segunda-feira, março 23, 2015

A Acromiomancia revisitada - VIII. Células malignas



Os dois mais destacados "dínamos" políticos do MFA (entre vários outros menos conhecidos) são Melo Antunes e Vasco Lourenço.
Sobre o segundo, outro dos revolucionários de primeira linha do MFA, o Tenente-Coronel Luís Ataíde Banazol, escreve no seu opúsculo de 1976, "Os capitães generais e os capitães políticos":

«Peguemos de novo em Vasco Lourenço porque a Pide, se tem cumprido a sua obrigação, também teria pegado nele. (...)
Era um revolucionário dos pés à cabeça e por ele, nem teria sido necessária aquela arenga que fizéramos na reunião do estoril, em fins de setenta e três.(...)
Nos tempos "heróicos" da conspiração era o homem sempre "possível".
Vamos ver se nos explicamos melhor com este "sempre possível". Sempre possível marcar reuniões, contactos, diligências, declarações, assinaturas, votos, tudo. Sempre possível telefonar-lhe, marcar-lhe encontro, mandar-lhe dizer, ir pessoalmente. nem um minuto sem "revolução", nem um minuto sem agenda, sem programa. Meses a fio nisto.
A actividade sub-reptícia deste homem era fenomenal. serpenteava silenciosamente por todo o lado, farejava tudo, trazia sempre as últimas informações do que se passava a todos os níveis, militares e civis.
Foi, na verdade, um dos elementos aglutinadores do Movimento dos Capitães e dos poucos, desde o início, com a firme determinação de o transformar em Movimento revolucionário».

E de Melo Antunes, diz o seguinte:

«Do 'capitão-político' Melo Antunes não se lhe conhecem pormenores. Por aquilo que toda a gente sabe, parece que se "especializou" em planos, ao ponto de Vasco Gonçalves o apodar de como sofrendo de uma doença a que chamou "planite". Na verdade, o major melo Antunes foi celebrado como o autor do primeiro plano para o programa do MFA.»

Nunca é demais salientar que se trata dum retrato feito por um camarada revolucionário do MFA. Não são bocas da reacção.

Perante isto o que é que se pode dizer? Já se percebe porque é que não lhes sobrava grande tempo para combater o Subversão externa: estavam completamente assoberbados a reproduzi-la internamente. Ou seja, em vez de combaterem o inimigo, imitavam-no. Como é que se chama àquelas células que desenvolvem agressões e metásteses no próprio organismo a que pertencem? Cancros, não é?  Não deixa de ser curioso, e até bizarro, quando o amor à Pátria é substituído pelo tumor à Pátria. Isto é do mesmo jaez de vermos polícias desistirem de combater o crime e passarem a vir assaltar-nos a casa. Em nome duma qualquer revolução peregrina.


Definição de Guerra Suversiva: «Luta conduzida no interior de um dado território, pela sua população ou parte dela, ajudada e reforçada ou não do exterior, contra as autoridades de direito ou de facto estabelecidas, com a finalidade de lhes retirar o controlo desse território ou, pelo menos, de paralizar a sua acção.» {In Regulamento de Campanha - Operações - 1971]

A Guerra Subversiva é uma modalidade das Guerras Internas - «Há três formas principais de guerras internas: as revoltas militares, os golpes de estado e a guerra subversiva. As guerras internas, embora se desenvolvam sempre no interior de um Estado e adquiram sempre a aparência de um problema interno, podem na realidade ou ser exclusivamente internas, ou ser de origem interna e apoiadas do exterior, ou ser fomentadas e impulsionadas, fundamentalmente, do exterior.»  [Idem]

«As forças da organização militar subversiva podem compreender:
- voluntários que aderiram, mais ou menos conscientemente, ao movimento subversivo;
- elementos recrutados coercivamente;
- desertores das nossas tropas;
- chefes e especialistas militares.»
[Ibidem]

Onde se lê "desertores das nossas tropas" falta acrescentar uma espécie ainda mais perigosa e daninha ao esforço de combate à subversão: "Traidores das nossas tropas".  Como o MFA patenteou com exuberância.



PS: Mas que raio de aventura foi aquela do Exército Português se ter metido numa Guerra Contra-Subversiva, ainda para mais prolongada, sem um Serviço de Contra-Inteligência militar a sério?
               

7 comentários:

Bic Laranja disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivendi disse...

Marcello Caetano teve medo de ser orgulhosamente só...

E de que vale ser orgulhosamente só mesmo quando se está do lado da verdade?


muja disse...

Quando o tumor está na cabeça da hierarquia, vale de alguma coisa a contra-inteligência?

Anónimo disse...

D. Vasco Lourençote...Lembro-me sempre da máxima do General Hammerstein-Eqord:
os oficiais dividem-se em diligentes, preguiçosos, burros e inteligentes. A maioria é constituída por burros e preguiçosos. Os inteligentes e diligentes são essenciais para o apoio aos chefes. Os preguiçosos e inteligentes devem ser reservados aos cargos de maior responsabilidade, mas os mais perigosos de todos são os burros e diligentes.
Ao ler o postal do Draco temos de concluir que o prussiano tem razão e que em diligência e estupidez não há quem se meça com o bom Vasco. Burro e diligente não o descreve, os burros não são tão limitados e os diligentes descansam de vez em quando. Para nossa desgraça, Deus Nosso Senhor dotou-o de um encefalograma de um bidé e da energia coelho Duracel.
De todas as barbaridades que com regularidade suiça saem daquela cabeça, gosto mais da eleição do 25/4 como a operação militar mais competente da nossa história. 900 anos arrumados com uma pinta destas não é para todos.
Nisso, o próprio Costa Gomes tem algum sentido do ridículo. No livro de entrevistas/biografia publicado há pouco dizia que tinha sempre desaconselhado o golpe na Metrópole, preferindo a Guiné ou Moçambique. E que, do ponto de vista militar, as hipóteses de sucesso do plano que vingou eram bastante reduzidas.

Miguel D

majoMo disse...

Do Melo Antunes fica a esperteza da necedade típica das elites abrilinas, disfarçada na pomposidade da intelectualidade vácua e inchada:

- Qualifica a Descolonização como: "O maior feito dos portugueses desde as Descobertas" ...

dragão disse...

Até o Banazol, sobre a descolonização, confessa:
«A descolonização como está á vista foi uma hecatombe.»

José disse...

Tenho um pequeno dossier particular sobre o Lourenço das suíças atávicas que O Jornal publicou. Ou o Expresso, já nem lembro bem.

Vou reler e analisar se vale a pena publicar.