Este postal é uma reposição. De algo que escrevi em 2015, aqui no Dragoscópio, a propósito, imaginem só, da "Ucrânia".
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«Geopoliticamente, a América é uma ilha ao largo da grande massa continental da Eurásia, cujos recursos e população excedem de longe os dos Estados Unidos. A dominação por uma única potência, por qualquer das duas principais esferas - Europa ou Ásia-, é uma boa definição de perigo estratégico para a América, com guerra fria ou não. Tal agrupamento teria a capacidade de ultrapassar economicamente a América e, no final, militarmente. Seria necessário resistir então a esse perigo, mesmo que o poder dominante fosse aparentemente benevolente, pois, se as intenções alguma vez mudassem, a América achar-se-ia com a capacidade de resistência efectiva bastante diminuída e uma crescente incapacidade para moldar os acontecimentos.»
Henry Kissinger, in "Diplomacy", pp.709, trad. port. Gradiva Lendo isto, percebe-se muito bem o que os americanos andam a fazer na Ucrânia. O que não se entende é o que a Alemanha, com a Europa a reboque, lá faz. Quando o interesse da Alemanha e da França, especialmente, seria precisamente o oposto, só se pode entender a actual circunstância da seguinte forma: os governos da Europa não representam nem defendem os interesses dos seus próprios povos, mas são, isso sim, de alguma forma ou por acção de um qualquer dispositivo coercivo obscuro, títeres de outros cordelinhos. Os mesmos, aliás, que manipula a "mão invsível" por detrás do aparato bélico americano.
Só que convém perceber o real e completo significado de "bélico"...
«A coacção é hoje sinónimo de guerra, quer se caracterize pelo emprego da força militar, quer por uma qualquer aplicação de outros elementos do potencial nacional sem recurso ao emprego da força militar. (...)
As formas de coacção relacionam-se com os elementos do potencial nacional. Assim, a coacção pode ser exercida através de cinco formas principais: a coacção psicológica, a coacção diplomática (ou política externa), a coacção política interna, a coacção económica e a coacção militar. Esta classificação diz respeito aos meios empregados e não aos efeitos obtidos.
Estas formas de coacção podem ser empregadas isolada ou concorrentemente e, em qualquer dos casos, com diferentes gradações. A guerra diz-se total quando emprega todas as formas de coacção, embora tal não signifique que a acção militar seja nela a mais importante.»
- in Regulamento de Campanha - Operações, Vol I (do Estado Maior do Exército)
Os geostrategas de sofá acham que guerra pressupõe obrigatoriamente tiros, bombas e violência bélica. Como nos filmes onde cursaram e tiraram o brevet de think-tanquistas de alguidar. Na verdade, a coacção militar (aquela coisa com tiros e explosões) constitui geralmente um último recurso. Antes de irem lá dar tiros, onde quer que lhes contenda com a veneta, os americanos, por exemplo, exercem coacção psicológica (mass-media aos gritos), coacção diplomática (sanções na ONU, etc), coacção política interna (promoção de distúrbios, indução de protestos - revoluções primaveris ou coloridas) e coacção económica (sanções financeiras, bloqueios, proibição de exportações ou importações, expulsão de organizações internacionais, manipulações de mercado, etc, etc). Só depois disto tudo bem exploradinho é que avança o porta-aviões ou os F16. Neste momento os Estados Unidos estão em guerra com a Rússia em todos os departamentos de coacção, excepto na componente militar aberta. Pois, falta apenas esse detalhezinho para entrarmos na III Guerra Mundial. E só ainda não entraram nesse detalhezinho por causa de outro nada despiciendo: a capacidade russa em armamento nuclear estratégico. Os americanos estão também em guerra (actual ou potencial) com o resto do planeta, que se divide entre aqueles que são suavemente coagidos (como A União Europeia), e os que se encontram ou no estágio intermédio ou brutal de coação, conforme a respectiva atitude ou unilateral necessidade do superior e soberano interesse da potência hegemónica. Àqueles que se submetem mansamente à suave coacção, os americanos chamam aliados. Àqueles que exigem uma coacção brutal, chamam inimigos. Há apenas um com estatuto excepcional.
3 comentários:
Excepcional? Qui? Mais qui?!
Foi agora o aniversário do ataque ao Liberdade. Ehehehe! Nem inventado.
Daqui do sofá, eu alterava um pouco essa classificação das coacções. Diria antes que são todas formas indirectas de coacção psicológica.
Ukraine on fire , documentário de Oliver Stone , prestes a ser banido da internet
Os EUA já estão em declínio irreversível.
Querem fazer da Europa novamente terra queimada.
A nível de armamento levaram um banho da Rússia, pois Putin se preparou para este momento desde o seu 1º dia como Czar da Rússia.
A China e o "3º mundo" estão também com a Rússia.
A Alemanha podia estar a estrear o novo tubo de gás mas colocou-se outra vez do lado errado da história (raios parta à sua filosofia).
Depois da guerra, que já acabou em Mariupol, virá a recessão económica.
E infelizmente o dólar será rei no meio do caos.
O fim da festa continua mas um dia chegará ao fim.
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