sexta-feira, agosto 19, 2022

Da Distopia à Mistopia, ou do Ódio à Vida

 


È seguramente uma Distopia. Mas não já apenas na literatura. Acordamos nela todas as manhãs. Cada vez mais predados, mais encurralados, mais danados. É todo um imundo e claustrofóbico hospício. De pesadelo.  E nós desempenhamos os internados: estamos ali para reparações, cirurgias, curas. É um processo interminável, sempre a requerer novos cuidados, novos testes, novas experiências. E o pior não é isso. O horror maior é que os curadores, os administradores, os médicos, enfermeiros e auxiliares do manicómio são os doidos varridos, os alucinados crónicos,  os alienados mais sádicos da ala dos furiosos. Foram-se libertando e ascendendo nas instalações, nos gabinetes, nas hierarquias, à medida que nós nos encafuávamos na mentira, na ilusão, no absurdo. Ao ritmo a que fomos abandonando a realidade, a memória, o senso, foram-se eles apoderando deles. A agora distorcem-nos, torturam-nos, apagam-nos ou reinventam-nos a seu bel prazer. Conforme lhes dá na gana, ou lhes decreta o aleive. Começaram por tudo isso que nós abandonámos, mas isso era só o aquecimento, o preliminar para a grande orgia. É em nós - dentro da nossa cabeça, no vazio da nossa alma - que agora operam. Que dissecam e implantam. Que lobotomizam a laser ou remendam com prótese plástica. Que brincam, mais ainda que aos napoleões de rilhafoles, aos deuses de pacotilha. Aos demiurgos de pechisbeque. Sobretudo vão-nos reduzindo na estatura, no tamanho...vão-nos miniaturizando à irrisão. De que outro modo caberíamos no sua arena privada de brinquedos?... No seu nanomundo delirante de fancaria, de plasticina fétida, de lego esquizoide - que se entretêm, ad nausea, a escaqueirar e reconstruir, a farejar e babar, por entre grunhidos desvairados e silvos reptilíneos como música de fundo. Enquanto, mais abaixo, na sub-cave, as jaulas do laboratório estão abertas. E os macacos, à solta, participam na orgia. Envergam farrapos de batas brancas, de açougue, e superentendem à ciência. Espancam os microscópios e guincham às centrifugadoras; bebem os tubos de ensaios e cospem receitas lovecraftianas; amarinham na biblioteca e mijam nas prateleiras; espreitam nas lamelas e masturbam-se com manchas psiquiátricas. E no meio de todo este caos ruidoso, sobrexcitado e ininterrupto, passa, em loop, uma gravação, onde uma voz sinistra, que alterna entre o infantil e o gutural satânico, vai declamando:

- O que é uma mulher?

- O que é uma família?

- O que é uma recessão?

- O que é o clima?

- O que é uma vacina?

- O que é o sexo?

- O que é uma pessoa?

- O que é ser humano?

- O que é uma atrocidade?

- O que é a democracia?

- O que é sagrado?

- O que é a verdade?

.....  ......

Vão amalgamar-nos pela enésima vez. Vamos aprender e decorar tudo de novo. Quando Aristóteles definiu que o antropos é o mais mimético dos animais e aprende tudo por imitação, não estava a ser apenas lúcido e bom observador: estava também a alertar para o meta-pitekos que palpita e conspira em nós. Se não nos guia e eleva o espírito - o spiro, o sopro vital - que nos aponta e associa ao éter, ao céu, seguramente nos arrastará a besta que nos puxa para a lama e o esterco da morte. Mas pior, mil vezes pior do que estar morto na natureza, é estar morto em vida aparente, artificial, postiça. Pior do que estar encarcerado no próprio corpo, é ser tiranizado por ele sob controlo remoto. Como os zombies do Vodu.

10 comentários:

marina disse...

https://www.lanacion.com.ar/seguridad/la-secta-del-horror-detuvieron-a-uno-de-los-cuatro-profugos-nid17082022/

todos da tribo , os implicados neste caso de tráfico de carne humana.
quem diria? ...-:)

Anónimo disse...

Belo post e pertinente referência a Aristóteles.
Quanto à comparação aos zombies, parece-me que poucas coisas ilustram tão bem o nosso tempo.
o Zombie é um corpo em decomposição que se movimenta, mas sem qualquer consciência de si, do seu passado e do futuro, repetindo mecanicamente os mesmos gestos e sons.
Um tipo nascido antes do sec XX que nos visitasse, o que veria?
Pessoas que rejeitam o passado como tempo de opressão e injustiça e que desacreditam no futuro, sem filhos e sem fé no que virá depois da morte. A modernidade diz-nos que o universos se está nas tintas para nós.
Será isto diferente de uma morte em vida?
Daqui surge a resposta moderna: o ideal, rejeitando as amarras do passado, é construir a nossa própria identidade, como se fossemos os criadores de nós mesmos. E daí a obsessão com o corpo e a ideologia trans, em que nos libertamos da prisão e nos mutilamos até atingirmos algo diferente, porque essa mutação, essa ilusão de movimento, nos ajuda a tornar a morte em vida mais suportável.
Mas no final será em vão, nem cirurgias, nem botox nem nada.
Estamos a assistir a uma experiência em tempo real, esperemos que alguns se salvem.

Miguel D

dragão disse...

«A modernidade diz-nos que o universos se está nas tintas para nós.
Será isto diferente de uma morte em vida?»

Exactamente. A verdadeira "revolução" acontece quando se salta da cosmovisão para a universão. da visão plena para a visão única. O pensamento humano, quanto a mim, divide-se em duas fases:
a aristotélica e a contra-aristotélica. Uma das características separadoras abissais é que Aristóteles faz uma síntese e aproveita todos os pensadores antes dele - "ninguém falha nem acerta completamente uma porta". A partir da modernidade, cada pensador ergue-se contra o passado, contra o pensamento antes dele. Mais: emergem como auto-arvorados correctores dos erros dos anteriores... Ou de inventores dum novo pensamento...
Apesar de tudo, e de terem sido eles a preparar o trampolim para os modernos, os medievais ainda conseguem aquela humildade do "somos anões aos ombros de gigantes".

dragão disse...

A Musa dilecta estraga-me com mimos!... :O)

Muito obrigado. muito interessante. Para ser ouro sobre azul, como apurou o pedigree tribal?...
Pretendo aprofundar o assunto...

Vivendi disse...

Ainda hoje não sei bem o que é uma democracia... mas este caos que temos foi criado, aceite e estimulado pela democracia.

marina disse...

foi fácil , pesquisei pelo nome do chefe juan percowicz e até fui parar aqui

:https://www-coha-org.translate.goog/nearly-all-white-argentina-confronts-its-troubled-racist-and-religious-past/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc


“racterística desse fator anti-semita aplicado febrilmente foi a experiência da Escola de Yoga de Buenos Aires (Escuela de Yoga) ou BAYS, localizada na capital do país. Embora apenas cerca de metade de seus 800 membros sejam judeus, o BAYS tornou-se um alvo instantâneo e inevitável da ira de alguns dos elementos mais .

a tal escola de yoga era o burdel . demais.

marina disse...

Percowicz ya fue imputado por los mismos delitos en 1993, pero la causa no avanzó (algo que uno de los denunciantes del caso atribuyó a las conexiones del líder con personas de poder).

https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-62598627

dragão disse...

E parece que havia também outra "escola de Yoga" que competia com esta... :O)

Figueiredo disse...

«...O que é o clima?...»

Em relação a isso, a menina Greta tem a dizer o seguinte:

«Pode enfiar a sua crise climática no rabo»

https://twitter.com/Xx17965797N/status/1560394888939716612

marina disse...


este caso da escola de yoga põe o modus operandi dos tipos a nu


os líderes de la secta se valieron de la sensibilidad existente en la Argentina por la defensa de los Derechos Humanos y denunciaron que eran perseguidos. Esta denuncia, falsa, cruzó las fronteras de nuestro país y llegó a la Cámara de Representantes de los Estados Unidos.

https://www.lanacion.com.ar/seguridad/secta-fotos-con-ministros-y-conexiones-internacionales-asi-se-armo-la-red-que-protegio-a-la-escuela-nid20082022/