Convém que isto fique bem claro:
A Igreja padece dum problema que não lhe é exclusivo: atravessa todas as grandes instituições e profissões deste país. Na Igreja é apenas mais escandaloso. Por razões intrínsecas e extrínsecas. Porque, em tese e na prática, se espera da Igreja um exemplo moral e, nesse sentido, a falha devém fosso; porque ao convidar a que a arrastem, apupem e pelourinhem, pela ralé, só agrava e amplia o fosso a abismo. Como se já não bastasse deixar-se infiltrar pela ralé, a pseudo-hierarquia da Igreja (desde o Vaticano II, Deus nos acuda), incita ao linchamento público pelo mesmo tipo de gente. E quando eu digo ralé dentro da Igreja refiro-me, objectivamente, a beatos e pseudo-sacerdotes, e tenha essa ralé muita, pouca ou alguma riqueza, pedigree ou instrução. A ideia que fica de todo este degradante espectáculo merdiático é que a pseudo-hierarquia da Igreja não quer saber da Igreja para nada. A começar no papa Chico.
A primeira vez que ouvi a expressão, era eu miúdo, e teve como autor o meu pai. Em conversa com outros adultos referiu-se a um caso duma "rapariga enganada" por um qualquer tratante proferindo a seguinte sentença censuradora: "serviu-se da rapariga" (outra forma, à época, equivalente era "desonrou-a"). E não estamos a falar de menores. Apenas duma moça solteira. A expressão referia a essência do caso, dispensando-nos dos detalhes e obscenidades acessórias. Tanto podia ser exprimida por adultos, quanto escutada por crianças. O decoro sobrepunha-se ao escândalo.
Ora, o grande problema da Igreja, como do Exército, ou da Medicina, da Justiça, da Escola, etc, não é a pedofilia. Essa é apenas uma das possíveis manifestações/sintomas mais repugnantes. Até porque para explorar o escândalo, convocar porteiras ou promover comícios, não há melhor nestes dias que escorrem. Não; o problema, que já vem de longe, é a falta de vocação e de espírito de missão. É a invasão e sobrelotação dos serviços por funcionários e a redução de toda e qualquer missão a mera e mecânica função. Indiferente quem a execute. Donde a desqualificação, a mediocridade, a burrocracia. Mas pior: dispensados e desembaraçados de qualquer espírito de serviço, enquanto servir os outros, a comunidade, o bem comum, estes utilizadores/exploradores das instalações e cargos tudo convertem e confinam ao estreito interesse pessoal, à lógica básica e saloia da carreira, da promoção e do currículo. O serviço degrada-se, assim, e fatalmente, a self-service dos funcionários. O governo é o self-service dos ministros e secretários; os partidos são o self-service de toda a casta de arrivistas e alpinistas sociais; as universidades são o self-service dos lentes amestrados e bacocos; os tribunais são o self-service dos magistrados; e a Igreja é o self-service dos seus funcionários e o desespero dos seus missionários (aqueles que, apesar de tudo, fiéis, vão resistindo). Quando um qualquer funcionário da Igreja se serve duma criança, para cevadura da sua ignóbil aleivosia, está a apenas a usufruir, embora dum modo particularmente torpe e reptilíneo, do self-service instalado. Em vez de servir a criança, a comunidade, a Igreja, serve-se de tudo isso para sua sórdida masturbação pessoal. No fundo, em nada colide com os princípios gerais que presidem à actual sociedade, sobretudo no grau mais elevado (que é superlativamente baixo e rasca) das elites. Só que a Igreja não é suposto seguir o rebanho, ainda menos quando este, tresmalhado e destrambelhado, se lança em fogosa correria para o precipício. Sendo do mundo, a Igreja também deve olhar de fora dele; estando no Tempo, também tem um vínculo à eternidade. Por isso, o funcionarismo eclesiástico é o mais grave, imundo e perigoso de todos: contamina e dissemina a necrose no âmago do Sagrado. A profanação que este funcionarismo, numa das suas erupções mais aberrantes, exerce numa criança, não é apenas a profanação do templo da inocência e da fé: é a profanação da casa de Deus. É despejá-Lo da sua própria mansão e fazer desta bordel-paraíso pessoal. Maior danação será difícil.
Todavia, mesmo que em Toda a Igreja só já restasse um homem santo e todos os restantes tivessem descido à bandalheira mais venal, a Igreja seria esse homem santo, teria o valor incalculável dessa boa alma, significaria infinitamente mais que todo o nada restante. Ainda mais no momento em que estivessem todos, aos gritos, aos uivos e aos escarros, a crucificá-lo. E esse homem de Deus ter-me-ia a mim, pecador entre os pecadores, ferrabrás impenitente, guerreiro por vocação, sempre ao seu lado. Como o ladrão junto a Cristo.
Pelo que é de coração pesado que me compete declarar, em remate, o seguinte: ao assistir (ainda que de relance, mas o suficiente para experimentar as vascas do vómito), no horário nobre do caixote do lixo televisivo, a uma parelha de beatos excitados, na lúgubre função de porta-vozes duma comixão de neo-inquisidores laicos (assistindo de frisa, qual fileira de abutres perante autópsia), declamando, em tom de homilia, passagens de pornografia rasca com bufos propósitos, tive a completa e acabada experiência de estar a testemunhar, ao morto e a cores, não a uma denúncia, a uma convocatória à moralidade, mas a uma celebração. Uma celebração onde, em vez da Bíblia, se liam passagens de Sade; uma celebração onde, em vez da purificação da Igreja, era a profanação, pública e solene, dela que se ministrava. Aqueles católicos do cuspo, que vão ao domingo à missa, à quarta à bruxa e todos os dias ao mercado das almas, querem lá saber das crianças dos seminários e dos orfanatos - filhos de gentinha pobre ou incógnita, interessam-lhes tanto como os pais, que nojo!... Não é, definitivamente, a defesa dos desvalidos os que os ocupa: é o ataque concertado, fariseu, hipócrita e rastejante a uma Instituição que estorva. Isso e o assento vip na aero-moralidade a jacto. Mas ainda mais que o corriqueiro e vezeiro tele-proxenetismo do escândalo que preside a estas emulsões premeditadas, o que tudo aquilo simbolizava e transmitia, repito, ao morto e a cores, para toda a nacinha ronhosa, era uma espécie muito concreta, ensaiada e fétida de cerimonial... Qualquer coisa de sinistro e angustiante. Passado o choque, revelou-se-me realmente o que foi: uma missa negra.
PS: Os funcionários da Igreja que, em vez de servirem aos outros e, nisso, a Deus, preferem o self-service com que os compra e assalaria o diabo, deviam merecer um pouco mais de carinho, recato e compreensão da parte os seus colegas neo-inquisidores de pantalha. Afinal, servem todos o mesmo patrão. Mas como a piedade não é visita da casa...
12 comentários:
Ao ouvir a leitura pormenorizada de "passagens de pornografia rasca" fiquei com a impressão que o relatório não visa a reforma de uma instituição milenar, mas antes arrasá-la perante os olhos do povo. Ao destruir este pilar de valores morais e religiosos tradicionais que norteiam a sociedade, quereriam eles substitui-los pelos novos "valores" do fariseu Soros? Ou deixar uma sociedade em caos nesses tempos conturbados?
Mal comparado, Caro Draco, é como alguns militares do antigamente.
A partir de certa altura (anos 50 talvez?), as Forças Armadas passaram a funcionar, em demasiados casos, como poiso de funcionários.
Espírito militar, brio e dedicação foram trocados por sabujaria burocrata, puxa-papéis e meros inúteis à espera do salário e da pensão de reforma.
O sistema deu para o torto quando lhes tocaram nas "carreiras".
O que leva a uma questão de fundo: como pode uma instituição manter-se fiel a si mesma através dos tempos? Como evitar que os piores tomem conta dela e a dirijam para os seus próprios interesses?
Miguel D
Laoconte,
«quereriam eles substitui-los pelos novos "valores" do fariseu Soros?»
Se é essa a moda do momento, eles aderem entoando hossanas. Quando substituírem essa por outra, eles adaptam. É preciso é surfar pantalhas e éteres.
Miguel,
Não é mal comparado, é bem comparado (com as devidas proporções). Eu próprio o referi logo a abrir. E está devidamente consignado, se bem se lembra, na Acromiomancia; como uma das principais causas do naufrágio nacional, precisamente em dois dos pilares fundamentais: o Exército e a Igreja. A seguir ao 25 das Pêtas apenas alastrou como lume em capim seco, devorando e carbonizando todo o organismo social. Uma autêntica queimada, como se diz no Leste de Angola.
O problema da Igreja Católica Romana está na Ordem Militar da Companhia de Jesus, designada habitualmente por Companhia de Jesus.
Junte-se a isto o Concílio do Vaticano II, conforme referiu.
Não deixa de ser curioso no meio disto tudo, o facto de serem os Jesuítas – que são os maiores promotores do homossexualismo/pedofilia dentro da Igreja – a levarem a cabo a investigação sobre os crimes de abuso sexual de crianças.
Mais estranho ainda, é ser possível em Portugal que uma entidade se sobreponha ao papel da Polícia Judiciária (PJ) e do Ministério Público (MP), assumindo ilegalmente as funções que competem a estes dois organismos.
A título de curiosidade:
- A revista Jesuíta mais antiga da América escreve que a Igreja Católica precisa de "santos" LGBT
https://russian-faith.com/news-trends/oldest-jesuit-magazine-america-writes-catholic-church-needs-lgbt-saints-n6819
A Igreja Católica Romana ou faz uma limpeza dentro da sua estrutura, destruindo a influência e domínio da Igreja Profunda - que se apoderou desta Instituição - seguido da expulsão dos seus membros, ou então não terá qualquer hipótese.
Pegando na deixa do Sr.º Miguel D, a decadência e destruição interna e intencional do Exército não começa na Década de 50 do Século XX, muito pelo contrário, e para não ir muito atrás, começa sim após o golpe de Estado da OTAN em 25ABR74 com os liberais/maçonaria - o Estado Profundo de preferir - a tomarem gradualmente o domínio desta Instituição que a partir de 2008 passou a ser totalmente controlada por estes últimos, encontrando-se agora numa situação muito grave, descaracterizada, mal-preparada, sem Identidade e Tradições, sem efectivos, e com um Quadro Permanente repleto de gente que para além de não terem Educação Militar, não possuem perfil para a Profissão, e foram lá colocados(as) para servir interesses alheios aos da Pátria e dos Portugueses.
Porém, o caso das Forças Armadas resolve-se facilmente, é preciso obrigar os Militares a declarar se colaboram ou pertencem a sociedades secretas (Maçonaria, Jesuítas, Opus Dei, etc.), de seguida esses Militares terão de sair, não se pode jurar duas Bandeiras, e para além do mais, o percurso de algum desses indivíduos é extremamente duvidoso, depois é só repor e fazer cumprir a Lei Militar, Regulamentos, e Normas, que a facção liberal/maçónica tem vindo a destruir ou deturpar.
Quando refere «...O sistema deu para o torto quando lhes tocaram nas "carreiras"...», não vou por aí, o 25ABR74 aconteceu por vontade da OTAN, não foi uma revolução ou levantamento militar provocado por insatisfação nas fileiras do Exército, isso faz parte da lenda, o que realmente aconteceu é que um grupo de militares vassalos resolveu levar a cabo essa operação da OTAN.
Hoje o Exército tem Sargentos do Quadro Permanente promovidos a Oficiais em seis meses, situação que já ocorre há bastante tempo, enquanto que os Oficias da Academia Militar precisam de concluir um curso/instrução de quatro ou seis anos, e não se vê ninguém dentro das fileiras a denunciar a situação, a opor-se, ou fazer «revoluções» perante esta grave situação.
o 25ABR74 aconteceu por vontade da OTAN, não foi uma revolução ou levantamento militar provocado por insatisfação nas fileiras do Exército, isso faz parte da lenda, o que realmente aconteceu é que um grupo de militares vassalos resolveu levar a cabo essa operação da OTAN."
( sempre foi essa a minha convição , reforçada ao longo dos anos pelos exemplos das sucessivas intervenções dos imperialistas americanos e em paricular a miserável atuação nos balcãs )
E preparam-se para fazer o mesmo com a Hungria , com o conluio da Ursula
https://m.youtube.com/watch?v=TpoS-OgJZfA
https://www.usaid.gov/news-information/press-releases/feb-08-2023-administrator-samantha-power-travel-hungary
https://twitter.com/peimenipusha/status/1625678977368211456?s=48&t=0pn6EAklKbicS8OCZKN_dg
Isto é tudo para normalizar a peidofilia.
Alguém reparou que Paulo Pedroso foi o comentador de serviço na RTP?
Está tudo na agenda.
A igreja abriu-se ao progressismo e o inferno caiu-lhe em cima.
A minha alma está parva
https://www.jta.org/jewniverse/2015/the-6-genders-of-the-talmud
A Igreja Católica Romana ou tem coragem para fazer o que acima escrevi, ou então não terá qualquer hipótese, vai ficar encurralada da mesma maneira que ficou aquando do empréstimo financeiro que contraiu com os Rothschilds em 1832 e 1850.
« A profanação que este funcionarismo, numa das suas erupções mais aberrantes, exerce numa criança, não é apenas a profanação do templo da inocência e da fé: é a profanação da casa de Deus. É despejá-Lo da sua própria mansão e fazer desta bordel-paraíso pessoal. Maior danação será difícil.
Todavia, mesmo que em Toda a Igreja só já restasse um homem santo e todos os restantes tivessem descido à bandalheira mais venal, a Igreja seria esse homem santo, teria o valor incalculável dessa boa alma, significaria infinitamente mais que todo o nada restante. Ainda mais no momento em que estivessem todos, aos gritos, aos uivos e aos escarros, a crucificá-lo. E esse homem de Deus ter-me-ia a mim, pecador entre os pecadores, ferrabrás impenitente, guerreiro por vocação, sempre ao seu lado. Como o ladrão junto a Cristo. »
Das coisas mais belas, verdadeiras e justas que já escreveu, meu caro.
Parabéns a si e Deus nos valha a todos.
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