Cada vez me convenço mais que a Vida de Cristo constitui o paradigma profético da nossa própria vida, de homens...
Num dia, fazemos milagres, caminhamos sobre as águas, convidam-nos para almoços e jantares, acorrem basbaques de todos os lados para nos verem e mararavilhar-se. No outro, tudo se altera e distorce: como num caleidoscópio infernal, damos connosco de madeiro às costas, arquejando ao fundo duma encosta íngreme, ninguém nos conhece, todos nos cospem, e flagelam-nos por ali acima, até ao cume sangrento onde, por vil embirração, cismam de nos crucificar.
Meio estarrecidos, perplexos, perscrutamos o chão que parece agora fugir-nos e conspirar contra nós. Afinal, o mel foi só para afinar o paladar para o sabor do fel?!...
Meio atordoados, interrogamos, com desespero, o céu: "Vou ter que beber este cálice?..."
E o céu, dum azul imenso, misterioso, profundo, responde:
-"Vais!..."
E é nesta altura, para lá do terror e da esperança, que o homem, se tem um dragão dentro dele, contém as lágrimas, esquece as feridas, fita com desprezo a maralha e clama:
"Então brindemos: À Nossa!..."
À nossa: à indiferença do Céu e à dor na Terra.
Se eu tivesse que eleger o melhor postal dos mais de seis anos deste batel, sem hesitação escolheria este.
Se eu tivesse que eleger o melhor postal dos mais de seis anos deste batel, sem hesitação escolheria este.
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