«O observador imparcial chega a uma conclusão inevitável: o país estaria preparado para a anarquia; para a república é que não estava. Grandes são as virtudes de coesão nacional e de brandura particular do povo português para que essa anarquia que está nas almas não tenha nunca verdadeiramente transbordado para as coisas!
Bandidos da pior espécie (muitas vezes, pessoalmente, bons rapazes e bons amigos –porque estas contradições, que aliás o não são, existem na vida); gatunos com seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas-natos com grandes patriotismos íntimos –, de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regimen a que, por contraste com a monarquia que o precedera, se decidiu chamar República.
A monarquia havia abusado das ditaduras; os republicanos passaram a legislar em ditadura, fazendo em ditadura as suas leis mais importantes, e nunca as submetendo a cortes constituintes, ou a qualquer espécie de cortes. A lei do divórcio, as leis da família, a lei da separação da Igreja e do Estado – todas foram decretos ditatoriais, todas permanecem hoje, e ainda, decretos ditatoriais.
A monarquia havia desperdiçado, estúpida e imoralmente, os dinheiros públicos. O país, disse Dias Ferreira, era governado por quadrilhas de ladrões. E a república que veio multiplicou por qualquer coisa – concedamos generosamente que foi só por dois (e basta) – os escândalos financeiros da monarquia.
A monarquia, desagradando à Nação, e não saindo espontaneamente, criara um estado revolucionário. A república veio e criou dois ou três estados revolucionários. No tempo da monarquia, estava ela, a monarquia, de um lado; do outro estavam, juntos, de simples republicanos a anarquistas, os revolucionários todos. Sobrevinda a república, passaram a ser os republicanos revolucionários entre si, e os monárquicos depostos passaram a ser revolucionários também. A monarquia não conseguira resolver o problema da ordem; a república instituiu a desordem múltipla. »
- Fernando Pessoa, "Da República"Depois de Salazar, regrediu-se ao antes dele. Tão simples, torpe e balofo quanto isso. Com uma relevante e gigantesca diferença: amputação territorial.
Após o 25 de Abril não houve revolução nenhuma: tratou-se apenas duma salganhada intrinsecamente reaccionária, das forças latentes e conspirativas dos últimos 48 anos, sob patrocínio "aliado", que trataram de remeter o país à balbúrdia doméstica donde, com grande sacrifício e esforço, se tinha tentado evadir.
A descrição de Pessoa do pós-5 de Outubro aplica-se que nem uma luva ao pós-25 de Abril.
Aproveito para declarar que na minha caixa de comentários bacoreja gente que merece integralmente o que resultou do 25 de Abril. Quando interrogo mentalmente o Criador sobre a necessidade de existirem carraças, percevejos ou animálculos parasitas e repugantes em geral, não obtenho resposta, mas presumo uma qualquer utilidade que me transcende. Sobre os comunistas, não preciso de incomodar o Criador, já que são obra doutro; pelo que interrogo o abismo. Até hoje não lhes vislumbrava qualquer utilidade ou benefício, bem pelo contrário. O que ia contra a minha própria teoria de que entre os homens não existe a capacidade do mal absoluto. Ultimamente, porém, pude constatar, com um certo alívio que, afinal, a minha teoria estava certa. Descobri que, mesmo dos comunistas, se extraiu e pode extrair algum benefício. E qual foi ele, perguntarão os meus leitores bípedes, com curiosidade pasmada. Pois, caros amigos, foi exactamente o de premiar condignamente o tipo de gente que rasteja nas minhas caixas de comentários. Deram-lhes o que eles mereciam e tanto procuraram. E espero, com algum requinte de gozo, que continuem a causar-lhes justa dispepsia e porfiada angústia, cevando-se, repimpadamente, na sua estupidez, pusilanimidade, e bifídia compulsivas, crónicas e, pelos vistos, incuráveis. Sempre se retira algum prazer desse insectódromo abjecto, onde se assiste à rixa doméstica entre a sida mental e a gonorreia do espírito.
22 comentários:
De qualquer forma, o nacionalismo mítico é muito mais republicano que monárquico.
Acaba por se associar ao Estado.
A monarquia tinha uma tradição diferente que vinha do rei e das casas reais. As alianças ultrapassavam a língua. Contradição para a ideia de que a Pátria é a língua.
Elementar, meu caro Dragão!
A maior parte dos portugueses vive num estado de ficção surrealista.
Os inteligentes, o escol, cada vez são menos, a maior parte em idade avançada e neste cenário a Alta Cultura tende a ficar adormecida.
Das massas salvam-se apenas os que se encontram ainda ligados ao Portugal profundo (à terra, à cultura, à religião) mas nada que uma qualquer Canal de TV não consiga merdificar o estado de espírito para deixá-lo em consenso com o ideal de Abril.
Às bestas quadradas que se julgam ser pensantes e que colocam o seu juízo dentro de uma niveladora por aquilo que existe lá fora, coitados... São a nossa pior e perigosa corja, os verdadeiros destruidores de Portugal.
Uma coisa que a história não nega (e que venha qualquer besta quadrada fazer o contraditório), é que...
Portugal, sempre foi grande quando fez o seu próprio caminho.
Pois, a monarquia. Afinal não percebo para que dizem que Salazar tinha ideias pequenas! A culpa é da monarquia! Deviam ter logo feito o pacto com a Inglaterra e a Alemanha no fim do século XIX!
E até havia grande diferença: na altura precisáva-se mesmo de guito porque se devia uma data dele. Mais ou menos como agora.
O neo-machambeiro tão amante da monarquia que venha explicar essa agora. El-Rei D. Carlos ou D. Luís teriam a dimensão de ideias de um Fidel Castro...
Nem vale a pena ir para a República, porque o problema já se punha antes... Pactuar ou não pactuar... E a gente que precisa tanto do cacau caraças...
De resto, Dragão, percebo que de certa e triste forma retire disto consoloção.
Só que eu é que não tiro. Eu e os outros ainda temos um lindo sarilho pela frente a resolver.
E pelo que se vê, só podemos contar mesmo, paradoxalmente, com quem já nasceu em plena bandalheira. A esses, a repulsa é-lhes intrínseca.
Os outros continuam a acreditar em pais natais... Queriam era um vestido de stars and stripes em vez do de foice e martelo...
Os camaradas, vivem do lixo socialista e maçónico. Não me admirava que o escritor do " capital", também fosse maçónico`, é um bom entretem para malta sem soluções e que normalmente vivem com o dinheiro dos outros.
Muja,
essa é uma fraca consolação e de consolação não tem nada. Quero é que essa malta toda se foda! E se se fodem uns aos outros, tanto melhor.
Quanto ao resto que diz, pois, lamento não poder contradizê-lo, mas é mesmo isso.
Esta malta foi mentalmente esterilizada. E compensa a ausência de consciência com a vaidade disso.
Caro Dragão:
Tenho vindo a acompanhar com emocionado interesse a sua perquirição dalguns factores condicionantes da Catástrofe que vivemos desde há 41 anos. Destacadamente, os apontamentos que dedicou ao estado da corporação militar parecem-me iluminantes e decisivos. (Mas os problemas são mais recuados: como poucos dias antes do 25 de 74, com os oficiais generais diante Caetano, lembro-me sempre da luzida exibição de 1910 dos generais e genaralíssimos no Buçaco, os seus entusiásticos “Vivas” a el-rei D. Manuel... duas semanas antes do 5 de Outubro.)
Contudo, a instituição castrense era apenas uma, entre outras. Quanto à instituição responsável pela governança política, o que tem vindo a dizer sobre Oliveira Salazar também é muito de ponderar. Como já lhe disse em mail particular (não por causa de "certa gente" da sua caixa de conetários), se esse grande patriota fosse quinze anos mais novo, ou Thomaz tivesse imposto a sucessão dele por Franco Nogueira, ou nas elites tivesse abundado mais o nervo e vontade de Salazar... – o desenlace poderia ter sido outro. (Mesmo na manhã de 25, se Maia encontra como opositor adversário, em vez do Romeiras, um homem como Jaime Neves, não haja dúvida que os soldados teriam disparado às ordens deste! E só a fragata ali à ilharga, totalmente artilhada para os exercícios Nato, tinha poder de fogo bastante para arrasar com a Baixa de Lisboa.)
Se... Poderia ter sido... – Sem dúvida nenhuma, para quem (como nós ambos) acredita na potencial liberdade maior ou menor de todos, e na sobrepujante força de carácter e de vontade de alguns. Mas, se a maior parte de militares e civis estavam fartos da guerra – fartos de uma guerra que o maior número nunca sentiu como sua –, iam agora matar-se entre si em pleno centro de Lisboa?...
O ciclo iniciado em 1415 terminou. E na ressaca próxima de 1975, se o 12 de Junho de 1985 terminou também com a entidade política autónoma chamada “Portugal”, é o que vamos vendo e se verá melhor. Na História das nações (como talvez na dos indivíduos..), uma catástrofe terminal nunca é extinção absoluta, sempre uma Mutação. A vida ultramarina dos portugueses não terminou, – mudou. Para dar apenas um exemplo, mais público e espectacular, veja o que foi conseguido em Timor 2000, contra toda a verosimilhança e apostas dos “realistas” da política lupina e maquiavélica... Um feito notável e uma esperança.
E, meu caro, quer saber a melhor? Também o Império não terminou. Terminou o temporal das elites em tempo advertidas pelo Velho que falou no final do IV dos Lusíadas. (O povo deste Velho, que várias vezes em Cortes se recusou a impostos para suportar a Expansão, já em 1578 estava farto dos “fumos da Índia”, e pouco contribuiu para o exército de Sebastião, na maior parte de mercenários espanhóis e flamengos, apressadamente e mal preparado nos areais da Caparica para guerras nas plagas marroquinas.) O povo do Velho tinha outro Império, até mais antigo, e que não deixou de ser servido por o que, temporal, tinha de acabar no tempo. Em sinal de reconhecimento ao que deixou aqui sinalado no dia 11 de Abril, lembro esse Império, de antes de 1325, quando foi regiamente apadrinhado por Dinis e Isabel. Se ainda o merecemos – o que não está garantido –, é de uma Força capaz de nos levantar da sepultura...
Politicamente, já lhe disse, o futuro é o Brasil, a Ocidente. Mas esta política, diante e após os dois séculos (XXI e XXII) de condomínio trilateral do mundo (Nortamérica-União Eurásica-China), pouco ou nada terá a ver com o que temos conhecido até hoje por “política”. Não esquecer que para portugueses do passado e lusíadas do futuro a “política” (o mesmo para a “economia”) sempre foi parte menor e incómoda da vida, com que tivemos sempre problemas, desde o choque entre a nobreza altiminhota e galega suportando D. Teresa e a portucalense em volta de Afonso Henriques – até ao trágico divórcio real entre D. João VI e Carlota Joaquina, com a guerra fratricida dos príncipes tragicamente estendida à nação.
O intemporal Império manda aos combatentes do bom combate outras guerras mais difíceis, que exigem uma (não hegeliana) cristã Reconciliação. Se não puder mais, continue V. aqui a escrever como César a nossa lusa linguagem: já não faz pouco demonstrando que ela não vive vigorosa só do outro lado do Atlântico.
(Terras de Trancoso, 25.04.2015.)
Dragãozito:
contem-te nos insultos que só te diminuis.
Sê um pouco mais inteligente que tems capacidade para tal.
Neste dia de "Finados", os meus agradecimenstos por este "refúgio" - e pelo livre exercício da Inteligência e o culto da Verdade histórica.
Caríssimo Duarte,
meu confrade e superior liceal,
É sempre um privilégio ter novas suas e sabê-lo vivo e atento.
Escreve com propriedade e estou em crer que, no geral, concordamos. Os males são sempre uma confluência que se vai sedimentando e agravando.
No caso da instituição militar, que conheço relativamente bem e completei com estudo interessado, houve decerto problemas que já começaram no tempo do próprio Salazar... O próprio "barateamento" da guerra era um pau de dois bicos: no geral estava correcto, mas num determinado essencial foi descurado. Futuramente, explicarei em detalhe.
Que Portugal se encontra no limbo também é um facto que a realidade nos impõe. Dos antepassados sabemos alguma coisa e, de algum modo, retiramos ânimo, ensinamento e moral. Dos vindouros só Deus sabe e esperemos que Deus os ilumine, guie e ampare, pois bem precisam.
Um forte abraço!
Zézito,
de insultos não têm nada. Seriam injúria se não reproduzissem com fidelidade. Ora, se pecam é apenas por escassez.
Aliás, essa escassez é apenas temporária. Acudir-lhe-ei a breve trecho.
Dragão- Tu não precisas de te fazeres de puto inculto porque não és.
Nem precisas de reactivas palermas porque nós somos os teus fãs.
Tu és literatura, não és política. Não confundas as coisas.
Para palermice já existe o Arroja.
Zazie,
«não precisas de fazer...»
E tomara eu ser um puto inculto!... Aliás, contentava-me em ser puto, nem precisava de ser inculto.
Teria menos inquietações e mais namoradas.
E por outro ficava ao nível mental de poder entender certos comentaristas de saguão...
Quanto aos fãs, por amor de Deus, não me despromovam a banda Pop!...
Ou então despromovam, desde que não me obriguem a cantar em inglês.
Ah, e és tu que passas alvará de palermice aqui no circo? Deténs o monopólio, é?...
O Arroja, fica sabendo, é o único tipo que eu invejo aqui neste Júlio de Matos: conhece pessoalmente a Marina.
E tem mais, no dia em que a Marina me chamasse palerma, aí sim, eu ficava triste, descoroçoado. Capaz até de me suicidar.
Afinidades, enfim.
Para que conste:
Eu não tenho (nem reconheço) fãs: sou fã. Da Marina.
Conhece?
":O)))))
Então a linguagem nematelmínteca vai continuar.
Bom proveito, lá pelas profundezas do húmus.
Eu sigo o meu caminho de procura.
E esta via daqui já sei bem onde vai dar: a um beco.
Ah, pensei que era uma cantora.
Sim, a Marina.
Mas a Marina tem juízo. Se aparecer aí vais ver.
Fica-te por Vivendis que andas a esforçar-te por isso.
Boa viagem!
Régua nos "eleitores socialistas e comunistas"!
O Paassos Coelho brilhará para todos nós!...
:O))))
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