Ainda a propósito do aforismo de Schopenhauer...
A filosofia dele resumia, em grande parte, a seguinte constatação: com gente e mundo destes não há cá lugar para optimismos.
A filosofia dele resumia, em grande parte, a seguinte constatação: com gente e mundo destes não há cá lugar para optimismos.
Ora, para todo aquele que não padeça duma visão estreitamente progressista da história humana, há uma fatalidade inerente: a vergonha por antecipação. Os vindouros hão-de acabar sempre por nos envergonhar.
De resto, a vergonha não constitui desonra para ninguém A falta dela, nomeadamente na cara, é que geralmente acarreta os mais vis e ignomiosos actos.
10 comentários:
Ou seja, o determinismo da Razão\Espírito hegeliano e o determinismo materialista marxista são filosofias erradas, porque são optimistas e porque subordinam a consciência pessoal (abstracta) ao espírito objectivo (Hegel) e à existência social (Marx). Já o determinismo da Vontade de Schopenhauer e o determinismo da Vontade de poder e do eterno retorno do mesmo de Nietzsche são filosofias superiores, porque são pessimistas ou afirmadoras do trágico\Vida, mas também subordinam a consciência pessoal à vontade e instintos.
Dir-se-ia, portanto, que a grande diferença entre os primeiros e os segundos reside no ser-se optimista ou pessimista. Mas não só. No que diz respeito à questão religiosa, se todos eles negam a existência de um deus transcendente, a verdade é que hegelianismo e marxismo são uma espécie de racionalização e secularização do cristianismo, enquanto o pensamento de Schopenhauer tem influências budistas e Nietzsche tem simpatia pelos deuses trágicos gregos (que opõe ao cristianismo\platonismo do povo).
Assim, estou curioso: Por que é que uma figura mitológica como um dragão, que é um ser demoníaco (uma espécie de serpente com pernas e asas) e símbolo do mal para os cristãos, mas que é um ser superior e apreciado lá para os lados da China, está tão preocupada e envergonhada com a decadência do Portugal católico? Do que precisamos é de novos valores, chineses e germânicos de preferência, ou não?
Não.
Que raio de pergunta a despropósito!...
Então monta uma máquina com todas as suas conveniências e depois balda-se na hora da conclusão?
Precisamos é de novos valores gregos (clássicos) e tibeteanos, ora essa.
PS: Determinismo em Nietzsche e Schopenhauer?... Ai é? Vou já queimar os livros. Andaram-me a enganar este tempo todo, os víboras!...
Sou apreciador do camarada Schopenhauer já há uns bons anos. Começa-se pelos fim, os Parerga & Paralipomena (a parte mais 'pop'), e entranha-se um bocado.
Fui rever umas linhas: http://en.wikiquote.org/wiki/Arthur_Schopenhauer
"Der Mensch kann tun was er will; er kann aber nicht wollen was er will" é certeiro, embora não ajude muito.
(E "Obit anus, abit onus" tem uma simetria de trocadalho do carilho.)
Não encontrei, mas também havia qualquer coisa acerca de o conhecimento ser uma escada que se usa para subir, e não uma carga que se transporta às costas, que o camarada Wittgenstein bifou - ele, o Nietzsche, e mais uns quantos outros tinham lido bem.
Tanta poia para repetir miseravelmente Hesiodo. Ora bolas. Depois admira-se que lhe apareçam tibetanos da diáspora teutonizada...
Admire-se, porra, o adiantado da hora não desculpa gramática hegeliana faraônica.
O adiantado da hora e da garrafa, provavelmente...
Sim, em Nietzsche e Schopenhauer está presente uma visão determinista da realidade, mas não com o mesmo sentido que se encontra em Hegel e Marx, claro. Não nego que se possa dizer o contrário, isto é, que a afirmação da vontade de poder seja a afirmação da liberdade, que o super homem criador de valores seja a imagem de um ser livre não submetido à moral de rebanho e dos escravos (ao "tu deves"), mas o mesmo se pode dizer em relação a Marx e Hegel, pois o tal processo histórico deterministico mais não seria do que o processo de afirmação da liberdade (e da consciência da liberdade) dos homens.
Agora, a verdade é que tanto Nietzsche como Schopenhauer consideraram o livre-arbítrio como uma ilusão, como a frase de Schopenhauer citada revela, pois somos livres para fazermos o que queremos, mas este querer é a expressão duma vontade cósmica a que tudo está submetido e que tudo determina, e nessa medida não somos livres de querermos o que queremos.
Mais: ter vergonha em relação a coisas que ainda não aconteceram, mas que se dão como certas no futuro, só faz sentido numa visão deterministica da realidade. Portanto, as "víboras" em causa não andam a enganar ninguém, o dragão é que se anda a enganar a si mesmo.
Clinamen, clinamen.
Caro Anónimo,
primeiro, veja se arranja um título qualquer, para que eu possa condignamente endereçar as missivas.
Em segundo, é sempre um prazer conversar consigo.
Terceiro, vossência acaba sempre por vir ao meu encontro, no que denota a humildade dos que procuram o conhecimento.
Quarto, não me parece que esteja a ver bem a questão da "liberdade", quer em Schopenhauer, quer em Nietzsche. Aconselho-o a investigar melhor. Sabe quem dá imensa importância à liberdade ou escreve verdadeiros tratados e labirintos mentais à volta dela? Os escravos. Ora, quer Nietzsche, quer o seu mestre educador, não nutrem grande consideração por esse tipo de gente. Se quer remontar ao "livre arbítrio" do maniqueista Agostinho, então pior um pouco.
Melhor ir lá mais para trás, Ética de Aristóteles, no essencial, as tragédias, alguns diálogos platónicos, é mais por aí.
Quinto, engana-se o caro amigo quando me atribui uma "visão determinista da realidade". Trata-se, isso sim, duma "visão prudente", prudência que, sem querer de modo algum enganá-lo, lhe recomendo em relação à pressa de certos juízos. E a "realidade" desde Kant que deixou de estar ao nosso alcance. Apenas acedemos a fenómenos, daí o "mundo como representação" do Schopenhauer. A A sua sorte é eu ser aristotélico, pelo que lhe aceito o termo.
Finalmente, se me ando a enganar a mim mesmo, há-de concordar que até tem a sua piada: sou uma espécie de anti-oráculo (em vez do "conhece-te a ti mesmo" de Delfos, cá em casa pratica-se o "engana-te a ti mesmo", do Dragão). Olhe, tomo como elogio. Assim, ao menos, não prejudico os outros.
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