«O Homem é humano quase tanto como voa a galinha. Quando apanha uma traulitada, quando um carro a obriga a bailar, lá vai ela pelos ares até ao telhado, mas logo de seguida aterra no lodo e desata a debicar na bosta. É a natureza, a ambição dela. Entre nós, na sociedade, dá-se exactamente o mesmo. Deixa-se de ser tratante sob a acção de uma catástrofe. Quando tudo torna ao normal, a natureza retorna logo ao que era. Por isso mesmo é que, de uma Revolução, só vinte anos depois se pode ajuizar.
"Eu sou! tu és! nós somos rapaces, pérfidos, sacanas!" Jamais se dirão coisas destas! jamais! Jamais! verdadeira revolução porém seria a das Confissões, a grande purificação!»-Céline, "Mea culpa"
Peguem em qualquer postal que eu aqui tenha escrito em 2005 ou 2007 ou 2010 sobre os (des)governos da época. Ajusta-se que nem uma luva ao desgoverno de hoje. A mesma coisa sobre americanos, europeus, árabes (de burka ou de penca), esquimós, marcianos, aliões constipados, etc, etc. Às tantas, um tipo dá consigo a sentir-se papagaio de si próprio. A patinhar ab aeterno em bosta. Ou a debicar militantemente nela, como a galinha do Céline. E o pior é que como em tudo, o eco fica sempre àquem do original. A repetição perde sempre o brilho, o lustro da descoberta. De facto, neste mundo doravante entregue aos vermes e aos parasitas, as coisas não evoluem: deterioram-se. O único sentido de mudança que experimentam é a alteração física - essa qualidade de movimento estático definido por Aristóteles como geração/corrupção. Eventualmente, os países, os povos, as civilizações são como as pessoas. Nascem, crescem e morrem. No fim da geração (e das gerações ínclitas) aguarda fatalmente a corrupção (e as corrupções sórdidas). Senil, amnésico, hipocondríaco, flatulento, velhaco, cobarde, podre do corpo e abandonado pelo espírito, Portugal está a morrer. Não é matéria para galhofa, chalaça, nem riso. Aos desfiles fúnebres assiste-se em silêncio. Um Dragão não é uma hiena.
4 comentários:
"Evidentemente",( com a devida vénia ao Mann).
Infelizmente, depois de 74 foram as hienas que tomaram o poder.
"A Galinha do Céline" é um nome fantástico para um blogue
Talvez este Portugal de hoje tenha que morrer. O velho tem que sair para que o novo possa entrar. E convenhamos que este velho fede e tem pústulas esguichantes por tudo quanto é sítio. É preciso triturar muito miudínho as pseudo elites de merda que nos afundaram enquanto a turba ululava com a afluência a crédito.
É preciso levar tudo ao zero absoluto. Depois a partir daí se pode re-evoluir.
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