«nova ou velha, qualquer esquerda é preferível à coisa que corresponde ao passos coelhismo.»
Um leitor (ou leitora) não identificado coloca a certidão em epígrafe na caixa de comentários referente ao postal "A Neo-esquerda, part 1". Essa certidão, todavia, coloca-nos uma questão: será? Quer dizer, qualquer esquerda será preferível ao passos coelhismo?
Atrevo-me a intuir que o leitor em causa não será exactamente de esquerda (o que quer que isso signifique nos circo dos dias de hoje). Como assim? Pois, porque se fosse de esquerda não começaria por definir o fenómeno como "coisa", mas com um qualquer outro depreciativo intenso. Ora, ao conferir-lhe um termo veicular neutral, apenas parece querer arvorar uma certa imparcialidade científica. É este não vir revestido do fanatismo sectário, tão abundante e fétido entre nós (sobretudo nas redes de esgotos sociais) que me convoca ao debate.
Debatamos, então.
Em primeiro lugar, escolher logo à partida o "passos-coelhismo" para um dos pratos da balança beneficia automaticamente o que quer que se ponha do outro lado - a mafia siciliana ou calabresa, a seita do Velho da Montanha, os canibais da Amazónia, os Iakuzas do Japão ou até a clepto-república de Cartouche transparecem subitamente envoltos num manto de virtudes cintilantes e até então insuspeitas. A criatura Passos descende duma linhagem política onde pontificam figurões do jaez dum Miguel de Vasconcelos, dum Cristóvão de Moura ou, retroviajando ainda um pouco mais, dum Conde Andeiro ou daquele enrgumenus-trio que traiu Viriato aos romanos, senão mesmo daquele lâbrego que revelou a porta do cavalo das Termópilas aos Persas. Tudo gente conceituada, enfim. Fora isto, não me parece que o referido Passos, como ele - tão púdica quão recentemente - confessou ao mundo, tenha cometido grandes erros na governação: o único erro de monta que patenteou durante todo esse tenpo deve ser atribuido aos pais dele, quiçá à própria naturexa, e consistiu nele próprio. Atribuir-lhe erros é, pois, uma perissologia, como atribuir-lhe coluna vertebral ou sangue quente um desperdício. Ainda assim, admito uma objecção à estirpe atrás exposta: é que, mais ainda que por estrito interesse mercenário, cobardia ufana ou honra rastejante, como esses figurões, o Coelho traiu por ideologia (estupidez, em suma). Aceito o reparo. E colmato a falha adicionando à desínclita galeria um busto dessa fidedigna classe: Álvaro Cunhal.
Posto isto, Vamos à esquerda. Toda ela: nova, velha, fetal e paleolítica.
Fruto de longa e aturada observação, adquiri a firme e inabalável convicção de que as pessoas de esquerda são seres muito delicados, sensíveis e, por inerência, sobremaneira vulneráveis à natureza, ao clima... em resumo: a todas essas contraiedades que povoam a realidade agreste e áspera do terceiro planeta a contar do sol.. Dito por analogia, são como as flores de estufa, - extraordinariamente decorativas, vaporosamente ornamentais, sedutoras até, mas extremamente frágeis fora dum ambiente artificialmente protegido e tecnicamente controlado. É por isso que, regra geral, exaustivamente testada e atestada, uma vez fora desse habitat confortável, exposta à inclemência dos elementos da natureza, a esquerda borrega, murcha e termina invariavelmente infestada de ervas daninhas, parasitas vorazes e maleitas consumptivas. Assim, parece-me duma grande injustiça, senão mesmo uma superlativa crueldade, sujeitar as pessoas de esquerda (nova, velha, passada ou futura) a essa exposição desamparada e angustiante à intempérie. Direi mais: é da mais elementar prudência poupá-las, com desvelo e carinho, aos tormentos da governação ou da administração pública, bem como aos suplícios da legislação... em resumo: às extenuantes trabalheiras e devastadores incómodos dos assuntos do Estado e da Nação.
Que fórmula preconizo, então, nesse benevolente intuito? Simples: a criação dum parque para a esquerda (as esquerdas todas). Um recinto mais vasto e luxuriante do que um simples Zoo ou jardim botânico. Um Luna-park do tamanho do Serengeti. Podia ser por exemplo, todo o baixo Alentejo, com a excepção de Barrancos (por incompatibilidade de costumes). As pessoas de esquerda, devidamente parqueadas nesse amplo espaço, vedado e protegido de certos flagelos da natureza e da realidade, entregar-se-iam aos seus prodigiosos (e ultimamente até bastante coloridos) rituais de pasto, arenga, comício, legislacinha, policiamento, purga, cisma, manada, e, até, de acasalamento bizarro (greves é que não, porque o trabalho é uma actividade extra-paradisíaca). A breve trecho, podemos estar cientes, uma multiplicidade feérica de experiências, estirpes e variedades pululariam em esplendor edénico. (Não esqueçam onde vamos, mas impõe-se este breve parêntesis: É extremamente injusto acusar essas pessoas de, por mania obsessiva, quererem implantar à força paraísos em qualquer parte. A verdade é que transportam em si, cada uma delas, sem excepção, um paraíso e a respectiva guarnição angélica. Donde automaticamente resulta que, onde quer que vão, aromatizam todo o espaço circundante com essa sua fragrância inefável. Em bom rigor, um fenómeno que a físico-química explica e já antes dela a alquimia fornecia a receita a quem soubesse ler) Por conseguinte, em momento algum duvidemos: num assombroso instante, vicejariam ruidosos castrismos em redor de Cuba (no Alentejo, não confundam), mirmitónicos Maoísmos em urbanizações de argila pelas planícies infinitas entre Beja e Castro Verde; fumegantes e hiperactivos Stalinismos na linha Baleizão-Grândola; uma Coreia do Norte sazonal - inverno em Aljustrel, verão no Torrão - em itinerância transumante; ciber-bolchevismo 3.0 no Alqueva; trotskismo, num misto de homokibutz e montanha-russa, em Pias; falanstérios e socialismos utópicos em Vila Nova de Milfontes; experiências escandinavas entre Sines e Melides; Ikeas soaristas na beira da estrada, de mistura com artesanato afro e loiça castrada das Caldas; e, deslumbramento turístico de ponta, menina dos olhos de qualquer National Geographic que se preze:: uma phol-potização afanosa nos arrozais de Álcacer-do-Sal. E reparem vossências, meus raros mas sempreviçosos leitores, atentem bem, de calculadora bem assestada, na potencial fonte de rendimentos para o país dum tão auspicioso empreendimento: se turbas de basbaques e mirones militantes (vulgo turistas), autênticos enxames ávidos e frenéticos, correm a refocilar nos parques de animais selvagens do Quénia ou da África do Sul, quanto não desembolsariam para se embasbacarem com o nosso parque de animais angélicos do Alentejo? Era um constante corropio de chusmas e televisões em peregrinação. Isto era melhor que descobrir petróleo na Chamusca ou gás natural em Pampilhosa. Aquele Jurassic Park dos filmes apencalhados era superado em larga escala. O visitante tinha agora a oportunidade de assistir, ao vivo e a cores (entre o vermelho e o rosa, bem entendido) à vida antes dos próprios dinossauros e do despejo na terra de Adão e Eva. Um tempo em que os animais falavam e Deus era um camaradão... Um tempo mágico e dourado, enfim, de que só as mitologias guardam memória e preservam a nostalgia. perante uma Flizlândia destas, a Disneylândia em breve retumbaria às moscas (naturais, pois as humanas, sobretudo as varejeiras, acorreriam em massa para sul do Tejo) e abriria falência.
Só que o leitor mais arguto - digo, extraordinariamente arguto, pois todos, em geral, já são muito argutos, todos os dias, excepto talvez a zazie que agora passou à clandestinidade e entrou para as Carmelitas Descalças virtuais, com voto de silêncio -, a esta hora, já sente uma questão candente a inflamar-lhe os preclaros fagotes: como sobreviveriam estes animais angélicos, de que se alimentariam eles, uma vez que não trabalhariam (nem, acrescento, estariam autorizados a contrair empréstimos)?... Esta excelente questão, como passarei a demonstrar, conduz-nos ao pináculo deste sublime empreendimento.
Numa primeira fase, e por instinto natural, os animais angélicos entregam-se à vigilância e à investigação. Uns dos outros. É mais forte que eles. Num ápice, começam a descobrir falsos animais no rebanho, digo, constelação; detectam demónios travestidos de anjo, em menos tempo que o diabo esfrega um olho. E toca de consumi-los, depois de devidamente fulminados, temperados e bem passados. Mas claro, esta primeira fase não é eterna e e esgota-se com alguma rapidez. Ao fim do certo tempo, provavelmente, só já teremos uma vasta phol-potização, arrozais em barda, capital no Alqueva e sucursais a juzante das inúmeras barragens. Todavia, eis que arribamos à parte mais justa e emocionante da saga: vamos ter que alimentá-los, aos nossos bichinhos da seda maviosa. E vamos fazê-lo da forma mais rentável que imaginar se possa. Tal qual escutais, ó gentes de pouca fé: sem qualquer dispêndio para o erário público e, bem pelo contrário, com vantagem económica, social e política para todo o povo luso e a humanidade em geral. Que ração mágica será esta? Nada mágica, cavalheiros e meninas; bem lógica, crocante e sensata, por sinal: pegamos no Passos Coelhismo, o passos coelhismo todo, mai-las porcarias e ganadarias adjacentes, e alimentamos os animais angélicos do nosso parque das cornucópias para turista ver. Podemos até imaginar o espectacular da cena: em forma de heli-safari. Turistas abastados de Miami, judeus de preferência, pagam principescamente pelo privilégio cinegético de, em primeiro lugar, caçarem o deputado Abreu Amorim numa largada em Vila Franca e, depois, devidamente ataviado com o kit enxada e arnês, irem largá-lo, de pára-quedas num arrozal neo-cambodjano de Alcácer ou Odivelas. O próprio Passos, em regime de ió-ió, deve ser lançado, resgatado e lançado outra vez, de modo a criar valor e multiplicar o investimento. Já o inenarrável Marco António Costa será da mais elementar justiça atirá-lo sem pára-quedas e directamente na albufeira. Tudo isto em forma de pleonasmo: Com um calhau amarrado ao pescoço. Além desta forma engenhosa de granizo, podemos ainda conceber uns quantos colectivos bloguistas a serem enviados por catapulta de casino, accionada à maneira das slot-machines, por magotes de japoneses, sauditas, americanos, ingleses, angolanos, chineses e outros abonados em estado de completo delírio e adição (Las Vegas, treme e arrepia-te!...). Ficaria aqui os próximos 36 meses a descrever a quantidade de formidáveis equipamentos de diversão e engenhos lúdicos à disposição do turista endinheirado. Mas, enfim, as regras da telegrafia mental em voga nestas plataformas comunicacidárias não o recomendam. Demasiado já abusei eu. O certo é que há ração para muitos e bons anos, o tempo mais que suficiente para recuperar as finanças do estado e a verticalidade da pátria.
E reparem, vossências, estimados compatriotas desse lado do ecrã, que em tudo isto nem uma pontinha de irrealismo, delírio ou ponta de utopia. Mera transposição da realidade actual... Afinal, já é de gentalha como aquela que deu bojo ao Passos coelhismo que a esquerda se alimenta, sobrevive e sustém, nédia, lustrosa e sempervirens. Chama-lhe direita, a vária esquerda? Só no paleio de conveniência. Na realidade, chama-lhe um figo!...
Só que o leitor mais arguto - digo, extraordinariamente arguto, pois todos, em geral, já são muito argutos, todos os dias, excepto talvez a zazie que agora passou à clandestinidade e entrou para as Carmelitas Descalças virtuais, com voto de silêncio -, a esta hora, já sente uma questão candente a inflamar-lhe os preclaros fagotes: como sobreviveriam estes animais angélicos, de que se alimentariam eles, uma vez que não trabalhariam (nem, acrescento, estariam autorizados a contrair empréstimos)?... Esta excelente questão, como passarei a demonstrar, conduz-nos ao pináculo deste sublime empreendimento.
Numa primeira fase, e por instinto natural, os animais angélicos entregam-se à vigilância e à investigação. Uns dos outros. É mais forte que eles. Num ápice, começam a descobrir falsos animais no rebanho, digo, constelação; detectam demónios travestidos de anjo, em menos tempo que o diabo esfrega um olho. E toca de consumi-los, depois de devidamente fulminados, temperados e bem passados. Mas claro, esta primeira fase não é eterna e e esgota-se com alguma rapidez. Ao fim do certo tempo, provavelmente, só já teremos uma vasta phol-potização, arrozais em barda, capital no Alqueva e sucursais a juzante das inúmeras barragens. Todavia, eis que arribamos à parte mais justa e emocionante da saga: vamos ter que alimentá-los, aos nossos bichinhos da seda maviosa. E vamos fazê-lo da forma mais rentável que imaginar se possa. Tal qual escutais, ó gentes de pouca fé: sem qualquer dispêndio para o erário público e, bem pelo contrário, com vantagem económica, social e política para todo o povo luso e a humanidade em geral. Que ração mágica será esta? Nada mágica, cavalheiros e meninas; bem lógica, crocante e sensata, por sinal: pegamos no Passos Coelhismo, o passos coelhismo todo, mai-las porcarias e ganadarias adjacentes, e alimentamos os animais angélicos do nosso parque das cornucópias para turista ver. Podemos até imaginar o espectacular da cena: em forma de heli-safari. Turistas abastados de Miami, judeus de preferência, pagam principescamente pelo privilégio cinegético de, em primeiro lugar, caçarem o deputado Abreu Amorim numa largada em Vila Franca e, depois, devidamente ataviado com o kit enxada e arnês, irem largá-lo, de pára-quedas num arrozal neo-cambodjano de Alcácer ou Odivelas. O próprio Passos, em regime de ió-ió, deve ser lançado, resgatado e lançado outra vez, de modo a criar valor e multiplicar o investimento. Já o inenarrável Marco António Costa será da mais elementar justiça atirá-lo sem pára-quedas e directamente na albufeira. Tudo isto em forma de pleonasmo: Com um calhau amarrado ao pescoço. Além desta forma engenhosa de granizo, podemos ainda conceber uns quantos colectivos bloguistas a serem enviados por catapulta de casino, accionada à maneira das slot-machines, por magotes de japoneses, sauditas, americanos, ingleses, angolanos, chineses e outros abonados em estado de completo delírio e adição (Las Vegas, treme e arrepia-te!...). Ficaria aqui os próximos 36 meses a descrever a quantidade de formidáveis equipamentos de diversão e engenhos lúdicos à disposição do turista endinheirado. Mas, enfim, as regras da telegrafia mental em voga nestas plataformas comunicacidárias não o recomendam. Demasiado já abusei eu. O certo é que há ração para muitos e bons anos, o tempo mais que suficiente para recuperar as finanças do estado e a verticalidade da pátria.
E reparem, vossências, estimados compatriotas desse lado do ecrã, que em tudo isto nem uma pontinha de irrealismo, delírio ou ponta de utopia. Mera transposição da realidade actual... Afinal, já é de gentalha como aquela que deu bojo ao Passos coelhismo que a esquerda se alimenta, sobrevive e sustém, nédia, lustrosa e sempervirens. Chama-lhe direita, a vária esquerda? Só no paleio de conveniência. Na realidade, chama-lhe um figo!...
4 comentários:
Só quero repetir aqui a ilustre frase de um esquerdista pouco popular entre os outros esquerdalhos, quando se referiu à esquerda que sustenta o novo (des)governo chucha-lista e à assembleia rés-púbica em geral:
"Isto é tudo um putedo." (Histórico) (Quando ouvi isto a 1ª vez rebentei a rir)
Aqui deve-se distinguir obviamente entre:
-Putedo manso: Coelhos , Porcas ... perdão Portas e respectivos filhos (da ditas).
-Putedo bravo: Chochas ... perdão Sousas, Martinis (e charros), Más-tias, Bostas ... perdão Costas, Alarcões (plural de cão alarvo) e os outros lambões.
-Putedo caloiro (ainda à aprender): O sr pessoa (e grande) animal da natureza
:))
Como diria Chico Anisio, os filhos das ditas, estão todos na politica.
Um excelente post, com um senão
A esquerda, não gosta de ser vilipendiada, ficam amuados e quase á beira de apanhar um trauma, é que eles, são puros, são os eleitos pela ordem natural das coisas, nasceram para mandar, foram abençoados
P. que os pariu
Hahahaha!
Que post sublime que só podia sair do oráculo.
Com este experimento socialista em terras alentejanas acho que era a melhor solução para o povo alentejano se converter de vez a Deus, pois entre o suicídio e o socialismo, venha de lá o diabo e escolha.
Vamos lá ver se a Zazie vai sair dos votos de silêncio e dar o ar da sua graça. ;)
Amanhã, padaria portuguesa da João XXI, 11 da manhã. Sento-me na mesa junto à entrada das casas de banho. Vem enrabar-me.
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