domingo, fevereiro 06, 2011

Génios, Nuvens e Quimeras, Parte II

Ah, bem, pois... obstar-me-ão os manhosos do costume, mas Pessoa apenas queria metralhar portugueses avulsos, pelas ruas, o que é compreensível - e até desculpável, se pensarmos que se trataria, muito provavelmente, de pobres, velhos e desocupados. Aliás, bem vistas as coisas, descontada a violência e alguns estragos de somenos, até resultaria num contributo generoso para o "bem comum" no seu totem actual, vulgo "redução do défice".
Agora anti-semitismo é outra louça. Um trem de cozinha completo, com serviço de chá e tudo. Detestar judeus e, por alguma forma, intenção ou sequer pensamento, beliscá-los, melindrá-los ou amesquinhá-los na sua incomensurável virtude, isso, no mínimo, além de lesa-majestade, é associação criminosa, holocausto na forma tentada, conspiração para genocídio, pogrom de terceiro grau e mais não sei quantas contravenções gravíssimas. E, aí, Céline estará condenado ao fogo eterno da danação. Arreou forte e feio, sem meias-tintas nem contemplações, ainda mais numa época tenebrosa, de paroxismos germanoides e seiscentos diabos à solta. Em contrapartida, o nosso Pessoa seria anti-democrático, nos seus delírios mais excêntricos, mas não seria anti-semita (até porque alguns até sugerem que ele, como todos os grandes génios do mundo, seria de sangue judaico - só assim sendo, de resto, explicável tamanha inteligência e talento).
Pois bem, Céline granjeou notória e famigerada reputação graças, em especial, àquela obra - dita panfletária - intitulada "Bagatelles pour un Massacre". Nela, o seu móbil-mor de execração e alvo de artilharia é o enlace íntimo que, durante a sua viagem à União Soviética, vislumbra entre o judeu e o comunista russo. Passo a transcrever algumas passagens eloquentes. De Céline, mas também de Pessoa sobre o mesmíssimo assunto...

«O russo é um carcereiro de nascença, um chinês falhado, torcionário; o judeu enquadra-se-lhe na perfeição. Escória da Ásia, escória de África... foram feitos para casar... é o mais belo casamento que alguma vez terá saído dos infernos... não me aflige nada dizê-lo... de pois de uma semana de passeios tenho as minhas opiniões bem formadas..»
- Céline, "Bagatelles pour un Massacre"

«São por isso os judeus orientais, e maximamente os judeus russos, que albergam, nutrem e espalham o igualitarismo como doutrina. Fazem-no sobretudo, como é natural, onde encontram para isso ambiente, e esse ambiente é fácil entre os povos meio selvagens como o russo, ou entre as camadas meio selvagens como são, pela barbárie da semi-ignorância, os operários de todo o mundo. O comunismo de hoje - que, como ideia, só os idiotas sabem o que é - é o produto híbrido, e por isso estéril, do misticismo judaico e da estupidez europeia. Não esqueçamos: da estupidez europeia.»
- Fernando Pessoa, "Do Judaísmo" in Ultimatum e Páginas de Sociologia Política,pp 362

«No momento actual, a única coisa verdadeiramente grave para um grande homem, escritor sábio, cineasta, administrador de finanças, industrial, político (então aqui, a coisa é gravíssima!) é estar de más relações com os judeus. Os judeus são os nossos patrões... aqui, além, na Rússia, em Inglaterra, na América, por todo o lado! Fazei de bobo, de insurrecto, de intrépido, de anti-burguês, de enraivecido cavaleiro andante... que o judeu se está cagando! Galhofices... Tagarelices! Mas não ouseis tocar na questão judaica, se não quiserdes que vos lixem o coiro... Veloz como uma bala, eliminar-vos-ão, de uma maneira ou doutra... O judeu é o rei do ouro da banca e da justiça... através de um testa de ferro ou ao quadrado. Ele possui tudo... Imprensa... Teatro... Rádio... Câmara... Senado... polícia... Aqui ou além..»
- Céline, "Bagatelles pour un Massacre"

«(...)Não se trata da acção política dos judeus. Essa é evidente e natural; tem-se aproveitado, não só da Maçonaria e da ideologia igualitária, mas de tudo quanto, de origem judaica e não judaica, possa de facto, devidamente utilizado, servir para dissolver a civilização tradicional, greco-romana e cristã, da Europa e do mundo europeizado.»
- Fernando Pessoa, "Do Judaísmo", idem.


Pois é, caros amigos... Afinal, pelo critério actual, tão exaustivamente exercido e do qual eu também já comi por tabela, Pessoa não era apenas anti-democrático: era também anti-semita. Fico a aguardar petições de despejo dos Jerónimos e protestos contra toda e qualquer celebração pública e oficial do poeta da Mensagem. Antigamente, a coisa chegava de Paris aqui com, pelo menos, 20 anos de atraso. Mas agora com as redes sociais e a internet, nunca se sabe. O saloio, doravante, é turbo.

Mas não esqueçamos, nunca esqueçamos: A ESTUPIDEZ EUROPEIA!





Sem comentários: