sexta-feira, julho 04, 2008

Acromiomancia - V. A eterna juventude

«No decurso dos anos 60 nunca mais deixaram as escolas de ser alvo da doutrinação comunista, mais ou menos encoberta, e de nelas se fazer trabalho de organização, a partir, em geral, da conquista das associações académicas ou das chamadas comissões pró-associação nas escolas onde aquelas não existiam. O emburguesamento do operariado alterara os termos da concepção clássica da revolução social, mas os jovens intelectuais viriam substituir os proletários como tropa de choque. A acção na escola tinha ainda as vantagens de, por intermédio da juventude, infectar a vida social, desorganizar o esforço militar no Ultramar e abalar as estruturas capitalistas. (...)
As escolas superiores iam sendo, assim, persistente e habilmente trabalhadas pelo partido comunista que só começou a ter dificuldades pelo aparecimento dos seus inimigos à esquerda - os trotskistas, maoístas e anarquistas.»
- Marcello Caetano, "Depoimento"

Se pensarmos que foi desta incubadora que germinou grande parte dos nossos governantes dos últimos trinta anos ficamos a perceber porque é que a nossa "democracia" se parece tanto com um albergue espanhol.

Agora atentem nesta descrição perfeitamente surrealista e - o mais espantoso! - plenamente actual:

«E em Portugal os ecos dessa contestação global encontravam ressonância não faltando quem, como de costume, se apressasse a papaguear os pontos da doutrina revolucionária quanto ao ensino.
Foi aliás por diante um delírio de regress0o a pedagogias libertárias, incluindo a ressurreição das ultrapassadas concepções de Jean-jacques Rousseau. Respeitáveis professores e boas mães de família passaram a afirmar enormidades antideducativas, onde as pretensões filosóficas tomavam laivos de psicanálise em fórmulas mal digeridas e dogmaticamente proclamadas.
E aqui se insere a terceira das causas das dificuldades do governo na definição e na prática da reforma educativa: enquanto progrediam os ataques revolucionários, comunistas ou anarquistas, contra a educação dita burguesa, do lado da burguesia entrava-se francamente em crise. Os professores antigos recusavam-se a discutir com quem os acusava de atraso ou reacção, e depois, perante a pressão dos mais novos, começaram a ter medo de fazer figura em público de ultrapassados, ainda quando em particular divergissem das novas ideias e dos novos métodos.
O mesmo sucedeu com os padres. A Igreja fora sempre em Portugal o grande sustentáculo da moral tradicional, que é a moral cristã, e o sólido apoio das famílias na educação dos jovens segundo esses princípios. Mas o espírito da dúvida acerca dos valores morais e dos métodos de educação entrou também na Igreja. Sacerdotes com fumos de intelectualidade apressaram-se a perfilhar as novas ideias sobre conduta em sociedade onde o materialismo pusera a sua marca e a abençoá-los como frutos apurados de um requintado espírito cristão. Cheios os bispos do temor de usar a autoridade pastoral (não fossem chamá-los fascistas!) não tardou que nos retiros, nos colóquios, nos colégios religiosos começasse a imperar como bo a doutrinação progressista que relegava para o mundo das velharias os conceitos e os métodos em que haviam sido educados os pais dos jovens de hoje. E as famílias recebiam no seu seio o impacto desta mensagem. Os jovens em crise de adolescência proclamavam agora, perante pais atónitos, a negação de quanto estes acreditavam, e autorizavam-se para isso com o prestígio da adesão da escola e da bênção da Igreja.
Perante os pais - quando havia pais... Porque a crise da família fazia com que, cada vez mais, os jovens não encontrassem em casa com quem dialogar. As mães para um lado, os pais para outro, caminha-se para a destruição da comunidade familiar.
Foi neste quadro que se trabalhou no domínio da educação durante os cinco anos e meio do meu governo.»
- Marcello Caetano, "Depoimento"

Caetano descreve o rilhafoles socio-educativo daquele tempo, mas, incrivelmente (ou nem tanto), o retrato continua a assentar que nem uma luva neste em que ainda hoje patinamos. Afinal, o jovens acumularam anos, tachos, pedestais, sinecuras e mordomias, mas a crise de adolescência continua a mesma. Imarcescível e inoxidável. No fundo, é a única e verdadeira e crise que não despega - a crise-mãe e locomotiva de todas as outras: a da incapacidade destas efebências que nos desgovernam - e tiranizam com toda a espécie de birras, leviandades e macaquices - em alcançarem a idade adulta. Dir-se-ia até que, em Portugal, foi finalmente encontrado o segredo da "eterna juventude". Só que, pelos vistos, não é uma fonte: é uma chucha.



8 comentários:

josé disse...

Por aqui e no Portugal Contemporêneo, está a fazer-se o que deveria ser feito com a revista Atlântico: uma apanhado do passado para o projectar num futuro de reflexão sobre o destino que nos espera.
Sem complexos de Esquerda.

É disto que eu gosto e há muito que sentia falta destas coisas.

A essência deste postal, configura a verdadeira confluência de opções político-ideológicas com que Caetano se defrontou. Um cruzamento onda alguns venderam a alma ao Diabo.

E no entanto, acho que Caetano estava completamente errado no diagnóstico, ao colocar a dicotomia no progressismo comunista, contra o conservadorismo desta Direita que neste caso assume a verdadeira noção, como a entendo.

Esta Direita desapareceu completamente, sem resquícios, a não ser nas manifestações episódicas de um Francisco Maria da Silva ou nos estertores finais de um Galvão de Melo, logo em 74. Em 76, já tinha sido engolido pelo ambiente geral e pelo Pathos que se criou.

Militarmente,esta Direita, encarna perfeitamente em Kaulza de Arriaga. Pessoa que admiro, aliás. Embora não lhe compre as ideias guerreiras, anacrónicas, já em 74.

É por isso que costumo dizer que não sou de Direita.

Mas de Esquerda é que nunca serei...

Ahahahah.

josé disse...

Ah! E esses três cromos, são mesmo para coleccionar.

O cromo de baixo, coitado, foi apanhado com as calças na mão ( não sei se literalmente, mas há quem diga que sim e quem o fez não foi condenado por o dizer).

Esse, ainda mais triste se torna, por isso.

O cromo de cima, é o verdadeiro artista. O surfista prateado e de olho vesgo.

Anónimo disse...

"No decurso dos anos 60 nunca mais deixaram as escolas de ser alvo da doutrinação comunista"
Pois! Eram esses putos de 12 e 14 anos que depois de irem tirar uns cursos em Moscovo vinham para cá subverter as escolas.

Anónimo disse...

O fenomeno cresceu, desenvolveu-se, se insidioso tornou-se dominante. A unica vantagem é que hoje é de tal forma volumoso que já quase todos o topam, já não passa desapercebido de ninguem.

Cam

Anónimo disse...

«Afinal, o jovens acumularam anos, tachos, pedestais, sinecuras e mordomias, mas a crise de adolescência continua a mesma.»

Bem, parece-me que falta aqui um factor decisivo para que finalmente compreendamos o estado de perene adolescência em que as actuais elites cristalizaram. Esse factor poderia ser designado de muitas, variadas e complicadíssimas maneiras, mas acho que os termos mais vulgares serão esclarecedores: refiro-me ao "xamon", isto é, "haxe", ou seja, a universal, geralmente aceite e louvada substância que para sempre fixou os comportamentos esquerdistas em geral e infantilizados em particular. Em suma, quero dizer, o que escapou a Marcelo e, pelos vistos, ao Dragão também, foi a "pedra" e seus derivados; por andarem permanentemente, enquanto estudantes e alguns ainda hoje, com uma esplendorosa moca nos cornos (e não com uma chupeta na boca), os nossos governantes e altos quadros conservam na actualidade os mesmos comportamentos cretinos e a mesma ausência absoluta de ideias que ostentavam nos bancos da Faculdade.
Mais afianço que não estou aqui a inventar porra nenhuma; isto é um fenómeno cientificamente comprovado, com estudos intensivos realizados ao longo de décadas por mais do que insuspeitos laboratórios e academias. Já não me recordo ao certo onde li isso, mas é incontestável: uma das milhentas substâncias químicas presentes na Cannabis Sativa L bloqueia o desenvolvimento intelectual (e emocional), pelo que os jovens consumidores conservarão - quando chegarem biologicamente ao estado adulto - características, comportamentos e capacidades mentais iguais às que tinham enquanto adolescentes. E isso compreende-se facilmente se considerarmos que a renovação das células que formam a massa cinzenta pára quando o corpo atinge a maturidade, decrescendo mesmo, gradualmente, a partir dessa altura.
Portanto, quem já era estúpido e dava no charro, agora está bastante mais estúpido e, para agravar a coisa, tem a mania de que ainda é chavalo. Quem não era estúpido e também dava, um bocadinho idem e completamente aspas.

Anónimo disse...

Eureka.

"On the basis of the data presented in this study, we conclude that binding of THC to cannabinoid CB1 receptors in hippocampal neurons leads to neuronal death. THC is neurotoxic at concentrations as low as 0.5–1.0 mM, which are comparable to THC levels measured in human plasma after consumption of marijuana cigarettes."
Journal of Neuroscience

Anónimo disse...

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