Na minha última rusga pelos alfarrabistas, deparou-se-me o seguinte cartapácio: "Dois anos junto de Hitler", de Nevile Henderson. Este cavalheiro foi o embaixador de Sua Majestade Britânica em Berlin, desde 1937 até à declaração da 2ª Guerra Mundial. O livro lê-se bem, conto acabar hoje com ele e, a certa altura, na página 31, o digníssimo embaixador escreve o curiosíssimo trecho que passo a transcrever:
«Os ditadores só se transformam num mal para os seus povos e num perigo para os seus vizinhos quando o poder lhes sobe à cabeça e quando a ambição e o desejo de durar os levam à opressão e à aventura.
Mas mesmo quando são duradouras, nem todas as ditaduras podem ser censuradas. Ataturk (Mustafá Kemal) construiu uma nova Turquia sobre as ruínas da antiga, e toda a gente esqueceu ou perdoou as suas medidas de expulsão dos gregos as quais, provavelmente, sugeriram a Hitler a ideia de que podia fazer o mesmo com os judeus. É impossível, apenas porque se trata dum ditador, contestar os altos serviços que Mussolini tem prestado à Itália. da mesma forma o mundo reconheceria em Hitler um grande alemão se ele tivesse sabido moderar-se a tempo. A moderação deveria ter-se iniciado em seguida a Munich e às leis de Nuremberg contra os judeus.
O doutor Salazar, ditador de Portugal, soube traçar ele próprio os limites da sua acção e manter-se dentro deles. É por isso, decerto, um dos homens de estado europeus mais equilibrados no período que se seguiu à última guerra.»
Chamo a atenção que o livro é de 1940.
As conjecturas deixo-as a cada qual. Por mim, ouso apenas uma breve nota:
A ideologia não difere muito da alta costura. A reger o império dos homens, na antiguidade clássica, havia a Moira; agora, na comtemporaneidade, há a Moda. No momento actual os ditadores estão démodés. Mas um dia destes - caos e excesso oblige - voltam a estar na berra. É cíclico. Não constitui especial novidade ou, sequer, sordidez acrescentada. Repugnante, repugnante mesmo, será verificar que aqueles que hoje em dia se enfarpelam beatorramente em traparia democrática serão os primeiros a correr às fardas despóticas, mal os estilistas mundiais o decretem e os mass-media, em apoteose salvífica, entre foguetes e aleluias, o anunciem.
A mentalidade parasita acompanha a besta hospedeira para onde quer que ela se tresmalhe.
PS: Onde se lê "estilistas mundiais", para alguns cata-ventos com transtornos públicos de aliteracia pode traduzir-se por "meteorismo histórico".
PS: Onde se lê "estilistas mundiais", para alguns cata-ventos com transtornos públicos de aliteracia pode traduzir-se por "meteorismo histórico".
3 comentários:
Winston Churchil acertou nesta:
"Os fascistas do futuro se chamarão a si mesmo de anti-fascistas."
Os Estados hoje em dia são muito mais pesados que no séc. XX e as massas só se preocupam com quem lhe assegure o mítico Estado Social, uma engenharia social nunca vista e que põe em cheque o futuro da civilização ocidental.
O Dragão vislumbra algum país ocidental que se encontre no caminho certo?
Cuidado com o que escreve Dragão para não ser citado. ;)
Saltar do blogue directamente para os jornais já não é preciso muito.
http://jornais.sapo.pt/nacional/4089
http://economicofinanceiro.blogspot.pt/
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