quarta-feira, julho 08, 2009

Venha a nós


Reparem bem, na foto acima, do interior da Catedral de Chartres, no tamanho das bancadas dos fiéis. Reparem, sobretudo, na proporção em relação ao Todo. Agora, na foto que se segue, referente a uma catedral actual (a de Fátima), confiram essa mesma proporção.


Sem tempo para me alongar muito - por ora - em considerações simbólicas, deixem que refira apenas este crudelíssimo detalhe:
O espaço reservado ao homem, em Chartres, é mínimo; ao Divino, máximo. Em Fátima, na nova catedral da Santíssima Trindade passa-se exactamente o contrário: é o espaço de Deus que é minimalista. Direi mesmo que, Deus, para lá entrar, passe a alegoria, no mínimo, tem que se pôr de cócoras, de gatas, ou de joelhos.
O que eu mais aprecio numa igreja é exactamente aquilo que mais admiro, com terror e piedade, em Jesus Cristo: o Silêncio. De todas as parábolas, quanto a mim, foi a suprema. Ora, nem queiram comparar a qualidade do silêncio numa catedral medieval com a destes salões de congressos de agora!
E notem só mais esta minudência pela qual peço já perdão a todos os profissionais da fé e da salvação: os medievais, que tinham muito menos coisas, meios, posses e possibilidades que nós (já não falando que eram imensamente menos evoluídos e progredidos), eram capazes -uma cidade inteira, num esforço colossal e anónimo - de oferecer uma catedral a Deus. Porque é isso que um templo sagrado significa: uma oferta nossa ao Altíssimo. Nós, estes portentos actuais, em contrapartida, arrotadores de postas ao desbarato, fanfarrões das dúzias, nós que já temos tudo e mais alguma coisa e se nos falta o gadget mais recente para o último modelo de coisa nenhuma aqui d'el rei que não se admite, não se suporta e é crime de lesa-conforto, nós, em suma, já não damos nada que se veja (quanto mais digno de Deus ver). Damos - melhor: os padres que dêem, eles é que lá moram! - salões de congressos ou pavilhões gimno-desfrutáveis e é um pau, e já ficamos a chorar o balúrdio esbugalhado. E, todavia, nada de tibiezas: pedimos tudo. A Deus, ao diabo, ao banco, à lotaria, à ciência, à bruxa, ao Cunha e até ao porteiro do ministério. Pedimos tudo e nada nos contenta. Nada nos enche nem preenche ou parece bastante. Merecemos o quê?
Quanto ao peditório peregrino do senhor Papa, cumpre-me dizer o seguinte: para esse, já dei. E, quanto a Deus, nem uma cadeira digna para Ele se sentar Sua Santidade lhe oferece e, em troca, já reclama e urde por todo um paraíso Terreal...?! É obra.

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