empreendimento social e económico. Trata-se dum apressamento do futuro através dum regresso mirabolante ao passado: Münster é a Nova-Jerusalém. Tal qual os anabaptistas de Matthys protagonizam a nova-tribo delegada do Deus severo, zeloso e vingativo do Antigo Testamento. É o Ihavé tempestuoso, surripiado ao panteão Assírio, que os inspira. Assim, este anabatismo opera algures num limbo desvairado, entre o cristianismo e o judaísmo: negação radical do primeiro que, por natureza intrínseca, não acede, exasperadamente, ao segundo. Cristãos do avesso e judeus de imitação, em resumo.

As peripécias do acontecimento são conhecidas. Principia pelo ataque e destruição de igrejas e mosteiros, com a brutalização inerente do clero católico. Passam depois aos luteranos, demasiado moderados e coniventes com as autoridades (o bispo-príncipe da cidade) para o gosto refinado dos novos tradutores do Apocalipse. Após uma depuração sistemática, em que, só os anabaptistas restam, reinam  e determinam as leis na urbe, passa-se então à fase da "Nova-Jerusalém", fenómeno que ainda vai durar cerca de um ano. Vou tentar ser sucinto e seguir uma ordem cronológica:
- Criam milícias armadas, para defesa do empreendimento; todos, homens, mulheres e crianças são chamados ao serviço; fortificam e cavam trincheiras á volta da cidade (até porque o bispo não ficara inactivo e organizara uma expedição punitiva e restauradora da ordem);
- Confisco de toda a propriedade dos emigrantes (todos aqueles que tinham fugido, católicos e luteranos de algumas posses);
- Toda a documentação relativa a dívidas, contabilidade ou contratos foi destruída;
- Todas os bens - roupas, nobiliário, ferramentas, armas e produtos alimentares foram confiscados e depositados num armazém central (para controle e distribuição supervisionada pelos necessitados);
- Matthys, ele próprio estrangeiro, rodeou-se de uma guarda pessoal também constituída por alógenos; nomeou também sete diáconos (da mesma categoria) para administrarem o armazém central;
- Logo a 27 de Fevereiro, sob uma tempestade de neve, todos os hereges (católicos e luteranos) foram expulsos da cidade, crivados de murros, pontapés e injúrias pelos anabaptistas. "Fora, hereges, e não voltem mais, inimigos do Pai!"  No geral, constituíam a camada mais próspera da população. Toda a que restou adentro de portas, teve que aderir ao novo credo. Procedeu-se ao rebaptismo geral (anabaptismo significa isso mesmo: baptizado de novo), que durou três dias; doravante, qualquer discordância com a doutrina obrigatória, proferida pelo profeta residente, seria considerada heresia;
- Quando um ferreiro colocou em dúvida a excelência destas medidas, Matthys, pessoalmente, apunhalou-o e abateu-o a tiro, no seguimento duma arenga em que proclamava o "Pai" ultrajado pelas calúnias ao seu profeta.  Iniciou-se então o terror que presidiu à instauração do comunismo na Nova-Jerusalém;
- A campanha contra a propriedade e o dinheiro desencadeou-se; decretou-se a entrega obrigatória do dinheiro ao "armazém central" como prova de cristandade. Quem não a respeitou foi declarados prontos para o extermínio. Procederam-se a algumas execuções moralizantes:
- O dinheiro confiscado passou a servir apenas para trocas e negócios com o exterior; todo o trabalho e actividade interna eram pagos através de víveres, segundo o critério do governo teocrático;
- A propriedade comum dos produtos (e depois das próprias habitações) tornou-se imperativa. Estabeleceram-se refeitórios comunais. Cada diácono zelava pelo abastecimento e pela propaganda (o Antigo Testamento, em força). Para o efeito, percorria as casas privadas requisitando consoante as necessidades. Quando foi preciso instalar as multidões de imigrantes, que entretanto tinham acorrido atraídos pelo novo "regime", começaram por instalá-los nas antigas casas dos emigrados e expulsos a 27 de Fevereiro, bem como nos antigos mosteiros. Todavia, insuficientes, foi então declarada pecaminosa a posse privada e exclusiva de alojamento,  obrigando-se a que as portas de todas as casas tivessem que estar abertas dia e noite e o espaço disponível a toda a comunidade;
- Instalada uma ditadura absoluta, de contornos singularmente alucinados, Matthys inflou-se daquela soberba própria dos possessos e sentiu-se replecto de poderes sobrenaturais e concessões inauditas do Além. Tratou, então, de agir em conformidade, lançando-se numa surtida exterminadora contra as tropas sitiantes (do bispo). Aconteceu, porém, um episódio adicional numa tendência atávica: a guerra à realidade não correu lá muito bem para os paladinos. O profeta e os seus sequazes foram literalmente feitos em postas. Sucedeu ao martirizado profeta, o seu vice na empresa, um tal Bockelson;
- Bockelson juntava à condição herdada de profeta os dotes próprios  de superlativo demagogo e propagandista; a sua capacidade de antena para revelações frequentes também se manifestou em barda; o alucinado esquálido e austero dava lugar ao presidente do conselho de administração místico, e venal;
- O seu primeiro acto oficial foi altamente simbólico: deambulou nu pela cidade, em frenesim, até que se quedou numa espécie de êxtase mudo, durante três dias; quando regressou dessa viagem mental, proclamou a primeira das suas grandes revelações: Deus (o pai, claro) incumbira-o de substituir o foral mundano por um divino, ou seja, demitir o Burgomestres e o conselho e instalar, segundo o modelo da antiga Israel, ele próprio, Bockelson e doze Anciãos.  este novo governo passava a ter autoridade em todas as matérias e poder de vida ou de morte sobre todos os habitantes:
- Lavrou um novo código legal. Aprofundava-se a socialização e uma severa moral puritana. Todos os artesão não convocados para o serviço militar, passavam a ser funcionários públicos, trabalhando para a comunidade sem benefício monetário.  Qualquer delito passava a ser objecto de pena única: a pena de morte. Um anabaptista que casasse com um ímpio? Horror! pena capital!;
- Na urbe, entretanto, surgiu um problema; havia três vezes mais mulheres que homens. Bockelson era também um pragmático, ou lúbrico (como preferirem): entendeu romper com a moral anabaptista recente em nome duma mais antiga... Como já devem ter adivinhado, a dos profetas de Israel. A poligamia que eles, tão virtuosamente, tinham praticado era a mais recomendável para a Nova-Jerusalém;
- A medida revolucionária (e simultaneamente restauradora) não foi inicialmente muito bem aceite. Houve resistência do rebanho. Chegou-se mesmo a uma rebelião que conduziu o novo profeta e a sua polícia dos costumes à prisão. Todavia, os rebeldes eram minoritários pelo que acabaram derrotados e numa boa quantidade condenados à morte. Alguns outros críticos, nos dias subsequentes, também conheceram o mesmo desenlace. Finalmente, em Agosto, a poligamia estava plenamente instaurada, de jure e de facto;
- Bockelson, que deixara esposa na Holanda, encetou então uma série conúbios, começando pela viúva do anterior profeta residente e ascendendo à bela quantia de quinze esposas em pouco tempo. O séquito de pregadores e a população masculina em geral trataram de seguir o soberano exemplo. Fez-se uma lei que obrigava todas as mulheres a aderirem ao matrimónio (e ao subsequente harém) quer quisessem, quer não. Qualquer conflito, recusa ou protesto por parte das senhoras era classificado de pecado mortal e sujeito a pena de morte;
- Mas como um paranóico nunca vem só... No princípio de Setembro, eis que um novo profeta, um tal Dusentschur, aceso em súbita revelacinha, irrompe com nova anunciação:  Bockelson estava destinado a "rei de todo o mundo", dominando sobre todos os potentados da terra. Herdaria o ceptro e o trono do seu antepassado David e governaria até que Deus entendesse. Acto contínuo, o novo profeta ungiu e proclamou Bockelson como Rei  e, inerentemente, messias vivo. Estava assim instaurada a monarquia na Nova-Jerusalém;
- O rebanho murmurou e resmungou, mas o novo rei celestino sobrepujava-o com um festival de novas medidas munificentes: as ruas e as portas da cidade receberam novos nomes; abolição dos domingos e dias festivos, passando os dias da semana a ser designados por ordem alfabética; também os nomes dos recém-nascidos eram escolhidos pelo monarca de acordo com um critério peculiar; cunhou-se moeda comemorativa - nas moedas de ouro e prata, gravavam-se inscrições de auto-glorificação: "A palavra tornou-se carne e habita em nós"; "Um rei para todos, um Deus, uma Fé e um Baptismo"; chegou-se ao requinte de criar um emblema especial para simbolizar a "pretensão de Bockelson ao domínio espiritual e temporal do mundo";
- O novo rei, como exigia a sua elevada extracção, passou a ostentar toda uma sumptuosidade, de joias, roupas e séquito; floresceu em redor dele uma corte igualmente luxuosa, de cerca  de 2000 abençoados, instalada em mansões confiscadas à catedral;
- Para contrabalançar a riqueza majestosa da corte e da coroa, o rei entendeu por bem impor à massa do povo uma "rigorosa austeridade". Depois de abdicar de ouro e prata, domicílio e dispensa, o povo era agora notificado pelo profeta Dusentschur que o Pai abominava todo o vestuário supérfluo. Seguiu-se o racionamento do vestuário e roupa de cama, com a entrega ao estado do excedente, por ordem do rei e sob pena de morte; três carroças de expropriações têxteis foram distribuídas à turba imigrante, oriundos da Holanda e da Frísia, a maior parte; 
- De modo a garantir a submissão da massa, os pregadores e o próprio rei arengavam toda uma propaganda apocalíptica, com ênfase particular no Milénio, através da qual se disseminava, em doses constantes a esperança e o terror. Firmava-se igualmente um método que nunca mais deixará de assombrar e pairar nas revoluções e suas subsequências mais ou menos democráticas: a manutenção dos espíritos enclausurados e amalgamados num clima de expectativa e, subjacentemente, de diversão e entretenimento. Tudo isto sob um controlo rigoroso e hermético da linguagem;
- As fantasias e volúpias do morticínio vingador abundam: "A glória de todos os santos é saciar a vingança (...) A vingança implacável terá de exercer-se sobre todos os que tiverem o sinal (dos Anabaptistas)»; a matança é indispensável para abrir o caminho ao regresso de Cristo, para o julgamento final e  para a emergência do novo céu e da nova terra, onde os Santos (os anabaptistas) viverão "sem choro nem ranger de dentes"; o profeta Dusentschur desempenha também as funções de funâmbulo mor da corte, transmitindo ao povo todo um circo mental em transbordante e permanente espectáculo, crivando os dias e os espíritos perplexos como renovadas e inauditas visões, geralmente decalcadas de cenas patéticas do Antigo Testamento;
- O terror, entretanto, ampliava-se; a distância entre a corte e o povo aumentava; até porque a corte era quase na sua totalidade constituída por estrangeiros, imigrantes;  Dusentschur, num belo dia, disparatou nova revelação: qualquer afronta à verdade instituída era pecado mortal. Seguiram-se execuções por razões frívolas e anedóticas que me dispenso sequer de enunciar; o rei, entretanto, também confiscou todos os cavalos e transformou a sua guarda pessoal (de estrangeiros) num esquadrão montado;
- Várias peripécias adiante, por alturas de Janeiro, os sitiantes (as tropas do bispo) encetaram uma nova táctica: bloquear completamente os acessos à cidade e conduzi-la à inanição; seguiu-se uma escassez de víveres e abastecimento;
- Em conformidade, o rei mandou revistar as casas e expropriar todos os restos de comida; de modo a abastecer a corte necessitada; as rações distribuídas à população começaram a rarear, até que, por Abril, a fome se instalou na Nova-Jerusalém;
- O rei, compenetrado dos seus deveres messiânicos, agiu com prontidão: com base na sua mais recente revelação, prometeu a salvação geral para a Páscoa; descomparecendo esta à chamada, o rei explicou que se tratava da salvação espiritual, sendo que Deus (o paizinho) estaria em vias de transformar as pedras em pães, de modo a matar a fome ao seu rebanho;  nova contrariedade e desilusão, pelo que o messiânico monarca, actor teatral de origem, recorreu ao espectáculo para entreter a fome. Aqui, vou citar literalmente: "concebeu os mais fantásticos divertimentos para os seus súbditos. Em certa ocasião a população esfomeada foi convocada para três dias de danças, corridas e provas de atletismo; era essa a vontade de Deus. Encenavam-se cenas dramáticas na catedral: uma paródia obscena da Missa, uma peça moralizadora baseada na história do Rico e Lázaro. Mas entretanto a fome prosseguia a sua obra; a morte por inanição tornou-se tão vulgar que os corpos tiveram que ser lançados  em grandes fossas comuns.";
- O que se seguiu, durante as últimas semanas do reinado, foi um terror brutal: o rei, escorado na sua guarda estrangeira, a quem prometeu ducados e condados no futuro milenar ao virar da crise, lançou-se numa repressão sanguinária sobre qualquer oposição ou recalcitrância. Proibiram-se ajuntamentos; qualquer suspeito de fuga ou de auxílio a fuga do reino, era imediatamente decapitado (acumulando o rei com a função de carrasco); o corpo era seguidamente esquartejado e exposto em público, como aviso; o Messias da Nova-Jerusalém completou os últimos dias do seu reinado, assoberbado nos seus deveres de verdugo - diariamente, sucediam-se as degolações e todo o talho subsequente.

Quando, em 24 de Junho, as tropas sitiantes tomaram a cidade, a situação raiava o pesadelo. O que se seguiu foi o massacre dos anabaptistas sobreviventes à batalha. Os principais cabecilhas do empreendimento, com destaque para o rei-messias, foram supliciados e, a terminar, expostos nas gaiolas que ainda hoje estão hasteadas no frontispício da catedral de S. Lambert, em Münster (conforme podem ver na fotografia em epígrafe). Não se pode dizer que tenha sido uma injustiça.

O que importa reter de todo este folhetim, é uma certa fórmula operativa que se tornará guião nas revoluções, revolucinhas e quejandos desarranjos culturais posteriores. A saber,
1. O retrocesso a um delírio tribal exclusivo e devastante impingido como superação de todos os males do presente, bem como antecâmara necessária e catalisador infalível dum paraíso adveniente.  
2. A indiferenciação entre o evangelho e a banha da cobra, a inspiração e a possessão, a religião e a ideologia de conveniência, a igreja e a exploração empresarial, a fé e o saque.
3. O espoliamento sistemático das pessoas, na sua múltipla acepção: dissolução metódica da consciência e da individualidade, numa papa desumanizada e desorientada, submetida ao terror reiterado e à credulidade exacerbada;  redução à miséria económica e moral, a pretexto duma cornucópia de ficção e fantasia que está para chegar;  a expropriação dos meios de existência e consciência mascarada de libertação redentora de ambas.
4. O sacrifício da realidade no altar da abstracção como fórmula infalível para propiciar a salvação colectiva; e como biombo encobridor para a efectiva condução do gado a um patamar ainda mais desalmado de servidão.
5. O controlo frenético da linguagem de modo a transmutar a negação pura em afirmação única; a fazer passar a usurpação por direito legítimo, a contrafacção por autenticidade plena, e  o mero presente em exercício por toda a eternidade. 
6. A santificação da matança revolucionária.
7. A baixa barbárie recauchutada com ouropéis de progresso: a regressão antropófaga como tomar balanço para o salto à conquista do amanhã superior.
8. O entretenimento massivo como lenitivo e anestesia para o desgraçado quotidiano.


Em jeito de corolário, uma consideração final: praticamente ao mesmo tempo que a atomização e o heterozelo protestante aconteceu outro fenómeno marcante: o Renascimento. Ora, neste época, Platão desembarca em força na Europa ocidental (até então apenas o Timeu e as Leis estavam divulgados). Encavalitado nele, tanto Galileu e a ciência moderna quanto os inúmeros pensadores do Renascimento, vão desprezar Aristóteles (e a escolástica numa leitura dele assente) e cozinhar todo um caldo cultural donde fermentarão quer as futuras e inúmeras utopias, quer as várias e descabeladas revoluções. Para ser sincero, eu ia a meio deste postal, quando experimentei também uma espécie de "revelação": há ingredientes que, isoladamente, não constituem um enorme perigo, mas que juntos adquirem propriedades explosivas. Refiro-me, neste caso em concreto, a dois: Platão e o Livro do Apocalipse.  Se acrescentarmos a invenção da tipografia por esta mesma altura, então, que Deus, o bom e misericordioso, tivesse piedade de nós!... 

7 comentários:

Vivendi disse...

"Refiro-me, neste caso em concreto, a dois: Platão e o Livro do Apocalipse."

Caro, Dragão, pode desenvolver melhor esta linha de raciocínio?

Vivendi disse...

A bíblia católica tem 73 livros enquanto que a bíblia protestante tem apenas 66. A diferença se encontra no Antigo Testamento. Os protestantes não consideram livros bíblicos os seguintes livros: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 e 2 Macabeus (e partes de Ester e Daniel). Desse modo o Antigo Testamento dos protestantes tem apenas 39 livros, invés dos 46 da bíblia católica. O Novo Testamento é idêntico para as duas confissões, sendo composto por 27 livros.

Os 7 livros mencionados acima foram escritos em grego (assim como todo o Novo Testamento), enquanto que todos os outros livros do Antigo Testamento foram escritos em hebraico. Por isso, embora sendo livros antigos, os judeus não os incluíram na lista de livros que consideram como Sagrada Escritura (a Bíblia dos judeus consiste nos livros do Antigo Testamento). Essa decisão dos judeus foi tomada por volta do ano 100 depois de Cristo. Os cristãos, invés, acolheram esses 7 livros dentro da sua lista de livros inspirados por Deus. No tempo da Reforma, protagonizado por Lutero, no século XVI, os protestantes decidiram adotar o Antigo Testamento segundo os parâmetros dos judeus e, portanto, excluíram os 7 livros, embora Lutero ainda os tenha colocado na sua Bíblia, mesmo sublinhando que não tinham a mesma importância dos outros livros, em um apêndice ao Antigo Testamento.

dragão disse...

Quando o protestantismo desatou a ler a Bíblia em fórmula readers digest, o texto que mais lhes espicaçou o delírio e a possessão foi o Apocalipse de S.João (mais uma série de alucinações particularmente sanguinolentas e ameaçadoras do Antigo Testamento). Daí às revoluções (como Muntzer e os anabaptistas) e levantamentos violentos foi um instante. A "Utopia" de Thomas More, "A cidade do Sol", de Campanella e vários outros projectos utópicos do Renascimento e após, são variações ou actualizações da "politeia", vulgarmente conhecida por "República", de Platão.
Todo o racionalismo e efabulação abstraccionista provém de versões, conversões e perversões de Platão, seus afluentes e defluxos (Plotino, Agostinho, etc). Hobbes, em boa medida, é platónico. E ainda no nosso tempo, os neo-conas são straussianos, isto é, sequazes duma grosseira perversão de Platão (ou não se tratasse toda aquela cegada duma ciganice judenga, passe a redundância).

dragão disse...

«A bíblia católica tem 73 livros enquanto que a bíblia protestante tem apenas 66»

66 é um número altamente sugestivo. No fundo, pretendem ser a tribo extraviada de Israel. E são de facto... a tribo do anticristo.

Não sei se reparou, mas um dos espectáculos que o rei anabatista engendrou para entreter a população foi uma "missa negra". Verdadeiramente emblemático e revelador.

Vivendi disse...

Extraordinárias e importantes conclusões.

Obrigado.

Vivendi disse...

Hoje é dia de Missa Negra!

https://www.bbc.com/news/business-68404567

passante disse...

> o protestantismo desatou a ler a Bíblia

O camarada Gutenberg tem uma carga pesada no cartório. Nem sei o que é pior, os zés do boné aleatórios leitores de bíblias que resolvem ser pregadores, ou os folhetos publicitários dos merceeiros que levam aos jornais e ao sufrágio universal.