Está um gajo a ser estrangulado, muito bem estranguladinho, após uma sélvática carga de porrada. Um grupo de nobres cidadãos contempla a cena, em amena cavaqueira e plácida indiferença. Até que, repentinamente, um deles grita: "Olha,olha! vai ali o gajo que lhe roubou a carteira, a conta bancária e até o carro!... Malandro! bandido! gatuno!..."
Um gajo, a esvair-se em sangue e prestes a desligar a máquina, ainda pensa: "Filho da puta! Por causa dele, tive que vir a pé e cair nas garras destes assassinos!..." E se conseguisse gritar, decerto também acompanharia os amigos na rusga: "Larápio! Pilha-erários! Agarra, que é ladrão!..."
Porém, o estrafego já não lho permite. E, enquanto os nobres cidadãos desandam em perseguição assanhada do reles cleptomaníaco, apenas consegue murmurar: "Vejam se me recuperam, ao menos, a carteira com os documentos!...":
Moral da história: De facto, já se entranhou na plebe o preceito calvinista: o crime contra a propriedade é muito mais grave que o crime contra a vida. Roubar o povo é infinitamente mais grave que assaltá-lo à mão armada e matá-lo das mais variadas e cínicas maneiras.
Pois, compadres, é como vos digo: se vamos estar com requintes, como diz um amigo meu, de estabelecer hierarquias no excremento, então, entre a bosta Pinócrates e o dejecto Coelho, sempre é preferível a bosta: esta, ao menos, roubava-nos às escondidas, furtava à surrelfa, pela calada; aquele assalta-nos à descarada, à bruta, ufano, com todo o aparelho de Estado em riste. E o outro roubava para ele, coitado, tinha imensas despesas (condeno mas compreendo, é humano, é de administrador moderno, é de gestor liberal, que querem, a mão invisível cede à tentação); este, em contrapartida, exturque e rapina os portugueses para encher o cu à Plutaria, à Merkla, às Hortaliças carnívoras de Bruxelas (além de sabujo e traidor, é sociopata).
Sim, porque isto dos políticos é como as putas: que nos endrominem, esfolem, adormeçam e desapareçam de noite com a carteira, o relógio e o telemóvel, sim, é vergonhoso, é infame, mas é típico; agora que armem em virgens virtuosas, exóticas e, depois de nos pregarem um escarépio miserável, ainda nos apontem pela falsa gravidez e exijam matrimónio com vestido e altar, isso, pelo menos para mim, é inaceitável. Não há sequer negociação possível.
PS: se alguém pensa que uma tal cegada vai ficar impune, desengane-se. As duas alternativas são ambas repugnantes e sórdidas: ou estão a tentar limpar o actual desgoverno de merda ao Pinócrates; ou acabam a a fazer do Pinócrates um mártir, uma vítima. Em qualquer dos casos, bem podem ir limpando as mãos à parede.
PS2: E nunca se esqueça que o Pinócrates é consabidamente benfiquista... Pelo que, bem no fundo, no íntimo das vísceras, seis milhões irmanar-se-ão sempre, solidários, com ele. Até porque se a acusação é apenas de roubar frenéticamente, isso para qualquer benfiquista não é crime: é método. E mérito.
(Pronto; agora é que eu me meti mesmo com a seita religiosa nacinhal. Vou já ali preparar o lança-chamas para acudir aos fundamentalistas do Estado Islampiónico, a começar pelo Caguinchas!...)
1 comentário:
Fosca-se. O pêra manca caiu-lhe mesmo bem.
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