Aqui há tempos, um leitor perplexo (e bastante pândego), a quem aproveito para desejar um Feliz Natal, alvitrava acerca dum putativo "ódio á democracia" da minha "mente deformada". Segundo ele, a mente estará deformada pelo ódio, mas, para sermos cientificos, tanto poderia o ódio deformá-la como ser consequência duma deformação dela. Assim, e embora já o tenha esclarecido a ele em termos que julgo satisfatórios, convém proceder a uma explicação mais abrangente e definitiva para todo o universo intrigado, passe a imodéstia.
Ora, e para começar, o meu não ser uma coisa (entenda-se um atributo da minha essência) não implica necessáriamente que eu odeie essa coisa. Por exemplo, eu não sou limpa-chaminés, como não sou médico e também não sou saxofonista e daí não decorre que eu deteste limpa-chaminés, abomine médicos e nem possa ver saxofonistas à frente. Portanto, não ser democrata não me obriga a odiar a democracia com todas as minhas forças. Até porque odiar irracionalmente outras ideias, em forma, sistema ou museu, é coisa típica dos democratas. Um tipo diz "No dia tal Salazar discursou na assembleia nacional" e não "No dia tal, o fascista Salazar falazou no antro folclórico da ditadura" (como manda a Junta psiquiátrica) e imediatamente qualquer democrata encartado, de mioleira ultra-pasteurizada e cerebrelo envolto em preservatido, conclama: "Salazarista!" E vá lá não ser "salazarento" ou "fascistão" e já vamos com sorte. Seria pois muito estúpido e contraproducente da minha parte pôr-me eu a emular democratas para declarar que odiava a democracia ou qualquer outro sistema político que fosse. Registem, se faz favor: não sou de ódios e ainda menos de rancores. O minha especialidade, de resto, é bem mais motivá-los do que que cultivá-los.
Podia , por outro lado, dar-se o caso de a democracia me causar repugnância, nojo mesmo. Mas isso seria confundir a democracia com os democratas. O facto de os democratas portugueses meterem nojo não implica também, necessariamente, e por arrasto, a democracia. Democracia e democratas, sobretudo portugueses, são duas entidades não apenas diferentes, como, dois conjuntos de cuja intersecção resulta um conjunto vazio.
Aliás, em Portugal, e mesmo antes de explicar porque não sou democrata com minúcia exemplar, cumpre, de antemão, testificar que faço sinceros votos que os democratas - mas os democratas todos, mesmo todos, democratas populares e impopulares, democratas liberais e socialistas, democratas cristãos, ateus, agnósticos, muçulmanos, judeus e sobretudo filisteus, democratas directos e indirectos, democratas progressistas e reacionários, - se fodam! Se fodam, leram bem e, se não for pedir muito, se refodam!
Pronto, estabelecido o preâmbulo, passemos ao exórdio.
Passo então a explicar em detalhe porque não sou democrata
1. Porque sou português. A democracia parlamentar é um sistema que muito satisfaz, favorece e conforma os ingleses. Sobretudo porque, na essência, não a praticam, nunca praticaram e estão-lhe naturalmente imunes. Não vejo que lógica há em que se adopte em Portugal um sistema cuja faculdade ostensiva e finalidade comprovada é fazer felizes os ingleses. Não vejo, e a realidade também não, que sentido faz deduzir que uma coisa que se afeiçoa aos ingleses e lhes acarreta grande proveito, também é excelente e proveitosa para nós. E se a coisa funciona em regime de compensação, pior um pouco: ensinámo-los a beber chá e eles impingiram-nos o parlamento; péssimo negócio.
2. Porque o clima não permite. Reparem, eu adoro maçã de caju. Direi mesmo, se vós fosseis caçadores de dragões e arquitectasseis uma armadilha para capturar um desses seres arredios, garanto-vos, no meu caso era simples e garantido: bastava engodar com maçã de caju. Pelo sumo fresco da maçã de caju, não direi que sou capaz de cometer homicídios múltiplos, mas quase. Porém, o cajueiro é uma árvore caprichosa e criofoba. Recusa-se a viver em climas que não os tropicais ,onde não compareça qualquer esboço de frio ou semi-frio. Em Portugal não medra. Mal arriba o Outono, eis que que a planta entristece e morre. A democracia é a mesma coisa: não se dá no nosso clima. Primeiro, porque os democratas não crescem nem frutificam; segundo, porque em vez de medrarem democratas, medram ervas daninhas e respectivos filhos vivazes. E vorazes. Mesmo que se transplantassem para cá ingleses não resultaria: fora da sua ilha carrancuda, os britânicos desenvolvem invariavelmente síndromes autoritárias para com os indígenas (para eles, a democracia é, antes do mais, um privilégio de casta). Ora, castas e castudos, mais possidónios e piangarelhóticos já nós cá temos em abundância. Pior: em cornucópia! E principia logo neles a incompatibilidade geral com a democracia.
3. Porque a democracia não é um fim da existência humana, mas apenas um meio para as sociedades se ordenarem politicamente. Acontece que, entre nós, apenas nos desordena, arruina, prejudica e transporta ao vício. Portanto, enquanto meio não nos interessa. Ou interessa-nos tanto quanto a heroína, o crédito desenfreado ou o consumismo toino, passe a dupla redundância. Todavia, as brigadas tóxicas (e zoinas) da ideologia democrática pretendem obrigar-nos à crença na democracia como fim supremo da existência, baliza da história e zénite forçado da civilizacinha. Não importa que não se ajuste a nós: nós é que temos que nos ajustar a ela, custe o que custar (mecanismo típico da utopia), nem que para isso metade da população fique reduzida à indigência, toda ela à dependência externa e os vindouros, cada vez mais escassos e improváveis, subjugados à penhora. Este filme sabe a regurgitado porque é regurgitado: os mesmos que estiveram por detrás da utopia socialista, estão agora a alimentar os fornos da utopia democrática. Messianismos rançosos destes são excessivamente óbvios e apenas vicejam porque a estupidez humana é fértil, infecciosa e imarcescível. Acrescendo que o deslumbradinho fácil, e desmemoriado atávico, constitui o principal portador e transmissor da maleita.
4. Porque ao contrário da democracia original, que era exercício de homens livres, e onde escravos, mulheres e metecos não votavam - corrijo: não eram elegíveis, porque a eleição não ocorria por sufrágio, mas por sorteio -, nestas democracias de contrafacção e fancaria, apenas votam escravos, gajas e metecos, e apenas são elegíveis sabujos, rameiras e eunucos.
5. Porque não dou qualquer crédito ou valor a mitologias modernas, fantasias de galinheiro, evangelismos de chiqueiro, realismos de hospício, nem, ainda menos, a auto-lobotomias gregárias por acefalopedia adesiva.
6. Porque, detalhe nada despiciendo, um povo que não respeita os seus antepassados, a sua história e as suas tradições, não merece respeito, perde o respeito dos outros povos e conquista a repulsa dos vindouros. Quem não honra as suas raízes, desplanta-se ao relento do mundo e condena-se a vogar ao capricho do vento, da história ainda menos que do flato mal-cheiroso da digestão refastelada das potências.
7. Em suma, porque não sou nihilista. Nem doente terminal de disfunção eréctil, não apenas física, mas sobretudo moral e intelectual.
3. Porque a democracia não é um fim da existência humana, mas apenas um meio para as sociedades se ordenarem politicamente. Acontece que, entre nós, apenas nos desordena, arruina, prejudica e transporta ao vício. Portanto, enquanto meio não nos interessa. Ou interessa-nos tanto quanto a heroína, o crédito desenfreado ou o consumismo toino, passe a dupla redundância. Todavia, as brigadas tóxicas (e zoinas) da ideologia democrática pretendem obrigar-nos à crença na democracia como fim supremo da existência, baliza da história e zénite forçado da civilizacinha. Não importa que não se ajuste a nós: nós é que temos que nos ajustar a ela, custe o que custar (mecanismo típico da utopia), nem que para isso metade da população fique reduzida à indigência, toda ela à dependência externa e os vindouros, cada vez mais escassos e improváveis, subjugados à penhora. Este filme sabe a regurgitado porque é regurgitado: os mesmos que estiveram por detrás da utopia socialista, estão agora a alimentar os fornos da utopia democrática. Messianismos rançosos destes são excessivamente óbvios e apenas vicejam porque a estupidez humana é fértil, infecciosa e imarcescível. Acrescendo que o deslumbradinho fácil, e desmemoriado atávico, constitui o principal portador e transmissor da maleita.
4. Porque ao contrário da democracia original, que era exercício de homens livres, e onde escravos, mulheres e metecos não votavam - corrijo: não eram elegíveis, porque a eleição não ocorria por sufrágio, mas por sorteio -, nestas democracias de contrafacção e fancaria, apenas votam escravos, gajas e metecos, e apenas são elegíveis sabujos, rameiras e eunucos.
5. Porque não dou qualquer crédito ou valor a mitologias modernas, fantasias de galinheiro, evangelismos de chiqueiro, realismos de hospício, nem, ainda menos, a auto-lobotomias gregárias por acefalopedia adesiva.
6. Porque, detalhe nada despiciendo, um povo que não respeita os seus antepassados, a sua história e as suas tradições, não merece respeito, perde o respeito dos outros povos e conquista a repulsa dos vindouros. Quem não honra as suas raízes, desplanta-se ao relento do mundo e condena-se a vogar ao capricho do vento, da história ainda menos que do flato mal-cheiroso da digestão refastelada das potências.
7. Em suma, porque não sou nihilista. Nem doente terminal de disfunção eréctil, não apenas física, mas sobretudo moral e intelectual.
14 comentários:
Ora bem!
Como quase tudo neste sistema de esgoto, o próprio nome democracia é uma usurpação de algo bem diferente.
Demerdocracia seria o nome mais adequado. No entanto, dificilmente este esgoto será livre e autorizado a admitir a sua própria pestilência.
O culminar de uma pestilência "libertadeira" que se vem desenvolvendo com o tempo.
Mas, ... tudo o que nasce também morre, até mesmo o pior dos parasitas.
Ném. ou Anti-Demerdocrata.
Ora bem...
Matutando sobre a questão, pensei nalgumas formas de tornar o sistema menos nefasto para o território. As querelas básicas prendem-se sobretudo, quanto à minha opinião, sobre o circulo eleitoral que está apto a participar, que peca não por defeito, mas por excesso. Em suma, encurtá-lo. Como?
Testes psicotécnicos:
Se todos concordam, que para se conduzir um automóvel se deve aferir a aptidão por meio de testes, tanto físicos, psicológicos e da apetência de conhecimentos, já que um condutor inapto pode causar vitimas, um " votante inapto" ao eleger um "politico inapto", passo a redundância, pode arruinar milhares de vidas...
Portanto, testes ao nível do raciocínio lógico, aptidão mental, relembro que presentemente até pessoas com atrasos mentais significativos podem votar. Testes ao nível de conhecimentos básicos sobre geografia, politica, economia, história. Conheço indivíduos que vão votar e nem sabem localizar a Madeira geograficamente. Sobretudo, o votante teria que ter a noção que muito boa gente deu o coiro por este País, que não é de hoje, nem de ontem...
Idade mínima e máxima para exercer o direito de voto. Opcional...
Uma questão a discutir, p. ex: entre os 30 e os 75. Ou uma idade mínima de carreira contributiva.
X horas de serviço comunitário anual
Limpeza de matas/ ruas, apoio a instituições de serviço social, etc. Objectivo: amargar a bola pelo País sem receber um tostão. Tanto para separar o trigo do joio, verdadeiros patriotas de clubistas partidários, xuxas populistas e afins...
Cumprindo o acima requerido, podia-se votar. Queria saber quantos daqueles que apelidam os abstencionistas de irresponsáveis é que estariam interessados a cumprir nem que fosse a última imposição...
Phi
Bom, a democracia até pode ser isso tudo mas, vejamos, que alternativa seria melhor?
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Eu penso que a democracia é essencial para uma coisa, entre outras com menor importância:
- Remover
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Também acho que a democracia e sufrágio universal (que é aquilo a q o dragão se refere) são duas coisas diferentes.
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Sem esquecer, a democracia além de decapante removedor de sujidade não deve servir para pintura nova. Deve ser restrita ao governo da cousa pública.
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Portanto, eu quero poder remover. Pode ser de 4 em 4 anos. De 40 em 40 não é boa ideia. No entanto, nao creio ser a pessoa indicada para designar.
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Rb
O poder da remoção não deve ser desvalorizado.
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Se tivesse havido essa possibilidade, noutros tempos, em vez de se enviar canhões e urnas para africa, ter-se-iam enviado apenas urnas. De voto. Urnas e pessoal especializado em propaganda eleitoral em vez de canhões, urnas e pessoal especializado na arte da guerra.
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O que é que poderia acontecer de diferente?
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a) os africanos votavam na não remoção
b) os africanos votavam na remoção.
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Em qualquer das duas alternativas, o Dragão, provavelmente, ainda estaria por lá a comer caju.
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Rb
Mais do que tudo: se a possibilidade de remoção não estivesse só ao alcance das fragilidades duma cadeira, provavelmente teríamos um Marcelo mais cedo e mais cedo teríamos despertado para a evidência de que mais vale uma na mão do que duas no soutien.
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Rb
Sim, porque até ao séc. XVIII era tudo democracias por aí fora... E nem se "removiam" reis nem nada.
Ao Marcello, também não foi precisa democracia para o remover.
O verdadeiro problema português começou em 1820. Foi nesta data que se rompeu com uma tradição centenária. AA implantação da puta da monarquia constitucional que, na prática, substituiu os poderes naturais da altura, vertido nas cortes (clero, povo e nobreza), por um parlamento.
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Pronto, foi aqui q começou a viragem. O estado novo e a actual democracia que sucedeu é consequencia de 1820.
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Logo q a monarquia constitucional ou parlamentar iniciou funções vieram os problemas tribais. O mapa cor de rosa é o segundo momento chave. O rei retirou a pretensão do cost to cost para não arranjar problemas com os bifes. E fez bem. Foi sensato o rei. Não fora o estabelecimento dum parlamento e a decisão do rei respeitava-se e acolhia-se. Mas não, os camelos tribalistas parlamentaristas queriam guerra com a Inglaterra e minaram a monarquia sucessivamente até ao fim acusando-a de envergonhar o país por ter cedido aos bifes.
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Enfraquecida a monarquia com os tribalistas do parlamento o golpe final de assassinar a realeza e impor uma república acabou com tudo. Veio a ditadura militar e a está sucedeu outra não militar, mas apoiada por militares. O estadinho novo. Embutido no mesmo espírito dos tribalistas da monarquia parlamentar q queriam dar guerra a Inglaterra por causa de África, aparece agora um governo a querer remar contra as marés.
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Teve o mesmo fim, claro, que a monarquia constitucional. Não podia ser doutro modo.
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Rb
Excelente. Como ele há pessoas que não lhes complica com os nervos ser representadas por burros, corruptos, cobardes e pretensiosos eh que não percebo. E que continuem a alinhar na farsa achando que um dia, lá longe, o sistema muda e serão então representados por gente boa e honesta da cá um desespero.
Tão excelente quanto haver pessoas que não lhes complica com os nervos imaginarem que não serão representados um dia por burros, corruptos cobardes e pretensiosos se acreditarem na farsa do governo com representantes directos dos burros, corruptos, cobardes e pretensiosos que ainda lá não chegaram.
Muito bem visto.
Mas , mais bem visto ainda, e de uma forma só aparentemente empírica, não há dúvida de que a latitude é determinante para o surgimento e ,sobretudo,a manutençã da coisa.Com uma componente "étnica" que nem te conto...
Isto sob um ponto de vista puramente "eurocêntrico", como é de bom-tom dizer...
Mais vale uma na mão que duas no soutien: e assim se foram todas.
Eu acho piada que venham com o constitucionalismo. Por um lado, não convocar cortes fizeram-no muitos reis antes disso. Verdade seja dita que não foram muito bons reis.
Isto porque, e é o outro lado, como se algumas cortes aceitassem entregar o ultramar fosse lá a que preço fosse, quanto mais de graça! Pelo menos desde El-Rei D. Dinis, senão mesmo desde o Bolonhês, que a empresa do Ultramar se preparava, passo a passo.
Portanto, por mais nefasto que fosse, o constitucionalismo não alterou coisa nenhuma nesse sentido. Muito menos a miserável república - que, sendo miserável, não o foi tanto - o fez ou faria. Decerto que, pela fraca política que praticavam os dois regimes, o ultramar podia ter-se perdido na totalidade, mas entregá-lo, assim, de mão beijada, é obra que só os mais esturricados traidores poderiam fazer. Aliás, tanto quanto a mim me concerne essa gente não é portuguesa. Podem ter nascido dentro de fronteiras, podem ter BI, podem falar a língua: mas portugueses é que eles não são. Porque isto, pode ser-se cristão com muitos pecados, mas quando se vende a alma ao diabo... de Cristo é que se não é.
Portanto, e partilhando de tudo o que o Dragão disse, não cabe tudo nas costas da democracia. E eu sei que ele concorda.
Porque, em todas essas cortes desde os tempos afonsinos foi sempre o povo que mais sentiu o que era nosso e, melhor ou pior, se fez ouvir nesse sentido. É perfeitamente natural porque, ao contrário das outras classes, não tinha mais nada. Portanto, é certo e sabido que, proposto o acto infame a escrutínio "democrático", não passaria. Naturalmente, foi por isso que o não puseram.
E se o pusessem hoje também não passava.
Portanto, o Estado Novo estava perfeitamente em sintonia com o que as pessoas pensavam no essencial. Não tinham nada que referendar nada, porque em 800 anos de história nunca houve opinião diferente nem poderia haver. Só para os enfeudados ao estrangeiro - tipicamente gente da alta fidalguia e do alto clero - houve momentos de tibieza, hesitação, e franca traição.
Grande post.
Também não sou democrata e adoro uma boa cajuína.
Não há muito mais acrescentar, caro Dragão, porque ambos sabemos que a história está do nosso lado, a do passado, a do presente e a do futuro.
Caro Vivendi,
do nosso lado está Deus, o Cosmos e o Tempo.
Contra nós está o Contrafactor. Da história, sobretudo.
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