terça-feira, abril 21, 2015

Acromiomancia Revisitada - XX. Ocloclismos e barricadas






«Jesus perguntou-lhe: Qual é o teu nome? - "Legião", respondeu.»
-Lucas, VIII 
Em 31 de Março de 1974, nas vésperas da golpada fantástica, Marcello Caetano decide tomar banho de multidão. Para o efeito, e muito apropriadamente, dirige-se à banheira de Alvalade onde assiste a um Sporting-Benfica do antanho.  O ocloclismo futebolesco é descrito pelo próprio no seu  "Depoimento":
«Quando o alto-falante anunciou que eu me achava no camarote principal, a assistência, calculada em 80.000 espectadores, como que movida por mola oculta levantou-se a tributar-me quente e demorada ovação que a TV transmitiu a todo o País. E note que, tendo saído do estádio quinze minutos antes do fim do desafio, não houve ninguém nas duas longas filas de pessoas que, como eu, procuravam evitar a confusão do final e por entre as quais passei que não me desse palmas - o que às pessoas que me acompanhavam pareceu ainda mais expressivo que a manifestação colectiva. E as informações que chegavam ao governo também garantiam sossego geral e apoio ao regime»

Menos de um mês depois, o mesmo  Marcello Caetano, cercado no Carmo ( por tanques velhos, mas uma multidão revolucinhária novinha em folha), descobre o reverso da medalha:
«(...) fui vaiado, insultado e caluniado, houve quem reclamasse o meu julgamento como criminoso(...) Assisti então sem espanto de maior, diga-se a verdade, ao vergonhosos espectáculo próprio das ocasiões revolucionárias em que o medo é o sentimento dominante e leva os homens às mais inconcebíveis manifestações de mesquinharia, de grosseria, de incoerência, de pusilanimidade e covardia.»
Onde estava o povo que o aplaudira vibrantemente em Alvalade? Quem era o povo que o apupava e injuriava descabeladamente no Carmo?
Jaime Nogueira Pinto, tem um trecho interessante sobre a matéria, quando escreve:
«Outra das ilusões que Marcello Caetano começou a cultivar foi o "banho de multidão". E é curioso notar que o trágico fim do regime, arrastando com ele o País, a meditação que o exílio lhe deve ter proporcionado, um balanço ao qual com certeza procedeu, não o convenceram nem esclareceram sobre o vazio de tudo aquilo. Não quer dizer que as multidões que o aplaudiam não fossem sinceras. Mas julgar que isso significa mais que a homenagem que um povo expansivo, dado ao acontecimento e à novidade como o português, presta a qualquer novo líder político, que apareça em cortejo, com polícias de moto à frente, é espantoso num homem que, sobre a multidão, os seus impulsos, crenças e sentimentos, escrevera algumas páginas lúcidas. As multidões que aclamavam Marcello Caetano eram as mesmas que antes aclamavam Salazar (que não lhes dava muitas oportunidades de o fazer) e depois Spínola. E se não aclamaram Costa Gomes é porque tudo tem limites!» 

Mas, francamente, será possível falar-se na "sinceridade" ou "falsidade" duma multidão? Vou mais longe: a multidão representa o povo - que "povo"? O estádio de Alvalade apinhado para um Sporting-Benfica representa exactamente o quê? É possível um plebiscito informal (como hoje em dia se faz com as  tais "amostras para sondagem") a partir dum estádio de futebol?  Ou duma arena de touros? Ou mesmo dum comício na Praça do Comércio?... E já agora, convém rectificá-lo, Costa Gomes também foi aclamado, em Belém, por uma multidão qualquer. Que não era, aí podemos estar certos, exactamente a mesma que aplaudira Spínola ou Caetano. Mas que, não obstante, representava a nova modalidade de poder informal que passava a ditar as leis: o poder da Rua. E de quem melhor pilotava, condicionava e manipulava multidões, multidinhas e multideias nesta. Turbas que, evidentemente, estavam distantes da "multidão espontânea" de Alvalade, em 31 de Março de 1974, mas, precisamente por serem mais dirigidas e telecomandadas se tornaram mais eficazes. Sobretudo, porque destruir é mil vezes mais fácil e expedito do que construir.
A pseudo-vigência spinolista, que sucedeu a Marcello Caetano e terminou, fruste e ingloriamente, no 28 de Setembro, soçobrou também após um ocloclismo afamado. Neste caso, não de índole futebolesca, mas tauromáquica (presságio deveras símbólico para a verdadeira tourada que se lhe seguiria). O episódio é rico de peripécias funambulares e enredos novelescos que merecem algum relato.
Estamos no dia 26 de Setembro de 1974. Para dois dias adiante está convocada a manifestação da Maioria Silenciosa. O seu principal objectivo é apoiar o presidente da República, general Spínola, de modo a fortalecer uma posição contra a deriva sinistra. Os partidos de Esquerda, PC e PS, pelos seus representantes no governo, bastiões da democracia de conveniência, pugnam para que a manifestação seja proibida.
No Conselho de Ministros, Santo Álvaro argumenta, em tom soturno: "trata-se duma manobra da reacção" "As informações dos camaradas comprovavam que eram fascistas que se iam manifestar" e, nec plus ultra, "independentemente da atitude do Governo os camaradas tudo iam fazer para desmontar a manifestação hedionda". Resumindo, mesmo que não fosse interdita de jure, seria interditada de facto.
Melo Antunes, como lhe competia, secundou a moção.
Já os dois ministros do PS, Salgado Zenha e Almeida Santos, advogados compenetrados, inauguram todo um modus operandi que nunca mais deixará de flagelar esta terra: propõem que se ilegalize a manifestação através de um decreto-lei. Devidamente estribada na lei, a repressão torna-se benignamente democrática.
Por seu turno, Magalhães Godinho destrata a projectada manifestação como "democraticamente impensável". A maioria estava pois pela proibição, mas nada de concreto ficou estabelecido ou consignado legalmente.
Acontece que nessa mesma noite estava prevista a tal tourada organizada pela Liga dos Combatentes.
Santo Ávaro, epítome viva da democracia, entendia que devia proibir-se também a corrida de touros. Nova discussão, entretanto interrompida por uma chamada telefónica de Spínola, a informar que ia à tourada. Sanches Osório e Firmino Miguel, ministros da Informação e da Defesa, apoiam-no e escoltam-no na viagem. Vasco Gonçalves, após instância do presidente, resigna-se a ir também. A cena do Campo Pequeno, deixo ao relato de Sanches Osório, participante no evento:
«Na tribuna Presidencial estavam o Presidente da República, o 1º Ministro; o Ministro da Defesa; o Ministro Almeida Santos; os generais Galvão de Melo, Jaime Silvério Marques e Almeida Viana, este na qualidade de presidente da Liga dos Combatentes, além dos membros das Casas Civil e Militar do Presidente da República, a saber: ten. Cor. Dias de Lima; ten. Cor. Almeida Bruno; Maj. Zuquete da Fonseca; cap. António Ramos e Com. Sameiro.
Da tourada vou apenas falar de dois aspectos: o ambiente muito festivo em relação ao Gen. Spínola e tremendamente hostil em relação ao Brig. Gonçalves.
A praça estava cheia. Cantou-se o Hino Nacional, deram-se vivas a Spínola o qual, em cada "sorte", era ovacionado. No intervalo houve um pequeno beberete onde compareci com minha mulher. Era patente o isolamento dos dois clãs: 1º Ministro e ajudantes, e Presidente da República e ajudantes.
Após o intervalo, ao reentrar no camarote sozinho, o Gen. Spínola foi triunfalmente recebido. Pouco depois, ao dar entrada o Brig. Vasco Gonçalves, verificou-se uma vaia formidável e intensa. Era gritante a inimizade pelo Governo e por aquilo que Vasco Gonçalves representava!
No fim da tourada novamente se deram vivas a Portugal e a Spínola.
No exterior, entretanto, havia-se organizado uma pequena manifestação com o slogan: "fascista escuta, o povo está em luta"; Abaixo a reacção"; "Viva o MFA"; etc.(...)
Além dos slogans, houve algumas agressões e correrias e um pelotão a cavalo da GNR ia pacientemente desmontando a manifestação.
Um ponto considero, no entanto, muito importante: verifiquei a presença, como líderes da manifestação, de oficiais da Comissão Coordenadora da Armada. Eram dois e convém dizer que a manifestação havia sido organizada pela União dos Estudantes Comunistas.» (in, O Equívoco do 25 de Abril")
A mesma tourada descrita agora da esquerda, por Diniz de Almeida:
«Perante uma Praça de Touros do Campo Pequeno com a lotação esgotada, Spínola surgiria no camarote presidencial acompanhado de Galvão de Melo e Almeida Bruno além de outros componentes da sua comitiva.
Com a chegada de Vasco Gonçalves, a ovação dispensada a Spínola, transforma-se numa vaia insultuosa.
(...)
Já no camarote, Silveira Machado propõe a Spínola que se faça um minuto de silêncio pelos mortos do Ultramar; pouco à vontade, Spínola vira-se para Vasco Gonçalves e pergunta-lhe a opinião...
-"Se fosse em memória dos combatentes Portugueses e dos combatentes dos Movimentos de Libertação caídos, eu concordava..." - assentiu condicionalmente Vasco Gonçalves: - "...agora ostensivamente só para Portugueses, não!..."
Spínola preferirá não insistir; virando-se agora para Silveira Machado, obstou então:
-"Bom, então é melhor não fazer; pode haver provocações e é preciso respeitar os mortos.
(...) A praça pareceu entusiasmar Spínola, que não descurou fazer o seu aproveitamento junto de Vasco Gonçalves como forma de pressão:
- "Como vê a praça está cheia... O Povo já estava desligado do Presidente da República... quando eu passava nas ruas já o sentia... mas agora, como vê, já estão outra vez comigo" - e exibia-os pouco discretamente a Vasco Gonçalves.» (in Ascensão, Apogeu e Queda do MFA, Vol. 1, pp.167)

E, de facto, galvanizado pelo ocloclismo tauromáquico, Spínola insiste em autorizar e abençoar a "manifestação de 28 de Setembro". Só que, pelos vistos, o presidente da  República daquela república não contava muito. Ainda para mais, acolitado por um espírito santo de orelha do quilate de um Costa Gomes...
Vasco Gonçalves, na qualidade de Primeiro-Ministro acaba por ser constrangido a emitir uma declaração de autorização à manifestação e de apelo ao restabelecimento da ordem. O boicote porém segue os seus trâmites informais: o povo é quem mais ordena. Já a 26, o plano do MDP/CDE, sancionado pelo General Costa Gomes inicia toda uma procissão de detenções arbitrárias, que os próprios MDPs elaboram e executam devidamente armados e escoltados por militares afetos. À volta de Lisboa são erguidas barricadas, guarnecidas por "brigadas populares" e procede-se ao controlo e revista de viaturas. Mais tarde o COPCON, enviado para as substituir, limita-se a assistir passivamente, quando não a auxiliar. Os comunistas tripudiavam a seu bel-prazer, sob o beneplácito socialista e a passividade dos restantes partidos menos à esquerda - pois já no dia 25, e nas palavras do próprio Spínola:
«Também recebi, separadamente, as visitas do prof. Freitas do Amaral e do Dr. Sá Carneiro para me comunicarem que os seus partidos - CDS e PPD - não participariam na manifestação...» (in País sem Rumo, pp.213)

Entretanto, quando a notícia das barricadas ad-hoc, com todo o seu arraial de atropelos, rebenta nas altas esferas, a Junta de Salvação Nacional reúne-se na Presidência da república,  onde é convocado o primeiro-Ministro, Vasco Gonçalves e onde se encontram também outros oficiais próximos de Spínola... A cena, onde Osório e Diniz de Almeida também coincidem na descrição, merece registo para a posteridade. Nas palavras do primeiro:

«O ambiente era muito tenso por causa das barricadas - que estavam a ser feitas em todos os acessos a Lisboa e em todo o país - e por causa dos apelos à sua intensificação e à intransigente vigilância das massas populares. Aguardei na sala enquanto os generais da Junta entravam para o Gabinete do Presidente da República.
Foi então convocado o 1º Ministro, que compareceu e entrou no Gabinete.  Ao estender a mão ao gen. Galvão de Melo, proferiu o cumprimento habitual:
- "Como está meu General?
O general ficou imóvel.
-"O meu general não me aperta a mão?", perguntou Vasco Gonçalves surpreendido.
-"Não, eu não falo a filhos da puta", respondeu calmamente Galvão de Melo.
-"O meu General é um estupor", respondeu o 1º Ministro.
Para evitar o pior, o Gen. Diogo Neto interpôs-se entre os dois e, de frente para o 1º Ministro, levantou a mão e exclamou:
- "Tu és uma vergonha! Meu comunista ordinário que queres levar o país para uma Guerra Civil. Se abres a boca parto-te a cara."
Nesta altura, e com a calma que me era possível, expus ao 1º Ministro o problema da manifestação e disse-lhe textualmente:
-"O governo emitiu um comunicado. É verdade. Mas, por outro lado, incitou os partidos a isolarem a manifestação, o que é pelo menos desonesto. Corresponde à boicotagem da manifestação."
Vasco Gonçalves respondeu-me:
-"Isso é uma calúnia. O senhor está a insultar-me."
-"Não estou", retorqui. "Isto são os factos tais como se passaram e eu não posso nem devo esconde-los".
O Gen. Diogo Neto interrompeu este diálogo e declarou, virando-se para o 1º Ministro:
-"És um merdas."
E o Gen. Silvério Marques acrescentou:
-"Olha-me bem de frente. Eu tenho 4 estrelas mas só duas são da Revolução: deixo-tas aqui, atiro-tas à cara. Tu vais dar ordem ao teu partido (entenda-se PCP) para acabar com a rebelião." (in O Equívoco do 25 de Abril, pp.96)

A  reunião, entretanto, prossegue já com a presença de Spínola e, a certa altura, Sanches Osório tem um desarrincanço ainda com mais piada:
«Nada nem ninguém pode fazer nada neste país enquanto não se souber quem manda!"
Pus então várias hipóteses: "A JSN? O Governo Provisório? A Comissão Coordenadora? Ou o estado Maior general das Forças Armadas?" E acrescentei que, naquele momento, o meu espírito não tinha dúvidas, o Poder encontrava-se numa quinta identidade: a Rua, controlada pelo PCP.»  (idem, pp.97)
Neste momento rubro, com o Poder na Rua e em quem lá ordenava, barricadas a céu aberto, prisões políticas em barda e  até o Santo Álvaro, coitado, pelo sim pelo não, a pernoitar na embaixada Soviética, o que faz Spínola?  Resigna. Demite-se.  Com que intuito inefável, senão mesmo mirabolantel?
«...com a convicção de que se impunha denunciar ao País, com toda a crueza, o grave desvio que a Revolução de Abril estava sofrendo, para que o Povo Português tomasse conhecimento de que, à sombra de uma falsa bandeira da Democracia, estava sendo conduzido para uma nova forma de escravatura.» (in País sem Rumo, pp.237)
O Povo a tomar conhecimento, depois de nele o general ter tomado banho,  não deixa de ser uma imagem tocante.
E passa a bola a Costa Gomes. Na esperança que este "uma vez satisfeita a sua ambição do poder, tomasse plena consciência das responsabilidades que iria assumir perante o País".

Moral da história?
Há alguém que a cunha bem melhor do que eu, até porque a tinha profetizado muitos anos atrás:
«Nós constituímos um regime popular, mas não um Governo de massas, influenciado ou dirigido por elas. Essa boa gente que nos aclama hoje, levada por paixões momentâneas, não poderá ser aquela que tende a revoltar-se amanhã, levada por outras paixões? Quantas vezes não me tenho deixado impressionar, comover, pela sinceridade clara, indiscutível de certas manifestações! Quantas vezes não me tenho sentido interiormente abalado, sacudido com o desejo quase irresistível, de falar ao povo, de lhe dizer a minha gratidão, a minha ternura. Mas quando o vou fazer, qualquer coisa me detém, qualquer coisa me diz: "Não fales! Arrastado pela emoção, pelo efémero, vais sair de ti próprio, vais prometer hoje o que não poderás fazer amanhã!" E conseguindo impor o seu perfil à própria treva cada vez mais espessa: -"Não posso mentir! Só poderei mandar, só me julgarei com autoridade para mandar, enquanto me sentir eu. A defesa do eu corresponde em mim à própria defesa da verdade. Se fosse arrastado por influências passageiras, se as minhas atitudes ou palavras fossem escravas do entusiasmo das multidões ou somente dos meus amigos, já não seria eu. E então não era honesto sequer que continuasse a governar.»
 - A.O.Salazar (In Entrevistas a António Ferro, pp.191)

A multidão - que em grego se diz oclos - é só o homem fora de si.


Nota: ocloclismo significa "banho de multidão". Pode ter um outro sentido que deixo à imaginação do leitor.

35 comentários:

Vivendi disse...

«Nós constituímos um regime popular, mas não um Governo de massas, influenciado ou dirigido por elas. Essa boa gente que nos aclama hoje, levada por paixões momentâneas, não poderá ser aquela que tende a revoltar-se amanhã, levada por outras paixões? Quantas vezes não me tenho deixado impressionar, comover, pela sinceridade clara, indiscutível de certas manifestações! Quantas vezes não me tenho sentido interiormente abalado, sacudido com o desejo quase irresistível, de falar ao povo, de lhe dizer a minha gratidão, a minha ternura. Mas quando o vou fazer, qualquer coisa me detém, qualquer coisa me diz: "Não fales! Arrastado pela emoção, pelo efémero, vais sair de ti próprio, vais prometer hoje o que não poderás fazer amanhã!" E conseguindo impor o seu perfil à própria treva cada vez mais espessa: -"Não posso mentir! Só poderei mandar, só me julgarei com autoridade para mandar, enquanto me sentir eu. A defesa do eu corresponde em mim à própria defesa da verdade. Se fosse arrastado por influências passageiras, se as minhas atitudes ou palavras fossem escravas do entusiasmo das multidões ou somente dos meus amigos, já não seria eu. E então não era honesto sequer que continuasse a governar.»

- A.O.Salazar (In Entrevistas a António Ferro, pp.191)

Que capacidade de transcendência.

Zephyrus disse...

Este último texto do Prof. é extraordinário. Não parece escrito por alguém... deste mundo.

Cada vez mais me convenço: um homem providencial.

Anónimo disse...

Vai buscar a boina vermelha que eu vou cagar! Aproveitas e jantas.

Anónimo disse...

Mais uma vez agradeço a partilha destes textos magníficos, Draconn.

josé disse...

O relato condiz com os recortes dos meus pasquins e é edificante.

Quanto ao teor da entrevista de Salazar é admirável, de facto, porque demonstra que Salazar nunca foi fascista. Se nada mais fosse preciso para o demonstrar bastaria isto.

E digo-o porque a palavra "fascista" ou fassista quando dita pelo sibilante Domingos Abrantes, assumiu foros de significados hediondos que congregam todo o mal que alguém pode fazer a um povo.

Comunista devia ter o mesmíssimo significado, mas não tem, como se sabe.


Por outro lado, o dito de Salazar parece-me que releva mais daquela antiga declaração- "devo a Deus a graça de ser"...tímido.

Parece-me ser essa a realidade. Mais que a outra do canto da sereia rejeitado.

Ricciardi disse...

A palavra comunista tem um significado bem pior. Não sei porque afirma o contrario. É só ver as votações do PCP q não vão além dos 8%.
.
O problema é q podem ganhar força se a populaça estiver descontente. Não porque se revêm no comunismo, mas antes porque se percepciona a única forma disponível de remover do poder aqueles q circunstancialmente não se gosta.
.
Em democracia, o povo tem feito isso, votando no centrão. Ora no PS, ora no PSD. Em ditadura o desagrado só pode ser feito pelo apoio aos extremos, dependendo de quem está no poder.
.
Manifestações populares e aclamações publicas valem zero. São cenas preparadas, como bem podemos observar na Coreia do Norte.
.
Interessa pouco, mesmo ao menino Jesus, discutir pessoas da governança e se quem falhou fou salazar ou marcello. Pessoas inteligentes e competentes andam por aí, seja qual for o regime. O q interessa é discutir os regimes e onde o sistema falhou, porque é q falhou e qual seria a melhor sistema alternativo.
.
Rb
.

Ricciardi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Impressionante.
Depois de uma relato destes é inevitável perguntar: o que será mais prejudicial, a maldade (Costa Gomes) ou a estupidez (Spínola)? Acho que me inclino para a segunda, sem ela a maldade encontraria outras resistências...

Miguel D

Ricciardi disse...

Quero falar com o dono desta fabrica, disse a tia que, durante o estado novo, se mudou para angola.
Ninguém respondeu.
Ela insistiu. Várias vezes. Ninguém lhe respondia.
Chateada disse o mesmo com maior vigor. Um preto dirigiu-se a ela e disse-lhe: "o q custa um bom dia?"
.
Um tanto incomodada a tia consegue falar com o dono da fabrica e conta-lhe o q lhe tinha dito o preto angolano.
.
O dono Mandou chamar o, creio ser esta a palavra, o síndico (policia).
.
No dia seguinte, à porta de casa, aparece o síndico que trazia o rapaz que lhe tinha perguntado quanto custava um bom dia. Trazia um papel para a minha tia assinar. Dá-mo então, disse ela. Senhora, está aqui no meu bolso, tire-mo SFF. Foi aí q ela percebeu tudo. Tinham partido as mãos ao rapaz e tinha aspecto de ter sido mal tratado. O q te fizeram rapaz? Tenho que levar o papel assinado senão perco o trabalho e o sindico mantem-me preso.
.
Esta estória, verdadeira, contou-me a minha tia, porwue se passou com ela. Uma estória q nunca lhe saiu da cabeça e q leva com vergonha; mas revela bem porque perdemos as colónias da forma como perdemos.
.
Fazer história recorrendo a jornais, manietados pela censura e lápis azul, não é fazer história verdadeira. É apenas um exercício de mentira.
.
A mesma mentira q encontramos nos jornais actuais das ex-colonias q exageram em sentido oposto. A verdade está nos relatos e no sentimento que o povo guarda desses tempos.
.
Rb

Ricciardi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricciardi disse...

Para mal dos meus pecados, o único que apresenta um argumento válido para a queda do regime, é o mujinha.
.
Ele diz q o problema do regime foi não ter conseguido ter mais eficiência na propaganda. Que terá perdido a batalha por défice comunicacional. Ou, dito de outro modo, para o mujinha, o regime era bom e o povo gostava muito dele, mas não soube insinuar-se no campo da propaganda tao bem quanto os opositores.
.
É um argumento válido. Porém não consegue ser validado pela realidade. Sim, a realidade é q o povao não sentia seguranca. Por isso emigravam aos magotes, às paletes, aos contentores. Este é o primeiro sintoma. Depois, as manifs dos estudantes. Depois, a lei da rolha. Depois, a pobreza (embora franciscana, abnegada e conformada). Depois os relatos dos emigrantes do mundo maravilhoso fora de portugal. Depois o mundo que a televisão ia revelando, os beatles, o sonho americano, façam amor e não a guerra. Afinal, em dez anos, o pessoal ficou a perceber q haviam outros mundos, com tolerâncias e regimes diferentes, onde o pessoal podia escolher e tudo. De repente, em dez anos, os portugueses perceberam q haviam outras formas de viver. Q não precisavam de se resignar a ser pobretanas provincianos. Q podiam sonhar em ser mais qualquer coisa.
.
Nesta altura, decisiva, Salazar teria de ter saído e dado lugar a um Caetano mais novo. Sem pressão, esse Caetano mais novo teria tido sucesso. Mas não saiu. Insistiu, persistiu e teimou até comprometer quem o viesse a substituir. Comprometeu tanto q seria impossível fazer melhor di que aquilo q foi feito a seguir.
.
Os portugueses tem um defeito insanável, pelos vistos. Ainda hoje ha pessoas (ver aí para cima um comentário) q atestam q o Salazar foi um homem providencial.
.
Ora, cruzem pois os braços e esperem sentados q a Providência nos envie outro.
.
Rb

zazie disse...

Os relatos maravilhosos e as saudades de beberem um bom château lafite no beiral do bidonville

Euro2cent disse...

> resignar a ser pobretanas provincianos

É nesta curva que os génios mal intencionados frequentemente apanham as suas vitimas, nos contos de fadas.

Não é que alguém aprenda.

Euro2cent disse...

É como o Orfeu, quase a sair do Inferno com Euridice, não resistiu a voltar-se para trás, deitando tudo a perder.

Tragédias, canções de bodes.

muja disse...

Não é preciso procurar um argumento válido porque não há. Contra factos não há argumentos e o regime - não caiu - mas foi deitado abaixo.

A propaganda de guerra falhou, creio que sim. Mas ironicamente não foram os pobretanas que o deitaram abaixo. Foram sobretudo aqueles que beneficiaram do bem que o regime lhes trouxe aos pais.

Os maiores opositores ao regime eram (e são) quase todos privilegiados.

Portanto, o que houve foi egoísmo. Egoísmo para obter os mundos maravilhosos, mas que ao cidadão comum diziam pouco. Afinal de contas, não valem ponta e ainda por cima têmo-los, mas de pechisbeque.

Essa sim, é a geração rasca.

Vivendi disse...

"resignar a ser pobretanas provincianos"


Até 1974, Portugal, estava dentro dos 20 países mais prósperos do mundo e desde então foi e continua sempre a descer.

Narrativas há muitas. E o que não falta por aí são contos abrileiros para entreter o pagode.

É escusado vir para aqui com argumentos demagogos.

Vivendi disse...

A chave da problemática prende-se com oportunismo...

Como o Mujah escreveu acima não foi o povo que quis a revolução, foram as (pseudo)elites(mimadas) pois achavam que podiam questionar e enfraquecer a autoridade.

O povo entendeu isto melhor que as elites.

"Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e sua História; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever."

AOS

Vivendi disse...

hehehe!

Digam lá quem é que ficou a ver passar os comboios...

http://viriatosdaeconomia.blogspot.pt/2015/04/a-ver-passar-os-comboios.html

Bic Laranja disse...

«Haviam outros mundos», haviam...

Bic Laranja disse...

... Saudades de beberem um bom Château Laffite no beiral do bidonville, também «haviam», pois está claro.

Bic Laranja disse...

Ou não eram bem saudades, eram mais um je ne sais quá.

Anónimo disse...


O Jacó não perde uma para manifestar o seu ódio paranóico a Salazar. Puta de doença! Se valesse a pena ainda se iria descobrir o que há no cadastro deste pencudo de má morte, que o levou a semelhante erisipela anti-salazarista.

Ricciardi disse...

Penso q o Jacó manifestou, para bom entendedor, a sua repugnância ao regime. Os sebastianistas, porém, confundem um mau regime com o homem sagaz e inteligente q o conduziu.
.
Rb

Ricciardi disse...

Penso q o Jacó manifestou, para bom entendedor, a sua repugnância ao regime. Os sebastianistas, porém, confundem um mau regime com o homem sagaz e inteligente q o conduziu.
.
Rb

muja disse...

Não deixa de ter a sua piada ver-se uma pessoa adjectivada de sebastianista por um israelita amador...

Paco Nassa disse...

"Onde estava o povo que o aplaudira vibrantemente em Alvalade? Quem era o povo que o apupava e injuriava descabeladamente no Carmo?"

Nada de novo.
Mudando apenas as localizações, Nicolae e Elena Ceausescu devem ter feito as mesmas interrogações nas últimas e dramáticas horas.
Foram executados, perante o mundo inteiro, a 25 de Dezembro de 1989.
Devem ainda ter, como um dos derradeiros pensamentos: onde estavam estes militares que ainda há poucas horas.....

Paco Nassa disse...

Após ler os últimos (e excelentes) posts mais os respectivos comentários só algumas "anotações":

1 - O Major-Comando Jaime Neves não deu uns "tabefes" a Pato Anselmo. Na Av.Ribeira das Naus, Jaime Neves (em articulação com Salgueiro Maia) foi tentar com que os blindados (municiados) de Pato Anselmo se passassem para o lado dos revoltosos. Perante as dúvidas, questões e recusas de Anselmo, O Major Jaime Neves regressou ao Terreiro do Paço onde se encontrava Salgueiro Maia. Regressou na companhia de Brito e Cunha (à civil mas armado) sendo este último que, ameaçando Pato Anselmo com uma arma lhe deu três hipóteses: passar para os revoltosos, rendição ou ir preso. Pato Anselmo foi detido. O Major-Comando Jaime Neves deu então ordem aos blindados comandados por Anselmo para virarem os canhões para o Tejo. Dessa cena na Av.Ribeira das Naus temos as fotos famosas dos soldados a fazerem o "V" de Vitória na dita Avenida.

2 - Não é correcto dizer que, na altura, o Comunismo estivesse de alguma forma fragilizado ou sequer em recuo. Muito pelo contrário. Foram os seus tempos de máxima força. Não havia "perestroikas" nem meias "glasnosts". Os países do pacto de Varsóvia eram "geridos" de forma firme, monolítica e implacável e transmitiam uma imagem de grande força militar (e NUCLEAR) que quem viveu aqueles tempos não olvida. A Guerra Fria estava ao rubro :-) e, para cúmulo, naqueles tempos, corria bem ao Pacto de Varsóvia...pois é de recordar que foi na altura que, por exemplo, os americanos sofreram a derrota humilhante do Vietname e que as colónias portuguesas em África passaram para a "órbita" da CCCP.

3- Marcello Caetano (ou qualquer outro) só poderiam, no máximo, adiar a catástrofe. Entalados no meio da implacável guerra de interesses entre as super-potências era só uma questão de tempo. Em 25 de Novembro era o fim da "festarola" (menos para alguns estarolas que acreditavam mesmo naquilo) os "poderes de facto" ficaram satisfeitos com os "despojos": a URSS ficava com a África portuguesa e os EUA ficavam com Portugal continental (mais as regiões autónomas). Tão simples como isto.

Paco Nassa disse...

Ainda relembrar que o Brigadeiro Junqueira dos Reis deu, efectivamente ordem de abrir fogo aos seus blindados sobre as forças de Salgueiro maia no que foi desobedecido primeiro pelo Alferes Sotto Mayor e, posteriormente por todos os outros militares da sua coluna que se juntaram aos revoltosos. Retirou-se num "jipe" da PM.

Unknown disse...

Creio que foi o Nogueira Pinto que aventou a possibilidade de vários protagonistas destes dias estarem sob chantagem, o que explicaria alguns comportamentos. Designadamente militares, como o Fabião, estariam sob ameaça do PCP de revelação de episódios ocorridos durante a guerra e que o PCP teria tido acesso a documentos dessa natureza no imediato pós 25/4.

O Caro Draco sabe algo sobre isto?

Miguel D

josé disse...

Ainda aqui não se falou nas hipóteses alternativas sobre o destino do Ultramar.

Vou colocar os "recortes" da praxe, para lembrar umas coisas.

Zephyrus disse...

O Ceausescu caiu depois de ter pago as dívidas da Roménia.

Curioso.

Mais recentemente traíram primeiro o Sadam, depois o Mubarak, a seguir o Kadafi, e quando os ingleses decidiram que não se iriam meter numa guerra na Síria lá desistiram de mais uma Primavera.

E o que fizeram ao Pahlavi?

Não é que os ditadores do mundo árabe fossem pessoas recomendáveis. Mas...

como se governam sociedades que misturam sunitas, xiitas, sufis, coptas, ortodoxos, judeus, inúmeras tribos e etnias?

lusitânea disse...

O crime maior da rapaziada das entregas quer se tratassem de adeptos internacionalistas sob as ordens de Moscovo ou de idiotas úteis ex-comunistas foi precisamente a modalidade das entregas ao estilo "nem mais um soldado para as colónias" que deu no que deu quer para Portugueses brancos , quer das populações indígenas.Foi uma repetição do envio do Lenine para Moscovo pelos alemães na IGG.Ele entregou tudo o que os alemães quiseram...

lusitânea disse...

Os doutrinadores dos libertadores diziam que a questão era o "fassismo" pois que os povos era tudo amizades.E era até serem submetidos à lavagem cerebral continua do comunismo científico.Agora vão lá para medirem as amizades...
Por cá a maioria sociológica de esquerda deveria ser mandada para lá para fazerem um estágio e avaliarem a sua obra...que por cá continua a ser "vendida" pela propaganda como havendo excelentes relações...

Zephyrus disse...

«Sim, a realidade é q o povao não sentia seguranca. Por isso emigravam aos magotes, às paletes, aos contentores.»

Emigravam de onde?

Maioritariamente das aldeias.

E porquê?

Tema complexo.

Portugal tinha e tem um problema de dispersão populacional em inúmeras regiões.

Espanha não tem esse problema e basta comparar o número de povoações que há, por exemplo, num sotavento algarvio, com uma província de Huelva.

No século XVIII os estrangeiros já notavam que fora de Lisboa não havia estradas nem canais. Não havia mercado interno a funcionar como em Inglaterra, França, ou nos territórios que constituem hoje a Alemanha ou o Norte de Itália.

Havia um povo disperso por lugarejos recônditos e quase inacessíveis. A viver de uma agricultura de subsistência e de umas cabrinhas.

E como a agricultura pobre e as cabrinhas não matavam a fome a todos os que sobravam iam para o Brasil. Foi assim no século XIX.

Mas no século XX a população explodiu nos lugarejos e mais uma vez a agricultura e as cabrinhas não chegavam.

Tentaram as Campanhas do Trigo que foram aliás criticadas por Salazar. Destruíram solos que já eram pobres no Sul e no Interior e veio maior fome e miséria.

Com as cabrinhas e a subsistência restava a migração e acima de tudo a emigração.

E tudo tem a sua raiz aqui.

Quando na Europa Média e do Norte o povo começou a abandonar os lugarejos, sítios e montes e a viver em cidades, e houve a Revolução Industrial, nós ficámos para trás.

Na década de 60 do século XX ainda estávamos para trás, não necessariamente por culpa do Regime, mas sim porque o problema era outro, e tinha mais de duzentos anos.

Salazar fala do problema numa entrevista que deu a uma revista argentina. Do apego às cabrinhas e às couves...

Antes de dizer que a emigração é culpa do Regime é precisar contextualizar... porque o problema era mais complexo.

dragão disse...

Miguel,

grande parte dos ficheiros da PIde/DGS foram parar à União Soviérica. É um facto. Serviu para chantagem, sim. E serviu também como garantia contra posteriores retaliações (nomeadamente no 25 de Novembro).
Todavia, houve ficheiros a sair em todas as direcções (embora, naturalmente, em número muito inferior e mais seleccionados de acordo a algum interesse especial)..