terça-feira, janeiro 13, 2015

A civilização oxidental




Há pessoas muito espantadas com o facto de selvagens psicopatas realizarem actos bárbaros. Eventualmente, estariam na expectativa de acções caridosas, ternuras exóticas e rasgos beneméritos. Sim, o que deveríamos esperar de psicopatas ferozes eram, calculo, catedrais, painéis e sinfonias. Compreendo, pois, que se persignem, desesperem e arrepelem, estas pulcras alminhas. Afinal, actos  genuínamente bárbaros, atrocidades condignas, crudelismos elevadíssimos - como morticínio industrial, massacre em larga escala, despovoamento sistematizado, disseminação de caos ao domicílio e guerra civil por controlo remoto - estavam reservadas às nossas queridas e ultra-civilizadas democracias. Estas pessoas sensíveis, de estômago delicado e pele cremosa, não se arrepiam quando vêm a barbárie praticada por civilizados profissionais. Não, qual quê!, enchem-se todos de urticária e gases é quando assistem à barbárie praticada por bárbaros amadores. Há aqui qualquer coisa que me escapa... uma dissonância qualquer, ela sim, verdadeiramente arrepiante, não há?
E ainda por cima, permitam que acrescente, os brutos são uns completos mal-agradecidos. Andaram as nossas amoráveis democracias, os nossos estados de direito tão fofinhos, a ampará-los, a chocá-los e municiá-los na sua emancipação... a ajudá-los, tão abnegadamente, na remoção daqueles déspotas retrógrados que os oprimiam e impediam de exprimir, em todo o seu esplendor, a imensa  vocação iluminista que os habita (e que, como sabemos, já ardia no fundo do mais arcaico cro-magnon), que os estorvavam sanguinariamente na adesão feliz à modernidade canora, às delícias e maravilhas do Mercado, e a paga que eles nos dão é esta!... Ora bolas! Ora gaita!...

12 comentários:

Vivendi disse...

O vandalismo revolucionário

Escreve Alexandre Gady: “Não há termos para exprimir a comoção de quem vê a escultura da “Virgem com o Menino”, do século XIII, sendo destruída à martelada. Não há palavras para descrever o que é presenciar uma catedral medieval ser dinamitada e reduzida a escombros (...)
Não há igreja, castelo ou cidade que não ostente tal estigma. Juntamente com os objectos e monumentos religiosos, as destruições mais sistemáticas voltaram-se contra as efígies reais. Com excepção de uma estátua em pé de Luís XIV, de Coysevox, poupada por milagre (encontra-se no Museu Carnavalet), não foi preservada nenhuma das estátuas equestres ou pedestres que ornamentavam os palácios reais e os edifícios públicos. Foram todas derrubadas, despedaçadas, espalhadas, pulverizadas (...)"
Em Setembro de 1792 foram massacradas em Paris 1400 pessoas pelos revolucionários. Enquanto matavam, elaboravam as Declaração dos Direitos Humanos.
“Destruam a Vandéia!” (Barrère); “A Vandéia deverá ser um cemitério nacional” (Turreau); “Serão todos exterminados” (Carrier); “Essa é uma gente maldita” (Lequinio).
De facto, a população de Vendéia foi objecto de um inacreditável empenho de extermínio. Prisões, campos de prisioneiros a céu aberto e barcos-prisões afundados tornaram-se leitos mortuários. No afã de acelerar os processos, recorria-se à guilhotina, aos fuzilamentos em massa e aos afogamentos. Mulheres e crianças não escaparam à carnificina. Os próprios revolucionários relataram as piores atrocidades. Do total de uma população calculada em 815.000 pessoas, a incursão republicana na Vandéia matou 117.000 habitantes - como consequência de uma “chacina populacional” cujos métodos inspirariam, no século XX, figuras como Lenine e Pol Pot.
À Igreja Católica coube oneroso tributo: a perseguição anti-religiosa, na Revolução Francesa, foi de uma extrema crueldade. Nela foram assassinados oito mil sacerdotes, religiosos, religiosas, e muitos milhares de leigos.
François Furet, partidário da corrente “revisionista” da Revolução Francesa, afirmou que o processo revolucionário trazia em si os germes do Terror. Por outras palavras, o período do Terror não teria sido apenas um episódio marginal, pois toda a Revolução Francesa ficou impregnada pela violência cruel e ferocidade sangrenta.
Os revolucionários de hoje, tal como os seus predecessores, também são "companheiros de viagem" da Revolução radical, consolidando à sua maneira as “conquistas” passadas, obtidas no decurso do período sangrento.
A Revolução Francesa é a matriz inspiradora da revolução comunista. O descrédito da segunda repercute-se sobre a primeira. Se as duas revoluções estão em crise irreversível, a alternativa lógica só pode ser aderir à Contra-Revolução.

Guilherme Koehler

Ricciardi disse...

«Há pessoas muito espantadas com o facto de selvagens psicopatas realizarem actos bárbaros.»
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São um bando de florzinhas de cheiro é o que é. É mais do que normal que selvagens pratiquem actos de barbarie.
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Nestes tempos da modernidade já não se pode ser selvagem à vontade. A própria palavra 'selvagem e civilidade' é de interpretação relativa.
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Ora, um selvagem que comete um acto de barbarie com matança e tudo pode muito bem estar a querer civilizar.
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E um civilizado que use a imaginação, a pena ou o lápis pode muito bem estar a querer selvagerar (esta tambem não está no diccionario).
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Tudo depende do ponto de vista.
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O problema coloca-se, pois, no obervador e não própriamente nos observados.
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Ele há observadores que consideram selvagem aquilo que é civilizado e ele há outros que consideram civilizado aquilo que é selvagem.
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Por exemplo, se o Dragão diz que é normal que selvagens cometam actos de barbarie um gajo pode muito bem pensar que esses selvagens são os civilizados para o Dragão. A perspectiva do observador vá. E como são, então, os civilizados que colocam os selvagens na ordem, não veriamos problema algum na demanda.
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A demanda justifica-se sempre que o observador considere civilizado aquilo que é selvagem.
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E como é que um tipo pode perceber , afinal, concretamente, o que é verdadeiramente selvagem e aquilo que é civilizado sem que a coisa dependa do observador?
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Recorre-se aos valores que parece ser coisa comum a todos os observados. Por causa das tradições e religiões e experiencias, afiançam.
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Aquilo que provém do Bem faz o bem. Aquilo que provem do Mal virá do mal.
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Já dizia JC que pelos frutos se podia ver a qualidade da arvore.
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Ora, se uma arvore em vez de produzir frutos suculentos que alimentam os observados produz frutos que os explodem a coisa só pode provir do mal.
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Rb

dragão disse...

«Por exemplo, se o Dragão diz que é normal que selvagens cometam actos de barbarie um gajo pode muito bem pensar que esses selvagens são os civilizados para o Dragão.»

Poder, pode. Pode o que lhe der na real gana. O mundo é assim. Mas das duas uma: ou é completamente estúpido ou está de completa má-fé.

zazie disse...

As duas coisas.

Já cheguei à conclusão que é as duas coisas.

Ricciardi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricciardi disse...

Zazie, o Dragão tem razão. 'Das duas UMA', quer dizer, um completo estúpido não pode estar simultaneamente de má-fé. Um estúpido nunca está de má-fé, ao contrario de um selvagem que quer civilizar.
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É uma questão lógica. Por isso decide-te. Completamente estúpido ou completamente de má-fé?
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A lógica anda prostituída, no norte diz-se amiúde: que 'puta da lógica'!. Precisamente, porque na boca de alguns a lógica devém moça de alterne.
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O Dragão pode muito bem estar a abrir as asinhas para se candidatar a proxeneta da lógica, lugar que tens ocupado com destaque nos últimos tempos.
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Anyway, se a coisa é para escolher, 'das duas uma' eu escolho ser completamente estúpido. Pode ser que nesse estado, com esse rótulo atado ao pescoço, o barqueiro me leve para o paraiso, já que pelo sangue embarco imediatamente com o diabo.
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Rb

Ricciardi disse...

Mas olha, Zazie, eu compreendo. Querias tanto esfregar-me nas trombas um insulto, que nem pensaste duas vezes quando o oráculo te apontou a possibilidade de me esfregares dois de uma assentada. :)
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Eu não sei se tenho alguma virtude. Creio que não. Definitivamente. Contrariarei até quem disser o contrario. É defeito de fabrico, coisa inerente aos mija-nos-finados como diria o Dragão.
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Pois eu hoje, sem exemplo, insuflado pelas narinas adentro pelo espirito do amor e da verdade, queria dizer ao Dragão que folgo muito que tenha regressado do oitavo circulo do reino dos mortos, onde jazia enterrado no gelo.
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E digo-lhe isto hoje, porque a partir de amanha estarei no quarto (circulo) na companhia dos traidores Cassios e do Judas-ali não há gajas, até parece que elas não traem-, precisamente porque traí a Zazie, essa grande maluca que me saiu mais tesa do que o c... como tão bem se diz no norte.
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Rb

dragão disse...

Qual sangue? Não me diga que ainda padece da hemocracia minoritária!...
Se é isso, desengane-se. Nem na barca do diabo vai: vai a reboque, à toa, como estipulou mestre Gil. E se for à toa é bem feito, que é para não raciocinar do mesmo modo.
Agora não se faça de parvo, que o anjo não se deixa enganar. E também não me faça a mim, que já esgotei trajes e reportórios.

Mas a sério... O que ´
e que se passa consigo, homem? Quando eu daqui abalei, dois anos atrás, você era um tipo cordial, com aquela mania pitoresca, mas inofensiva. Que é que este labirinto lhe fez que vossência, agora sim, está transformado num perfeito judeu - sempre com duas pedras na mão!?... A hemocracia virou partido único?... Fantasia lapidações em massa?...

Se a política o transtorna, falemos antes de árvores. Os verdadeiros seres superiores deste planeta.

dragão disse...

O meu comentário anterior, como é óbvio, refere-se ao seu penúltimo comentário. Com referência ao ultimo: Muito obrigado. E disponha sempre.

PS: A Zazie é a Zazie, o Road Runner da blogosfera. Ficou minha amiga por direito: aguentou a pé firme saraus de pancadaria e incinerações de fazer churrasco qualquer alma menos intrépida.

zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Felicito-o Dragão. É notável como o seu blog atrai comentários de qualidade, onde se passa a perceber mais e melhor de todos nós.
Não sei se nos fez falta. Agora, sim, faz-nos falta.
Abraço de respeito.
eao

dragão disse...

E estou em crer que os melhores comentários os leitores nem os publicam. pensam-nos apenas. Por caridade para comigo.