segunda-feira, junho 05, 2006

Perguntas Popularuchas de Papa



“Onde estava Deus, nesses dias? Porque ficou silencioso?”
- terá perguntado o Papa Bento Não-sei-quantos, de visita ao principal resort do turismo macabro.
Olhe, caro senhor, porque o Altíssimo tem certamente mais que fazer, respondo-lhe eu: Deus está onde sempre esteve e onde espírito tão rasteiro, venal e frívolo como o nosso não alcança. Mais até que Aristóteles, Jesus ou mesmo Nietzsche, as árvores, os céus, o sol, os mares, as estrelas, enfim, o cosmos inteiro fala-nos dele. Mas nós não escutamos, nem queremos escutar e temos raiva a quem escuta. Porque estamos muito ocupados com o nosso descomunal umbigo, cada vez mais absortos nesse pináculo absoluto do mundo, razão de ser e medida de todas as coisas. Isso e galopar a nossa opiniãozinha de merda, tocar pívias ao nosso intelecto de pulga ou congeminar revoluções que esvaziem de putativos demónios as paróquias e nos encham de vil metal os bolsos. Ou, pela outra banda, a reforçar barreiras contra esses demónios da paróquia que nos querem saquear os cofres e tesouros.
Então Deus não nos deu a liberdade, ó senhor Papa Cura? Nunca leu Santo Agostinho e toda a santa tradição subsequente? Que responsabilidade tem Deus nas nossas canalhices, da nossa permanente lua de mel com os infernos? Do nosso gozo mórbido em nos pisarmos e massacrarmos uns aos outros? Da nossa mania que somos deuses impiedosos, cada qual mais especial e eleito que o outro? Deus é polícia? É agente de seguros? É psiquiatra? É esgoto moral? Deus, enfim, é Papa?
A pergunta, por conseguinte, tudo o indica, não é “onde estava Deus, nesses dias? Porque ficou silencioso?” A pergunta é, outrossim: “Onde estava o Homem, nesses dias? Nesses e nestes e nos últimos vinte séculos! Porque está ele cada vez mais cego e surdo?"...
Não nos limpemos a Deus. Fazer dele nossa fralda, ainda por cima descartável, só aprofunda o estágio esterquilínio onde nos atascamos e teimamos em chafurdar. Não sei se Deus, que em absoluto me transcende, me criou “à Sua imagem e semelhança”. A mim, certamente que não, Exm.º Sr. Papa, não tenho essa vaidade, nem nunca me atreveria a apregoá-la diante Daquele que me deu a Vida. Mas a si, por deferência para com o seu rebanho, admito que sim. Que até lhe terá passado procuração, alvará, senão mesmo franchising. Mas se Ele, em todo o seu Misterioso Desígnio, teve para consigo essa caridade - de o criar à imagem Dele, não vá agora Vossa Benta Santidade, pagar-lhe com rasteira ingratidão, amesquinhando-O à sua. Que é o mesmo que dizer "à nossa".

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