quarta-feira, agosto 10, 2011

É o paradigma, estúpido!












Toda esta anarquia tumultuária que irrompeu subitamente lá pela ilha dos Doidos, além de não me comover grande coisa, não me espantou minimamente. Parece-me até uma pura consequência lógica dum fenómeno muito simples (e dispenso já vossências de todas essas antropologias e sociologias mais ou menos sonsas, velhacas ou meramente imbecis - que vão desde o coitadinhismo da praxe até ao armagedorrão da civilizacinha ). A verdade parece-me bam mais prosaica e resume-se ao seguinte: houve uma mudança de paradigma. Cá está, vêem?, a palavra mágica: paradigma. Em caso de dúvida não há que enganar: a culpa é sempre do paradigma ( esse primo pato-bravo do arquétipo). O paradigma anterior consistia em o Estado, com aquela magnanimidade pilhantrópica que o caracteriza, espoliar, pilhar e pelas formas mais incríveis extorquir as pessoas comuns (os otários que trabalham por príncipio ou mera ocupação quotidiana) para distribuir à escumalha supra e infra. Agora, no novo paradigma, o Estado aumentou cinicamente o espólio, mas só trata da distribuição pela camada supra - a camada infra que se desenrasque. Ou seja, que vá cobrar directamente às pessoas. Ora, foi isso que eles fizeram e que a ternura conivente das autoridades, às escâncaras, tanto quanto atestar, abençoou. Não se trata apenas de mera incompetência ostensiva ou pusilanimidade entranhada: é premeditação mesmo. Não há outra explicação possível. Para o Estado, reparem bem, é uma triplo-win situation, se assim me posso exprimir (posso? Não se importam?...} Por um lado descomprime as tensões sempre nefastas e imprevisíveis na escumalha infra; por outro, desvia de si e da escumalha supra sua mentora (leiam: mentecaptora) o protesto sempre indesejável e maçador dos infras e demais lumpanagem mais ou menos ocasional; finalmente, e como corolário mavioso de ambas as alíneas anteriores, lança as pessoas comuns numa mistificação ainda maior e mais proveitosa, convencendo-as da necessidade de mais investimento em maior protecção e segurança, ou melhor dizendo e traduzindo, da implementação dos poderes e prerrogativas do Estado para espoliar, controlar e manipular a seu bel-prazer as pessoas comuns.
Estas, entretanto, a duras penas e por constrangimento das próprias emergências, lá vão aprendendo qualquer coisa. Em Inglaterra já aprenderam um quesito básico: que têm que ser elas a unir-se, armar-se e organizar-se para se defenderem da escumalha infra. Darão um passo de gigante para o futuro da civilização e da humanidade, quando perceberem que é exactamente isso que têm que fazer para se defenderem do Estado e da escumalha supra que por lá, cronicamente, se recreia e refastela.








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