«Porque agia dentro de uma Constituição que sempre procurei respeitar, e por convicção própria, mantive, portanto, o Estado Corporativo. Mas lancei, poucos dias depois de tomar posse do governo, a fórmula do Estado Social a fim de acentuar o conteúdo da política que me propunha seguir.
Esta fórmula é, há bastantes anos, corrente na literatura da ciência política por esse mundo publicada e foi consagrada nalgumas constituições, designadamente na da República Federal Alemã.
O sentido que lhe dei na curta alocução proferida em 10 de Outubro de 1968 ao receber os presidentes das corporações foi o de - "um poder político que insere nos seus fins essenciais o progresso moral, cultural e material da colectividade que, pela valorização dos indivíduos e pela repartição justa das riquezas, encurte distâncias e dignifique o trabalho". E meses depois, por ocasião da apoteótica visita ao Porto, em 21 de Maio de 1969, voltava, no discurso proferido da varanda dos Paços do Concelho, a proclamar um Estado Social, mas não socialista.
(...)O que importa já não é tanto afirmar a soberania do indivíduo na sociedade, como proporcionar a cada um a base material e culturalnecessária para poder ser cidadão participante e consciente na vida pública.
Por isso, hoje, nos contactos com a massa popular, aquilo que esta solicita aos governantes não é mais liberdade - mas preços equilibrados com os salários, casas decentes, educação acessível, previdência social eficaz com boa assistência médica na doença e pensões garantidas na velhice e na invalidez.»
- Marcelo Caetano, "Depoimento"
Não é mera conversa. Marcelo Caetano, de facto, estava a promover todo um conjunto de mudanças e reformas que urdiam a conversão do Estado Corporativo num Estado Social. O país, paulatinamente, encaminhava-se para uma social democracia. Ah, mas a censura! Ah, mas a DGS!, obstar-me-ão. Pois, ó camaradas, por algum motivo a DGS não gostava de Caetano!...
Então, mas se o país seguia placidamente a caminho do modelo europeu de sociedade, porque raio se deu o 25 de Abril? Para democratizar e desenvolver o país? Mas se ele se ia suavizando politicamente a olhos vistos, e crescendo economicamente a coisa de 4 ou 5% ao ano (e isto apesar duma guerra em três frentes) - ou seja, se ele estava a enriquecer a um ritmo efectivo e inaudito nos últimos dois séculos - para que (ou a quem) servia (e serviu) a golpada?
Pois, lá está, é que Marcelo Caetano, se divergia de Salazar na Política Interna, e deu provas eloquentes disso, em contrapartida, coincidia no essencial da Política Externa. E isso é que era imperdoável para as grandes potências e respectivas marionetes domésticas. Tivesse ele mantido o chicote interno, mas abdicado da rédea ultramarina e ainda hoje, se fosse vivo, estaria em São Bento.
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