É uma espécie de slogan mágico e panaceia multiusos: acesso universal. Acesso universal à educação, acesso universal à saúde, acesso universal à justiça, acesso universal à internet, à habitação, aos transportes, ao emprego e até ao saneamento básico. Isto, em tese, chega até a ser muito bonito e longe de mim contestar o que quer que seja. Mas com tanto acesso universal o mínimo que seria de esperar é que os desequilíbrios obscenos, as desigualdades grosseiras e os atropelamentos sociais diminuíssem coisa que se visse. Que, por exemplo, o acesso universal à educação resultasse num acesso , senão universal, pelo menos crescente, ao emprego. Enfim, dava jeito. Às pessoas e ao país. Era bom sinal. Ora, o que se assiste, cada vez mais, é um acesso universal à educação que resulta num acesso esmagador ao desemprego ou à precaridade crónica. Como explicar então isto? A malta tem o melhor dos sistemas, destilado das meninges dos mais profícuos cientistas sociais, e no fim do alambique o que extrai é uma zurrapa absolutamente intragável e sem ponta de préstimo. Quer dizer, em vez de funcionar, todo o formidável aparato, disfunciona. Como reparar a coisa?
Ora, aqui, vão desculpar-me, os leitores, mas socorro-me duma ideia dum contertúlio meu. Segundo ele, há um acesso universal sem o qual nenhum dos outros, por mais bem intencionado, lubrificado ou aparafusado que pareça., não só não funciona, como é garantido que empana: é o acesso universal â corrupção. Em tempo, suspeitei seriamente da bondade desta tese. Mas hoje não vejo já como refutá-la.
Chocante? Olhem à vossa volta. Ali, guincha um saguim qualquer não sei que libelos contra uns corruptos quaisquer que escabujou numas negociatas. Mas fitem com atenção, mais a devida lupa: na verdade, escama-se e inflama-se contra uns rivais do partido adversário que, mais que roubar, impedem os da laia dele se locupletem como lhes convinha e a ressaca apoquenta. Acolá, um espectáculo em tudo equivalente: um outro sicofanta qualquer delata um papa-figos camarário porque, basicamente, se esqueceram de lhe untar as patas ou não cumpriram com a comissão prometida. Mais abaixo, duas ex-comadres zangam-se e toca de largar surro na via pública e nas pantalhas. Enfim, é um fartar gandulagem por tudo quanto é televisão, rádio, jornais e até nos blogues. Nunca vi lugarejo, e tenho dúvidas que exista, onde se movesse um tão ruidoso e desenfreado combate à corrupção, a todas as horas, dias e minutos, e, ao mesmo tempo, onde ela tão, viçosa e imarcescível, proliferasse. Aliás. já estou como o Marechal Goering quando dizia que se lhe falavam em cultura ele corria logo a pegar na espingarda. Eu sei que o marechal do Reich não é exactamente uma referência exaltante, mas a tirada tem a sua piada. E eu, em contrapartida, não é quando me vêm com a cultura: é com a corrupção. A sério, quando vejo alguém a armar ao palhadino contra a corrupção, tendo logo a levar a mão ao bolso para ver se ainda tenho a carteira e o relógio. Por outro lado, neste jardim à beira-mar estagnado, a corrupção é praticamente sinónimo de cultura. Pior, se olharmos com atenção, onde a corrupção mais grassa é entre aqueles que era suposto combaterem a corrupção. Depois, a corrupção processa-se a vários domínios, níveis e qualidades: pode ser económica, política, moral, profissional, legal, artística, científica, etc. Há para todos s gostos. Notem até alguns preceitos caricatos: Os profissionais mais corruptos do país - os jornalistas - arrogam-se, com grande pompa, como os maiores combatentes contra a corrupção. Sou só eu a vislumbrar o paradoxo? A classe cientificamente mais corrupta do país - os médicos - arvoram-se como os grandes combatentes contra a corrupção física das pessoas. Outra contradição feroz. E podia continuar por aí adiante. Portanto, combater a corrupção é, em primeiro lugar, um embuste (conversa para boi dormir) e, em segundo lugar, na maior parte das vezes, o vestibular da própria corrupção. Ora, assim sendo, se não é possível combatê-la, a única alternativa sensata que lhe vislumbro é torná-la acessível a todos. Porque é que há-de ser condição de acesso ao governo por qualquer incapaz o pertencer a um partido político? Qualquer pessoa (e quanto mais despreparada, melhor) deve auferir desse direito natural de corromper a governação do país. E quem diz postos na governação, diz cargos nas administrações, lugares nas comissões, empregos bem remunerados (e metafísicos) na função pública. Porque é que há-de ser exclusivo - ao pedigree, à casta, ao partido, à seita, à loja ou capelinha -, e não inclusivo, ou seja, verdadeiramente democrático? Problemas práticos na execução desta justiça social: como é que um pobretanas corrompe um juiz, ministro, PCAdm, ou coisa que o valha? Então, criem-se linhas de crédito, linhas de apoio ao pequeno e médio corruptor empresário, subsídios europeus a fundo perdido, associações e carteis de pequena escala... O importante é estimular o investimento, abrir a sociedade ao empreendimento, ao bom ambiente de negócios, à iniciativa privada! Removam-se falsos entraves, vedações artificiais que não têm como intuito impedir a corrupção, mas apenas canalizá-la e cativá-la para os privilegiados da ordem, escamoteando-a à generalidade da população (que, no fundo, a paga e sustenta, mas a ela não tem acesso). Já é mais do que hora de acabar com este feudalismo encapotado!
Acesso universal ao voto? Muito bem. Mas não basta. Está mutilada a justiça, amputada duma metade essencial: eleger podemos todos, mas montar no poleiro só podem uns poucos, que lá se alcandoram já sabemos através de que manigâncias e processos tortuosos. Importa estabelecer o quanto antes também o acesso universal à lista, ao caderno, à cerimónia de posse e respectivos beberetes, coquetéis e salgadinhos!
Aliás, mesmo o acesso universal ao voto está coxo, claudica duma forma gritante: os menores de 18 anos ainda se veem barrados e oprimidos. E isto quando, mentalmente, todos estagnam, cristalizam e são mantidos em estufa nas 12 primaveras. Ou seja, todos têm 12, ou menos, e, no entanto, os que têm 12 coincidentemente com o BI não podem exercer o seu direito de voto. Nem, tão pouco, e para cúmulo, o seu direito legítimo a serem eleitos e, assim, dum modo democrático pleno, poderem contribuir para a alegre corrupção da nação. E anote-se o escândalo: um jovem racional de 12, ou 10 ou 8 anos não pode concorrer ao parlamento; todavia, um retardado mental com uma idade difusa, algures entre os 7 meses de gestação e o berreiro molhado à saída do orifício materno, para lá zanza proferindo parvoíces em série e respondendo pelo epíteto de Rui Tavares (e abichando subsídios e ajudas de custo em barda). Já estivemos mais longe se se elegerem literalmente burros ou outros muares solípedes, em reprise do senador cavalo de Calígula, e, todavia, continuam a bloquear-se as crianças da espécie humana. Que já podem até mudar de sexo, mas não podem plantar a alcatra na Assembleia ou no Conselho de Ministros. Quem não se indigne com isto, uma tremenda injustiça destas, é porque está morto.
Em suma, e para terminar: acesso universal, sim senhor! À Corrupção, acima de tudo. Eis a chave do nosso futuro. O fecho da abóbada das nossas descobertas, a cura desta nossa paralisia ancestral.
Mas, entretanto, que escuto eu, aqui mesmo a meu lado?... Um rebate de consciência, será? Um lampejo de cepticismo atávico... Até o Engº Ildefonso Caguinchas me fita com um certo ar de gozo... "Acesso universal", pá?, mofa ele. "Aí, acabas logo com ela!" "Se é para todos, acaba por não ser para ninguém!"
É capaz de ter razão, o sacana do engenheiro. A puta da humanidade é mesmo assim. Quando quer dar cabo duma coisa instala-lhe, à porta, o tal "acesso universal".
4 comentários:
Bem lembrado , o homúnculo tavares - empresário unipessoal de sucesso no ramo da "pulhitica"...
Universal = Total
Universal = Global
Total» Totalitarismo
O pior do socialismo!
Global» Globalismo
O pior do homem!
Isto é tudo um grande Clube mas nenhum de nós faz parte a não ser para ser vilipendiado.
Quem está dentro do Clube julga-se ultra-iluminado.
Na Alemanha, acredito que a cultura valha uma bala. Em Portugal, basta correr a puxar o autoclismo.
Em Portugal temos uma grande adesão ao acesso universal à estupidez.
Recomendo a leitura deste artigo:
https://thesaker.is/germanys-position-in-americas-new-world-order/
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