Aqui há uns anos, os deslumbradinhos e parafílíticos de plantão atiravam olhares embevecidos à Irlanda e apontavam aí toda a montanha de virtudes económicas que nos faltavam. Em menos de nada, porém, a Irlanda que ia à frente passou para trás e ei-la na mendicidade financeira. Um pouco antes tinham sido os "tigres asiáticos". Dum momento para o outro, transformaram-se em gatos assustados esgaravatando em caixotes de beco sem saída. Desmesurou-se então no nano-horizonte destas abéculas, zénite nec plus ultra da globalização, altar vivo à glória do capitalismo milagreiro, a China. A China é que era. Crescia a olhos vistos e a ritmos vertiginosos. Produzia, exportava, alistava hordas de operários perfeitos, alastrava pelo mundo, da áfrica à semi-áfrica (Portugal e ilhas), pechinchando empresas e açambarcando negócios. Pois parece que, subitamente, a assombrosa China entrou em não menos assombroso colapso. Os estampidos de manadas na bolsa multiplicam-se; pelos quatro cantos do planeta, os conquistadores de ontem amanhecem saldosos e liquidatários.
Uma coisa que sabemos de ciência segura nos tais "mercados" é que são tudo menos livres e espontâneos. E coisa mais simples do que desencadear o pânico e a balbúrdia entre a parvoíce convulsiva e atávica dos investidores (em especial nos de arribação) não deve haver. Simples e rotineira, diga-se.
Há quem teime, por estupidez idólatra, em fazer do capitalismo uma ideologia, ou, por estupidez fóbica, um sistema. De seu real e concreto nada tem disso. Bem pelo contrário. E aí reside, em boa parte, a sua força. E o que se tem verificado, tretas e propagandas à parte, é que anda pelo mundo não exactamente a criar paraísos, mas bolhas.
A fantasia dura até que a bolha rebenta.
9 comentários:
A China fez o mesmo que se fez em Portugal e Espanha, e que os ingleses ou alemães nunca fizeram. Os chineses construíram cidades fantasma e agora têm a sua bolha imobiliária para estoirar.
Mas se quiser ver a nossa bolha, vá ao Google Earth e veja tudo o que foi contruído nos últimos 20 anos nos arredores de Vila Real de Santo António, Praia Verde, Altura, Manta Rota, Cacela, Conceição de Tavira, Cabanas de Tavira, Vale Caranguejo, Tavira, Santa Luzia, Olhão, Montenegro, Faro, Almancil, Loulé, Quarteira, Albufeira, Olhos de Água, Salgados, Portimão, Lagoa, Caroveiro, Alvor, Lagos, Praia da Rocha, entre outros locais do Algarve. Sabe quem são os proprietários da larga maioria daqueles apartamentos e moradias? São portugueses. Classe média que se endividou como nunca para terem segunda habitação. Da qual usufruem, veja-se, apenas 15 dias por ano, na primeira quinzena de Agosto. Digo mais: excluindo os emigrantes, a larga maioria dos tuguinhas com segunda habitação são ou foram funcionários públicos.
Depois, quando se explora a temática, encontram-se pormenores interessantes. Ao lado da lagoa dos Salgados, área de enorme valor ambiental, fez-se uma urbanização que está falida. Mas pelos visto o grupo Galilei, ex-SLN do BPN, liderada ao que parece pelo Grão-Mestre do GOL, quer fazer uma urbanização de luxo em cima da área protegida, ao lado da outra que está falida.
E como peguei nas urbanizações falidas, é segredo nacional que não faltam mega-empreendimentos de luxo falidos no Algarve e na costa alentejana, onde está enterrado o dinheiro da banca portuguesa, e pior ainda, deram o seu largo contributo para a nossa divida externa.
Portanto os portugueses pediram ao estrangeiro não para se industrializarem, modernizarem portos e herdades agrícolas, desenvolver um turismo sustentável e que não agredisse a paisagem e o património arquitectónico ou ambiental. Os portugueses endividaram-se ao estrangeiro para terem salários na função pública que a economia não pode pagar, reformas na FP que a economia não pode pagar, casinhas de férias no Algarve, casa própria nos subúrbios de uma qualquer cidade, carro de luxo, e para pagar a péssima e criminosa gestão das grandes empresas e da Banca.
Os espanhóis seguiram caminho idêntico, mas o problema urbano em Espanha não tem a dimensão do problema português. Se algum dia passar pelo Ponte Internacional do Guadiana, verá do lado espanhol, a Norte da ponte, uma cidade turística fantasma, feita para 30 mil almas, e que nunca foi terminada. Consta que foi a maior falência de sempre em Espanha. E do lado português, também a Norte da ponte, um PIN inacabado e falido, com o seu campo de golfe e a suas moradias por rebocar...
Mas sabe caro Dragão,
aqui em Inglaterra nunca vi cidades fantasma, desordenamento urbanístico, povoações de segunda habitação, edifícios abandonados, fábricas abandonadas. E por uma razão. O Ordenamento aqui, ao que parece, é centralizado. É o Estado que urbaniza. E era isto que sucedia em Portugal com Salazar. Quem começou a bandalheira? Marcelo Caetano. É nos anos 70 que começam os maiores crimes urbanos do país. A construção maciça nas ilhas barreira da Ria Forma, as torres em cima das dunas, as moradias nas falésias, os prédios semeados ao longo das estradas nacionais, as moradias espalhadas pela paisagem...
Consta que Marcelo arrependeu-se mas não foi a tempo de corrigir o erro. Fala-se que temos uma péssima Justiça, uma Educação medíocre, uma Administração Pública corrupta. Mas esquecemos aquele que é talvez o maior problema estrutural, por ser de difícil correcção nesta fase: o Ordenamento do Território.
Através da urbanização de terrenos, enriqueceram subitamente milhares de políticos, proprietários, intermediários, funcionários de autarquias. A Banca recebia os juros, o Estado garantia o funcionalismo consumidor de habitação.
Não há países tão desordenado na Europa, visto do ar, como Portugal. E tamanho desordenamento implica mais importações de carros e combustível, gastos desnecessários em esgotos, recolha de lixo, água canalizada, asfalto, iluminação pública. Mais tempo desperdiçado em deslocações entre habitação e local de estudo ou trabalho. Dificuldades acrescidas na implementação de uma boa rede de transportes públicos. Maior necessidade de obras públicas como estradas, rotundas, caminhos...
E ninguém fala disto.
Veja só, até no Alqueva já queriam os apartamentos, a vivenda em banda, o golfe. A CGD emprestaria o dinheiro.
Mais cedo ou mais tarde precisaremos de uma solução autoritária que ponha termo a este problema.
Metade do país precisa de ser demolido.
Eu até ia falar da NOSSA (e é bom que ninguém ouse excluir-se) ganância, mas este senhor explica-a melhor.
http://oinsurgente.org/2015/08/26/a-ganancia-tambem-e-de-esquerda/
Nós démos na bolha, os espanhóis deram na bolha e os primeiros a darem forte na bolha até parece que foram os americanos (mas esses são imunes à moléstia; usam dinheiro do monopólio einjectam o papel higiénico que lhes apetece que, ainda por cima vendem ao mundo inteiro). Isso está implícito no postal (não andámos a brincar aos "mercados"?- não, agora desculpam.se e limpam-se aos socialismos da tanga e à constituição castradora)...
O que não vale é os mesmos que quando a China está em alta acham que é o parafigma das virtudes, depois, quando acontece o óbvio e a bolgha estoira, conclamam que é igual a Portugal. De repente, até se lembram que a China é comunista (e tratam de culpar o comunismo, ou so socialismo ou o keynes que os parta!...)
Isto é só rir.
Zephyrus, isso explica em boa parte a bolha imobiliária. Mas há outras...
Ljubjana,
"é bom que ninguém se exclua?" Ora essa, excluo-me já a mim. Nunca andei a dar na bolha. Nem acredito nisso, como é público e notório. fartei-me de avisar e alertar quando a euforia ia em alta. Chamaram-me velho do restelo e coisas piores. Mas há para aí muitos acólitos e beatos dessa superstição. Então entre os "centrões" - Do Bloco de Esquerda ao Partido do Portas...
«Parece que, como sucede de vez em quando, alguém decidiu esvaziar um pouco a bolha financeira em que vive de forma perene a nossa sociedade. Não esvazia-la por completo, isso é impossível: apenas um pouco. O suficiente, por assim dizer.
É como encher uma banheira com água: enche hoje, enche amanhã, a banheira fica cheia. E se a água chegar ao limite da banheira, logo começa a cair para o chão, passa da casa de banho para a sala, depois para a cozinha, entra na varanda, cai na rua e as gaivotas perguntam "Mas o que é esta água toda? Pio pio!".
Para evitar que as gaivotas façam perguntas estúpidas (e pio pio também), de vez em quando alguém tem que remover a tampa na parte inferior da banheira e fazer fluir a água de modo que seja possível começar de novo a encher.»
Zephyrus
Vai-me desculpar, mas eu duvido sinceramente que você alguma vez tenha posto os pés na Inglaterra...
Chamar banheira a um penico xxl parece-me um claro transbordar de optimismo.
E entre as gaivotas e os patos bravos, venha o diabo e escolha.
http://www.buzzfeed.com/javiermoreno/um-artista-criou-ilustraeoes-deslumbrantes-sobre-a#.tt12Mkv3P
espectaculares , os desenhos sobre o apocapitalipsismo..
Espectaculares e fidedignos, sem dúvida, ó divina marina.
Merecm publicidade.
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