quarta-feira, março 25, 2015

A Acromiomancia Revisitada - IX. Contra ventos e cata-ventos





«Lisboa, 5 de Agosto de 1964 - mais uma vez se discute a política das grandes potências ocidentais em África. Diz Salazar com ímpeto: "a minha raiva toda está em que daqui a vinte anos haverá portugueses amigos dos Estados Unidos e de Inglaterra, e estará esquecido que nos querem espoliar. E eu não estarei vivo para evitar isso dizendo simplesmente a verdade"
- Franco Nogueira, Diário 1960-1968

(Estas duas citações que se seguem são especialmente ao cuidado do Euro2cent, um expert na fauna em questão):
«Lisboa, 23 de Agosto de 1964 - Williams, o dos sabonetes, ten procurado envenenar Tschombé contra Portugal. Acentua-se uma tendência para internacionalizar a situação congolesa.»
- Idem.

«Lisboa, 6 de Maio de 1965 - Salazar ficou particularmente irritado com os americanos: com efeito, Williams (o dos sabonetes), disse a Garin que a nossa política em África estava a pôr em perigo a segurança dos Estados Unidos. Por outro lado, um americano de alto nível (Salazar não me disse quem) teria afirmado ser necessário modificar a situação interna portuguesa, na metrópole. "mas não o conseguirão", diz o chefe de governo com ênfase, "mas temos de ter cuidado porque são brutais. Quando rompermos é porque está perdida a esperança de uma situação amigável.»
- Ibidem.

Lisboa, 31 de Dezembro de 1965 - Findo o ano em trabalho com o Presidente do Conselho. Como eu lhe desejasse um bom 66, replica: "tenho muitos receios para 1966. Vai ser um ano muito difícil. Talvez mais do que os anteriores. Isto da Rodésia vai ser uma crise grave, complexa, prolongada. Quem sabe se, por acto do Ocidente, não estaremos a assistir ao princípio do fim do homem branco em África?! Talvez seja propósito dos Estados Unidos e da Inglaterra destruir toda a África, utilizando para o efeito a subversão e a autodeterminação e o comunismo, sabendo que depois de tudo destruído a África há-de voltar a apelar para a Europa e o Ocidente - mas então só para os grandes. E assim se eliminaria Portugal de África. Sinto alguma revolta quando penso que já não existirei para denunciar isso.»
- Ibidem

Em Julho de 1964, De Gaulle acusa os Estados Unidos de "apenas aceitarem o seu próprio colonialismo e de quererem substituir a França na Indochina". Sabemos no que terminou. E de como a acusação de De Gaulle era não só perfeitamente fundada, como pecando apenas por escassa e tardia.
Em relação a Portugal, a coisa foi ainda mais torpe e, em larga medida, sinistra. Primeiro tentaram o bullying. Salazar não cedeu, nem pestenejou. Ao mesmo tempo investiram no fomento da Upa, que, em 1961, consumou todos aqueles edificantes massacres do Norte de Angola. Com base no exemplo dos belgas a norte, era suposto os portugueses fugirem apavorados e embarcarem à pressa para a metrópole. Não fugiram. Os que não acabaram mortos à catanada, resistiram heroicamente. É  de O Braseiro da Morte (Diário dos primeiros 120 dias de terrorismo nas terras de Angola), que retiro os trechos que se seguem:

«Logo no primeiro embate, a táctica terrorista deixou a marca com que saíra dos cérebros diabólicos que a criaram e orientaram. Fora ensaiada na Argélia e no Congo, perante a França e a Bélgica que viram de braços cruzados falhar toda uma política reles de acomodatícia feição egoísta. Podemos dizer que, economicamente, a UPA foi larga e descaradamente subsidiada para a prática terrorista de genocídio, com o dinheiro entregue pelo "American Comittee for Africa", ao famigerado Holden Roberto. (...)
Em fins de 1960, Holden Roberto foi aos Estados Unidos receber instruções e fundos para a invasão do Congo Português, que viria a realizar-se quatro meses mais tarde.
Em Inglaterra, nossa velha aliada - parece que é isso que os tratados rezam - Amílcar Cabral angariava fundos idênticos, de colaboração com o "Comittee of Africa Organization". por outro lado, Mário Pinto de Andrade recebia do próprio Krushef uma longa mensagem de apoio à traição à Pátria e de agradecimento a outra de submissão ao comunismo que o malvado português lhe enviara..»
(...)
Março, 15 - No Quitexe há 19 mortos europeus, horrorosamente  trucidados ou de carnes esfaceladas e retalhadas, membros decepados e cabeças cortadas.(...) Ainda no Quitex, na fazenda do José Poço, é assassinado  o proprietário e cortado, depois de morto, aos bocadinhos. Um filho deste, de onze anos apenas, empunha uma pistola que fora a única defesa de seu pai e, aos tiros, enfrenta a matilha de lobos esfaimados agora ao assalto. Desta forma se salva a mãe e outras pessoas que a fuga dos criminosos deixa em ânsias e entre lágrimas de dor. (...)
Março, 16 - Pelas zero horas da noite passada, o patrulhamento era intenso, feito especialmente por civis armados que se deslocavam em carrinhas, incessantemente, a perscrutar a noite negra e chuvosa. (...)
Março, 17 - O ambiente tétrico e a sensação de desamparo vão, enfim, terminar. Chegam reforços de tropas da Metrópole, constituídos por "caçadores especiais", carros ligeiros e algum material bélico. Distribuem-se armas e munições aos civis. (...)
Março, 18 - O negro tornou-se instrumento de cobiças políticas, de missionários habilidosos, com vários patrões, protestantes ou evangélicos. Servo fidelíssimo de uma mitologia e de um messianismo fortemente inveterados no cérebro fraco desses desgraçados que chegam a acreditar na ressurreição imediata depois da morte em combate, fácil foi, e económica, a doutrinação criminosa dos protegidos traidores americanos e ingleses. (...)
Março, 20 - Principiam a escassear os géneros alimentícios, sem que providências se tomem para urgente abastecimento. Os hotéis e restaurantes só fornecem como medida preventiva, sopa e um prato, às duas principais refeições. Recomeça o pesadelo. Não se dorme e come-se o que calha e o que há. (...) Faltam armas e munições. Muitos europeus pouco mais têm do que as mãos para resistir a um inimigo poderoso que recebe ajuda constante a apoio oficial da ONU e seus donos... (...)
Março, 22 - Foi organizada a Milícia para proteger as fazendas ameaçadas e onde os europeus juraram morrer a combater por elas. Começam a aparecer "carrinhas" e camiões com desenhos de animais (leões, elefantes,etc e outros de influência psicológica) com legendas de guerra para levantar o moral de muitos que nem a morte temem. Eis, só para exemplo, esta, escrita a tinta negra, na guarda metálica de uma carrinha:
          «ESTA É A CARAVANA
           DA FAZENDA 'VALE DO LOGE',
           MORRA UM HOMEM FIQUE FAMA
           DESTA TERRA NINGUÉM FOGE.»

Março, 26 - A brigada da Televisão chegou a Carmona. Antipátiica, a insultar os que sofrem e choram a morte de entes queridos, acusando a população europeia de provocar a chacina. fedelhos empertigados, vomitando, à priori, conclusões sem fundamentosério, não podem nem querem avaliar a extensão do nosso drama (...)
Abril,  1 - Foi hoje conhecida a prisão do cónego Manuel das Neves, imediatamente transferido para Lisboa. O que se diz agora por aqui, é doloroso. Parece que os bandoleiros tinham pensado desencadear a luta no dia de Páscoa ou sábado anterior. E que na Sé de Luanda haviam sido armazenadas muitas catanas de gume bem cortante. É que o cónego queria tudo com muita limpeza... (...)
Abril, 5 - Confirma-se a triste e agoirenta notícia. Fora atacada de surpresa uma força militar que saíra em socorro de um 'jeep' saído na noite anterior. Estes militares chacinados, barbaramente mutilados, vieram para Carmona. De Luanda virá um avião para carregar o montão de carne esfacelada, corpos decepados, juntos no local. Os nervos não aguentam mais. Apenas a "Milícia" se mantém na defesa da cidade mártir, condenada pela cobiça dos assassinos empurrados de fora. (...)
Abril, 18 -  O Quitexe foi mais uma vez sacudido pela onda negra criminosa e covarde que só ataca de noite. A força militar ali aquartelada defendeu a população e bateu-se bem. (...)
Abril, 21 - pelas quinze horas chega a notícia de que no Úcua se produziu um recontro entre os bandoleiros da selva e forças paraquedistas, apoiadas por populares. Houve avultadas baixas nos terroristas e três prisioneiros que, por certo, hão-de dizer coisas interessantes.
Dos nossos, lá ficaram dois paraquedistas a regar com o seu sangue generoso uns palmos de chão desta Angola (...)
A Luanda chegam, incessantemente, reforços humanos e munições abundantes que a metrópole nos envia. Salazar cumpriu. O novo Governo esmagou os dúbios e arrumou traições que poderiam vir a ser a nossa ruína e a morte dos sobreviventes do Congo. (...)
Junho, 12 - As baboseiras da ONU conseguiram mostrar o empenho americano pelas riquezas do solo de Angola, cobiçadas um dia pelos ingleses e disputadas após a legalidade de direitos dos portugueses que daqui não sairão, nem por medo nem por ameaças ridículas que suscitam o escárneo contra os novos bandidos deste século. (...)
Junho, 14 - Na zona de Canabatela foi preso um pastor protestante congolês, angariador de pessoal para os actos terroristas. (...)
Junho,16 - A cidade começa a animar, erguendo-se das cinzas a que começou a reduzir-se. Confiante na acção do novo Governador Distrital, a população cresce para novos heroísmos.»

                                                -----//------


Salazar definiu bem a coisa: um país de alianças, sem aliados. Em que o principal aliado da NATO e  o mais velho aliado na Europa se comportaram como velhacos instigadores da subversão, da traição e da desagregação portuguesa.
Sentia revolta e raiva, o idoso governante, por já não vir a estar vivo, decénios adiante, para dizer simplesmente a verdade. Bem, a verdade é que a verdade não morre com os homens. Porque outros homens nascem, outros homens vivem e a verdade pode até ser soterrada por entulhos de mentiras, pode até ser esquecida por enxames de amnésicos, pode até ser vilipendiada por formigalhões de acéfalos, mas não morre. Não perece. Não expira o seu prazo. As mentiras podem ser substituídas por outras mentiras, mas nenhuma delas pode substituir a verdade.




Nota: Leituras recomendáveis e complementares deste postal:

http://dragoscopio.blogspot.pt/2006/09/memria-perdida-iia-metstase-submersa-o.html
http://dragoscopio.blogspot.pt/2006/09/memria-perdida-i-o-singularismo.html
http://dragoscopio.blogspot.pt/2012/11/forum-descolhonizacao-2-resistenci.html

36 comentários:

Zephyrus disse...

Gostaria que fosse ainda mais longe.

A coisa é muito mais sinistra e opaca.

JSP disse...

Os seus textos são um serviço à memória de uma Pátria e de um Povo.
Infelizmente, as gerações actuais abastardaram-na e abastardaram-se, muito provavelmente para além de qualquer possível remissão.
Cpmts.

Anónimo disse...

Um grupo de hienas comem a presa. Um grupo de leões acerca-se do festim e pretendem a presa só para eles.
As hienas lamentam a injustiça. Afinal o esforço para cansar e apanhar a presa foi delas. Acusam os leões de malvadez. Algumas escrevem as memorias como reposição da verdade para as gerações futuras. Sentiam raiva tambem por achar que poderiam a desconhecer a verdade de que os leões roubaram a presa.
Um dia, no futuro, refasteladas numas cadeiras, as hienas lêem os textos antigos. Todos ouviram os lamentos da hiena escritor acerca da injustiça perpretada pelos leões.
Nessa altura levanta-se uma hiena mais arejada e viajada e diz: é engraçado mas acabei de ouvir essa historia contada pelas verdadeiras vitimas: as gazelas. Dizem que os leões vinham salva-las e que as hienas malvadas não queriam largar a presa.

José disse...

Qual a alternativa? Aliarmo-nos com a Pérfida Albion e tomarmos de assalto a África austral, contra os "ventos da História"?

Ventosidades, claro, mas que cheirando mal invadiram todo o espaço público das opiniõe spúblicas ocidentais.

O Wiiliams do creme de barbear foi apenas um. Na Rodésia, uma experiência solitária de resistência a essas ventosidades sucedeu o que sucedeu.

Salazar tinha razão? Tinha. E daí?

Era possível mantermos como nossas as possessões ultramarinas com o que agora se sabe do devir histórico da segunda metade do séc. XX?

O leite derramou-se muito tempo antes de chegar às nossas possessões ultramarinas e para situar um pouco, talves tal tenha acontecido logo em 1945.

Mas...quem é que provocou 1945?

Defender, como implicitamente defendes, que deveríamos resistir até à morte do último soldado ou então contra todos essas ventosidades e outras ventanias é pueril, acho.

Impossível e fantasioso, acho.

Mas...gostaria de estar engando e não ser engavetado na fila dos "formigões de acéfalos". Até porque não me considero como tal...

José disse...

Porque é que não resistimos em Goa, Damão e Diu?

Também foi o Williams o culpado?

Anónimo disse...

O dragão vive no mundo da mitologia. De homéricas figuras. Um mundo de papel e tinta onde o exemplo é dado por seres irreais. Que podem tudo.
Neste campo é possível a uma formiga eliminar um elefante num corpo a corpo directo. No campo mais terreno e menos homérico, a formiga dá à soleta e só quer mesmo que os estragos potenciais no formugueiro sejam minimizados

José disse...

Lembro-me que na escola primária que frequentei a minha saudosa professora também pensava assim, com a força desses mitos antigos.

As barbas de D.João de Castro e o penhor das ditas; os conjurados de 1640 contra os espanhóis que defenestraram o traidor Miguel de Vasconcelos; lá mais atrás a cruz inscrita no in hoc signo vinces; ainda mais, a coragem indómita de Viriato contra os romanos; ou o mito de D. Afonso Henriques a a Ínclita geração que nos deu as possessões do Ultramar.

A nossa História teve depois um d. Sebastião e ainda andamos á procura de outra geração de Ínclitos.

Não temos. Quando muito teremos algumas figuras que como Salazar fizeram o que deviam e nos honraram.
É disso que devemos estar à procura e mais nada.

Mais mitos, por favor, já basta os que temos e emolduram muito bem a nossa História.

muja disse...

Ó José, desculpe, mas está a ser demagógico.

Primeiro, a União Indiana atacou e invadiu o território português - e português sem dúvida, até para instâncias internacionais (daquelas que "reconhecem" referendos) - com um assalto militar convencional para o qual estaríamos sempre em desvantagem numérica, para não falar logística e de material.

Resistimos quando se pôde. Tolice era querer depois retomar aquilo de assalto. Mas resistiu-se sempre no campo diplomático até um escroque qualquer reconhecer, supostamente em nome do povo português mas sem o consultar, a soberania da Índia sobre um território que nunca lhe pertenceu.

O que se passou em África não foi isso. Não foi um assalto convencional nem descarado. Foi o desencadear de acções terroristas contra civis que passaram depois a fazer-se em paralelo com acções de guerrilha.

A isto conseguíamos resistir. A prova é que resistimos.

E por mais inevitável que V., ou seja quem for, pinte o futuro que nunca chegou, ele não chegou. Não chegou passado um ano, nem dois, nem três, nem dez, nem treze. Durante treze anos se evitou esse futuro inevitável. E com que garbo e com que êxito!

E só não se evitou mais porque alguém, talvez pensando assim como o José, decidiu em nome de todos os portugueses, em nome de vinte e tal milhões de pessoas, sem, talvez, consultar quinhentas, que o melhor era apressar o inevitável não fosse ele mesmo evitado de vez...

Portanto, profecias que os profetas cumprem não são profecias. São fraudes. Fraudes, trapaças e enganos.

E se é sustentável especular que era inevitável perder a guerra, também o é - e facilmente - sustentar que não.

zazie disse...

Que raio de honestidade é essa capaz de dizer que o José defendeu a entrega abrilista?

É por causa dessas demagogias e lunatismos que não temos Direita.

zazie disse...

«E se é sustentável especular que era inevitável perder a guerra, também o é - e facilmente - sustentar que não.

Isto é uma falácia.

A primeira sustenta-se com os exemplos hsitóricos.

A segunda não se sustenta porque não existe um único paralelo nesta galáxia.

zazie disse...

O José já lhe explicou o sentido de perder ou ganhar que não era militar mas político.

Vir para aqui distorcer o que ele escreveu no blogue dele e cobardia.

muja disse...

Ó Zazie se não sabe ler, aprenda, irra!

Vá passear.

E cobarde é a puta que a pariu que já estou farto dessa conversa.

E eu não distorço nada. E se alguma vez o faço ou fiz é sem intenção e não é preciso mais que um reparo para eu corrigir.

José disse...

Calma. É como diz a Zazie: eu não defendo nem defendi jamais a entrega apressada das possessões ultramarinas.

O que sempre defendi é que era inevitável termos de entregar aquilo. E se a guerra podia de facto ser ganha às pinguinhas nunca poderia ser uma vitória total. Tal como Israel não tem nunca uma vitória total. Tem que andar sempre a defender-se e era isso que nos tocaria.
E isso acho que seria utópico pensar que poderia ser aguentado dezenas e dezenas de anos após o 25 de Abril de 74.

Fantasiar com uma vitória possível não é o mesmo que verificar uma derrota inevitável porque a História assim o mostra com os exemplos.

E mostrei que a Rodésia é o mais eloquente. COmo o é o Brasil, com o mesmo contorno.

Ou acha que ainda hoje deveríamos ter o Brasil e que D. Pedro foi um traidor inqualificável?

Octopussy disse...

Este blogue merecia ter comentadores mais civilizados. Ou então, caro dragão, sugeria dar-lhes o "estatuto dos indígenas", como o Acto Colonial dis O indígenas dos tempos do Salazar. Devem ser tratados com igual excepcionalidade.

José disse...

E só fumaça...isto de civilização também aguenta umas caralhadas de vez em quando porque não são para agredir verdadeiramente mas apenas para desopilar.

Penso eu de que.

José disse...

Por outro lado, pensar que poderíamos ser um exemplo único no mundo e capazes de torcer o vento é pedir demais seja a que povo for.

Por isso é que apresentei o caso da Índia: não tivemos força suficiente para vergar esse vento como não tivemos, décadas depois para vergar a Indonésia que nos invadiu após o 25 de Abril. E não eram comunistas...

Só conseguimos alguma coisa porque os ventos da História mudaram com um certo massacre num cemitério, muito mediatizado.

Depois mandamos um barco simbólico para fazer de conta que ainda havia militares em Portugal.

Porém, foi uma coisa que é melhor nem falar muito.

O que voltou a encher-me de chieira com as forças armadas que temos foi o papel da Marinha na queda da ponte Entre-os-Rios.

Mostramos aos franceses quem ainda somos...

Ricciardi disse...

Pois é isso mesmo. Embora não saiba o que são ventos da história, os ventos da mudança (winds of change) podem-se sentir. Ele há ventos que sopram que um bom líder deve ser capaz de os interpretar e submeter a estratégia aos melhores interesses dos liderados. Nem sempre a força é a melhor defesa desses interesses.
.
Eu compreeendo a primeira reacção de Salazar: para africa em força. Mas não compreendo a politica do orgulhosamente sós. A este nível de politica parece-me, no mínimo, desaconselhavel por ir contra os melhores interesses dos portugueses.
.
Tornava-se claro, lidos os ventos, que a melhor estratégia, aquela que melhor defenderia os interesses do país, seria triplicar os esforços de afecto com as populações locais. Apoiar quem os liderava e negociar com eles formas sãs de entregar a soberania. Principalmente formas que pudessem garantir os seus interesses às pessoas que lá habitavam. Pretos e brancos. Para isso devia o estado portugues liderar processos democraticos de decisão popular local. Mas, talvez, fosse pedir o impossível ao regime que descria fortemente das virtudes da escolha popular.
.
Por outro lado e perdida a guerra da opinião (nacional e internacional), houve ali um momento em que ainda seria possivel não entregar os territórios sem preparação. Alturas em que Soares era Ministro dos estrangeiros. Mas não foi, mais uma vez, assim. Pecamos pelos excessos. Antes e depois.
.
Rb

muja disse...

Eu estou calmo José, a Zazie é que tem andado com uma conversa parva e eu hoje não estou para a aturar.

Bem sei o que diz e bem sei que não defende a entrega assim como foi.

A, questão, porém, pode ver-se assim: a tal entrega, poderia ter sido muito diferente? É fácil dizer que sim, que era só preciso fazer referendos ou eleições ou sei lá que mais. É como outros que falam em federações e até em commonwealths como se isso fosse coisa que dependesse apenas de palavras ou até de meras decisões administrativas.

A partir do momento em que se anunciasse a intenção de dar a independência tudo se precipitaria. É o próprio Marcello que o admite, que o afirma ao mesmo tempo que diz considerar a independência inevitável! Teve esse bom senso que é preciso reconhecer-lhe.

Se fosse outro teria anunciado. E depois exigir-lhe-iam prazos. E depois de terem prazos exigiriam mais celeridade. Exigiriam prazos mais curtos. Etc etc etc. Quando mais se cedendo mais eles exigindo e, naturalmente, empregariam todos os esforços na agitação.







muja disse...

Onde eu quero chegar com isto é a duas coisas: primeira, do ponto de vista prático havia pouca diferença entre defender o império para sempre ou guardá-lo para lhe dar a independência: a guerra tinha de continuar indefinidamente até se definirem as circunstâncias em que pudesse parar; e essas eram claras: os terroristas tinham de cessar operações ou nós incapazes de manter as nossas.

Segunda, quando se entra em guerra já se perdeu politicamente. Portanto, cessar o combate militar - sobretudo numa guerra defensiva - para evitar perder politicamente é uma ilusão. Uma ilusão que é propositadamente criada pelo inimigo com o objectivo de fazer cessar o combate que não pode ou não quer, mediante o custo que lhe é imposto, ganhar militarmente. Porque quem está interessado em solução política não desencadeia solução militar...

josé disse...

Eu hoje defendo ( e nem sempre defendi, foi nestas coisas de ler mais um pouco em blogs e revisitar factos antigos) que deveríamos ter continuado a lutar para mostrar que poderíamos aguentar anos e anos.

Porém, o ambiente que se formou em 1974-75 tornou isso impossível. E foram os comunistas e socialistas, principalmente Mário Soares os responsáveis.

Há uma entrevista de Mário Soares à Der Spiegel de Agosto de 1974 que é clara: temos que entregar e se os "colonos" se opuserem o problema é deles.

Tal entrevista originou até uma onda de revolta e houve quem afirmasse que Soares queria atirar os portugueses de Angola aos tubarões.

Já publiquei no meu blog essa entrevista.

Portanto, Soares foi mais um traidor e percebe-se bem porquê: em Julho de 1973 animou as hostes contra Portugal em Londres, quando Marcello Caetano lá foi.

Animou é um modo de dizer porque liderou a afronta anti-patriótica precisamente por causa da guerra no Utramar.

Vergonhoso. Infinitamente indecente.

josé disse...

Defender que Mário Soares não queria o que aconteceu é defender o indefensável: foi o ministro Almeida Santos quem negociou e acreditou que os "movimentos de libertação" se iriam entender como Deus com os anjos.

Viu-se depois como este Sombra da democracia se enganou e nunca pediu desculpa, antes pelo contrário fala em "descolonização exemplar"

É preciso ter lata!

dragão disse...

Vamos lá a ver se não se delira ou elabora sobre o vácuo.

A guerra em Angola estava resolvida e foi ganha. Aliás, foi a única guerra de contra-guerrilha que um exército ocidental resolveu com limpeza inaudita. Não adianta procurar paralelismos, porque nisso, como nas descobertas, fomos pioneiros e constituimos paradigma. Se não sabiam, ficam a saber. Se têm dúvidas, recomendo que estudem. Há literatura, até anglo-saxónica, sobre o assunto e essa conclusão é pacífica.

Se a autodeterminação ou autonomia seriam um facto inevitável, é provável que sim, A Madeira e os Açores também são autónomos e ninguém morre por causa disso.

Se o 25 de Abril até foi bom, os comunas é que o estragaram, treta. O 25 de Abril nunca teve como objectivo essencial, melhorar as condições da metrópole (isso era a cortina de fumo). O essencial era a descolonização acelerada, de charola, ou seja, tal qual foi feita (e até, por eles, devia ter sido pior; vá lá que, mesmo no descalabro, somos desenrascados). Julguei que, por esta hora, já tinham começado a perceber isso. portanto.

O irrealismo e a fantasia está do lado de quem acha que uma vez retirada a trave mestra, o telhado não nos cai fatalmente em cima da cabeça. Ou que pode retirar-se dois ou três pilares das fundações sem que o edifício não venha abaixo. Quando se prescinde da porta de casa, não são os anjos que entram em visita, são os ladrões, assaSSINOS E TODA A RALE DAS REDONDEZAS. Nunca percebi porque é que as pessoas, hoje em dia, entendem que o país não merece os mesmos cuidados que a sua própria casa. Ou que o simples facto de nos colocarmos de rabo para o ar, bem bezuntados de vaselina, constitui apaziguamento infalível das super, medo e micro-potências.

dragão disse...

«Eu hoje defendo ( e nem sempre defendi, foi nestas coisas de ler mais um pouco em blogs e revisitar factos antigos) que deveríamos ter continuado a lutar para mostrar que poderíamos aguentar anos e anos.»

Eis um progresso. Dos autênticos. Já não dou o meu latim por mal gasto.

Falta agora o resto. Com paciência isto vai lá.
:O)

Anónimo disse...

«Um dia, no futuro, refasteladas numas cadeiras, as hienas lêem os textos antigos. Todos ouviram os lamentos da hiena escritor acerca da injustiça perpretada pelos leões.
Nessa altura levanta-se uma hiena mais arejada e viajada e diz: é engraçado mas acabei de ouvir essa historia contada pelas verdadeiras vitimas: as gazelas. Dizem que os leões vinham salva-las e que as hienas malvadas não queriam largar a presa. »

isto parece mais conversa de abutre...

JL

majoMo disse...

Do especialista em terrorismo, J. Bowyer Bell [autor de "The Myth Of The Guerrilla: Revolutionary Theory and Malpractice", in "Africa Today", Inverno de 1972]:

. “Na realidade, a melhor esperança para as guerrilhas de Angola e Moçambique é persistirem, manterem a pressão e ansiarem por uma mudança em Lisboa”.

Ricciardi disse...

"Eis um progresso. Dos autênticos."

Pugresso, visto vir baixo. Os EUA também ganharam a guerra do vietenam. Aquilo foi uma matança das boas e, espantem-se os milicoisos, ao mesmo tempo que a ganhavam no terreno, perdiam-na na moral. Saíram como derrotados, ganhado-a.
.
Os militares são tipos perigosos. Não para o inimigo que já está a contar com isso. Mas para o próprio povo.
.
Rb

Ricciardi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

«Os militares são tipos perigosos. Não para o inimigo que já está a contar com isso. Mas para o próprio povo.»

deve estar a falar de Israel e do Tzahal...

JL

Ricciardi disse...

Falo daqueles que vivem, oh JL, do expediente da guerra. Inventam teorias para manter a adrenalina e o poder, não raras vezes os seus próprios interesses. Não viu as armas de destruição massiva no Iraque? Eu também não.
.
Rb

Ricciardi disse...

Provavelmente, o problema de Caetano terá sido não conseguir impor algumas das suas ideias para as colónias aos senhores da guerra. O regime dependia dis militares e portanto, no limite, os políticos vergam-se. As monarquias europeias é coisa semelhante, mas em subjugação aos partidos e às constituições q estes burilam. São monarquias cor de rosa que dependem da boa vontade dos partidos.
.
Rb

Ricciardi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

ehehehe

Estive a trabalhar e o maluco insultou-me a mim porque tem medo de dizer o mesmo ao José

":O))))))))

Ricciardi disse...

VCS precisam de um inimigo comum que vos una. Sem isso desenvolvem guerras e ofensas fratricidas, enfim, vem à tona o que vos vai na alma. Agradeçam, portanto, is meus inestimáveis préstimos em prol da paz do clã.
.
O mujinha é fácil de o levar a perder as estribeiras. Previsivel. A zazie consegue ser maus fácil ainda. Tem o ponto g bastante fácil de detectar. O dragão está a resistir, a custo. Muito custo. E qdo lança uma chama fecha a caixa de comentários. Do tipo dá e foge. Deve ser por causa das pedradas ou das granadas.
.
:)
Rb

zazie disse...

Mentira!

Eu é muito raro chatear-me. Normalmente estou pacifica e alegremente a chagar-vos os cornos.

":OP

zazie disse...

na verdade, contigo é fácil porque a estupidez me encanita.

Só por isso.

muja disse...

Assim não vamos longe...

Mas dizer o quê, afinal de contas?

Que é que eu tenho medo de dizer ao José diga lá V. de uma vez por todas?

V. fala do outro cretino mas eu começo a duvidar se também lerá tudo quanto se escreve... porque se lesse via que eu não escrevi nada do que V. me acusou para aí.