Já havia uma máquina de criar tansos e otários por via audio-visual: a rádio-televisão e o cinema. Agora estão a desenvolver uma que actua por via nasal: o spray-inalador hormonal. Não é difícil imaginar a Banca, um dia destes, musculado o pulverizador à larga escala, a mandar sulfatar as cidades com o aroma oxytocin. Se bem que em Portugal nem seja preciso. Parece que a otariedade é espontânea: a correr ao crédito ou à urna, o pretoguês (entenda-se o português actual) é imune a qualquer tipo de aprendizagem, prudência ou vacinação. Assim como não experimenta jamais qualquer espécie de saciedade, aviso, tino ou lição.
O que nos transporta, sem mais preâmbulos, a uma constatação tão óbvia quanto caricata: apregoa-se que o povo português, na medida em que vota sempre nos mesmos partidos centralizados, é avesso ao radicalismo. Porém, esta putativa mostra da sua porfiada moderação política mais não mascara, distrai e camufla que a sua desenfreada e recorrente imoderação na tontice. É, tal animalejo, com exuberantes provas dadas, um tanso fanático, frenético e radical. Direi mesmo, sem o mínimo risco de pecar por excesso ou hipérbole: Entre nós, a estupidez, ultrapassada a mera fase maníaco-obsessiva, já raia o fundamentalismo religioso.
Ressalta à vista desarmada: antes de ser de direita ou de esquerda (próxima ou extrema), socialista ou liberal, comunista ou fascista, reformista ou conservador, o pretoguês é, compenetradamente, estúpido. O resto, nas diversas tintas e vernizes, nunca excede o mero pretexto, o claro doping, a simples catalisação para desenvolver a níveis ciclópicos, a píncaros descomunais, a camadas estratosféricas, essa sua arquitoinice subtil e essencial. A política, podemos até garanti-lo, é apenas o solvente, o caldo onde demolha e dilui a especiaria, ou seja, a estupidez. Entranhada. Ultra concentrada. E efervescente.
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