«Dinheiro dos contribuintes não pode ser dado às cegas», diz o Presidente da AICEP.
É claro que não. Pois se é sacado aos cegos, aos ceguinhos e aos míopes, vulgo otários, não pode depois ser dado às cegas, senão a colecta para nada serviria. Tudo regrediria ao ponto de partida, caía-se no círculo vicioso. Redundaria a extorsão numa devolução. Tirar aos cegos para dar às cegas em pouco ou nada contribuíria para a felicidade dos que tudo vêem, a tudo topam e nada lhes escapa. E essa, como bem sabemos, é que é importante e razão de ser de todo um regime. De resto, traduz isto um belo imperativo não apenas categórico mas sobretudo lógico: aqueles que não vêem um boi à frente (nem atrás, nem ao lado, por sinal), devem ser espremidos em prol daqueles que vislumbram não apenas o boi, mas a manada de vacas implícitas, de vitelinhos tenros e de úberes fáceis que lhes compete ordenhar.
Entretanto, os tais franceses aerovígaros, muito provavelmente, flanavam animados da mais meritória das expectativas: queriam mama. Isso, por si só, nenhum problema acarretaria ou, ainda menos, qualquer tipo de entrave ou obstáculo. Antes pelo contrário, só abonaria e recomendaria o projecto; só o rechearia de transbordante interesse nacinhal. Bastava-lhes, lá está, aos GECIS peregrinos, não andarem às cegas, não virem feitos invisuais, de cachorro e bengala. Bastava-lhes bispar, com olhos de ver, o quanto Portugal tem evoluído - a galope - na direcção de Angola, de tal modo que já mais se deveria chamar, com justeza, Portangol que, com delírio, Portugal (cada vez mais inavistável em toda a parte). Ora, se em Angola, quem quer sacar umas massas arranja, religiosamente, por sócio um general ou quadro anafado (percentagem de gordura forçosamente acima dos 30%) do MPLA, em Portangol, idêntica função laxativa de fundos é desempenhada pelos políticos do partido instalado no aparelho de Estado. É precisamento isso que significa "não dar o dinheiro dos contribuintes às iniciativas cegas". Entendendo-se "iniciativa cega" toda aquela que não se faça acompanhar, preceder e anunciar do -no mínimo - par de olhos clarividentes, conhecedores e dulcificantes dos meandros amargos do labirinto.
Ou então os franciús não perceberam, ou não quiseram perceber, uma regra sagrada dos políticos cá do burgo: o dinheiro dos contribuintes não se dá, reparte-se.
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