Lisboa, 29 de Agosto de 1963.
«Não há dúvida: os americanos evoluíram alguma coisa, mesmo muito", principia Salazar. «Há ano e meio, há dois anos, julgaram que uma pressão, uma ameaça, um ultimato nos fariam cair, ou pelo menos modificar a nossa política. Bem: já viram que não dava resultado, desistiram. E eles próprios vêem os seus interesses afectados, têm muitos problemas, não sabem como resolvê-los, e estão perplexos. E por isso nos mandam um emisário especial de alta categoria, sem que o tivéssemos solicitado. Muito bem. Mas que nos vem propor? Na conversa consigo e na que teve comigo, reparei que Ball usou repetidamente estas palavras: assegurar a presença, a influência e os interesses de Portugal em África. Ora que significa isto? Que está por detrás disto? Que conteúdo têm estas palavras? A verdade é que se Angola ou Moçambique são Portugal, este não está nem deixa de estar presente: é, está. Presença, para os americanos, quer dizer outra coisa: a língua, a cultura, alguns costumes que ficassem durante algum tempo até sermos completamente escorraçados. Isto e nada, é o mesmo. E o mesmo se quer dizer com a influência e os interesses. Com isto pretendem os americanos dizer que seriam garantidos os interesses económicos da metrópole, isto é, de algumas empresas ou grandes companhias. Mas tudo isto não vale nada. Que a economia comande a política é particularmente verdadeiro quanto a África. Bem vê: quem tem o dinheiro é que empresta, quem produz é que exporta; e quem tem dinheiro e empresta, e depois não lhe pagam, é levado a emprestar mais e mais; e para garantir esses novos empréstimos é depois levado a intervir, a controlar, a dominar as posições chave. E quem produz é que exporta; mas quando lhe não pagam as exportações, reembolsa-se com a exploração do trabalho e das matérias-primas locais. E ao fazer tudo isto é evidente que expulsa a influência e os interesses económicos de outros mais fracos, que nem podem emprestar tanto, nem exportar tanto. É o neo-colonialismo. Ora, meu caro senhor, nós não poderemos comparar a força económica e financeira da metrópole com a dos Estados Unidos. E o senhor está a ver, não está? Os americanos a oferecerem empréstimos baratos e a longo prazo; os americanos a oferecerem bolsas de estudo para formar médicos, engenheiros, técnicos nos Estados Unidos; os americanos a percorrer os territórios com a propaganda dos seus produtos. Em menos de um ano, de português não havia nada. Não, meu caro senhor, uma vez quebrados os laços políticos, ficam quebrados todos os outros. Mas então, sendo Angola parte de Portugal, não podem os americanos investir e exportar? Podem, decerto, mas têm de negociar com uma soberania responsável e com um governo que sabe exigir, ao passo que se o fizerem com um governo africano, inexperiente e fraco, sai-lhes mais barato. De resto, tudo isto está demonstrado: veja a Argélia, veja o Congo. Mas, para nós, o Ultramar não é economia, e mercado, e matérias-primas, e isso os americanos não o podem entender. Bem: este é um aspecto. Mas que quer dizer Ball com os prazos? É evidente que se os americanos estivessem dispostos a aceitar que Angola seja Portugal, não falavam de prazos. Poderiam querer discutir ou negociar connosco uma qualquer construção política ou jurídica que coubesse nos seus princípios teóricos, e depois apoiar-nos-iam sem reservas. Mas não: querem um prazo. Um prazo, para quê? E que se passa findo esse prazo? E enquanto decorre esse prazo, não acontece nada? Deixamos de existir no mundo, não se fala mais de nós? E os terroristas cessam os seus ataques? Ah! mas se os americanos podem garantir que os terroristas depõem aa armas, então é porque têm autoridade sobre os terroristas, orientam-nos, estão em contacto com eles. E os terroristas depõem as armas sem mais nada? Não exigem condições, não apresentam preço, e os americanos não assumem compromissos? Quais, como, para quando? E que promessas fazem ou fariam à Organização da Unidade Africana? E como justificaria esta o seu silêncio sobre nós e a ausência de ataques contra Portugal? Não, meu caro senhor, os americanos continuam a pensar que com jeito, docemente, conseguem anestesiar-nos e impelir-nos para um plano inclinado. (...)
Está claro que se aceitássemos o caminho dos americanos, em troca do Ultramar choveriam aqui os dólares, receberíamos umas tantas centenas de milhões. Ficaríamos para aí todos inundados de dólares e de graça. E sabe? Os que vierem depois de nós ainda haveriam de dizer: afinal era tudo tão fácil, não se percebe mesmo por que é que aqueles tipos não fizeram isto. Mas os dólares iam-se num instante, deixavam uma fábricas e e umas pontes, e depois começava a miséria. Duraria o ouro dois ou três anos. Depois era a miséria, a miséria, a dependência do estrangeiro. E em qualquer caso é-nos defeso vender o país.»
(Declarações de Salazar a Franco Nogueira)
in Franco Nogueira, "Um político confessa-se - (Diário 1960-1968)"
37 comentários:
Isto foi o que a CEE fez uns anos mais tarde connosco, com as nossas cotas económicas.
Eu gosto particularmente da frase "Portugal não está à venda".
É grandiosa, conforta-nos o ego e dá-nos a importância que julgamos merecer.
Tem apenas um inconveniente: não é verdadeira.
Vendemos parte da soberania nos Açores, numa Base Aérea que era um enclave americano de facto, a troco de lentilhas. Para afinal assegurar o que igualmente se poderia fazer em Angola: o resquício de civilização ocidental em conluio com os interesses exclusivos dos americanos.
Hipocrisia, isto? Nã...
E é verdade. Ficou a AutoEuropa e umas pontezinhas sobre o Tejo.
Resta é saber se o negócio que poderíamos ter feito com os diabólicos americanos não evitaria a desgraça que veio depois.
Sabemos que a desgraça CEE apareceu por outro motivo: comunismo e socialismo.
E outro ainda: governantes medíocres do género Cavaco.
mas já estou a colonizar isto aqui e o Dragão é susceptível...
«Vendemos parte da soberania nos Açores»
Alugar não é vender. Então, estamos a atamancar... tsss, tsss...
Nesse caso também não alugávamos Palmela aos alemães, ou a base de Beja aos mesmos germânicos, etc...
Então, a Albânia ou a Coreia é que é bom?...
Chicana, chicana... ainda e sempre, chicana trapalhona.
Semânticas e mais semânticas. Alugar, para o efeito é o mesmo que vender. Alienar, na linguagem marxista. Entregar a outrém o que nos pertence.
A diferença é apenas do pormenor da retórica.
E se alugamos os Açores porque não alugarmos parte da África que era "nossa" e recebermos a renda?
Desculpe lá José mas desta vez não diz coisa com coisa...
E para que conste, os EUA não são soberanos na base das Lajes, que é a Base Aérea nº 4 da Força Aérea Portuguesa sob comando, salvo erro, de um brigadeiro da respectiva força.
A semântica importa...
Portanto, "alugou-se", quanto muito, o uso de um equipamento militar, que continua sob comando português, e nada mais.
Daí até vender um território com duas vezes a área da França...
Mas agora é que era para discutir o tal realismo fantástico e apontar, no concreto do texto do Salazar, onde é que ele está; e onde é que ele se enganou e onde é que foi casmurro.
«E se alugamos os Açores porque não alugarmos parte da África que era "nossa" e recebermos a renda?»
A ignorância é a mãe do atrevimento.
Então não alugámos partes de Angola? À Diamang, por exemplo, no nordeste (Lundas) (um espaço quatro vezes maior que Portugal - para se lá entrar tinha que se ter uma espécie de passaporte ou autorização emitida pela companhia); às empresas petrolíferas, defronte de Cabina (americanos, vâ lá), etc.
Mas porque raio te pões a esgrimir sobre coisas de que não entendes nem conheces nem estudáste a ponta dum corno?
Eu sei: chicana. Sempre chicana.
Cada cavadela, cada minhoca.
O que é que pedes e mereces? Bengala.
O imperialismo americano está a chegar ao fim...
Vem aí uma uma crise maior que a de 2008 que será a machadada final para os motherfuckers dos americanos.
A expectativa é saber se os americonços vão sair da mó de cima de fininho ou com estardalhaço (guerra aberta com a Rússia e a China).
Não se vive sem o mito. O lugar dele é a literatura. Podes admirar Fernando Pessoa e Céline do mesmo modo, sem contradições estéticas insanáveis.
Mas imagina o que seria os dois a fazerem política.
"Portugal não está à venda"! Excepto à Diamang, à Exxon ( ou lá quem fosse), etc etc.
E depois sou em quem precisa de bengala.
Tu, só com soga.
"Mas, para nós, o Ultramar não é economia, e mercado, e matérias-primas, e isso os americanos não o podem entender"
Parece que alguns portugueses ainda entendem menos isto que os americanos.
«Vem aí uma uma crise maior que a de 2008 que será a machadada final para os motherfuckers dos americanos.»
Pois...
E o Costa quer medidas que aumentam a despesa e o consumo.
Um plano a dez anos, dizem.
Nem é preciso a bolha estoirar nas bolsas americanas.
Basta a Grécia sair do euro para o risco dos juros da dívida dispararem ser maior.
«Está claro que se aceitássemos o caminho dos americanos, em troca do Ultramar choveriam aqui os dólares, receberíamos umas tantas centenas de milhões. Ficaríamos para aí todos inundados de dólares e de graça. E sabe? Os que vierem depois de nós ainda haveriam de dizer: afinal era tudo tão fácil, não se percebe mesmo por que é que aqueles tipos não fizeram isto. Mas os dólares iam-se num instante, deixavam uma fábricas e e umas pontes, e depois começava a miséria. Duraria o ouro dois ou três anos. Depois era a miséria, a miséria, a dependência do estrangeiro. E em qualquer caso é-nos defeso vender o país.»
Se saíssemos não me parece que viesse miséria alguma.
A miséria veio depois do 25 de Abril com o assalto ao pote levado a cabo pela Esquerda.
Houve ainda um Cavaco pelo meio que lançou as bases de novo assalto que recomeçou depois em força com Guterres.
Estes não sonharam com o Quinto Império mas tinham o complexo Nova Iorque misturado com canalhice, chico-espertice, soberba, inveja, enfim, tudo o que há de pior no português. Tendo o complexo Nova Iorque sonharam com mamarrachos, pontes, auto-estradas, rotundas. E pelo meio umas engenharias sociais para parecermos modernos.
É interessante constatar como Salazar estava enganado quanto a uma parceria com os americanos. Tomou o amigo pelo inimigo, escaqueirando a porta às ideologias de esquerda.
.
Onde os americanos fizeram este tipo de parcerias esses países evoluiram fortemente. A Coreia do Sul, Taiwan, Chile, China, Polonia, Irlanda, ...e nos dias de hoje muitos países da América latina como a Colômbia,México etc. Cuba vai evoluir bastante com este novo acordo.
.
Portugal nunca soube tirar partido das riquezas das colónias para se desenvolver. E com Salazar esse tipo de comportamento tb nao se alterou. Viveu faustosamente com as riquezas das colónias, mas nao desenvolveu o império. Escravos, ouro, diamantes.
.
Teria sido mais proveitoso estabelecer parceria com os gringos. Não seria vender as colonias como salazar argumenta. Seria aproveitar o engenho e riqueza americana para nosso proveito, obstaculizado dessa maneira a entrada das esquerdas internacionalistas.
.
A ideia de Salazar é até um bocado infantil e desligada do mundo real. E vai na linha do orgulhosamente sós.
.
Rb
Eu não enxergo grande diferença, no q a este tema específico diz respeito, entre o pensamento de Fidel Castro e Salazar. Ambos teimosos e orgulhosamente sós. Acharam-se proprietários dos respectivos povos, e castraram-lhes o futuro devido a essa característica.
.
É evidente q se Salazar se aproximasse dos gringos muitas vantagens podiam ser colhidas para Portugal. Porque os gringos tem capacidade e engenho empresarial e influencia nas instituições. Não fora os gringos a permitir a entrada da China na org do comercio e a China continuava na pobreza. Não fora os investimentos massivos na China, na Alemanha do pos guerra, no Japão e estes não se tinham desenvolvido tao depressa.
.
Um gajo tem de saber viver e conviver. Salazar era inteligente e culto, mas um bocado provinciano. Esta ideia de não vender portugal é imbecil e demagógica. Era o contrario. Não precisávamos de vender, nem alugar as colónias. Podíamos e deviamos chamar os gringos e desenvolve-las. Qdo se descobriu petróleo em angola o provincianismo de Salazar veio à tona. " só nos faltava mais esta", terá exclamado. Qdo devia ter exclamado: q bom, vamos chamar quem percebe do assunto e explorar em conjunto a riqueza.
.
Ele parece q se acomodou a uma ideia edilica de uma nação cheia de terra. Olhava para potenciais parceiros com desconfiança excessiva. Uma espécie de Mania da Perseguição. Em vez de usar o poder q os nossos igrejos avós conquistaram - as colonias - para desenvolver a nação, parecia um velho avarento q não abre mao de nada porque acha q o mundo está contra ele.
.
Rb
Os olhos dele não enganam. Olhos de desconfiado. Ora, a prudência nunca fez mal a ninguém, mas a desconfiança metódica, excessiva e fabulosa já indicia uma patologia. Comum nos avarentos. Deve ser a mesma.
.
Ás vezes é proveitoso. Para tirar um país da ruína financeira até dá jeito ser assim. Nunca para desenvolve-lo.
.
O povo acomodou-se a esta característica. Pobre. Muito pobre. Pobres acomodados, apesar de q 1,9 milhões emigraram a ver se saiam da miséria.
.
A miséria era real. Todos meses distribuíam os cabazes de comida às gentes q se juntavam à porta de casa. Todos os dias apareciam gentes a quem a minha mãe mandava dar sopa e pão com marmelada. Crianças sem medico. Morriam crianças naquela altura como morrem hoje em alguns países de África. A vantagem é q as famílias produziam muitas. Meninas com 10 anos eram doadas pelas mães para viverem como empregadas domesticas. Nós tínhamos duas. A minha mãe diz q era para ajudar aquelas famílias. E era. Mas repugna. Trato-as como irmãs mais velhas.
.
Hoje, olho para o meu filho mais novo, com 9 anos, e penso como era possível termos chegado aquele ponto se ter q ceder os próprios filhos pequenos.
.
Orgulhosamente sós.
.
Rb
Bem, mas Salazar também tinha coisas boas. Ao nível do melhor q tivemos.
.
Foi essencial para resolver problemas financeiros do país. Teria sido fabuloso se tem saído logo após a II guerra. Se nessa altura tem entrado Marcello tudo seria diferente. Para melhor, estou convencido, pelo q tenho lido sobre ele na loja daquele cujo nome não pode ser invocado (não, não é o Valdmorte do haary Potter).
.
Rb
"Eu não enxergo grande diferença, no q a este tema específico diz respeito, entre o pensamento de Fidel Castro e Salazar"
Estou de acordo. E pode citar o nome por isso.
Lembrei-me da "barrela por uma Ideia" de que falava o Céline.
A grandeza moral convive por vezes com a pequenez de ideias mascarada de princípios rígidos de imutabilidade.
É um fenómeno psicológico frequente.
No caso do Castro nem a grandeza moral o salva porque é um assassino.
mas onde, onde almas do diabo, é que ele se enganou?!
Apontem ali no que ele escreveu. E não no que vocês inventam!
Ah não enxerga diferença?
Mas com o Hitler se calhar já enxerga não? Pois foi com quem esse monte de merda neo-machambeiro o comparou em tempos.
E há-de lá tornar...
É só iluminados... Comque então pequenez de ideias...
Segundo a vossa lógica iluminada tínhamos ido rindo e cantando para a 2a GG como agora também acusam o Salazar de não ter feito por "pequenez" de ideias...
Afinal, era só um pacto com os americanos... E depois íamos receber todo aquele cacau do plano Marshall!
Tinha mesmo ideias pequeninas...
O que vale é que temos tido quarenta anos de grandes ideias grandes como as vossas. Lá pactos não têm faltado...
E não vale a pena dizer que não são as mesmas. Porque se as do Salazar são do tamanho das do Castro...
Estão a sair do armário...
:O))))
Como é possível confiar nos americanos?
"Nos escaninhos superiores da política anglo-americana, no entanto, cruzam-se novas ideias quanto aos Açores. Roosevelt, com efeito, sente-se obcecado pelos Açores, e é encorajado pelo seu Estado-Maior. Fora sustado o seu golpe-de-força pela negociação luso-britânica, que tornara politicamente impossível aos Estados Unidos precipitarem-se sobre o arquipélago, e pelo acordo entre Londres e Lisboa, que privara Washington de qualquer pretexto ou fundamento. Mas o presidente americano exprime a Churchill o desejo de enviar aos Açores uma força naval dos Estados Unidos oito ou dez dias após a entrada em vigor do acordo anglo-português; Roosevelt sugere que de nada seja o governo-português avisado; as forças navais americanas, e aéreas, entram simplesmente nos Açores; e aos portugueses seria depois dito que ingleses e americanos "estavam imensamente penalizados" pelo que acontecera mas que, perante o facto consumado, "muito pouco poderiam os portugueses fazer". Churchill concorda, e entende que se deve reafirmar a disposição de declarar guerra à Espanha, se esta atacar Portugal em razão do acordo dos Açores; e salienta que o compromisso com os portugueses não especifica as forças a serem usadas para defender Portugal. Ainda em Setembro, o Estado-Maior americano apresenta ao Estado-Maior britânico "um plano para uso dos Açores". Segundo esse plano, os Estados Unidos pretendem os Açores como base de patrulhas e de luta anti-submarina, de protecção de comboios, e de apoio para transporte de tropas e abastecimentos destinados ao Reino Unido, Mediterrâneo, Índia e China. Para este efeito, os chefes militares americanos querem uma base naval em Ponta Delgada e outra na Horta; uma base militar nas Lajes, na Terceira; e uma base militar nas Flores. E propõem-se enviar para os Açores um efectivo de cerca de 10 000 homens. No pensamento do Foreign Office, este plano equivale à ocupação americana do arquipélago."
http://liceu-aristotelico.blogspot.pt/search?q=A+Luta+pelos+A%C3%A7ores+
Mais provas da "boa vontade" americana
"Abre-se o ano de 1943, e continua a pairar no país a sombra da ocupação de Timor. Não há contactos com o governador: mas as notícias que chegam a Lisboa dão conta do colapso da administração portuguesa e de atrocidades e prepotências dos japoneses sobre aborígenes e europeus. Consideram muitos que o território está efectivamente perdido para Portugal. São claras as ambições da Austrália e até da Nova Zelândia: e os governos dos dois domínios informam Churchill de que pretendem participar das decisões que sejam tomadas quanto ao Timor português. Oliveira Salazar, todavia, está firmemente decidido a recuperar a colónia, e pondera as alternativas possíveis e os seus riscos: negociar com Tóquio a retirada das forças nipónicas, mas as conversações havidas mostram que o gabinete japonês segue uma táctica dilatória; declarar guerra ao Japão, mas Macau será então sacrificado, com os 400 000 refugiados, além de ser provável que nessa hipótese Portugal perca a sua neutralidade na Europa e a guerra se estenda à Península Ibérica; aguardar a evolução das hostilidades, numa atitude passiva, com o perigo de esta ser havida por desinteresse e encorajar os desígnios de terceiros quanto ao território. Entretanto, desenvolvem-se com sucesso as operações aliadas no Norte de África, e melhora globalmente a situação estratégica dos Aliados; parece desenhar-se a vitória destes; mas a Alemanha, sem embargo do desgaste sofrido na frente russa, dispõe ainda de um forte poder militar. Salazar considera que se mantém a possibilidade de um ataque germânico à Península, ou de um desembarque em Portugal; continuam por isso as conversações de Estado-Maior com as autoridades militares britânicas; o chefe do governo dá finalmente a sua anuência ao plano, mais limitado do que o desejariam os ingleses, de demolição de instalações e vias de comunicação que pudessem aproveitar a um invasor; e para o efeito Salazar está a considerar a vinda, de Gibraltar, de técnicos em explosivos e peritos britânicos em destruições militares. Em almoço na Embaixada de Portugal, a 7 de Janeiro de 1943, Churchill declara a Monteiro, e perante os demais convidados, que considera Salazar grande homem de inteligência e sabedoria, e que se conseguir manter neutra a Espanha até ao fim terá prestado a todos um grande serviço. Entretanto, e embora persista em defender uma rigorosa neutralidade, Salazar não exclui que o jogo da aliança inglesa, ou um ataque alemão, ou a necessidade de recuperar Timor, possam levar Portugal a participar no conflito. Entre fins de Janeiro e princípios de Fevereiro de 1943, em sucessivas reuniões do governo e com as autoridades militares, Salazar estuda um plano geral a aplicar naquela hipótese. E em meados de Fevereiro é publicada legislação destinada a preparar o país para tempo de guerra, com mobilização de serviços e recursos nacionais.
(...) Não são infundados os receios de Salazar. Na mesma altura, com efeito, os militares ingleses e americanos retomam a ideia de utilizar os Açores como base aérea para aviões que dos Estados Unidos se dirijam à Europa e à Ásia, e como estação de reabastecimento de navios na luta anti-submarina; e entre Londres e Washington, no plano dos Estados-Maiores, reabrem-se conversações que não excluem o uso da força. Roosevelt e Churchill aprovam a ideia. "
"Mas no Foreign Office Eden opõe-se com firmeza: considera que seria violada a neutralidade portuguesa: e que, estando os Aliados a fazer a guerra para defesa da soberania das nações, este fundamento moral seria destruído. Eden insiste em que nenhum passo se deve dar por fora da mais estrita legalidade. Prevalece a opinião do secretário de Estado, e em conformidade é decidido consultar Campbell em Lisboa. Este é convidado a expor o "seu parecer sobre a reacção do Dr. Salazar no caso de ser invocada a aliança luso-britânica", tanto mais que o uso dos Açores "presumivelmente conduziria a um corte de relações, se não a uma declaração de guerra, entre a Alemanha e Portugal". Campbell avista-se com Salazar em 20 de Fevereiro e 2 de Março: mas não levanta o problema suscitado por Londres: limita-se a insistir por uma decisão quanto à vinda dos técnicos de demolições: e encontra o chefe do governo ainda reticente neste particular."
Numa coisa o Rb tem razão nesta matéria: é preciso pensar o e no futuro e isso, nas palavras da zazie, como se obtém? Por voto ou por reviralho?
A minha grande pena, mais do que ser um pecado porque este não pode ser culpado disso, é que não tenha ficado discípulos de Salazar com força para continuar a Obra.
Enviar um comentário