segunda-feira, novembro 21, 2022

Hoplita X.0




Uma entrevista muito interessante a Bernard Wicht, um erudito francófono em questões de estratégia. 

Texto longo, mas replecto de passagens deveras inquietantes. Chamo a atenção para os conceitos de "naked man" (o texto é em inglês), e "a-polis". Não podia estar mais de acordo.

Algumas passagens sugestivas:

(...)



«On the Ukrainian side, on the other hand, the situation is much more blurred, as the regular conscript army was already in disarray before the conflict broke out, thus forcing the Zelensky government to rely on paramilitary groups, in particular the sinister Azov battalions, whose abuses against the civilian population are now well known. Nevertheless, they are the only real fighting forces on which the “failing” Ukrainian state (let’s be honest and use this term) can rely to confront the Russian offensive. Let us specify that these units are not directly dependent on the Ukrainian state; they have their own mode of financing, based on trafficking and mafia racket of the local populations whom they do not hesitate to use as human shields.»

LS-SD: To conclude, let us return to the initial question. Is self-defense still relevant in such a state of chaos and disorder, of war without limits?

BW: Now more than ever—especially in a Western Europe incapable of defending itself, where the Ukrainian pattern is likely to be repeated. For, if the nation-state is no longer the subject of war, then it is the individual himself who becomes the subject of war (hence self-defense). Moreover, this individual is no longer a citizen, but a “naked man” stripped of all protection, without a city (a-polis) and liable to be put to death by the police as well as by the gangs or the aforementioned actors of the conventional NG war without limits. For this naked man, from now on, self-defense represents the only horizon in terms of residual freedom and security, the last means of preserving some snippets of the status of political animal that citizenship in arms (the hoplitic polis) previously conferred on him.»


Julgo que não perdem nada em ler tudo na íntegra. 

4 comentários:

muja disse...

Muito interessante.

A noção de a-polis é na mouche e é a expressão concreta do totalitarismo demo-revolucionário.

Parece-me, contudo, que há alguma insistência em inserir "capitalismo" na fórmula. Sendo certo que a coisa há-de render a alguém - há alguma que não renda? - diria que está a ser financiada com impressoras de dinheiro. Ou seja, a bem dizer, não está a ser financiada. Ora, isso não é bem capitalismo...
Não é questão de defender o dito, mas antes de reconhecer que também na perversidade há fins que ultrapassam, transcendem e subjugam o apetite ao lucro.

Capitalismo por capitalismo, prefiro a fórmula do Soral, adaptada do marxismo clássico dele, em termos de crises de produção capitalista e que lhe permitem deduzir e explicar o facto evidente e claro de que um dos fins desta empreitada é a Europa servir de petisco aos EUA, para atrasar, por fugazes momentos que seja, o que se poderia chamar crise capitalista. Não sendo bem de sobre-produção mas sim de a-produção - que vai bem com a-polis. O que também pode ser uma espécie de sobre-produção teórica a tender para o infinito...

muja disse...

Por outro lado, a talassografia também é interessante. Julgo que falta aí um aspecto fundamental que é África. Em particular o Norte da dita, mas facilmente extrapolável para qualquer ponto dela.

Estabilidade bem estável na Europa, só houve quando África estava acautelada.

Enfim, Salazar via isto a dormir e agora nem com meta-anfetaminas há quem no veja. Os franciús ainda discernem umas formas vagas, mas não têm arte nem gabarito para mais.

Julgo que a raiz é esta e não isso dos armamentos, mas posso estar a perceber mal. Em 40 qualquer país médio europeu fabricava armamentos sofisticados. Em 50 e 60 ainda era mais ou menos assim. Hoje quase nem um avião todos em conjunto conseguem fazer.
Este problema já se punha a Roma, e com certeza se pôs a todos os Reis de Portugal e Castela desde a fundação. Para Veneza, e então Bizâncio, era o quotidiano.

África é o pivot da Europa. Sempre foi e sempre será.


dragão disse...

Curiosamente, na parte VII, que está por aí a rebentar, a a-polis é visitada em todo o seu esplendor...

Não conhecia este autor. Mas fiquei interessado em conhecer. Não me parece que ele dê uma conotação especialmente "marxista" ao "capitalismo". Suspeito que é mais numa linha estruturalista. Algumas influências talvez da nova-história . Vou vasculhar bem e depois conto. Depois de ler algumas obras do sujeito.

Anónimo disse...

Muito bem, Dragão. E muito bom.
Isto é jornalismo: prantar os dados de outrem e quem souber ler que se instrua. O Jornalista não emite opiniões.
Abraço do ao