«Em vez de bater uma forte patada no país, clamando com força: - Para aqui! Eu quero! - os governos democráticos conseguem tudo, com mais segurança própria e toda a admiração da plebe, curvando a espinha e dizendo com doçura: - por aqui, se fazem favor! Acreditem que é o bom caminho!Tomemos um exemplo: o eleitor não quer votar com o Governo. Ei-lo junto de uma urna da oposição, com o seu voto hostil na mão, inchado do seu direito. Se, para o obrigar a votar com o governo o empurrarem às coronhadas e às cacetadas, o homem volta-se, puxa de uma pistola - e aí temos a guerra civil. Para quê esta brutalidade obsoleta? Não o espanquem, mas, pelo contrário, acompanhem-no ao café ou à taberna, conforme estejamos no campo ou na cidade, paguem-lhe bebidas generosamente, perguntem-lhe pelos pequerruchos, metam-lhe uma placa de cinco tostões na mão e levem-no pelo braço, de cigarro na boca, trauteando o Hinno, até junto da urna do Governo, vaso do Poder, taça da felicidade! Tal é a tradição humana, doce, civilizada, hábil, que faz com que se possa tiranizar um país, com o aplauso do cidadão e em nome da Liberdade.Quantas vezes me disse o Conde ser este o segredo das Democracias Constitucionais: "Eu, que sou o Governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo, que é forte e simples. Mas, como a falta de educação o mantém na imbecilidade, e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito.... E quanto ao seu proveito...adeus, ó compadre!Ponho-lhe na mão uma espada, e ele, baboso, diz: eu sou a Força! Coloco-lhe no regaço uma bolsa, e ele, inchado, afirma: eu sou a Fazenda! Ponho-lhe diante do nariz um livro, e ele exclama, de papo: eu sou a Lei! Idiota! Não vê que por detrás dele, sou eu, astuto manipulador de títeres, quem move os cordéis que prendem a Espada, a Bolsa e o Livro!"- Eça de Queirós, in O Conde de Abranhos
segunda-feira, setembro 21, 2015
Um Regime de Cordel
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3 comentários:
E temos um povo que já está tão imbecilizado que já nem sai do centrão...
Resta ao centrão esmrifá-los até ao tutano.
Há mais de 100 anos que já Eça expunha claramente a farsa.
O país não vive: chafurda. Não vai a lado nenhum: atola-se. Em dívidas, em mediocridade, em perpétuos desarranjos intestinais. Só que agora a verba é escassa, acabou-se a mama à tripa forra dos "fundos comunitários". O pote encolheu, a esmola é curta e sob arreata. E os centrões esgadanham-se e arrepelam-se. Vale tudo. Nunca o fratricídio entre parasitas e pedintes desceu a um tal nível de cloaca. Mesmo o folclore não muda: estagna e apodrece - os sociais democratas de faz de contas contra os sociais democratas da carochinha. Não dá mais.
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