quarta-feira, dezembro 07, 2016

Globalização, não: globalheira!

Há dias atrás apercebi-me dum grande alarido mediático a propósito dos prejuízos que a contrafacção andava a causar à economia. Estimavam-se até milhares de postos de trabalho vitimados pelo hediondo fenómeno. Importava reforçar medidas de combate, ou seja, mais esbirros de patrulha e punição para os odiosos infractores e conspiradores recalcitrantes contra o paraíso terreal. 
Mas vejamos bem...
As grandes empresas (e, por arrasto, as grandes marcas) que deslocalizaram em massa a produção para as Chinas, coxichinas e indochinas em geral, essas queridas, não causaram desemprego, hecatombes sociais e toda a panóplia de cataclismos económicos associados? É evidente que sim. Causaram e causaram duma forma a que poderemos chamar de industrial, maciça, asselvajada. E com que intuito?. Com o intuito muito simples e prosaico de procederem à contrafacção delas mesmas. Ou seja, as grandes marcas largaram numa operação gigantesca de contrafacção industrial, legal e abençoada pelos pseudo-estados: passaram a vender porcarias feitas na China mascaradas com a marca dos outrora made in USA, made in germany, made in England, Italy, France, etc. É pura contrafacção em larga escala. Vão mais longe: criam sub-marcas, ou marcas satélites, de modo a saturarem e ocuparem todo o mercado, desde o high-end, ao médio e low. O resultado para o mercado tradicional e para os produtores e redes nacionais é devastador. No fim do dia, não foram apenas os antigos trabalhadores e serem despejados no limbo do desemprego: também os pequenos comerciantes, muitos deles em idade irrecuperável para a geringonça mercadalhoca, para lá despencam. Só que o instinto de sobrevivência e o espírito associado de desenrascanço, em muitos (e gloriosas) casos sobrepõe-se à depressão induzida: os inquilinos forçados do limbo revoltam-se e retaliam. De que modo? Duas simples palavras: mercado paralelo. Pois, se os outros podem explorar a contrafacção em larga escala porque não hão-de eles imitá-los em pequena? Olho por olho... E mais uma vez lá se reinicia a velha (e louvável) resistência do artesanato contra a indústria e, sobretudo, a impiedosa guerra da indústria contra o artesanato.
Assim, que significa genuinamente o alarido merdiático contra a pequena contrafacção? Nada mais do que o prolegómeno do subsidio estatal à contrafacção desmedida. Os contribuintes têm que ser mobilizados e persuadidos a pagarem a mais esbirros, a mais caga-leis e a mais batidas concertadas contra os tipos que teimam em espernear para fora do armário de esqueletos onde é suposto repousarem. Ad aeternum. A contrafacção industrial, aliás, tem nos mija-notícias um dos seus departamentos mais activos e frenéticos. A contrafacção das coisas vem sempre precedida da contrafacção das ideias. A Globalização nunca significou mais que simples globalheira. É por isso que, ao contrário do prodígio perpétuo a que se arrogava, não passa de cleptosquema transitório cujo flato mestre já se adivinha ao virar da esquina.

PS: Muitas vezes, as mesmas fábricas chinesas que abastecem as grandes marcas também abastecem os mercados informais. Em termos de qualidade ficamos conversados: ou é uma simples etiqueta que altera toda a essência do pacote? Depois, se os do mercado informal fogem aos impostos, os outros, através de esquemas pluridisciplinares, não apenas deles escapam a toda a velocidade: delapidam-nos por portas de subsidiação e facilitação diversa (só a protecção pública ao oligopólio custa-nos os olhos da cara).

7 comentários:

Vivendi disse...

Post muito bem esgalhado!

O globalismo é cada vez mais um rotundo falhanço que em vez de promover a integração só promove desintegração.

Anónimo disse...

Muito bem visto.

luis barreiro disse...

Você fala, fala e discorre sobre a contrafacção e nem uma pequena frase sobre a industria ou quantidade de empregos que a "policia" das contrafacções impõe. A "polícia" dá emprego a muita gente.
A Helena Matos, mostrou aquando da intervenção da psp no bairro do lagarteiro do porto, devido aos chicotes para obtenção de electricidade de borla, que existiam na altura 27 instituições sociais com intervenção no bairro. A solidariedade tornou-se num negócio. A contra contrafacção também é um negócio, quem paga não tem problemas quem não paga aparece nas notícias.

Engenheiro Ildefonso Caguinchas disse...

«A contra contrafacção também é um negócio»

E eu que pensava que era um passatempo...

As coisas profundas que se aprendem nesta internóia!...

Anónimo disse...

Terá algum interesse nacional em obrigar os portugueses a pagarem, exorbitantemente, às multinacionais estrangeiras para obterem produtos fabricados na China, Vietnam, India, etc.? Não seria mais benéfico para a Nação, comprarem directamente esses mesmos produtos da fonte e taxá-los? Assim, criam postos de trabalho, receitas para o Estado e reduz o nosso défice comercial, não? Uma situação win-win.

Ricciardi disse...

O dragão está atrasado. A China já passou a fase de produzir marcas estrangeiras. Já há 10 anos que está a comprar marcas estrangeiras. Assegurou a fonte de matérias primas (África e América latina) numa primeira fase. Com acesso a matérias primas e mão de obra convidou as marcas estrangeiras a produzir indoor. Agora, com a acumulação de reservas, compra marcas. Empresas. Bancos. Indústrias no ocidente.
.
Foram/são estas compras que colocaram a China na vanguarda tecnológica. Aeronáutica, espacial etc. Neste preciso momento a luta comercial entre EUA e China passa pelo controlo dos mercados asiáticos.
.
A China so tem um problema. Tem excesso de créditos sobre os EUA. Como tal depende das políticas monetarias americanas. Por essa razão tem forçosamente de conseguir que o yuan nao desvalorize face ao dólar. Para estancar a retirada de divisas do pais. Os EUA, por outro lado, já não vivem sem o mercado chinês que é gigantesco.
.
Rb

Anónimo disse...

Compra no ocidente e' como quem diz: nos países a' beira da banca-rota como o nosso lindo quadradinho.
Isto e', onde a putaria se vende a qualquer preço.

E quem e' que lhes abriu as portas?
...

Entretanto o Donaldim já lhes esta' a fazer um "pudim mandarim" :)
Já a vaquinha Merdel (lá nas terras que em tempos se chamavam alemãs) diz que quer continuar tudo na mesma ... o regabofe chinelo.
... ...

O petróleo já esta a 20 $ ?