Basta substituir onde se lê "crítico" por "comentador", e "crítica" por "comentário". Onde aparece "história" também se pode substituir por "currículo" ou "notoriedade". E onde diz "historiador", naturalmente, "entendam "comentador". Vão ver que faz todo o sentido e é de uma grande actualidade.
«Aconteça o que acontecer no campo da acção, o filisteu ilustrado, esvaziado interiormente pela cultura, despreza a obra e informa-se sobre a história do autor. Se já produziu algo anteriormente, é imperioso explicarem-lhe imediatamente os antecedentes e o futuro provável da sua evolução. Comparam-no com outros, dissecam-no, interrogam-no sobre a escolha do tema, sobre o modo de o tratar, desarticulam-no para o reconstruir sabiamente, censuram-no, corrigem-no. Por mais surpreendente que o acontecimento seja, aparece logo um bando de historiadores (ou comentadores) para considerarem o autor segundo uma perspectiva longínqua. Há ecos imediatos também sob a forma de "crítica", quando pouco tempo antes a crítica não tinha sequer sonhado tal possibilidade. Não resulta daí qualquer efeito, mas sempre uma nova crítica, e esta crítica, por sua vez, também não produz efeito, mas constitui o objecto de uma outra crítica. Todos concordam em considerar que ter muitas críticas é um sucesso e que ter poucas ou não ter críticas é um fracasso. Mas, no fundo, mesmo quanto ao efeito produzido, nada mudou: glosa-se por momentos uma novidade, depois outra, e tudo continua como dantes. A crítica histórica não permite que uma obra possa ter acção, no sentido próprio da palavra, isto é, agir sobre a vida e a acção. Sobre a tinta mais negra aplicam imediatamente o seu mata-borrão. Borram com grossas pinceladas o mais gracioso dos desenhos, fazendo-as passar por correcções. E tudo fica por aí. A sua pena crítica nunca desarma, porque já não são senhores dela, é ela que os conduz. Este excesso de efusões críticas, esta falta de autodomínio, aquilo a que os romanos chamavam a impotentia, tudo isso exprime a debilidade da pessoa moderna.»
-Nietzsche, "Da Utilidade e dos Incomnvenientes da História para a Vida"
Que conclusão podemos retirar disto?
- De que os blogues são sítios mal frequentados? Sim, de facto, salta à vista. Mas não mais do que a História. Assim, por exemplo, quando certos açougueiros do conceito assinam "historiador", entendam como um eufemismo de "bloguista". Ou seja, como dizer "amigo do alheio" em vez de "larápio". Nem mais.
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