Gostaria de escrever mais amiúde neste blogue, mas a gleba não mo tem permitido. Aproveitando uma nesga na labuta, retorno à vaca fria, no ponto exacto onde a deixei, e que, por falar nisso, já não me lembro muito bem qual era.
Bem, que se lixe! Imaginem, então, Vosselências, que vivíamos numa monarquia. Cruzes, credo, compadres! Por uma vez, sem exemplo, abençoada seja a república. Mesmo de bananas, louve-se! Não fosse ela, e em vez de “adjunta do Ministro”, tínhamos que tratar a lambisgóia “despachada” por “princesa” – a princesa Vera Ritta.
Assim, ao menos, na sua mordomodiceia acidentada, de “filha do presidente” já resvalou para “adjunta do Ministro da presidência”. Com um bocado de sorte, a este ritmo apesar de tudo animador, daqui a oito ou nove gerações, pode ser que a medonha descendência já participe em concursos públicos, nem que seja por mera fachada.
Quanto ao critério inefável do Ministro Silva Pereira, permitam-me alguns alvitres - apesar de, à primeira vista, um só se avantajar bastante: pediu uma lista de candidatos sorteados aleatoriamente nas páginas amarelas e ao ver uma Ritta com dois “tês” – portanto uma Rita TT ou T2, ainda por cima recheada de um “de”*, não hesitou, requisitou tão cintilante inteligência para adjuntar à sua.
Ou então reparou argutamente que, além de TT, era BdS, ou seja, Branco de Sampaio e, como é típico dos crânios sofisticados, com desembaraço fulminante, vislumbrou uma série de potencialidades e mais valias que –a nós, vulgares mortais e servos - nem nos passam pela cabeça.
Claro que nisto, como em tudo, há sempre a questão da raça, do pedigree, da eugenia, enfim, da fidalguia. O ministro com certeza que, em precisando dum cão, não vai resgatar um rafeiro ao canil municipal, por mais habilidoso e diplomado em artes circenses ou marciais que lho apregoem ou ajuramentem. Da mesma forma, se precisar dum automóvel, dum telemóvel ou duma amante – e decerto precisa, como de pão para a boca -, não vai apetrechar-se dum chaço em segunda mão, duma raquete que nem fotografias tira, ou, Deus o livre e guarde, duma Katia qualquer alternadeira cuja mãe vendia peixe na praça e cujo pai permanece incógnito, quando não se sorteia, pelas más línguas do bairro, entre um proxeneta, um polícia, um taxista e um limpa-chaminés marrequinho. Ninguém lhe perdoaria, sabemo-lo bem. A começar nos eleitores das classes mais baixas, devoradoras de telenovela e revistas cor-de-rosa, que, nestas tranquibérnias, são de um snobismo feroz e prefeririam mil vezes partir uma perna em vários sítios a ver os pergaminhos alheios ao nível das próprias patas – excepção feita e ressalvada a uma Katia com dois “tês” (uma T2, portanto) cujo progenitor, após grandes peripécias e dramas, se viesse a revelar, nem mais nem menos, como sendo o Conde do Cadaval, o padre Melícias ou o primo legítimo do Pacheco Pereira. Ora, se para escolher cão, veículo ou concubina já é este sarilho todo, todas estas burocracias e protocolos, fará agora uma “adjunta de gabinete”.
Naturalmente, há que respeitar padrões, que burilar paradigmas. Um Ministro, como acabo de demonstrar, não vai decerto adjuntar-se com uma qualquer. É um representante do povo e o povo, se puder, também deita a fateixa e despeja a espermatália numa baronesa, numa viscondessa ou, superlativo enlevo, numa princesa boiarda. Maior gulodice não se lhe reconhece. Vai daí, em nada nos pode surpreender que o “ministro” se tenha adjuntado com a “filha de um ex-presidente da República”. Não é grande coisa, todos sabemos, (principalmente se levarmos em conta o ex-presidente em questão) mas sempre é melhor que nada. Aliás, pela ordem actual das coisas, segundo a hierarquia de importâncias, acreditamos que tenha tentado a “filha de um ex-presidente da Federação Nacional de Futebol”, mas, pelos vistos, não havia nenhuma disponível. Já se se tratasse do primeiro Ministro, o mínimo aceitável – aquele que o protocolo reclamaria - seria a “filha de um ex-presidente de um clube de futebol” (dos três grandes, logicamente). E no caso do próprio presidente da República sentir vontade duma “adjunta”, não vejo outro nível adequado senão a “filha de um presidente do Benfica”. Afinal, sempre estamos a falar do mais alto magistério da nação.
*Nota : Eu, sem querer estar a gabar-me (até porque cago nisso de mui elevado altor), também tenho um “De”. No meu caso sou um “de Aragão e Tal”. Mas como verdadeiro e antigo aristocrata, que já o meu enesimavô cavalgava com D.Afonso Henriques, não sou dado a peneiras nem Pacheco-pereirices. Por conseguinte, e por facilidade de trato, a malta –capitaneada pelo Caguinchas, esse amotinado profissional - começou a tratar-me por D’aragão e, finalmente, por força da elisão do “a” (que claramente lhes ofendia o palato e complicava com as dentuças), resultou no D’ragão por que todos me tratam e, a maior parte das vezes, destratam, a pretexto do meu anti-benfiquismo vociferante.
Bem, que se lixe! Imaginem, então, Vosselências, que vivíamos numa monarquia. Cruzes, credo, compadres! Por uma vez, sem exemplo, abençoada seja a república. Mesmo de bananas, louve-se! Não fosse ela, e em vez de “adjunta do Ministro”, tínhamos que tratar a lambisgóia “despachada” por “princesa” – a princesa Vera Ritta.
Assim, ao menos, na sua mordomodiceia acidentada, de “filha do presidente” já resvalou para “adjunta do Ministro da presidência”. Com um bocado de sorte, a este ritmo apesar de tudo animador, daqui a oito ou nove gerações, pode ser que a medonha descendência já participe em concursos públicos, nem que seja por mera fachada.
Quanto ao critério inefável do Ministro Silva Pereira, permitam-me alguns alvitres - apesar de, à primeira vista, um só se avantajar bastante: pediu uma lista de candidatos sorteados aleatoriamente nas páginas amarelas e ao ver uma Ritta com dois “tês” – portanto uma Rita TT ou T2, ainda por cima recheada de um “de”*, não hesitou, requisitou tão cintilante inteligência para adjuntar à sua.
Ou então reparou argutamente que, além de TT, era BdS, ou seja, Branco de Sampaio e, como é típico dos crânios sofisticados, com desembaraço fulminante, vislumbrou uma série de potencialidades e mais valias que –a nós, vulgares mortais e servos - nem nos passam pela cabeça.
Claro que nisto, como em tudo, há sempre a questão da raça, do pedigree, da eugenia, enfim, da fidalguia. O ministro com certeza que, em precisando dum cão, não vai resgatar um rafeiro ao canil municipal, por mais habilidoso e diplomado em artes circenses ou marciais que lho apregoem ou ajuramentem. Da mesma forma, se precisar dum automóvel, dum telemóvel ou duma amante – e decerto precisa, como de pão para a boca -, não vai apetrechar-se dum chaço em segunda mão, duma raquete que nem fotografias tira, ou, Deus o livre e guarde, duma Katia qualquer alternadeira cuja mãe vendia peixe na praça e cujo pai permanece incógnito, quando não se sorteia, pelas más línguas do bairro, entre um proxeneta, um polícia, um taxista e um limpa-chaminés marrequinho. Ninguém lhe perdoaria, sabemo-lo bem. A começar nos eleitores das classes mais baixas, devoradoras de telenovela e revistas cor-de-rosa, que, nestas tranquibérnias, são de um snobismo feroz e prefeririam mil vezes partir uma perna em vários sítios a ver os pergaminhos alheios ao nível das próprias patas – excepção feita e ressalvada a uma Katia com dois “tês” (uma T2, portanto) cujo progenitor, após grandes peripécias e dramas, se viesse a revelar, nem mais nem menos, como sendo o Conde do Cadaval, o padre Melícias ou o primo legítimo do Pacheco Pereira. Ora, se para escolher cão, veículo ou concubina já é este sarilho todo, todas estas burocracias e protocolos, fará agora uma “adjunta de gabinete”.
Naturalmente, há que respeitar padrões, que burilar paradigmas. Um Ministro, como acabo de demonstrar, não vai decerto adjuntar-se com uma qualquer. É um representante do povo e o povo, se puder, também deita a fateixa e despeja a espermatália numa baronesa, numa viscondessa ou, superlativo enlevo, numa princesa boiarda. Maior gulodice não se lhe reconhece. Vai daí, em nada nos pode surpreender que o “ministro” se tenha adjuntado com a “filha de um ex-presidente da República”. Não é grande coisa, todos sabemos, (principalmente se levarmos em conta o ex-presidente em questão) mas sempre é melhor que nada. Aliás, pela ordem actual das coisas, segundo a hierarquia de importâncias, acreditamos que tenha tentado a “filha de um ex-presidente da Federação Nacional de Futebol”, mas, pelos vistos, não havia nenhuma disponível. Já se se tratasse do primeiro Ministro, o mínimo aceitável – aquele que o protocolo reclamaria - seria a “filha de um ex-presidente de um clube de futebol” (dos três grandes, logicamente). E no caso do próprio presidente da República sentir vontade duma “adjunta”, não vejo outro nível adequado senão a “filha de um presidente do Benfica”. Afinal, sempre estamos a falar do mais alto magistério da nação.
*Nota : Eu, sem querer estar a gabar-me (até porque cago nisso de mui elevado altor), também tenho um “De”. No meu caso sou um “de Aragão e Tal”. Mas como verdadeiro e antigo aristocrata, que já o meu enesimavô cavalgava com D.Afonso Henriques, não sou dado a peneiras nem Pacheco-pereirices. Por conseguinte, e por facilidade de trato, a malta –capitaneada pelo Caguinchas, esse amotinado profissional - começou a tratar-me por D’aragão e, finalmente, por força da elisão do “a” (que claramente lhes ofendia o palato e complicava com as dentuças), resultou no D’ragão por que todos me tratam e, a maior parte das vezes, destratam, a pretexto do meu anti-benfiquismo vociferante.
Dissipado este inefável mistério, desejo-vos um bom resto de fim-de semana (luxo a que não tenho direito, por via desta gleba que, vitalícia e ininterruptamente, me reclama e atormenta).
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