domingo, abril 08, 2012

6ª Lei da Ratafísica Desantropológica




- Mais depressa! Mais depressa"...

- Lá está ele de novo! Mais depressa como? Não entendo essa ordem!...

- Essa tua iliteracia financeira até mete nojo! Não entendes como?...

- Muito simples: se estamos estacionários - direi mais: atascados até ao coruto da pinha - como raio podemos ir mais depressa? Só se for para nos afundarmos ainda mais velozmente: Para ser franco, não vislumbro a utilidade e ainda menos a vantagem dessa manobra.

- Corrijo: não é iliteracia, é estupidez mesmo! Qualquer raciociniozinho mais elaborado causa-te vertigens! Ó imbecil, não percebes que temos que afundar-nos a toda a velocidade de modo a atingirmos o fundo com a maior rapidez possível. Uma vez aí, em pista sólida, com as patas bem assentes no fundo, engrenamos a nossa tracção total e largamos a pleno galope directos a amanhãs chilreantes e cornucópias de pasmar!...

- Mas isso era o que tu já dizias ontem?   Olha onde estamos hoje!...

- Hoje não é amanhã, hoje é hoje! Eu nunca disse hoje, disse amanhã! Aliás, se não estivesse sempre a olhar para ontem, percebias facilmente. Assim, não adianta explicar-te. És burro que nem um penedo. Um verdadeiro calhau com olhos!

- Pois, serei, não discuto. Mas o problema é que a cada hoje que amanhece nunca é o amanhã prometido que encontramos. Damos  sempre de trombas  com quem? Com o ontem, nem mais! Eu, transportado pelos teus conselhos e perícias, sempre a tentar descortinar o amanhã e, em vez dele, a dar de focinho invariavelmente  com o ontem! E agora, para cúmulo, já nem é o ontem: é o anteontem escarrado e chapado!...

- Umas boas chapadas é o que tu merecias por guinchares tamanha descarga de dislates! Digo mais : uma carga policial das boas só te fazia bem! Não vês porque te falta a capacidade, a cultura, a inteligência!...

- Queres ver que  esse teu tão cantado amanhã é como aquele monarca que desfilava núcego sob o alto patrocínio de solertes e inefáveis costureiros...

- Ah, agora estamos a ser sardónicos!... Estudar não é contigo. Adquirires valências e mais-valias não te quadra. Mas para a piadola fácil já estás aí todo pronto e despachado!... Pois regista, encaderna e fica sabendo que ainda bem que não vês o amanhã: tudo onde pões a lupa, estragas! De resto, dito com apropriada analogia, nesta árvore que ambos desempenhamos, a ti compete-te a raiz, a mim a rama verdejante. Pelo que, de modo a que eu ascenda luminoso aos céus em foto - e também cine- síntética saga, convém - e está prescrito na ordem natural das coisas e das leis - que tu mergulhes nas profundezas. Onde, com denodado e estrénuo afã, deves  garimpar no esterco toda a variedade de pérolas que nutrem  este nosso vertiginoso processo!...

- Ah... Então, se assim é, alguém não está a cumprir a sua parte.

- Quem? Não me dizes?...

- Tu. Tu todo, Em vez de estares a elevar-te como, dizes, te compete, andas aqui comigo, de escantilhão, a fussar no pântano. Quer dizer, eu mergulho, como está prescrito e receitado. Mas tu não sobes. Bem, na verdade. até sobes, mas apenas para as minhas cavalitas. Para o céu, 'tá quieto ó mau. O preto que suba. O preto, sobretudo o angolano, e o dólar; que tu já nasceste cansado e grudado ao meu cangote. E assim, se hás-de comandar-me, guiar-me ou lá que diabo é, só o que sabes é andar atrás de mim, envcavalitado, a mandares-me andar para a frente. Ou melhor, para baixo, para o fundo, para a merda!... Pois cá vou eu; mais que o hábito, já me equipa o calo. Todavia, quando era suposto já ires a caminho das estrelas, de modo a conferir sentido a este meu crónico suplício, o que é que acontece? Eis que andas pr'aqui comigo a disputar a bosta.


6ª Lei da Ratafísica - O produto do esquecimento pela falsificação do passado é igual  ao quadrado da ausência de futuro sobre a confiscação do presente. 

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