sábado, dezembro 30, 2023

Da Falácia à falência

 Do verbo falio (falis, fere, feleli, falsum) - enganar, induzir em erro, trair, etc - radica o termo latino "fallãcia" e o português "falácia". Falácia e falso são da mesma família.

A falácia começa por ser retórica, enquadra-se ao nível da linguagem, da "comunicação". O termo surge entre aspas porque, na realidade, veicula o oposto - na medida em que falsifica  a mensagem, a falácia nadifica o discurso, erradica o sentido; não existe troca, apenas despejo.  É uma emissão unilateral que pressupõe o cancelamento da resposta. Não admira, por conseguinte, que a falácia constitua, na essência, o vocabulário do totalitarismo.  Enquanto sofisma, na lógica mais ou menos filosofóbica, a falácia traduz dois embustes principais: concluir do particular para o universal; confundir o acidental com o essencial, ou, dito doutro modo, fazer do acessório o fundamental.

Podemos enunciar algumas falácias ribombantes e completamente despudoradas da actualidade. 

1. A falácia dos "nossos valores". Consiste em promover os nossos particulares valores a valores universais; em fazer de conta que a nossa presente acidentalidade (que, ainda por cima, traduz a inversão, perversão e transgressão de quaisquer axiomas ou axiologias antepassadas) conforma e contém a absoluta essência ética da história e do mundo. Quer dizer, valores que não existem ou ninguém sabe exactamente o que sejam subsituem-se a todos os valores. Fora do nada é o abismo.

2. A falácia da "democracia como melhor dos regimes". Trata-se, a limite, dum leibnitzianismo recauchutado - o argumento do melhor dos mundos, que já Voltaire, com imensa graça, desmantelou. E Voltaire, convém nunca esquecer, no meio da sua imensa constelação de defeitos, arvorava uma virtude cintilante: desprezava olimpicamente Rousseau. Mas atentemos na fórmula mais usual da falácia, pela voz do bipolar psicopata que a garatujou: "a democracia é a pior forma de governo, excepto todas as outras". Isto tem tanto ponta por onde pegue como um monte de bosta fumegante. Nem no domínio da abstracção pura, ou seja, da lógica proposicional, é defensável, quanto mais na realidade concreta. Volta a concluir do particular para o universal, reincide no fazer do acidental o essencial. O silogismo aciganado é mais ou menos este: Todas as formas de governo são más, a democracia é a menos má; logo, a democracia é a melhor. Da melhor à única aceitável é um passe de mágica. Da única aceitável ao paraíso na terra que urge defender contra todas a horda de papões e gambozinos que imaginar se possam, um instantinho. Nem se trata sequer duma falácia, mas dum monturo delas. Sendo que até o monturo é falsificado.

Logo à partida, no expediente duma suposição tresloucada: a forma de governo como forma de flagelo. A democracia é santa porque nos flagela menos. Que reconforto! Que conquista civilizacional! O Marquês de Sade, lá das profundezas, sorri, embevecido. E preside ao panteão dos taumaturgos padroeiros da nova-religião. Embora algo contristado com a clara cedência desta Justine sodomita aos escrúpulos retrógrados: a vaselina institucional.  

Depois, a sarrabulhada a priori, isto é, a experiência dispensada pelo preconceito. O passado é reduzido aos seus defeitos, reais e imaginários - uma mera sucessão de males, desgraças e opressões; o presente promove-se como um cancro benigno. Comparam-se duas vigarices, de modo a impingir a actual. O facto, é que não sabemos exactamente como se processou o passado e ainda menos como se processa o presente. Baseado nesse desconhecimento geral e agudo, somos levados a crer, por toda a espécie de dogmas de ocasião e preconceitos de conveniência, na benignidade do cancro. Os preconceitos da tradição são simplesmente usurpados pelos preconceitos da abstracção. Isto é, os preconceitos que lavavam séculos a criar são substituídos por preconceitos de aviário, semi-instantâneos e de consumo massificado. Desemboca-se assim numa espécie de vazadouro geral do preconceito, ou ETAR (estação de tratamento de angústias residuais): a Ciência. Com uma estirpe a vapor à cabeça: a Ciência política. Outro sofisma, já que não é ciência nem é política. Entretanto, outra má notícia: no império do preconceito passou-se da república à tirania.

Por fim, a transfiguração do "nosso regime" como o "único regime". Fora dele é o caos, o indiferenciado, o "todos os outros". Donde que, na verdade, não acontece sequer uma comparação, mas uma pressuposição, uma assumpção unilateral e ditatorial duma determinada circunstância arvorada em verdade exclusiva e indiscutível. Daí ao dogma não vai distância nenhuma: já se lá está hospedado, de armas e bagagens. Não existe dedução, apenas redução - a falácia ou estratagema do reductio ad vicarium (redução á vigarice). 

Mas falácia não significa, na nossa língua, apenas sofisma, engano, arteirice. Significa também falatório, ruído de muitas vozes. O que nos remete para a fala e o falar. Curiosamente, falar não partilha a mesma raiz de falácia. Falar devém do latino fabulor. Fabula, em latimtraduz conversa, conversação,  ou narrativa, lenda, peça teatral. Nas fábulas, no sentido mais importante que a nós chegou, acontecem conversas entre os animais. Por exemplo, na conversa fabulosa entre o cordeiro e o lobo, este procura recorrer a várias falácias, mas a moral da própria conversa é tudo menos falaciosa. Todavia, o cordeiro tenta falar com o lobo, tenta comunicar com ele, convocando-o até a uma certa razão. Numa certa medida, o cordeiro demanda colocar-se num plano moral, real, do direito até. Debalde o tenta. A fera está confinada ao seu próprio aleive. Não comunica, não debate: apenas informa; e decreta. Vem para expropriá-lo da sua vida. Quer simplesmente apropriar-se da sua carne, para mera cevadura dum apetite.  Uns anos depois, um outro Cordeiro, mais sábio, prescindiu da argumentação. Com César não se discute.  Dirigiu-se, em silêncio, para o suplício. Um silêncio que ainda hoje reverbera e repercute... pelo menos nesta página. 

Em todo o caso, o domínio da fala e da falácia não são coincidentes. Longe disso. E precisamente pela razão apontada no início deste postal: é que a falácia exclui a fábula no sentido original de conversa, porque implanta a falsidade pura no sentido da propaganda corrente como consagração estrita da vontade. Assim, embora a fala demande algo mais que uma simples manifestação de ruído, dado que base de comunidade e comunicação, o facto é que a falácia  mais não urde que o confinamento da fala aos seus desígnios particulares. Ou dito noutras palavras, o controlo absoluto da fala pela falácia. E, com isto, eis que aportamos à 3ª grande Falácia do nosso tempo: a equivalência entre democracia e estado de direito.

Em primeiro lugar, a democracia é um estado falaz, ou seja, não de direito mas de falácia. Aliás, a própria embrumação da "democracia" mais não corporiza que a falácia com que um determinado estado trata com as pessoas, doravante abaixo de súbditas: apenas "legalmente subjugadas". Direito pressupõe uma qualquer justiça a montante e a jusante, enquanto princípio e finalidade, sendo o direito apenas a causa eficiente. Ora, na ideologia democraticóide, o direito desliga-se da justiça e arvora-se como princípio e causa absolutos, necessários e auto-suficientes; sustentando-se num  aviário jurídico, onde a monstruosidade apenas se perpetua e consagra através da proliferação artificial, por partenogénese burocrática, da falácia. O que administra não é o bem comum, mas o mal comum, único vínculo e elo de ligação entre as partes. O que implementa não é a comunidade nem, tão pouco, a comunicação: mas exclusivamente a contrafacção de ambas na forma da chamada "comunicação social" - a qual, sem excepção nem pausa, apenas desagrega a sociedade e envenena a comunicação. Deste modo, em vez de estimular a fala e, nela, a cultura, a democracia, de falácia em falácia, alcança o seu estado final: o de falência. Falência moral, cognitiva, histórica e, por fim, económica. Quer dizer, o título pelo qual se abdicou duma ética, duma memória, duma essência, finalmente, desvanece-se, como a mera ilusão de qualquer vítima duma grandessíssima vigarice. Como antes os paraísos socialistas, também agora os infernos climatizados dos neoliberais se esboroam numa mar de corrupção, miséria e caos social. Sim, estou a falar, objectivamente, e brada à evidência, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Na fábula actual, em directo e a cores, o Estado lobo não comunica - tão pouco fala - com os cordeiros abaixo de seus súbditos: decreta-lhes apenas as suas necessidades de consumo, estipula-lhes unicamente os sacrifícios que as modas do instante a ferver com que mascara os apetites requerem deles.

Era Chesterton que dizia, com muita propriedade, "que não é por uma falácia se tornar moda que deixa de ser uma falácia". No tempo de Chesterton, porém, a falácia talvez ainda aspirasse apenas a moda; nos nossos dias já se ensoberbece armada em realidade, história, mundo. E quanto mais esfarrapada, esboroada e falida se arrasta, mais ruidosa, arrotante e propagandeada se manifesta. A algazarra como cura para o vazio; o estrépito gasoso para dissimular o óbito.

Entretanto, lá mais ao fundo, no dealbar grego, o rasto é ainda nítido: faylos já preconizava o que lá vinha. Significava feio, defeituoso, malévolo, frívolo, vil, grosseiro, insignificante, inferior, fácil, cómodo. Enfim, bem visto, tudo aquilo em que este nosso tempo de falácia se destaca e refina. Já a falácia os gregos diziam-na apathe.  Logro, engano, cilada, artimanha, astúcia. Num certo sentido, uma decorrência de a-pater, ou seja, algo indigno de um pai. Ou, como diria o meu amigo Ildefonso, uma genuína filha da putice.

segunda-feira, dezembro 25, 2023

Parabéns, querido Irmão!


 


Parabéns, querido irmão, Menino Jesus!
Goza bem o dia, a pausa nas impiedades...
Porque a seguir, dia 26, já sabes:
voltamos a pregar-te, bem pregado, na cruz.

domingo, dezembro 24, 2023

Rogai por nós

 Não faz sentido falar na "existência" de Deus. Deus não pertence ao domínio da existência: transcende-a, na medida em que a precede e supera. Também o domínio da linguagem, enquanto mero adereço da existência, não O alcança. 

Poderemos, talvez, falar da presença de Deus. No domínio daquilo a que chamamos Arte. Com A maiúsculo. Aí, a presença de Deus, transparece no sentimento - ou pressentimento - de Deus.

Para mim, o Caminho para Deus manifesta-se não através da Religião, mas da Arte. É como eu O sinto.



Deus não existe fora de nós. Deus está em nós. Na medida em que nós não estejamos fora de nós; na medida em que nós não nos abandonemos.

sábado, dezembro 23, 2023

sexta-feira, dezembro 22, 2023

Um Feliz Natal!

 Uma pausa nas hostilidades em honra ao Menino Jesus. 

Aproveito para deixar aqui, bem expressos, os sinceros votos de um Santo e Feliz Natal a todos os leitores!




terça-feira, dezembro 19, 2023

Agora a sério: 20 anos a virar frangos!...




 Auto-esqueci-me. Fez ontem 20 anos, efectivamente, o Dragoscópio. Se não o mais vetusto dos blogues, seguramente um dos mais antigos. E como a antiguidade é um posto...

Porque é que raio ainda o escrevo?

Por duas razões muito simples: para não descurar a ginástica mental; para não ceder à minha tendência avassaladora e atávica para o eremitismo. Não é fácil. Quem me tira a caverna, tira-me tudo.

Por outro lado, como Cristo e Swift, nunca acreditei em multidões. Muito menos em massas e respectivas modas, lavagens e cevaduras. Nunca acreditei, nem, ainda menos, apreciei. Pelo que me dispenso de critérios quantitativos. Ou volúpias popularuchas. Já nem direi, à maneira de Nietzsche, um blogue para todos e para ninguém. É mesmo uma página  para poucos. Para alguns indivíduos. E senhoras inteligentes. Como sempre foi. 

Posto o passado, vamos ao futuro. No próximo ano, 2024, se Deus quiser e a Musa amparar, proponho-me as seguintes campanhas & churrascarias:

1. Prosseguir a série sobre "O Dinheiro" (estou em falta aí com um dos tais indivíduos);

2. Completar e concluir, bem a propósito do Quinquagenérico  das Petas, a "Acromiomancia Revisitada";

3. Para meu especial gozo e recreio, expor uma Anatomia a Fundo da Revolução - a de 1789, dos Corta-cabeças.  Vai ser coisa digna de se ver. Nada como ir ao original.

E pronto, não é que me esteja a meter em sarilhos porque, na verdade, nem preciso. De meter-me neles, entenda-se. Eles é que andaram sempre à minha procura. Este meu magnetismo animal...


Democracia consolidada

 

«Portugal tem o dobro dos estrangeiros de há uma década, mas ganham menos e têm maior risco de pobreza»

Tudo indica que estão a ficar cada vez mais parecidos com os portugueses. É bom sinal. Não estão apenas a habituar-se, estão sobretudo a diluir-se.

segunda-feira, dezembro 18, 2023

Descese

 O negócio que a ciganice moderna nos propõe é, mais coisa menos coisa, o seguinte: trocamos o sobrenatural pelo contra-natural. 

domingo, dezembro 17, 2023

A Regressão puguessista

 Mais uma pitada de Chesterton:

«O problema de quem faz da descrença profissão não é deixar de acreditar em alguma coisa, mas passar a acreditar em demasiadas.»
E é por isso mesmo que, por exemplo, o ateísmo frenético dos nossos dias e o puguessismo em geral, ao contrário duma qualquer lucidez ou exibição racional de ponta, apenas exprimem uma credulidade exacerbada - uma infantilização perversa, dado que descabida, rançosa e senil. Em bom rigor, portanto, uma imbecilização desatada. Pois, de facto, todo o puguessismo patenteia uma regressão -  na estrita acessão psiquiátrica do termo. Uma fuga à realidade que se tenta compensar através dum delírio "objectivista", quer dizer, uma diarreia de coisificações mais ou menos efémeras, inúteis ou fetichistas para compensar e preencher um crescente vazio vital e espiritual. Em síntese, o expediente da objectivismo contra a cultura personalista. Todo o sujeito é banido: no cosmos, no mundo, na vida e na gramática. O artificial, o acessório, o acidental, o predicado simulam e contrafazem a realidade. Traduzindo: as pessoas (de Deus ao Homem) são o problema; a solução está nos objectos. Trata-se do problema atirando objectos para cima das pessoas  - objectos, entenda-se,  não apenas coisas fabricadas  enquanto aparelhos ou utensílios, mas também coisas fabricadas enquanto leis, programas, ficções, modas, superstições, ou, no jargão mais recente e liberabundo da banca inefável, produtos. Note-se, aliás, a esquiso-competição entre os dois projectos votados à desagregação humana: os socialistas arvoram a resolução na forma de atirar dinheiro para cima do problema; os liberalóides alardeiam que se resolve com o despejo de produtos financeiros. O efeito prático é o mesmo comunismo - o da miséria mental; no primeiro caso, reforçado pela penúria económica; no segundo, agravado pela indigência cultural e social. O socialismo acaba por nunca exceder a incubadora do liberalismo; o liberalismo redime, recicla e ressegrega o socialismo e ambos, em tandem, apenas servem de veneno dissolvente à trans-oligarquia  e ao cancro financeiro global.

sábado, dezembro 16, 2023

Psico killing

 

«Exército israelita mata três reféns por engano»

Não foi engano. Não matam porque é certo ou errado: matam por vício. E, sobretudo, cultivam  uma especial predilecção por alvos desarmados. Quanto mais indefeso, mais apetitoso. E então, se ainda por cima, a agitar uma bandeira branca, devém irresistível.

Em remate, algum acompanhamento musical, para as incontinentes IDF:





sexta-feira, dezembro 15, 2023

Democracia de ponta...pum

 



Devo dizer que, enquanto democracia avançada e laboratório experimental de novas metodologias argumentativas e técnicas parlamentares, nada tenho a apontar-lhes. Já no que concerne aos "vossos valores", trata-se, seguramente, duma flagrante - e, mais ainda, deflagrante! - exposição dos mesmos. Melhor que isto, só na Palestina. Eita democracia!...

quinta-feira, dezembro 14, 2023

Da rara mania à convulsiva tara

«A grande tradição intelectual que chegou até nós, desde Pitágoras e Platão, nunca se interrompeu ou perdeu com bagatelas como o saque de Roma, o triunfo de Átila ou todas as invasões bárbaras da idade das trevas. Apenas se perdeu após a introdução da imprensa, o descobrimento da América, a fundação da Royal Society e todo o progresso do renascimento e do mundo moderno. Foi aí, se o foi em qualquer parte, que se perdeu ou se quebrou o longo fio, fino e delicado, que vinha desde a antiguidade remota. O fio dessa rara mania dos homens - o hábito de pensar.»
                              - G.K. Chesterton


Passou-se da rara mania dos homens ao popular desporto dos anti-homens: a obsessão de dispensar. Dispensar Deus, dispensar o Homem, dispensar a Realidade, dispensar a memória, dispensar a Inteligência, dispensar a postura vertical e, sobretudo, a maçada de envergar qualquer tipo de vértebra ou ossatura vagamente ética. Esqueci-me da Verdade?  Está implícito.

quarta-feira, dezembro 13, 2023

A certeza do erro

 Chesterton, em 28 de outubro de 1922, escreveu: "O reformador está sempre certo sobre o que está errado. Geralmente, está errado sobre o que está certo".

À data de hoje, eu acrescentaria  que o reformador desenvolveu uma quase toxicodependência da certeza. Já excede a simples mania. Assim, o modo invariável que encontra para lidar com o problema é converter o certo em errado, ou seja, como para ele o que está errado está certo e o que está certo está errado, quanto mais errar mais acerta. Deste modo, quando tudo estiver errado, teremos a reforma perfeita e acabada. Quer dizer, teremos alcançado aquele ponto em que, por um automatismo perverso, rebentam coros indignados a clamar por nova reforma. É que, tal qual a estupidez não tem fim, também um erro nunca é bastante nem plenamente satisfatório. Pelo que, por dinâmica inerente ao sistema, a reforma nunca estará acabada. Mesmo quando tudo o que estava certo já esteja errado, descobrir-se-á, fatalmente, que o errado nunca está suficientemente errado. Donde decorrerá, então, o processo de transformar o que está errado em algo mais errado ainda. Isso é certo.



terça-feira, dezembro 12, 2023

A volúpia da modéstia

 Depois que descobriram a modéstia, os neo-israelitas, não querem outra coisa. De tal modo que, no exercício sôfrego dessa volúpia recém-revelada, assinalam, com solenidade, a descoberta do centro de treinos do Hamas numa mesquita... Omitindo, todavia, o principal: a Padaria Portuguesa recentemente inaugurada ao lado do centro de treinos.


segunda-feira, dezembro 11, 2023

Dr. Strangehate, ou Lapso freudiano





 

«Netanyahu garante que "guerra está a todo o gás"»

A todo o gás, diz ele... Bem, assim de repente, não soa lá muito judaico, pois não?...


Faz até lembrar aquele braço automático do Dr. Strangelove, que lhe estava sempre a fugir para a verdade.


domingo, dezembro 10, 2023

Apocalipses de alguidar

 Mais um episódio da Stand-up ciency. Ora oiçam:

«A humanidade acabará antes do final do século».

O humorista de serviço, neste caso, é William Rees (o pai da "pegada ecológica, pois).

Duas breves notas:

1. A dita "humanidade" vai continuar a cheirar dum modo esquisito. Talvez ainda mais esquisito. Mas duvido que acabe. Pelo menos, toda.

2. Alguma dela, de certeza absoluta, vai acabar. O professor William Rees, por exemplo, acabará antes do final do século. Não se pode dizer que a Humanidade perca grande coisa.

Pensamento final: é um facto que a desumanidade pretende a exclusividade do planeta.  A coabitação e a convivência com a Humanidade é-lhe intolerável. A tese do William Rees gargareja  basicamente nesse sentido: há humanidade a mais. Convém acabar com ela. A bem do planeta. E da desumanidade que o ambiciona todo para si.

PS: o ideal era que se acabasse com a desumanidade antes do final do século? Talvez. Se eu responder que sim, chamam-me utópico.

sexta-feira, dezembro 08, 2023

Uma dicotomia com barbas

 Perdoem-me a longa citação, mas  vem muito a propósito:

«Portanto, há um populismo que é bom, sofisticado, ultra-pasteurizado (um popelitismo, chamemos-lhe assim), e um populismo que é péssimo, imundo e odioso (odioso, porque atestado de ódios, sobretudo aquele que os "populistas" benignos e beneméritos com o dinheiro alheio -chamem-se eles socialistas, sociais-democratas ou democratas não sei quê, no que concerne, por exemplo, às questões da agenda globandalhista - lhe devotam e desferem a todas as horas e oportunidades). Quanto às diferenças, manifestas e comprovadas, entre ambos parece que se resumem a uma (todavia, capital): os populistas benignos, ou popelitistas, só exercem a demagogia em período eleitoral, como forma de sedução (uma vez eleitos, nada do que prometeram cumprem); os populistas maus exercem a demagogia em período eleitoral e mesmo antes ou depois (segundo os seus detractores) e, uma vez eleitos, executam (ou são suspeitos de virem a executar) grande parte do prometido. Ou seja, em bom rigor, os populistas maus são aqueles que, na verdade, não são populistas nem demagogos profissionais. A limite, e no pior dos casos, é o velho desprezo da indústria pelo artesanato, ou do amor ao lucro pelo amor à arte

 

Ora, a moral, sobretudo o seu simulacro geo-político, tem muito que ver com esta dicotomia indústria/artesanato. Assim, o terrorismo é imoral, ou seja, artesanal, da mesma que o super-terrorismo (ou supraterrorismo, dito com mais propriedade) é supramoral, ou seja, industrial. O primeiro é destituído de moral, da mesma forma que o segundo está acima dela. Um atentado ou mesmo uma chacina quando executada pelos terroristas - no presente caso do Hamas, por exemplo - é imoral porque não ultrapassa o nível do artesanato, nem, fenomenologicamente, a dimensão da física - é estrito efeito num processo causal... Os terroristas matam por causa de. Em contrapartida, o genocídio ou o massacre industrial, promovidos pelos Estados Unidos, pela Nato - ou, na vertente cegada e acima de todos - por Israel não se insere numa fenomenologia e transcende as próprias regras da física. É, por essência e vocação, metafísico, transcendente, sobrenatural. Não exterminam por uma causa, mas, pura e simplesmente, por um poder, um aleive, ou vício atávico. Exercem nunca "por causa de", mas "em representação de". Da Razão,  da Democracia, de Deus, ou do quer que faças as vezes do "sagrado" na ocasião. A distância que medeia, assim, entre o artesanato e a indústria é exactamente a mesma que vai  da natureza à mecânica. No caso dos neo-israelitas, importa dizê-lo, já ultrapassou mesmo a tendência ou o vício: já deveio tique. Um bestial automatismo.

quinta-feira, dezembro 07, 2023

Zombipolis, ao virar da esquina do puguesso

 Uma viagem ao mundo da panaceia liberalizante. O resultado é basicamente o mesmo que o do seu gémeo socializante: só que leva muito menos tempo. De notar como, para não variar, a sanitarização avança de mão dada com a liberdinarice..




quarta-feira, dezembro 06, 2023

segunda-feira, dezembro 04, 2023

Panopticum e outras distopias



 «As taxas de criminalidade Americanas sempre foram mais elevadas do que a maioria dos países europeus. O que é novidade é o recurso nos Estados Unidos a uma política de encarceramento maciço, em substituição dos controlos comunitários enfranquecidos pelas forças do mercado desregulado. Ao mesmo tempo, os americanos ricos estão, em número crescente, a afastar-se da co-habitação com os seus concidadãos, recolhendo-se a propriedades comunitárias muradas. Cerca de 28 milhões de americanos -mais de 10% da população - vivem hoje em prédios ou condóminos com guardas privados.

Nos fins de 1994, mais de 5 milhões de americanos viviam sob uma forma ou outra de restrições legais. De acordo com os números do Ministério da Justiça (Department of Justice), cerca de 1,5 milhões estavam encarcerados - em prisões estaduais, federais ou municipais. Isto significa que 1 em cada 193 adultos americanos está preso, o que corresponde a 373 em cada 100.000 americanos. Este número era de 103 em 100.000 quando Ronal Reagan foi eleito presidente. 3,5 milhões de americanos estavam em liberdade condicional.
A taxa de encarceramento dos Estados Unidos no fim de 1994 era quadrúpla da do Canadá, quíntupla da da Grã-Bretanha e catorze vezes superior à do Japão. Apenas a Rússia pós-comunista tem uma percentagem maior dos seus cidadãos atrás das grades. Na Califórnia, cerca de 150.000 pessoas estão presas. A população da Califórnia na cadeia é agora oito vezes superior à de 1970. Excede a da Grã-Bretanha e a da Alemanha juntas.(...)
A confluência de divisões e antagonismos étnicos e económicos nos Estados Unidos não tem equivalente em nenhum outro país desenvolvido. O mercado livre produziu uma mutação no capitalismo americano, em consequência da qual ele se assemelha mais aos regimes oligárquicos de alguns países latino-americanos do que à civilização capitalista liberal da Europa ou dos próprios Estados Unidos em fases mais recuadas da sua história.(...)
Os níveis de todos os crimes de violência, excepto homicídio, são consideravelmente mais elevados na América do que na Rússia pós-comunista. Em 1993 houve 264 roubos por 100.000 habitantes (contra 124 na Rússia), 442 assaltos (comparados com 27 na Rússia) e 43 violações (9,7 na Rússia). (...)
O assassínio de crianças é particularmente comum nos Estados Unidos. Cerca de três quartos dos assassínios de crianças no mundo industrializado ocorrem nos Estados Unidos. Entre os 26 países mais ricos do mundo,os Estados Unidos têm de longe as maiores taxas de suicídio infantil e de homicídios e outras mortes relacionadas com armas de fogo.(...)
Em 1987, a mortalidade infantil no Harlem oriental e em Washington DC era praticamente a mesma que na Malásia, na Jugoslávia e na antiga União Soviética. Um bebé nascido em Xangai em 1995 tinha menos probabilidade de morrer no primeiro ano de vida, maior probabilidade de aprender a ler e uma esperança de vida dois anos mais longa (até aos 76 anos) do que um bebé nascido em Nova Iorque.
As elevadas taxas de encarceração e de crime nos Estados Unidos estão acompanhadas por números igualmente excepcionais de litígios e de advogados. A América tem pelo menos um terço de todos os advogados do mundo.(...)
Os condóminos privados, murados, fechados e vigiados electronicamente que protegem os habitantes dos perigos da sociedade que abandonaram são a imagem das prisões americanas. Erguem-se como símbolos do esvaziamento de outras instituições sociais - a família, a vizinhança e mesmo o emprego - que no passado suportavam o funcionamento da sociedade. A combinação de prisões de alta tecnologia e empresas virtuais pode tornar-se o emblema da América dos inícios do século XXI.
Na América do fim do século XX, o mercado livre tornou-se o motor de uma modernidade perversa. O profeta da América de hoje não é Jefferson ou Madison. E ainda menos Burke. É Jeremy Bentham, o pensador iluminista britânico do século XIX, que sonhava com uma sociedade hipermoderna reconstruída segundo o modelo de prisão ideal
                                     - John Gray, "False Dawn"

É deveras sintomático que muito antes do Big-brother na hiper-vigiada distopia de Orwell, o paradigma da engenharia ultra torcionária tivesse germinado com Jeremy Bentham, no seu famigerado Panopticum. Tratava-se, basicamente, duma arquitectura de vigilância perfeita - uma construção circular em volta dum "óculo central" que tudo perscrutava em modo permanente e subtil (nunca sabiam os vigiados quando o "olho " os contemplava activamente). É difícil imaginar uma "utopia" menos livre ou natural (quanto a "humana", o termo é seguramente discutível, dadas as estarrecedoras evoluções do mesmo). A mim, pelo menos, dá-me volta ao estômago. Todavia, e muito compreensivelmente, o Panopticum foi mandado traduzir e publicar, como obra mui educativa, em 1791, pela Assembleia Nacional, dos revolucinhários franceses. Mas estas bestas vão ainda mais longe: em 1792, concedem mesmo a cidadania a Bentham - e a mais 17  outros insignes  estrangeiros, "amigos da liberdade e da fraternidade universal que empenharam os seus braços e as suas vigílias no banimento dos preconceitos da terra», todos eles. É claro que para tão distinto prémio, não terá contribuído menos o seu peregrino cunhamento do termo "internacional" no seu "Plan for an Universal and Perpetual Peace", onde preconiza a "criação duma Dieta europeia, a redução das forças militares e a emancipação das colónias". Esta ideia duma "paz perpétua", segundo os princípios da razão, já a encontramos em Kant (tanto como, noutros moldes e variações, em Herder, Proudhon, Fourier, Saint-Simon et al) e o seu alcance profundo alveja, a limite, um "governo mundial" supranacional, ou melhor dizendo, "um estado federal planetário" panoptimum (e panopticum), ao leme duma "cosmopolítica". Esta ideia fervilha durante a própria Revolução Francesa que, a partir dum dado momento, já se antevê como o episódio inaugural duma Revolução Universal. Um dos seus principais arautos é um barão alemão convertido à nova cegada, um tal Cloots, deputado à Convenção (que se auto-alcunhou, entretanto, de Anacharsis). Palhadina furiosamente, com o fervor dos esquizofrénicos, pela república universal (qual Trotsky avant la lettre). Do mal o menos: imaginem só, será o próprio Robespierre a acabar-lhe com o circo. Eventualmente irritado não sei se tanto com a ideia alucinada, se com o  inusitado protagonismo. Mas a semente fica. E não mais parou de desabrolhar.
Do Panopticum, falta apenas referir que foi congeminado pelo autor como modelo ideal para prisões, hospitais e escolas. O futuro é o principal cúmplice das distopias. 

domingo, dezembro 03, 2023

Super pigs

 





Que novo flagelo ameaça a Holly América? Depois dos kosher pigs, em epígrafe, escalavrando, sem dó nem piedade, a economia, a política e a diplomacia, eis a iminente invasão dos super-pigs, dispostos a devastar a agricultura e a paisagem:



quinta-feira, novembro 30, 2023

Obituário

 Faleceu ontem, com 100 anos. Não é para todos. Goste-se muito, pouco ou nada, foi um dos políticos americanos mais influentes da segunda metade do século XX. Neste momento, como lhe compete, lá segue à toa, rebocado pela barca do diabo. 

Deixou-nos, não obstante, várias expressões lapidares. E deveras educativas.

Uma, muito conhecida, é aquela "ser inimigo dos Estados Unidos é perigoso; ser seu aliado é fatal".

Outra, menos conhecida, mas igualmente límpida:  "control energy and you control the nations".

Algumas mais:

- «O que importa não é a verdade, mas aquilo que é percepcionado como sendo a verdade":

-  « O Poder é o maior dos afrodisíacos»;

- « Dos políticos, 90%  de corruptos dão mau nome aos restantes 10%»

E a melhor de todas:

«Para as outras nações, utopia é um passado grandioso e irrecuperável; para os Americanos, está apenas para lá do horizonte».

Refiro-me, como já devem ter calculado, a Henry Kissinger. 

PS: Aquela do Poder como afrodisíaco (necro-transudação fétida  do Marquês de Sade) deve estar na origem da violação em série de nações e na fornicação compulsiva de povos e governos. 

quarta-feira, novembro 29, 2023

Banha da Cobra



 O que é que há de comum entre Trump, Bolsonaro, Meloni, Milei e Wilders (além, claro, de vicejarem duma justificada indignação das populações com a Extrema-estupidez)?...

Todos são fogosamente sionistas, sendo a sua devoção a Israel o único aspecto em que, no fim do dia, acabam por cumprir  - não tanto no prometido, porque esse não passava de mera cortina de fumo, de espalhafatoso engodo aos incautos - mas no implícito. É claro que a maralha nunca lê as letras pequeninas...

Ora, isto é, no mínimo, muito curioso. Até porque traduz uma trampolinice com barbas: os mesmos que semeiam a doença aparecem depois a vender a banha da cobra.


PS: Significa, então, que estamos entre a Extrema-estupidez e a Banhada da Cobra? O que é que os meus caros amigos acham? Sou todo ouvidos.

terça-feira, novembro 28, 2023

Voltando à vaca fria

 Se não há problema nenhum com os chamados "lobbies", se são instituições  - perfeitamente legítimas e naturais - para influir obscuramente nas decisões dos Executivos, porque diabo gastam os países tanto dinheiro com campanhas eleitorais e sufrágios públicos?...


Numa suposta democracia, os lobbistas são eleitos e legitimados por quem?

Numa tão apregoada democracia liberal, quem é mais soberano: o povo ou os lobbies?

Definição de Deputado (ou Congressista, ou Senador) (segundo o Dicionário Shelltox Concise do Dragão): s.mdignitário que o povo elege e um lobby dirige. É incorrecto, isto?

segunda-feira, novembro 27, 2023

Troca de Reféns e exorcismos kosher

 A contragosto, os imaculados israelitas lá tiveram que libertar alguns perigosos terroristas que mantinham devidamente aferrolhados nos seus santos presídios, digo, retiros de meditação.

Uma terrível terrorista posta agora em liberdade (notem a capa que lhe confere superpoderes destrutivos e conspiratórios): Aseel Mousa...


Entretanto, num apontamento de reportagem não recomendável a almas sensíveis, uma cena do Exorcista IV: um sacerdonte kosher enfrenta um hediondo demónio que se alojou numa criança internada (desde os 13 anos) no campo de férias.


A mesma criança, agora liberta, 8 anos depois, já devidamente desparasitada do pestilento inquilino:


Pelo sim, pelo não, é melhor conferirem os órgãos, aquando da entrega.

domingo, novembro 26, 2023

Entre a Extrema-Direita e a Extrema-Estupidez



« Crescimento da extrema direita "é culpa dos partidos 'mainstream' que não enfrentam os problemas"»


Os partidos "mainstream" (fica logo tudo esclarecido no barbarismo do termo) não enfrentam os problemas nem, sejamos honestos, essa constitui a sua função, missão ou compromisso. Pelo contrário,  criam-nos, nutrem-nos, desenvolvem-nos e zelam, com carinho e enlevo maternais, para que se reproduzam. Poderíamos até chamar ao pseudo-regime destes formidáveis partidos o problemódromo, que é como quem diz, uma espécie, particularmente alavancada e alambicada, de aviário de problemas. Ou problemo-pecuária industrial. Quanto ao método, nada mais simples, patenteado e recorrente: para resolverem um problema, geram e destilam, no mínimo, mais dois ou três. A seguir, perante a multiplicação dos problemas, cegamente fiéis à lógica abstrusa que os obsidia, disparam na proliferação descontrolada.  Acresce que não contentes com isto, ainda se entregam ao requinte de inventarem problemas, importarem problemas, e, de emergência, constituírem inúmeras comichões para a imaginação, restauro  e estudo de pseudo-problemas, ex-problemas e cripto-problemas.

Aqui há uns anos, meia dúzia se tanto, um sujeito meu conhecido, amigo inveterado da piada, surgiu-me com a seguinte observação: "Já viu, como se queixam amargamente da extrema-direita?" Resposta minha: "Pois é, meu caro, creia: estamos entre Cila e Caribdis: dum lado a extrema-direita, do outro a extrema-estupidez."

Ora, com efeito, a ocupação dos "partidos mainstream" (ou quaisquer outros, devo desde já reconhecer e avisar, porque, no fundo, todos aspiram a subir do saguão "offstream" ao púlpito "mainstream"), mais não corporiza que o "sistema" da Extrema-estupidez. O primeiro mandamento dos seus tripulantes e curandeiros é apodarem de extrema-direita toda e qualquer alternativa que coloque em causa a perpetuação do seu  problemaviário. Isto - não barafustem, leitores - é perfeitamente compreensível; insere-se na sua mania  - atrás referida - de imaginar problemas. Claro que um problema imaginário, mesmo sem pés nem cabeça, é acarinhado e submetido ao processo multiplicativo de qualquer outro, real ou fictício. Não tarda, uma série de problemas-pimpolhos germina do problema da "extrema-direita" imaginária: peido mestre democrático, jugulação das liberdades, brutalização das minorias, aspereza social aos imigrantes, etc, etc. Lá está, o que mais preocupa - aliás, ofende! - a Extrema-estupidez é o surto de algo que se proponha atacar, resolver ou beliscar que seja os problemas. Mais que a forma, o critério, ou até mesmo o absurdo descabelado, é mesmo essa ideia - herética, demoníaca! - de resolução que os afronta e transporta à birra furiosa (com o absurdo até podem eles bem, já que o ordenham, aspergem e transaccionam todos os dias). Um problema, segundo a Extrema-estupidez, não é, de modo nenhum, para resolver, mas apenas para polir, gerir e explorar. Assim, não surpreende que, nesse seu idílio tosco com a fantasia, quando, insatisfeita com os problemas que herda, mantem e cria, ainda importa mais problemas, aos quais confere um  valor quase mágico para a modernização e ampliação do aviário. Dir-se-ia até que a importação de problemas constitui o ramo mais sagrado do sua superstição. Problema importado é problema sagrado! E não pensem sequer que estou apenas a falar em gente avulsa (estilo emigrantes, turistas, traficantes coisas assim). Não, isso é o menos. Quando desatam a importar crenças, fanatismos, guerras, catástrofes, manicómios, programas informativos, alucinações colectivas, taras de aluguer, tretas para consumo, etc, etc, é que a extrema-estupidez ganha contornos de avalanche. A ameaçar tsunami. Perante uma tal ameaça, massacrados por problemas como os cães vadios pelas pulgas, os otários eleitores, às tantas, cedem ao desespero e à publicidade. Sucumbem à infernalização dos parasitas.  Já estão por tudo, viciados que são no nada. Viram-se para a extrema-direita?

Não sei exactamente para onde se viram. Ou sequer se chega a ser espontâneo ou mero reflexo automático... como a cauda-espanador das cavalgaduras a sacudir as moscas. Sei, isso sei, de ciência limpa, que totalitária, absurda e realmente extrema, nesta hora que passa, só mesmo a Estupidez. A sua obsessão pelos problemas ultrapassa a paixão, a devoção ou até a idolatria. Já deveio toxicopendência.


sexta-feira, novembro 24, 2023

Chalaças e carnavais trans

 

«Membros da IL anunciam saída por o partido se ter "tornado numa caricatura"»

E antes era o quê - uma anedota? Uma pilhéria? Uma chalaça? 
Enfim, claramente, não apreciam sínteses mais adiantadas no processo cómico. Só coisas que me apoquentam. Um deles já fez as malas e migrou para o Chega. Vislumbra certamente uma melhor oportunidade de negócio. É o mercado a funcionar, presumo. Quanto aos restantes também não admira: com o paraíso ultraliberal a abrir na Argentina, como resistir? Já devem até ter comprado bilhete. De avião e pró circo, num package tour, com estadia e pequeno almoço. Muitos  mais se seguirão, espero bem. Afinal, não é todos os dias que o eden recauchutado reabre para neo-crentes.

Outra coisa, o messias argent-ino é um fulano, dizem, anarco-capitalista, que quer tornar a Balbúrdia das Pampas na quinquagésima qualquer coisa (estado?) do Grande Israe..., perdão, dos Estados Unidos da Amnésia (G. Vidal copyright)... Podem ler aqui uma radiografia canonizante  de primeira ordem. Mais uma vez, rebento de perplexidade: como é que a Extrema Estupidez consegue apodar de "extrema-direita fascista" (enfim, toda a Extrema-direita é, por inerência, segundo estas abéculas, fascista - com ou sem o eufemismo de populista) um "libertário", ou liberdadeiro, em suma, um wannabe "Lindo&Puro destes? É o que eu desconfiava: estamos a lidar com malucos e alucinados de burríssima extração. É gente, além de acéfala, inculta e monótona. A bem da instrução, eu explico: fascismo significa absolutismo estatal - o Estado, a limite, como Neo-Teose (ou "apo-teose" da nação). Ora, uma marionete cabeluda que pretende, em bom rigor, acabar com o Estado Argentino por degradação a um "cripto-estado norte-americano", e que, assim,   se propõe desnacionalizar por completo, até às mais fundamentais consequências, a Argentina, poderá ser muitas coisas: fascista é que não. Trata-se, na realidade, dum democrata liberal no estágio derradeiro da sublimação. Proclama expressamente, e sem ambages, toda a obscena fantasia que tanto excita e ocupa, em secreta e tímida punheta, a generalidade dos direitalhas onano-argentários cá da paróquia. Emigrem, pá, emigrem! Aproveitem!... Buenos aires para todos!... 
Sempre era metade da Extrema-Estupidez que nos desamparava a loja.

PS: Digam lá se não é poesia do mais elevado gabarito:


He also studies Torah regularly.

In an interview with Spain’s El Pais newspaper over the summer, Milei talked about his study with Rabbi Shimon Axel Wahnish, who heads ACILBA, an Argentine-Moroccan Jewish community based in Buenos Aires. Milei said he has considered converting to Judaism but worries about how Shabbat observance would clash with the duties of the presidency.

He demonstrates his passion for Judaism at rallies and public events, often walking out on stage to the sound of a shofar, the ram’s horn blown on Rosh Hashanah. At one rally in August, the shofar sound was accompanied on a screen by a photo of a man wearing a Jewish prayer shawl.

PSS: No fundo é mais do estilo conservador trans, sub-ordem  católico que se identifica como judeu. Moralmente não binário.  Nem sequer é original ou coisa rara.

quinta-feira, novembro 23, 2023

Pretty and pure 2.0

 Antigo conselheiro duma treta qualquer do Ex-Presidente do oxidente, B. Obama (e do anterior também). Um tal Seldowitz. Só para nos imbuirmos bem do nível a que aquilo carbura....

AQUI 

Foi de tal ordem a chutzpah na via pública, que agora até tiveram que simular que o prendiam por banalidades:



Não tarda, o AIPAC e a ADL vêm libertar o seu herói, vítima do preconceito e do imarcescível antissemitismo postiço.

E parece que o fulano era ( e seguramente vai continuar a ser) useiro e vezeiro na arte do assédio herpe-vocal. Conforme atesta o First Deputy Permanent Representative of Russia  to the UN.:

«Before harassing Muslims this “repellent cretin” had for months got a good training harassing our personnel in the Upper East Side, especially women, and stalked them shouting Russophobic insults. Only bypassers tried to stop him and bring to his senses. NYPD distanced itself from our complaints.»

terça-feira, novembro 21, 2023

The pretty and the pure (Os Lindos e puros)

 «Israel diz já ter matado “dezenas de combatentes” em Gaza»

Dos cerca de 13.000 palestinianos, segunda as estimativas oficiais, mortos até agora, quais são as "dezenas de combatentes"? Significa que 12.900 eram civis?

E se matou "dezenas de combatentes", então onde andam os terroristas, não matou nenhum?

Entretanto, para memória futura, um vídeo com alguns baluartes civilizacionais dignos, sei lá, da civilização azteca. Não vi tudo, mas recomendo uma canção de criancinhas capaz de ganhar a próxima Eurovisão e a promessa de sanções à escala planetária por um sujeito claramente humilde e parcimonioso. Isso e uma guerra mundial entre Israel e o resto do mundo. Não sei se amerdicanos incluídos (no resto do mundo ou no furúnculo kosher deste).



PS: Dado que os lobisomens do Hamas já terão abatido umas dezenas de querubins das IDF, deveremos inferir que a contenda vai empatada?... Fora os civis, bem entendido.



segunda-feira, novembro 20, 2023

Democracia top

 Escuto e leio, entre perplexo e divertido, clamores de lesa-democracia e golpe de estado judiciário!... Parece que o Ministério Público, segundo os alarmes e sereias, atirou com o governo abaixo. Para não variar, tenho muitas dúvidas. Uma palete delas, no mínimo. Até porque, por um lado, era impossível o Ministério (e seja ele Público, Expresso, Correio da Manhã, jornal de Notícias, ou o quer que esteja a florir no momento) derrubar uma coisa que não existe ou que, pelo menos, erecto se não avista. O que estava, se insistem mesmo em definir, era um desgoverno porfiado, falando eufemisticamente, e uma moléstia nacional, em concreto. A verificar-se a veracidade da denúncia, então o país o mais que deve é ficar agradecido ao tal Ministério putativamente golpista e bota-abaixo. Por mim, envio já daqui as minhas sinceras gratulações e votos de feliz natal e próspero ano novo! O flagelo ameaçava tornar-se insuportável, o povo gemia, arfava e arrancava os cabelos, pelo que benfeitoria mais urgente se não lobrigava. Abençoadinhos, os afanosos esbirros!... Ah, mas foi à surrelfa do direito, à sarrafada aos códigos, tocando marimba para as leis, esganiçam-se as vestais de serviço ao templo da Babilónia!... Ora, ora, pentelhices, minudências! Era uma emergência, ora essa! Não havia tempo para mesuras ou protocolos! Em tempo de incêndio não se afiam lápis (perdoem, mas acabo de inventar). E se cometeram meia dúzia de atropelos ou trapalhadas foi sob a pressão e a pressa, legítima e abnegada, de acudirem às chamas...  Uff, confesso que começava a ver o caso mal parado.

Por outro lado, as minhas duvidas ganham contornos de abismal cepticismo quando, como se não bastasse o golpe de estado peregrino, acrescentam ainda, os alvoroçados, uma crise de regime de contornos cataclísmicos. Se depois disto sobrevier o dilúvio, ninguém se admire! Vamos lá  ver, se persistem em massacrar-nos com ficções, ao menos que estas apresentem o mínimo de verosimilhança. Se governo não havia, ainda menos qualquer espécie de regime. Regime, como o próprio termo indica, pressupõe um "rex", seja ele coroado ou não. Um "rex",  uma regra soberana,  enfim, real soberania. Ora, desde 1974 - a última data em que, embora gasto e titubeante, foi avistado regime neste país -,  o que grassa, em formato de praga ambulante, é uma competição alternada entre ausência de regime e regime nenhum. Garatujaram, em arraial de feira, um papel de faz-de-república, ao qual limpam sistematicamente o dignitário fundilho, e eis, por passe de mágica e anedota, o neo-rex: o povinho ambliope. O saudoso Almada dizia com propriedade: "o país onde Camões morreu de fome e todos enchem  a barriga de Camões". No actual caso anedótico é mais o "país onde o povinho passa miséria e todos os  democratas enchem a pança em nome do povinho". Por conseguinte, queiram desculpar a realidade, o regime não estremece coisa nenhuma: desapareceu para parte incerta. É irrelevante o que se queira fazer passar por ele. A surreal suberania, enfim... Do povinho? É mais o polvinho e os choquinhos com tinta.

Além do mais, compete declarar o seguinte: a legitimidade charlatã dos presentes comensais do erário & orçamento, SARL, não estava em causa. Isto, não obstante os episódios eleiçoeiros, à escala oxidental, devirem cada vez mais esquisitos e suspeitos. Contudo, vamos dar de barato que sim, que foi sem trampolinices suplementares (apenas as processuais). Mas o caso evidente é que, cevadíssimos e enfastiados, entraram já sem grande apetite nem gulodice na rês-pública, posta, temperada e amarrada para o sacrifício. A maioria absoluta, qual maná fora de horas, caiu-lhes do céu aos trambolhões. Foi mesmo entediado e contrafeito que o primo-demissionário Costa se viu forçado a mais quatro anos de desgoverno. Ora, o desgoverno já propicia um certo tédio: imaginem um desgoverno absoluto. Justiça se lhe faça que tratou de rodear-se, em calafetante casco, duma pandilha abnegada e competente para o efeito. Astros cintilantes da envergadura dum Galamba anunciavam, se é que não garantiam, um naufrágio empolgante ao virar da esquina. O pensamento elevado que presidiu ao empreendimento deve ter sido qualquer coisa como: "com estes estropícios, em menos de nada estou na alheta!"  Agora que a mobília e os destroços boiam ao sabor da maré, insistem em culpar quem - o tal Ministério Correio da Manhã, ou Público ou lá o que é? Só se for de cumplicidade, conluio ou conjura. 

Sobra ainda todo um conjunto de malfeitores de idêntico jaez, que aguardam, impacientes e resfolgantes, à porta do refeitório. Com a voracidade com que se apresentam, não tenho quaisquer dúvidas que se arvoram capazes de desgovernar melhor que os defuntos e perfunctórios comilões. É preciso dar oportunidade a esta gente! Ainda não lhes adentrou o fastio. Depois do fartar camaradagem, vai decerto advir o fartar vilanagem. O povinho ambliope, que nunca se farta destas coisas, lá saberá, como lhe compete, eleiçoar a rigor.

Por último, convém enaltecer o grande serviço prestado à democracia pelo Ministério de Notícias da Beira, ou do Tal&Qual, ou Jornal 1X2, etc. Já que não somos todos iguais perante a lei, ao menos somos todos iguais perante a ausência dela: o inefável Ministério destrata todos por igual, e não apenas o cidadão comum. É bom saber que também os tratantes eleitos e aboletados no Estado experimentam o seu fueiro apofântico. E para quem a defenestração até era a justa pena, o linchamentozinho em praça pública quase beira a semi-amnistia. Pior: se pensarmos que, ainda por cima, pagam às prestações, mais suave um pouco.

E que dizer sobre o esclarecimento da verdade que tudo isto indicia?...Um mimo! Uma conquista de Abril, ou Novembro se preferirem. Ficamos todos a saber, de ciência certa, que, nesta república - como alguém aqui justamente lapidou - catatónica, o nível entre os órgãos de soberania é mesmo todo igual. Uma bela trampaplenagem. Melhor democracia seria difícil.


PS: Quem prefira outras perspectivas menos imparciais sobre o fenómeno, pode sempre visitar:

a) para um tratamento de pau de marmeleiro a rigor do MP - o Portugal Contemporâneo;

b) para uma hagiografia sempre viçosa do MP - A Porta da Loja (não leva link, para não ofender o proprietário).



sábado, novembro 18, 2023

Oximorologia para totós - 2. Civilização Ocidental

 



A última vez que o termo "ocidental" foi utilizado com plena propriedade foi pela pena dum poeta do século XVI. "Ocidental praia lusitana", lapidou ele. E, de facto, Portugal é o "ocidente" da Europa; e a civilização mediterrânia teve na aventura marítima portuguesa o seu ultimo avatar. Com a singularidade de se ter transposto do "mar fechado" (ou familiar/doméstico), para o oceano aberto (ignoto e selvagem). Essa é também a sua face negra: a viagem ao abismo, ao indefinido/desconhecido/indeterminado. Entenda-se a "viagem para lá do ocidente"; e sendo que Ocidente, geograficamente, significa o local onde o sol se põe e a luz morre, então, infere-se, a "viagem à treva, à noite". Não é por acaso que, por exemplo, uma das grandes obras literárias do século vinte se intitula "Viagem ao Fim da Noite". A América simboliza isso mesmo: o anoitecer da Europa. O mergulho nas trevas. Ao contrário do que a propaganda "iluminista" pretende impingir à martelada, a Idade das Trevas não equivale à Idade Média: a idade da treva inauguram-na eles. Ao seu mais recente estágio degradante chamam "Ocidente".

Todavia, tal qual o exemplo de Alexandre, o Grande (paradigma de todos os impérios) a odisseia portuguesa não segue na direcção oeste: demanda leste (toda a vida e tudo o que é vital, aliás, experimentam essa tendência - procuram a luz natural). Como os altares das igrejas, ou a boca da lareira e, sempre que possível, a própria fachada das casas. No caso português ainda é mais premente: do oeste sopra o vento, vem a humidade e a neblina, que tudo corroem e apodrecem.

Chamemos-lhe assim: o "Caminho da Corrupção". Acontece aos seres vivos, como acontece às ideias e às edificações artificiais que os seres humanos implantam, convertendo ou subvertendo aquilo que cobiçam na Natureza. Este caminho, como o sol ao longo do dia (a tal metáfora da Esfinge perante Édipo), progride do nascimento à morte, do oriente ao ocidente, passando pelo auge do meio-dia - a plena luz, o vigor pleno. O fim do caminho dum homem, quando o cadáver se decompõe, não é um espectáculo bonito de se ver. Por isso o escondemos em sepulturas, ou o abreviamos por incineração. Aquilo que, por definição e verdade ôntica, se chama "Civilização" é, originariamente, a Hélade e estabelece-se segundo dois vectores: por oposição à barbárie (numa analogia entre o cosmos e o caos); por comunidade de uma língua, o grego. Se queremos um corpo essencial para atribuir, dum modo genérico, a civilização: helenismo. O cristianismo, por exemplo, e porque é muito importante no decurso subsequente da cultura clássica europeia, é um helenismo. O que seja o helenismo é assunto vastíssimo e com muitas implicações e afluxos orientais, ao longo dos séculos e da própria posição de charneira e entreposto que os gregos sempre mantiveram (afinal, os povos indo-europeus vieram de leste como o sol, antes de se fixarem mais a oeste) na geografia e na história. Delfos é o umbigo do mundo antigo, ou melhor dizendo, da civilização. Uma ilha do Mediterrâneo. Como Ítaca.

Toda a matéria é corruptível. Esta é uma lei básica da física e universalmente verificável. Então a "matéria da civilização" também é corruptível? Como para todas as coisas, existe a matéria e existe o espírito. Ora, se o espírito duma coisa, seja um homem, seja uma civilização, se encerra ou conforma à respectiva matéria, então esta, necessariamente, arrastará aquele no seu vórtice decadente. Este pequeno parágrafo que ora termino traduz a essência do pulsar helénico, a grande questão da civilização. E registe-se que questão não significa sòmente pergunta: significa também demanda. Busca. Da verdade.

Saltemos de chofre para o século vinte. Para o novo "grau zero" da História. Nos escombros da Europa pós Segunda Grande Guerra. A grande apoteose "iluminista". Pouco importa agora se os carniceiros vencedores eram melhores ou piores que os carniceiros derrotados. Nestas coisas da estrita matéria só mesmo os vermes finais para espiolharem as minúcias. O facto é que assistimos a um culminar de vários fenómenos. Um dos mais determinantes: o estabelecimento duma espécie de absolutismo da matéria, isto é, a implantação massiva da crença que só a matéria existe, só a razão conta e apenas o conhecimento científico é digno. Fazendo fé nisto, teremos então uma "civilização do lixo". Não há mesmo como contornar: se apenas a matéria conta, então a finalidade  - a causa última - duma cultura destas é o lixo. Por mais espampanante, luxuriosa e sofisticada que seja a forma com que se embale essa matéria, nos seus diversos artifícios, o destino fatal é a ETAR do cosmos. Daí à lixeira a boiar no espaço e os gritos aflitos de imberbes lixados, clamando que lhes querem lixar o futuro é o hospício em que vamos. Em que estado fica o helenismo, isto é, a civilização, no meio disto tudo? Bem, se não está morto, cheira já pelo menos dum modo extremamente esquisito. E pestilento.

Haver cultura é haver um espírito que transcende e ultrapassa as limitações óbvias da matéria. Se só existisse a matéria nunca teria havido civilização. Se se decreta a matéria absoluta estabelece-se o fim da civilização. Proibe-se o pensamento pleno; confina-se a milenar demanda a um parque de  diversões infantilizadas culminado num circo de monstros e abortos escandalosos.

Nunca, em milénios, antes de 1946, existiu uma "civilização ocidental". Este "ocidental" emerge a partir duma zona geográfica fictícia estabelecida segundo uma Cortina de conveniência. Macaqueia a civilização original na medida em que se contrapõe a uma "barbárie": a barbárie socialista soviética. O Ocidente é aquilo que não está fechado a Leste; e que partilha não uma língua, mas essencialmente uma moeda franca: o dólar, todo poderoso. E resume-se a pouco mais, na vida mental mais elevada, do que esguichar um anti-comunismo de alguidar por infantilizados crónicos no carrocel do mira gaitas e toca píveas. A realidade é que o que triunfou da Segunda Guerra foi um materialismo desenfreado que, velozmente, se cindiu em dois: um materialismo benigno, ou capitalista; e o materialismo maligno, ou socialista. Assim taxado, visto do lado de cá; o contrário, se visto de lá. Pelo menos até a famosa Queda do Muro. A partir daí, restou apenas o dito "Ocidental", que se arvorou campeão, superlativo, perpétuo, absoluto e receptáculo sacrossanto e definitivo de toda a civilização, passada ou futura.

Todavia, tivesse acontecido ao contrário e a diferença não seria assim tão grande. O facto é que nenhum deles, a Leste ou Oeste, garantia grande saúde ou cuidado com a civilização, entenda-se a tradição e cultura helénicas. Ambos apenas constituíam fórmulas particularmente hostis e simiescas de aviltamento, contrafacção, perversão e, enfim, corrupção acelerada da "matéria dessa civilização", dado que nenhum do seu espírito cultivando. Em rigor, duas formas virulentas de barbárie a armar à civilização. A barbárie ocidental em confronto com a barbárie de leste. Vamos agora naquela parte em que a Barbárie Ocidental, onde quer que tripudie e barbarize, fá-lo travestida de "civilização" e em nome de combater as diversas (e não raro imaginárias) barbáries que infestam o mundo. A barbárie russa, a barbárie árabe, a barbárie persa, a barbárie chinesa, a barbárie sérvia, etc... Enfim, todo um planeta reduzido a mero geo-talho de conveniência. O triunfo roncante, nesta fase, não do mundo civilizado, mas do mundo às avessas.


quinta-feira, novembro 16, 2023

A Síndrome de Gaza

 

Quem pense que toda esta actual carnificina em Gaza é algo de extraordinário, dada a fúria justíssima dos enxofradinhos por via da inaudita petulância hamasiana em 7 de Setembro, anda a comer muito queijo e a memória junto com ele. O que, de resto, não é novidade: todos estes jagunços de psico-aluguer e culturistas da tanga apenas sabem exercitar e promover a monomania instilada pelo momento mediático a ferver. A sua efervescência é tão fulminante quanto instantânea e esgota-se na sua própria guturalidade repetitiva. Operam, invariavelmente, num misto de disenteria moral e retro-alimentação conceptiva, ou seja regurgitando e destilando, em canora matraca, a substância vácua  daquilo que desovam. Chafurdam e refocilam, assim, em perpétuo e fétido êxtase.

Só que não há nada de extraordinário neste mais recente episódio. Nada do apregoado e grunhido "acesso agudo": apenas manifestação duma arreigada síndrome. Crónica, incurável, sistémica e auto-imune.

Basta relembrar, ainda há meia dúzia de anos o célebre "Método Mordechai". Bem como o postal seguinte, de 2016, que me permito repostar para avivar as memórias:


Se pensarmos que o professor Mordechai é um caso patológico isolado estaremos a ser  desenfreadamente optimistas. Passo à apresentação do não menos emérito professor Amitai Etzioni. Qual o seu método?

- Varrer Beirut  inteirinha do mapa.

A que propósito ou pretexto severo?  Simples: porque é em Beirute que o Hezbollah esconde os mísseis. Ou pelo menos ele imagina que sim. Donde que,  pelo sim, pelo não, arrasa-se a cidade inteira e depois logo se vê. Mas primeiro avisam-se os habitantes, para  que, de livre vontade e com sorridente compreensão, abandonem a área e entreguem as suas habitações, comércios, indústrias e infraestruturas públicas (escolas, hospitais, monumentos, etc) à devastação metódica e solene. O exército libanês, reforçado pela ONU, presumo, deverá até supervisionar e fiscalizar pressurosamente a retirada.
Estou a mangar convosco? Infelizmente não:




E por aí fora. Trata-se, no fundo, de estender, paulatinamente, Gaza ao universo. 

Estamos perante um indivíduo alucinado e psicótico? Tirem o "indivíduo" da equação. Estamos perante uma mentalidade. E também perante uma ideologia, radicalmente perversa, racista e agressiva, que, na medida em que goza de impunidade e facilitação sempre crescente, já raia o carcinoma planetário. Isto já nem sequer é o sionismo: é a malignização desarvorada do sionismo. Descambaram. Como os nazis depois da Noite das Facas Longas descambaram. E enquanto não se compreender que Israel não é uma teocracia (como os detratores de esquerda invocam), mas uma teofania, como a deriva satânica exibe cada vez mais a bandeiras despregadas, não percebem nada.
O que o Estado de Israel proclama - com farronca e arrogância desatadas - a quem quiser ouvir, é:  Iahvé
 sou EU.

Um dia destes Ihavé vinga-se da soberba ímpia? Não confundam o Chefe dos Exércitos de Israel com o Deus de Aristóteles e de São Tomás. Há milhares de anos, os Hebreus inspiraram-se no deus maior do panteão Assírio - Assur, o senhor da guerra e dos exércitos, para cunhar Iahvé. Na mentalidade semita, desde há milénios, o massacre e a razia das cidades não é impiedade. Pelo contrário, é o tributo devido ao deus, e, por conseguinte, é a forma mais pia e superlativa de culto. 
Freud era um manhoso que dum modo geral projectou as próprias taras na própria teoria. Mas teve um discípulo que não é desinteressante de todo: Jung. Falava dum "inconsciente colectivo". Resta-nos a nós adivinhar, ou tentar decifrar, nas deambulações de certos povos sonâmbulos, os monstros arcaicos que os obsidiam e tripulam.
O Cosmos não cabe em certos becos. E toda a Hubris, é fatal, convoca uma cobradora: a Némesis. Não há paleio contra isto.


PS: falta acrescentar um pequeno mas importante ponto: os deuses semitas não são "deuses morais". A questão da moral enquanto confronto entre o mal e o bem, a liberdade subjacente à "escolha moral" e até os conceitos de salvação e redenção não são oriundos das culturas semitas, mas sim da cultura persa. Segundo  Zoroastro, também conhecido por Zarathustra.  Não é por acaso que a mais bela obra literária da Filosofia se intitulou "Assim Falava Zarathustra". Caso não saibam, é a obra com mais edições e traduções da história da humanidade. Sim, mais ainda que a Bíblia. O que é que herdámos da cultura judaica (notem que judaico não é sinónimo de hebraico, apenas uma degradação/decadência)? Segundo Nietzsche e aí, em boa medida concordo com ele: o Ressentimento. Aparece sobretudo nas épocas de decadência avançada e nos grupos socio-marginais ou contra-culturais. Exemplos: os migrantes transatlânticos,  de trânsfugas sectários variados, que viriam a corporizar o "evangelismo americano"; os kazares judaizados do Pale of Settlement , que viriam a corporizar a esbirraria soviética; dum modo geral, todos os medíocres ou mesquinhos que invejam a grandeza - e por isso ao judeu se chamava tradicionalmente o "Invejoso". Ir empenhar no agiota também se dizia "entregar ao Invejoso".  O judeu como "filho do diabo" , segundo a Idade-Média - ou "enteado do mesmo cornúpeto", segundo mestre Gil, pois... Enfim, ainda hoje se pode reconhecer esse carácter ou, de certo modo, esse atavismo cultural quando nos deparamos com um indivíduo invejoso ou ressentido, ou, dito com propriedade, "um judeu". Não é forçoso que partilhe a raça, o credo ou a fortuna: basta que partilhe o espírito, entenda-se, a ausência dele. 

PSS: Evidente e felizmente, também existem, quero acreditar, muitos judeus, de raça ou de credo, que não são nem invejosos nem ressentidos. São pessoas.  E de valor. Precisamente porque não respeitam o estereotipo e estão-se nas tintas para a idiossincrasia da tribo. Deus os proteja e abençoe!

quarta-feira, novembro 15, 2023

A Antilíada, ou O certame de bandalhos

 Se repararmos no nosso país com atenção, constataremos que, a partir duma determinada data, abdicou da soberania efectiva. Assim sendo, desembaraçou-se também, inerentemente, da independência plena. Deveio, por assim dizer, uma espécie de protectorado  sabe Deus do Quê. Não obstante, enquanto na realidade, se menorizava e submetia a tutoria externa, desenvolvia toda uma sofisticada ficção para mascarar a coisa. Soberania não precisava (o último que a tinha praticado de facto foi mesmo demonizado, anatemizado e lançado nas chamas eternas do inferno da História), mas tinha agora "órgãos de soberania" resplandecentes e deveras catitas, de importação pacóvia  - Presidente da república, Assembleia da República, governo da república e os tribunais da república. Independência também dispensava, porque, em contrapartida, dispunha doravante duma tremenda e vertiginosa "independência interna", às fatias e aos molhos. Isto é, embora o estado não seja soberano, dispõe duns tremendos  órgãos de soberania; embora a nação se manifeste impotente e dependente, transpira e resfolega de poderes independentes que só visto (e a cartilha pateta e sinistra dos corta-cabeças de 1789 atesta e recomenda). O resultado está à vista. E duma forma cada vez mais grosseira e atabernada, a cada escândalo que passa. Sendo que a cegada é tanto mais alucinada e degradante quanto é putativamente legitimada, numa espécie de ritual mágico, por eleições de imitação. Consistem estas em escolher entre projectos de oposição e de desgoverno, ou, dito mais concretamente, em preencher os cargos e guichés dos "órgãos de soberania" sem soberania, e dos poderes independentes sem independência. É, fatalmente, toda uma república de ficção. Terminado o anedótico cerimonial, os eleitores, quase instantaneamente, descobrem que o presidente não preside, o governo não governa, a assembleia não congrega e os tribunais desprezam o direito. Pudera!... Donde que, em menos de nada, a toque de corneta (do diabo), clamores para novo acto eleitoral, ou seja, insistir nas mesmíssimas causas esperando os efeitos opostos. Dir-se-ia uma tentativa furiosa de exigir  a Deus  o milagre através do cansaço. Os que escolhem sem terem escolha lá são convocados mais uma vez. Para perpetuarem o marasmo implantado e externamente vigiado. Já esteve mais longe de ser dia sim, dia não.

Entretanto, no meio de todo este badanal imarcescível, sobressai um detalhe esplendoroso: os órgãos de soberania sem soberania que não são independentes de forças maiores externas também o não são das forças menores internas, onde sobressaem, com destaque ruidoso, os chamados mass-media. E não fora a fabulosa independência destes, escorada numa deontologia profissional à prova de bala, não sei, francamente não sei, onde já teríamos todos, enquanto projecto colectivo, ido parar.

A sério: É uma bandalheira a esmo? Completa e nunca acabada. Das mais toinas e luxuriantes que imaginar se possa.

E tem toda esta choldra o barrete que merece? Bem justinho!

PS: Mas ninguém negue a tremenda coesão nacinhal: entre os "órgãos de soberania" é uma corrida ombro a ombro na demanda do pódio do aviltamento da função. Já levam meio século nisto.

terça-feira, novembro 14, 2023

Oxidentalização em Curso

 O Oxidente está a libertar a "comunidade LGBTQ+ clandestina de Gaza". Hallelluia!, tudo vai terminar, em apoteose, com um desfile/parada Pride. Vão ter é que voltar a enfiar o Ihavé no armário.






sexta-feira, novembro 10, 2023

O Último-Ministro

 Estávamos sentados à mesa da tasca, digo ciber-tasca, eu, o Dino e o Caguinchas, degustando uma aguardente sénior, devidamente subtraída à vigilância esbirra da ASAE, quando o Dino teceu o seguinte comentário notífago:

-"Eh pá, Ó Dragão, parece que o Ministério Público se atirou destrambelhado ao Costa!"

Eu ia para ripostar qualquer coisa como "Só se perdem as que caem no chão!" ou "Que não lhe doam as biqueiras!", mas o Ildefonso Caguinchas nem deu tempo. Atalhou, sentencioso, do seguinte e idiossincrático jaez:

-"O Ministério do Público?!  Mas esse Costa é uma perfeita abécula!  Que toino! Especialmente a escolher ministros, foda-se... Além de não valerem um caralho nem lhe passarem cartão, agora até já porrada lhe atestam!... Esse ministro do público deve ser fresco. Na volta, ainda é primo do Galambão... Ó Dino, passa-me aí o Correio da Manhã para eu lhe catrabispar as fuças!..."

Nem sei bem se aturdidos ou afónicos, concentrámo-nos na aguardente sénior e deixámos apressadamente a política.  E enquanto ele prosseguia, com energúmena verve - "Primeiro-Ministro, sim sim!... Só se for na república das beterrabas de Cona da Mãe Street! Um banana metido a Chamuceler que enfarda do próprio subordinário não é Primeiro, é Último-Ministro!...Derradeiro-Ministro!!..." - , nós, concertados, adoptámos as expressões e posturas necessárias a tudo fazer por indiciar, urbi et orbi, que não o conhecíamos de lado nenhum.

terça-feira, novembro 07, 2023

A Decadência da Ficção

 Numa apreciável quantidade de casos, a filosofia, em todo o seu aparato livresco, não excede a ficção de má qualidade. Péssima literatura, enfim. Pelo contrário, a História é toda ela ficção, mas de  razoável qualidade em  muitos casos. Já a literatura propriamente dita é de baixa extracção em quantidades industriais, mas, nos seus raros génios, consegue produzir filosofia e história de excelência, bem acima dos respectivos - e putativos  - especialistas ou catecúmenos.

O nosso tempo, entretanto, já não produz nem filosofia que se apresente, nem literatura que se recomende. Quanto à história, desde há mais de cem anos que anda a prostituir-se no bordel da propaganda (não que antes fosse virgem no estabelecimento, mas agora salda-se  em moldes estritamente comerciais - no prévio, a vocação era mais de índole religiosa, benemérita, estilo babilónico). A pessimização, não admira, é sinónimo de anglo-saxonização. Estou a empalar de palito uma miríade de lombrigas estéticas e microcéfalos da cultura? Ainda bem. A ideia é mesmo essa. Da literatura é melhor nem falar. Até por falta de assunto ou caso real.

Serve este justo e sempre oportuno introito para falar na mais recente erupção ficcionista do Oxidente. Como é sabido, e está vastamente documentado, este, na sua guerra encarniçada à Realidade, tudo submete à ficção. Mas à ficção de péssima e intragável qualidade. Muito pior que a filosofia medíocre ou a história de pechisbeque. Na forma, consiste numa espécie de pantanovela (panta de totalitária e panta de pantalha) em emissão ruidosa e ininterrupta. O clima é uma das suas peripécias principais. Querem o mais recente exemplo? Leiam só este cartaz parangonal:

«Vem aí um episódio de chuva forte»

Portanto, a meteorologia, como tudo, virou telenovela. Em episódios. E a nós, perante a mesma, compete-nos o papel de consumidores/espectadores. Assistimos às chuvadas, às ventanias e enxurradas, como a qualquer outra série da Netflix ou equivalente. E se na forma telenoveleja, no conteúdo, segundo os argumentistas de plantão e produtores de pornochuvada, limita-se a meia dúzia de dogmas parolos, mascarados de "estudos" e repetidos ad nausea. Quanto ao título para tão trepidante quão deprimente espectáculo... Não lhe chamam "E tudo o flato levou", como o apocalipse de alguidar sugeriria. É algo mais solene e minimalista, como decerto já adivinharam: "CIÊNCIA". 

domingo, novembro 05, 2023

O Germano em penitência onomástica

 

Só para termos uma vaga noção do estado da arte no Império Sacro-annillingânico do Oxidente.


«Há uma "diferença clara" entre os crimes de guerra de Israel e do Hamas

À vista desarmada, poderá parecer um bandalho homuncular, mas, com o devido microscópio, revela-se o humorista de alto coturno (ou baixa extracção, como é a generalidade destes piadistas de telejornal). Todavia, está escorado na mais elementar das realidades: Israel não tem como objectivo - isto é, não manifesta a menor das intenções em matar pessoas. Em primeiro lugar, porque elas morrem, não é Israel que as mata (e morrem por culpa e vontade própria, quer dizer, suicidam-se); e, em segundo lugar, porque nem sequer são pessoas que morrem, como injusta e criminosamente é apontado, mas animais, monstros, insectos. 

De resto, há nisto tudo um ror de mal entendidos, senão mesmo perpétuas calúnias.  Enumeremo-las detalhadamente.

1. Israel não tem intenção de matar, nem, tão pouco, mata. Pessoas, entenda-se. É indiscutível e patente à vista de todos. Como pode então falar-se - aludir-se sequer - em "crimes de guerra" de Israel? 

2. Mas Israel bombardeou, repetidamente, um campo de refugidos; obstarão os invejosos do costume. Israel não bombardeou campo de refugiados nenhum, ora essa! Israel bombardeou um monstro hammasiano; o campo de refugiados é que se pôs à frente. 

3. Aliás, Israel não bombardeia: as IDF bombardeiam. Mas as IDF, por sua vez, também não bombardeiam porque são apenas instrumento de Israel. Que, por seu turno, é apenas instrumento de Ihavé. Ora, Ihavé não reconhece a ONU nem os tratados e leis humanas. Genocídio, para ele, não é crime: apenas expediente atávico - vastamente documentado, aliás, numa obra muito conceituada.

4. Mas Ihavé não existe, bradarão os incréus e desgnósticos de plantão, escandalizados. Não quero entrar em debates teológicos a uma hora destas. Mesmo que Ihavé não exista: na realidade, Israel também não. Mas a realidade é uma coisa e a Crença é outra. Ora, a Crença em Israel é formidável e sustenta-se em dois dogmas sumptuosos: o holocoiso e a concessão iIhavetusa. Ora, os monstros hediondos (e nazis descarados, descobriu-se recentemente após a última cavadela mediática) não reconhecem a existência de Israel. Recusam-na mesmo liminarmente. Trata-se, de facto, e sob o labéu decorativo de conveniência ("terrorismo") de ateísmo desenfreado, torpe e contumaz, ou seja, blasfémia, heresia, impiedade absolutas! Perante isso, como é que alguém ainda se espanta quando acontece o castigo divino, na forma dum auto-de-fé colectivo? 

5. Outros mal intencionados poderão ainda argumentar (quer dizer, bolçar inanidades e asnolálias) que, na medida em que, como se vem revelando, Israel mata indiscriminadamente terroristas e reféns (quer dizer, palestinianos e israelitas), Israel mata também pessoas (os israelitas reféns, imagine-se). Patetice! Pessoas somos nós, os oxidentais devotos; os israelitas são anjos, seres superiores, imaculados. Nessa condição, são necessariamente eternos e imortais, apenas ascendendo a um plano de luz ainda mais sulfurosa  e transcendente, em caso de aparente óbito. Simplesmente, deixam de ser vistos à vista desarmada. Das pessoas, claro. Porque à vista armada, dos clarividentes tribais,  continuam a existir, como boa parte daqueles seis milhões imaginários, digo, de fé, que nunca ninguém viu, mas existem pela eternidade. Uma espécie de neo-santos (não de pau carunchoso, mas de cabinda, no mínimo, já que sempre viçosos) com narizinho peculiar e hordas de devotos crentes, em sabuja peregrinação, demandando favores, lugares no ascensor social e cunhas pró currículo (passe a redundância).

6. Em resumo, tenham juízo.