sexta-feira, dezembro 30, 2022

Dois mil e vinte e três

Perdão pelo hiato, mas cortaram-me o ciberpio. Após demandas protestativas, lá voltou a net, embora tremelicando. Aproveitando enquanto dura, quero desejar um péssimo 2023 a todos os FDPs deste mundo, que são múltiplos, imensos, imarcescíveis e mais que as mães. Com especial destaque, entre esses, para o Biden, o boneco Zelicoso dele, a Ursula Von der Louca e a paneleiragem anexa da UESSR, a choldra LGHTBQE-A-PQP, os toino-ambientalistas ML, S&M e envazelinados mentais em geral, o desgoverno do Costa (mai-la respectiva desoposição mascarada), o Canibal Soros e quejandos da globo-pandilha, os neo-malthusianistas em geral e por aí fora.


Em contrapartida, e pela lei cósmica das compensações por obra e graça da Nemesis soberana, fica a certeza dum excelente ano para mim, C.A. Dragão, a Marina, o Miguel D, o Muja, o Vivendi, a Fernanda Viegas, o Figueiredo, o Bic Laranja, o Carlos Conde, o Iletrado, o Alma Portuguesa, o Passante,  o JSP, os anónimos de boa vontade, os Monthy Pyton sobreviventes, os dois Beatles que ainda restam, o Billy Gibons, o Ildefonso Caguinchas, a Svetlana e as primas do Donbass, e todos aqueles que ainda acreditam que a pocilga não é o melhor dos regimes. Seremos poucos, mas somos bons. Muito menos, mas muito  melhores que eles, os muitos, piores que maus: péssimos!... Quer os genuínos, quer os de imitação.

Viva a Vida!

PS: E porque o Dragoscópio também sempre foi algo a raiar o Cosmic Rock'n'roll:




terça-feira, dezembro 27, 2022

Prémio por antecipação

 



A criatura em epigrafe foi convocada para o Tesouro. Não poderia ter começado melhor, abichando, logo à cabeça, 500.000 dele. Pura ética republicana, sem sombra de dúvida (já para não falar na refinada moral socialista ou na pulcra deontologia dumocrática), como o otário que paga - a peso de supra-sumidades - estes estafermos já deveria  estar cansado de saber. Porém e dado que, aqui e alhures, a estupidez, além de infinita, é inesgotável, lá vão, chorando e rindo (que é por causa da firme e convicta demarcação à ditadura).

Quanto ao título de indemnização não passa dum eufemismo (ou eufeminismo, quem sabe, nos funambulismos da hora a ferver que para aí zunem). Na realidade, foi a lotaria do Natal - por interposta entidade e isenção de bilhete a concurso.

E não, não senhor, não é um escândalo: é bem feito!

segunda-feira, dezembro 26, 2022

Merry Anti-russian Christmas

 



Um merry christmas também para os russofóbicos implantados, segundo o objecto principal da anglo-histeria do momento (anglo-histeria, essa, infelizmente, extremamente contagiosa à acefalofrenia europosta actual).

sábado, dezembro 24, 2022

Feliz Natal!







     Um Feliz Natal para todos! 




sexta-feira, dezembro 23, 2022

Recapitulando

 Um extenso mas educativo vídeo sobre o Circo da Ucrânia. Agora que chegamos ao fim do ano, uma excelente recapitulação dos acontecimentos. E em língua francesa, para acesso a pessoas um pouco mais civilizadas do que a globo-clientela da glosso-hamburgueria actual. Com especial dedicatória a um contertúlio meu, pouco chegado a inglesices.




quinta-feira, dezembro 22, 2022

Por detrás da folhagem




 Ainda a propósito do timão... Num dos primeiros textos fundadores da civilização que ora se extingue, Hesíodo, nos "Trabalhos e os Dias", de entre os seus preceitos para lavrar a terra, determina:

«De loureiro ou ulmeiro deve ser construído o timão do arado, para que não o corroam os vermes» (...)

Ao reler isto com mais atenção,  não deixei de me surpreender com as qualidades do loureiro. Do ulmeiro já sabia: tradicionalmente,  com a sua madeira deveras tenaz e duradoura, faziam-se as quilhas dos barcos (ou as tábuas dos açougueiros). Ora, do loureiro, são geralmente conhecidos o uso culinário das suas folhas, bem como a simbologia da coroa elaborada com as mesmas - sinal de glória e triunfo nos jogos olímpicos, ou, posteriormente, nos mais diversos certames e concursos. Afinal, não é por acaso que o loureiro é a árvore de Apolo (o grande juiz de atletas, poetas e seus derivados). A própria palavra laurear carrega esse significado original. Pois, registo doravante que também a sua madeira aufere de qualidades nobres, senão mesmo formidáveis. Resistir à corrupção é seguramente uma delas. Teríamos muito a aprender com os loureiros e os ulmeiros (que resistem a séculos de submersão e lutas com as tempestades; ou com os facalhões e cutelos dos magarefes). Entenderíamos que, às vezes, a maior nobreza e  valentia vem de par com a humildade e a perseverança. Claro, isto se tivéssemos a humildade de estudar, tanto nos livros como na natureza; enfim, se tivéssemos a modéstia  de prestar atenção ao que realmente importa, e não apenas, e em exclusivo, a fumos e alaridos com que nos entretêm e nos distraem do essencial.

Não obstante, eu, que tinha o loureiro na conta duma árvore de certo modo frívola e vaidosa, vejo-me na contingência de ter que afinar a opinião. Ainda mais porque tenho um espécime desses aqui na propriedade. Dum vigor e duma vitalidade que pede meças a eucaliptos e acácias (esses invasores dos antípodas). Já por várias vezes o cortei. E ele torna a irromper, com a frondosidade redobrada. Acho que anda há anos a tentar explicar-me qualquer coisa. Hoje, finalmente, suspeito que o entendi.

terça-feira, dezembro 20, 2022

Sem rumo e sem aprumo




 Eu prevarico, tu prevaricas, ele prevarica; nós prevaricamos, vós prevaricais, eles prevaricam.

É, meus amigos, o presente do indicativo do verbo prevaricar. Que, na realidade, não existe na sua plenitude. Quer dizer, na sua conjugação actual é: eu não prevarico, tu não prevaricas, nós não prevaricamos. Só quem prevarica é ele, ou eles. E o pretérito perfeito é a mesma coisa. E então do Futuro é melhor nem falar. Temos assim um verbo coartado e amputado de grande parte da sua dinâmica e faculdade. E lá voltamos nós àquilo que ainda há bem pouco escalpelizei: o acesso universal à corrupção.

Quem tem acesso ao verbo prevaricar? Apenas alguns: uma pseudo elite (na verdade, uma escumalha mascarada de elite, que oscila entre o PS (sem D) e o PS (com D)). E isso quanto a mim é uma injustiça desarvorada e não me hei-de calar. Se no princípio era o verbo, já diz o estimado apóstolo, então é porque o verbo é algo de importante. Que o verbo sirva apenas a alguns é o contrário da lógica de Deus, só para citar um dos suportes da civilização.  E, ainda por cima, Aquele que aufere de direitos de Autor na matéria. Pois, mas agora, no meio do sarrabulho, já não é o verbo: é apenas uma fracção da verbosidade inflamada; e só para uma seita bicéfala de parasitas abivacados ao erário público que dela aufere e a ela tem acesso.

Dou-me até ao trabalho de etimologar e eruditar sobre o assunto. É sabido que no latim tem vários significados congéneres - entre conivência do juiz, traição dos interesses do cliente pelo advogado, incumprimento dos deveres, mas, no fundo, tudo radicando num originário "desviar-se da rectidão, ao lavrar". Porque, bem vistas as coisas "lavrar" ainda hoje se diz tanto de lavrar a terra, como de lavrar autos, ou actas, ou, enfim, palavras. Já referia Plínio (salvo erro, o Jovem), que prevaricava o agricultor que não se inclinava, em pressão, sobre o timão do arado. Com isso queria ele significar que fazia os sulcos tortos. Lavrava, digamos assim, com leviandade e ligeireza. Prevaricar, pressupõe, portanto, uma má acção, no mínimo negligente, preguiçosa; ou, no pior dos casos, vil e corrupta. Prevaricar é "lavrar mal". Todavia, haverá, ainda assim, quem, "bem prevarique" - entenda-se, quem prevarique  em segredo e impunemente? Julgo que sim, e reforça-mo o povo: bem prevarica... quem não é apanhado. Ara, lavra, enfim, escreve tortuosa e retorcidamente, mas fá-lo com tinta invisível... indetectável. O que nos transporta, de supetão, para duas classes de prevaricadores: os que não devem e os que podem. Os que não devem, alguns são apanhados. Os que podem, prevaricam como lhes apetece e a impunidade autoriza, mas, por definição e paradoxo ortodoxo, nunca prevaricam. Donde retiramos outra bela ilacção: quem prevarica sempre nunca prevarica, pelo que nunca pode ser apanhado; quem prevarica às vezes, pode ser incriminado (muitas vezes de acordo com a conveniência daqueles que sempre prevaricam, nunca prevaricando). Estou a ser claro? Como água das fontes ou dos regatos infestados de trutas.

E nós, aqueles que nem ocasionalmente nem permanentemente podemos prevaricar... Qual é o papel que nos resta?

A grosso da manada rói-se de inveja dos que nunca prevaricam que se veja, mas, na realidade, prevaricam à força toda. Imaginam esquemas, ardis e expedientes de modo a emulá-los de alguma forma, feição ou maneira. O menos original dos quais consiste em despejar a prole nas universidades de modo a ver se, por osmose delirante, ela adquire o jeito, alvará ou salvo-conduto.  Mas a coisa, de sabido e comprovado, não é fácil; e em tudo equipara à chusma de espermatozoides ao assalto do óvulo. Outros, podem servir de  testemunhas, escrivães ou até cata-pentelhices (porém, como arguido, nem em sonhos. Ao pé disto, as castas indianas são um festival de Woodstock). E como juiz, ainda menos. Se tanto, como júri avulso, informal e sociocastrado. Ou, vá lá, turba assistente num linchamento mediático. Portanto, tudo somado, aferroa-se-nos a sensação excruciante de que vivemos um regime criptofacínora que faz parecer a pior fase do feudalismo francês uma utopia da Disney. Liberdade, Igualdade, Fraternidade?  Sim, sim... Quando toca a prevaricar, a liberdade é só para alguns, que a açambarcam toda! A igualdade, era o viste-a! Sim, passou aqui, mas ia a correr para servir de capacho, babete e palito ao mesmos da liberdade. E finalmente, quanto à Fraternidade, o último que a mencionou a sério, penduraram-no numa cruz. Depois de o cobrirem de escarros, chicotadas e espinhos. Para lá continua, ao fim destes anos todos. Mas eu teimo em celebrar-lhe o aniversário, todos os anos, por esta altura. Com presépio e tudo. Acho que é a criança que resiste e persiste em mim. A eterna esperança que nunca morre nem me deixa morrer.


PS: Reparem bem que o timão (ou temão), a peça leme com pega de madeira, foi do arado antes de ser do navio. É essa a fundação e hierarquia da palavra. Por outro lado, e em sentido figurado, por analogia, o timoneiro é também o piloto de um povo. O governo devia, em tese, apegar-se com firmeza  ao leme da nação. O problema é quem nem há governo, nem leme, nem nação: o governo abdicou de governar, a nação abdicou de ser nação, o leme voga ao abandono, uma vez que o timão gira ao sabor das luas, correntes e marés. Donde é fácil extrair a seguinte conclusão: falta-nos, enquanto projecto colectivo, um timoneiro, alguém que lavre a direito (ao contrário do pseudo-estado de direito, que nasceu torto e jamais se endireita). Alguém alfabetizado em civilização, ou seja, alguém que saiba ler e escrever na terra. Com letra aprumada e não gatafunhos pueris.  Aramos e navegamos, e palramos sobretudo, hoje, sem rumo. De cabeça no ar e o vento dentro dela, quando não a ventosidade estrepitosa. Vagamos, como o barquito do judeu na barca do Inferno (do grande Gil), à toa, ou seja, rebocados a cordel  por uma europa decrépita em corrida vertiginosa ao abismo.

Sem rumo e sem aprumo. 

 

segunda-feira, dezembro 19, 2022

18, mal contados




Tenho andado metido num tal ciclone de afazeres que até me escapou, vejam lá bem...  Ontem, esta espelunca perfez a bela idade de dezoito anos. Atingiu, por conseguinte, a maioridade e já pode votar. Deve ser por isso que não houve festejo. Ele há esquecimentos que vêm por bem.

Queria ter celebrado... convocada o Ildefonso e a malta da tasca para uma celebração condigna!... Queria, de facto. Queria tanta coisa, uma montanha de projectos. Como quando eu próprio fiz dezoito anos, há muito tempo. Perdidos os projectos, desvanecidas as nuvens de sonhos, fiquei-me com a montanha. E ela comigo. Partilhamos o mesmo cume branco.


domingo, dezembro 18, 2022

Desperegrinação rinotrópica

 

«Jews are leaving Israel in disillusion. They've been leaving for a long time».


Francamente, já não percebo nada disto... Então a ideia não era que migrassem todos para  Israel, a Terra Santa, a única democracia com apartheid e por aí fora? Estão-se a pôr na alheta a propósito de quê? Mas, afinal, é o Supra-povo ou um ió-ió migracoiso? Mas andam ao sabor da virtude ou da lua, como as marés?

Isto até chega a indignar-me. Como é que alguém pode, assim, por mero capricho ambulatório, desdenhar e abandonar o Paraíso (ou, pelo menos, a sua sucursal principal)?...

Mas é tudo fátuo e volátil neste sacana deste mundo?!...

PS: Na volta, o Muja é que tem razão: aquilo do nomadismo cigano está-lhes mesmo no sangue e transporta-os ao babelismo crónico e recorrente.


Pronto. resignemo-nos. Lá vão eles... Banda sonora para a viagem desperegrinante:


E para os mais nostálgicos, ou meramente desiludidos:



sexta-feira, dezembro 16, 2022

De (re)partir a coca





 

 «Segundo The Guardian, foram detados vestígios de cocaína na mansão de Chevening quando Liz Truss tutelava os Negócios Estrangeiros.»

(...)

«O jornal adianta ainda, citando outra fonte, que também havia vestígios de cocaína em Downing Street no tempo em que Boris Johnson ocupava o cargo. »


Percebem-se agora, ainda melhor, as peregrinações frequentes, e tantas vezes súbitas, destes cromos  à Ucrânia. Destes e da restante pandilha global. Além da firme partilha dos valores oxidentais, também o dos stocks generosos de pó branco (passe a redundância). A coberto do suposto apoio, o efectivo abastecimento. 





quinta-feira, dezembro 15, 2022

Happiness is a warm gun


«Se estamos a lutar pela Europa, porque não nos fornecem armas?”, questiona vencedora do Nobel da Paz»

Por amor de Deus, dêem-lhe uma arma e mandem-na para a frente de combate, para ver se ela se acalma!... Ou então cubram-na, que diabo... cubram-na, enquanto ela avança heroicamente, ao assalto!...
Bakhmut, filha, é onde está a bombar! Altamente psicadélico e droguinha da boa. Toda a febra é pouca.

A luta continua!  Zelensko para a lua! O polvo unido jamais será vencido!... 






quarta-feira, dezembro 14, 2022

Chutzpah imarcescível

 Segundo o Dr. Ari Qualquer coisa, "harvard graduate, epidemiologist, e um "proud jewish" (quando virem algum humble jewish avisem-me, quero celebrar):

«Sam Bankman-Fried was arrested in the Bahamas. The young entrepreneur is suffering the wrath brought on by Ye’s antisemitism. We have seen a increase in violence towards Jews in recent years since Trump's election. Now, this modern-day lynching is taking place towards SBF».

Chama-se a isto uma idiossincrasia específica da tribo (daquela - grande - parte especialmente ranhosa da mesma): Chutzpah. Em português, qualquer coisa como "descaramento ufano". Entre nós, os ciganos praticam algo semelhante. Não sei é como lhe chamam. Mas hei-de investigar.

American Pet(a) do Ano

 


E um hino vivo e memorável à estupidez das massas (oxidentais).

terça-feira, dezembro 13, 2022

Clássicos da geoestratreta




"After the victory over communism, we need a split of Orthodoxy and the collapse of Russia, and Ukraine will help us in this, where betrayal is the norm of public morality."
- Zbigniew Brzezinsk, in “The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives”
 
Suponho que os russos também leram o livro. Espero que tenham tomado notas. Os doidos varridos não segregam apenas estas fantasias solenes: acreditam furiosamente nelas e adoptam-nas, de enfiada, como evangelho de cabeceira. E o problema não é tirar-lhes estas manias da cabeça (debalde se tentaria); o problema a sério é tirá-los do cockpit.

The Three Categories of Brainwashing

 Há qualquer coisa em George Carlin que, não sei bem porquê, me lembra os Sopranos. Isto é um grande elogio a um grande humorista e a uma grande série. Mas ele, de facto, parece ter saído directo do submundo da mafia para metralhar uma plateia. Com humor sério, vertebrado, negro,  não coninhas. Nos exactos antípodas dos lambe-cricas de serviço à tele-galhofa cá da paróquia. RAPs, Markls e outros caniches de colo mediático.  Não fazem humor: fazem amor com a perna do telespectador incauto. Acariciam-no e aliviam-se nele. Em simultâneo.


Pensando bem, há também em Carlin qualquer coisa dum Mencken oral. 


«When you're born you get a ticket to the freak show. When you're born in America, you get a front row seat.»

   - George Carlin

Ursula Job

 

«Von der Leyen diz que caso de corrupção é muito grave e defende órgão de ética»


Esta babilonária emproada, armada em vestal amnésica, a cagassentenciar* sobre corrupção é o mesmo que a matrona do bordel a armar escândalo com uma das aprendizes menos desembaraçadas. Ou traduzindo noutra imagem mais conceptual e menos gráfica: quando a putrefacção moral snoba a corrupção política. No fundo, mais uma prova acabada de como o tão cantado e lambuzado "projecto europeu" não ultrapassa a mera burrocracia de mamíferos, comissáurios e consciências de aluguer.
Quanto ao "órgão de ética", perdoem-me a brutalidade, mas, sem a menor dúvida, retirou-o momentaneamente do rabo, para o soprar com a beiça. Breve intervalo para a cornetice, enfim. Ursula Job, poderíamos até inventariar, como a nova variedade de "requinte de geovolúpia" (glosando um antigo dicionário), que consiste na chuchadela alternada ao Império de Serviço e à Cleptogogia de Conveniência. 

* - Sim, acabo de inventar. Mas soa-me bem e descreve ainda melhor. 

segunda-feira, dezembro 12, 2022

Sinfonia da Sensatez (em Três Andamentos)



Assistam. Vão por mim. Se no fim acharem que foi tempo perdido podem injuriar-me à vontade. 


1º Andamento:



 

                                                                       2º Andamento



                                                                   3º Andamento: 



domingo, dezembro 11, 2022

Prioridades democráticas




 Num país onde se instaurou um regime de morte politicamente assistida, faz imenso sentido chegarmos àquele ponto grotesco em que uma das grandes prioridades dos assistentes seja a morte medicamente assistida. 

A malta, no fundo, tem o que merece... Até porque, bem medido, acaba tudo a descansar em paz. Só que até lá chegar, e em ritmo frenético, é cada vez mais aquela máxima chunga do antigamente: Na peida é um descanso. Começaram por ser vítimas, mas agora já são aficionados.

A seguir, presumo, vamos ter um qualquer sobressalto altamente moral e liberdadeiro, onde se legislará, com carácter de urgência e desígnio civilizacional, a mudança de sexo das criancinhas abaixo da idade eleitoral. Ou a calibragem de ambas pelos 10 anos de idade, perdoem-me o delírio optimista.

Isso, se antes não estabelecerem a obrigatoriedade cívica do aborto com base no IRS. O bombardeamento mediático já terraplena consciências e tece carpetes, passadeiras vip e cooperativas de imbecilidade colectiva. O sucesso musical do momento é "Portugal, paz à tua alma!"


sábado, dezembro 10, 2022

A Paz, pois claro.

 


«Nobel da paz ucraniana defende que caminho para a paz não passa por baixar armas»


Convenhamos, a criatura transborda de razão. É evidente que baixar as armas não conduz à paz. Sobretudo neste mundo, onde a paz, como não nos cansamos de verificar, constitui estado muito efémero e precário. O ideal mesmo é baixar à terra, ou seja, à sepultura. Uma vez aí, sim, podemos dizer, é uma verdadeira paz. Uma paz eterna.


Os ucranicoisos, liderados pelos Kievitas furiosos, abençoados por estas vozinhas esganiçadas e ávidas de sangue, telecomandados pelos anglossauros beneméritos, estão, decididamente, no bom caminho. Que descansem todos. Em paz. 




sexta-feira, dezembro 09, 2022

Sub-Rogações e intérpretes

 «As funções duplas do padre, o qual é simultaneamente "inspector das coisas vagas" e médico das almas, foram distribuídas no mundo moderno sem padres e são exercidas não por uma classe de homens mas por muitas. Na sua qualidade de administrador de sacramentos e intérprete do mistério circundante, o padre é representado agora, bastante inadequadamente, pelo artista. A extraordinária e bastante desproporcionada importância atribuída pelo mundo contemporâneo aos artistas como tais, sem olhar ao seu mérito, é devida ao facto de o artista ser o evocador daqueles estados emocionais que são o divino. É verdade que o deus que evoca é muitas vezes um deus de paupérrima qualidade. Considere-se, por exemplo, a deidade implícita na novela de maior venda ou a balada popular. Contudo, para aqueles que são constituídos de maneira que sejam capazes de gostar dessa espécie de deus, essa é a espécie de deus de que eles irão gostar. Há uma hierarquia tanto entre os deuses como entre os homens. Aqueles cujo lugar na hierarquia humana é inferior, adoram deuses cujo lugar na hierarquia corresponde à deles. Os padres-artistas que evocam deuses inferiores para adoradores inferiores são eles próprios inferiores. Todavia, seja qual for a qualidade do deus evocado, o acto do artista é sempre sacramental. Ele produz genuinamente um deus de qualquer espécie. Daí a sua importância no mundo moderno. O seu nome está escrito em letra grande nas páginas do Who's Who; os anfitriãos condidam-no para jantar; os escritores tagarelas relatam os seus feitos na imprensa; correspondentes desconhecidos escrevem-lhe acerca das suas almas e pedem-lhe um exemplar da sua fotografia; as raparigas estão dispostas de antemão a apaixonarem-se por ele. Para o artista que goza desta espécie de celebridade, o mundo moderno deve ser um verdadeiro paraíso.

O padre é um confessor, assim como um intérprete de mistérios. O artista pode encontrar meio de desempenhar as suas funções sacramentais, mas falta-lhe a espécie de treino e saber que torna um homem apto a ser um director de consciência. Foi ao advogado e ao médico que o padre legou esta parte dos seus deveres. O médico, e principalmente o especialista dos nervos, ocupa uma posição extraordinária no nosso mundo. O seu prestígio foi sempre elevado, mesmo durante aqueles períodos em que as doenças do espírito eram tidas como estando fora da sua jurisdição. Agora que o exorcista está extinto e o confessor é uma raridade, agora que a psicoterapia se proclama ela mesmo uma ciência e uma arte regular, o prestígio do médico duplicou. A sua posição no mundo moderno é quase a do curandeiro entre os primitivos.

Com o declínio do poder sacerdotal a importância do advogado também aumentou. O advogado da família assume responsabilidade vicarial pelos actos dos seus clientes. Ele é o recipiente dos seus segredos mais íntimos; ele dá-lhes não simplesmente conselho legal mas até moral. Os sacerdotes podem desaparecer; mas o número de pessoas que não gostam de responder pelas suas próprias acções, que se esquivam a tomar decisões e desejam ser conduzidos, não diminui. O director de consciência surgiu como resposta a uma genuína necessidade humana. O médico e o advogado preenchem entre eles o seu lugar vago.»

          - Aldous Huxley, "Sobre a Democracia e outros estudos" 


Realmente, o sr. Huxley, de parvo e mentecapto não tinha nada. É um facto que a nossa época, mais ainda do que qualquer outra, assiste a um proliferar de sucedâneos e imitações de padre. Corrijo, não apenas de padre, mas também de reverendo evangélico e pastor de seita. E, sobretudo, de padrecas. O padreca é uma mistura, assaz espaventosa, de sacristão e beato assanhado. Os novos padrecas? Acima de todos, o jornalista (que já não é apenas o "escritor tagarela", como retrata Huxley; ascendeu a cónego-alcoviteiro, de guarda ao templo-bordel e ao altar da ortodoxia da treta). E que dizer do ambientalista? É a testemunha de Jeová postiça e reciclada. Todavia, sendo tudo isto muito justo, óbvio e interessante, há um mistério que, sobretodos, me intriga. Se abunda, em regime de autêntica praga bíblica, toda uma chusma de faz-de-padres, já os ex-padres, quer dizer, os padres genuínos, em vias de extinção, ou sejam,  os padres da Igreja... fazem de quê? Pode parecer uma interrogação malévola. Mas não é. Não pratico, mas respeito. A religião, entenda-se.  E a prova de que a minha pergunta faz todo o sentido reside no actual Padre-em-chefe. O Papa F., pois. Faz de quê?... Alguém me consegue explicar?



 

quinta-feira, dezembro 08, 2022

A ponta do iceberg

 

O estado geral do palramentarismo europoide. Uma breve e sucinta radiografia. 



 Como eu não me canso de escrever, a democracia, tanto quanto um flagrante embuste, constitui não uma forma de governo, mas de auto-destruição. A começar por ela própria. Negócio e negação, sendo os seus principais eixos dinâmicos, são igualmente parentes chegados e cúmplices. Na cegada.

terça-feira, dezembro 06, 2022

Mictofísica a jacto

 «Os modernos apóstolos do comércio estão a tentar persuadir as pessoas a aceitar o negócio como um substituto da religião. Fazer dinheiro, asseveram eles, é um acto espiritual; a eficiência e a honestidade vulgar são um serviço à humanidade. O negócio em geral é o deus Supremo, a Firma individual é a deidade subsidiária a quem as devoções são directamentte pagas. Para os ambiciosos, para os clamorosamente prósperos e para aqueles demasiadamente envolvidos numa vida esforçada para poderem realizar qualquer pensar esforçado, a adoração do negócio talvez possa preencher a falta de religião genuína. Mas a sua inadequação é profunda e radical. Ela não oferece nenhuma explicação coerente de qualquer universo fora daquele cujo centro é a bolsa de valores; nos momentos de aflição, ela não pode consolar; não compensa nenhumas misérias; os seus ideais são realizáveis demasiado depressa - abrem a porta ao cinismo e à indiferença. As suas virtudes são praticadas tão facilmente que, literalmente, qualquer ser humano que acredite na religião do negócio pode imaginar-se a si próprio um homem verdadeiramente bom. Daí a tremenda auto-satisfação e farisaísmo consciente tão característicos dos devotos do negócio. É uma religião justificatória para os ricos, e para os que se tornam ricos. E mesmo para eles só dá resultado quando os tempos são bons e estão livres de infelicidade pessoal. Ao primeiro sinal de uma tragédia ela perde toda a eficácia; o mais simples colapso é suficiente para a fazer evaporar. Os pregadores deste substituto comercial da religião são numerosos, barulhentos e pretensiosos.»

          - Aldous Huxley, "Sobre a Democracia e outros textos" 

Mais uma vez, é caso para dizer: nem imaginava ele a que extremos haveria de chegar esta banha-da-cobra metida a hóstia!... Esta espécie de "metafísica instantânea e efervescente", por inalação e arroto, a que poderíamos, talvez, taxar de Cripofísica. Ou Mictofísica. A jacto.

sábado, dezembro 03, 2022

Cocó, Ranheta e Facada




 Desde pequeno que ouvi falar nos "Três da vida airada: Cocó, Ranheta e Facada". Isto dos Três, como todos sabemos, há séculos, é um número que tem muito que se lhe diga. Em múltiplos sentidos, para cima e para baixo, da teologia à sexologia, enfim, é toda uma variedade. Mesmo os três mosqueteiros... na verdade eram quatro, mas ficaram na lenda como "os três". Portanto, e resumindo, o 3 é um número com muita força. E não só na vida airada, mas também no mundo cão que nos cerca (sitia e confina), dir-se-ia que lá anda ele a impor a sua influência. Deve ser por isso que os dois excepcionais da História agora viraram três. Desde Fevereiro deste ano, mais precisamente. Já havia "o todo o imperialismo é mau, excepto o Americano"; e também o não menos famoso, "todo o colonialismo (ou apartheid, ou racismo, ou limpeza étnica, etc) é péssimo, excepto o Israelita". Pois, doravante, eis o terceiro: "todo o nazismo é hediondo e repugnante e merecedor da mais severa repressão e censura, exceto o Kievita". Por conseguinte, ao Cocó e ao Ranheta, eis que se junta o Facada. E a quem devemos mais este prodígio, este milagre dos diabos?  Nem mais: a Santo Vladimiro (Putin).

Se pensarmos, entretanto, como também lhe devemos a extinção da Covid e o apagamento de toda a História antes de Fevereiro de 2022, é caso para, no mínimo se lhe erigir uma catedral. Daquelas góticas e abracabardantes.

São Vladimiro, com aquele acto arrojado de purgar a Kievlândia, não iniciou uma guerra: criou o Mundo. Deu início à História e à Civilização, quer dizer, à própria Linguagem e Pensamento. Antes era, como não se cansam de nos enfiar pelas pantalhas e folhas de couve a dentro, o Nada, o Vazio, o Caos inominável. Mesmo o Tempo, não contava. Não existiu. Ainda nem sequer relojoava. Antes do genesis Vladimirífico, tudo não tinha passado duma heteróclita nuvem de fragmentos e vapores a boiar no espaço. Entulho cósmico, em suma. Que para nada interessa à consideração das massas geniais, super-informadas, esclarecidas e psicomusculadas nos ginásios da certeza absoluta.

Lavou-nos, finalmente, de todo o pecado, o grande Taumaturgo. Nada de maçãs ou explosões siderais filhas de pai incógnito. Quatro mil e trezentas guerras, mais duas mundiais de imensa estupidez e fragor. E seus derivados também. Aquela Fria, altamente chata e paranóica, pela pia abaixo. Tudo lavadinho. Mandado para o esgoto do esquecimento e da nulidade. 

Holocautos, holodomores, hologramáticas de fantasia e outras frioleiras que tais?...  Bem, isso foi quando: no tempo em que não havia ainda tempo nem as galinhas tinham perdido os dentes?  Antes da Criação do Mundo?  Temos pena. Nem sequer há palavras.

PS: Dizem-me que os excepcionais detêm o poder exclusivo de inventar, engendrar ou aperfilhar novas excepções... Sim, são eles e os malucos internados no Júlio de Matos.

quinta-feira, dezembro 01, 2022

Autópsia do Palramento, ou Da Cacocracia

 «Conheci membros do parlamento que, fosse qual fosse a sua riqueza ou os seus poderes de arengar era quase certo não serem capazes de entrar sequer para as categorias mais baixas dos serviços públicos ou de progredir no comércio acima da categoria de empregador-copiador.

Seria possível, sem fazer quaisquer mudanças radicais no sistema actual, melhorar a qualidade da assembleia legislativa, exigindo simplesmente do legislador as mesmas provas de competência conforme são exigidas de todo o administrador. Se alguém fosse autorizado a candidatar-se ao parlamento que não tivesse provado ser capaz, pelo menos, de entrar para as categorias mais elevadas do funcionalismo público, o parlamento seria automaticamente expurgado de muitos dos seus piores incompetentes e charlatões. É possível que, se este teste fosse imposto, alguns homens de real mérito poderiam ser excluídos, mas a sua perda seria compensada pela exclusão de uns tantos indivíduos meramente palradores ou meramente ricos ou influentes, de tantos curandeiros e vagabundos ignorantes. Se ao mesmo tempo o direito de votar ficasse dependente da capacidade para passar um teste de inteligência toleravelmente puxado - se ninguém fosse autorizado a participar no governo do País desde que não tivesse pelo menos uma idade mental de quinze anos - é provável que a influência dos demagogos e dos jornais fosse consideravelmente reduzida. Os adultos são mais judiciosos, menos facilmente sugestionáveis, do que as crianças.

Que somente os crescidos-mentais deveriam votar e que ninguém deveria ser autorizado a fazer leis desde que não fosse pelo menos inteligente e bem informado como os homens que as administram - estes são princípios políticos que o senso comum vulgar tem de aprovar. Somente os democratas misticamente mais fervorosos, que consideram a votação como uma espécie de acto religioso, e que ouvem a voz de Deus na do Povo, podem ter qualquer razão para desejar perpetuar um sistema pelo qual pode ser dado poder aos cavalheiros de indústria, aos homens ricos e aos quacres, através do voto de um eleitorado composto em grande parte por Peter Pans mentais, cuja infantilidade os torna peculiarmente susceptíveis às blandícias dos demagogos e às sugestões incansavelmente repetidas nos jornais dos homens ricos.»

          - Aldous Huxley,  "Sobre a Democracia e outros textos" 

Entre nós, e à presente data, todas estas fórmulas - de lhana sensatez de Huxley -, perderiam qualquer hipótese de implementação. Os que administram são os mesmos que legislam e também os mesmos que seleccionam. Nesse aspecto, já não se corre o risco de discrepâncias. Afinal, é um dos efeitos comprovados e universais de décadas de democracia: primeiro, a proliferação e homogeneização da mediocridade; depois a ascensão metódica, quando não meteórica, dos piores. Nesse sentido, a democracia, como já bem tinham bispado os grandes pensadores gregos, é o contrário da aristocracia, quer dizer, é o governo não pelos melhores mas pelos piores. E geralmente até pelos piores princípios, razões e motivos. Nesse sentido, pode ser definida, a dita democracia, como um genuína Cacocracia. Do grego Kakos - (mau, feio, disforme, defeituoso, cobarde...) e kratos - (poder, domínio, governo...). Traduzindo: Mau-Governo. Deficiência dominante. Na realidade, tirania da estupidez, da malignância e da mediocridade.

quarta-feira, novembro 30, 2022

Entre a superstição e a superficção

 

«Os preconceitos a favor da democracia pertencem à segunda classe: parecem, àqueles que os acarinham, sagrados, bem como razoáveis, moralmente certos, tanto quanto verdadeiros. A democracia é natural, boa, justa, progressista, e assim por diante. Os seus opositores são reaccionários, maus, injustos, antinaturais, etc. Para um vasto número de pessoas, a ideia de democracia tornou-se uma ideia religiosa que é dever tentar pôr em prática em todas as circunstâncias, indiferentemente dos requisitos práticos de cada caso particular. A metafísica de democracia, a qual foi na origem a racionalização dos desejos de certos homens franceses e ingleses para melhorarem os seus governos, tornou-se numa teologia universalmente e absolutamente verdadeira, que é do mais alto dever de toda a Humanidade colocar em prática. Assim, a Índia tem de ter a democracia, não porque o governo democrático seja melhor do que o governo indemocrático existente - é quase certo que seria incomparavelmente pior - mas porque a democracia, em toda a parte e em todas as circunstâncias, está certa. A transformação da teoria da democracia em teologia teve outro resultado curioso: criou um desejo de progresso no sentido de mais democracia entre numerosos povos cujos interesses materiais não são de qualquer modo prejudicados, sendo até activamente melhorados pela forma existente de governo que eles desejam modificar. Este alastramento do socialismo entre as classes médias, a concessão espontânea de reformas humanitárias pelos detentores do poder, para quem traria vantagens materiais exercer o seu poder cruamente e dele nada ceder - são fenómenos que se tornaram tão familiares que quase deixámos de os comentar. Mostram como pode ser grande a influência de uma teoria quando, pela sua familiaridade, se torna parte da mente daqueles que nela acreditam. No princípio é desejo; o desejo é racionalizado; a lógica elabora na racionalização e extrai conclusões; a racionalização, com todas estas conclusões jamais sonhadas em muitos casos por aqueles que primeiro desejaram e racionalizaram, torna-se num preconceito dos Homens nas gerações futuras; o preconceito determina o seu julgamento sobre o que está certo e errado, verdadeiro e falso; confere direcção aos seus pensamentos e desejos; arrasta-os à acção. O resultado é que um homem cujos interesses estejam ligados à ordem existente das coisas desejará fazer modificações nessa ordem muito mais extensas do que as desejadas pelo seu avô, embora os interesses materiais deste último fossem genuinamente prejudicados por isso. Nem só de pão viverá o Homem. A divina injunção era desnecessária. O Homem nunca viveu só de pão, mas sim de toda a palavra que procede da boca de todo o Deus concebível. Há ocasiões em que seria de grandes vantagens para o Homem se ele se confinasse, por um pouco, exclusivamente ao pão.»

           - Aldous Huxley, "Sobre a Democracia e outros estudos"

 Huxley terá escrito este texto em redor de 1927. Já passaram quase cem anos. Nem imagino o que ele escreveria agora. Num certo sentido, e com a devida vénia, escrevo eu por ele. O resultado mais evidente - e incontestável- da tal democracia, fazendo fé nesta nossa realidade circundante, é que, pura e simplesmente, constrói e redunda na sua - perfeita, concreta e completa - negação. Quer dizer, a prática devasta e aniquila a teoria. Parece que é uma maldição fatal dos "socialismos".

terça-feira, novembro 29, 2022

Faltou a China...no arroto!

 



«O adepto que interrompeu o jogo entre Portugal e Uruguai, com uma bandeira do arco-íris, de apoio à comunidade LGBTQ+, e uma t-shirt de apoio à Ucrânia e às mulheres do Irão, foi banido do Mundial2022 de futebol.»


Todo um porta-valores oxidentais em movimento: o Irão às costas, a Ucranóia ao peito, a bandeira aberrante ao vento e as tatuagens identitárias pelas pernas abaixo. E o símbolo do ubermench americóide, claro, como plataforma de fundo. Fugido e desembestado dalguma cabine, calculo.

Irrompeu, invasor e pedante, à boa maneira das democracias autoritárias e pesporrentes. Rilhafoles grunho de exportação. Antigamente, era ir lá e conquistá-los. Agora é ir lá e enfiar-lhes clisteres de moral e xaropes de paranoia pelas televisões abaixo. Parece que foi banido. Que desilusão! Os da casa também deviam aproveitar para exportar a moral deles. Neste caso,  não só com toda a justificação, como também a mais elementar justiça... Abençoadas chicotadas em público que tanta falta nos fazem!...

domingo, novembro 27, 2022

Da Cote d'Azov à Cote d'Azur

 



Entrevista com o Vão-pirotécnico, digo querubim ultra-tatuado

«I was never paid, I in fact ruined myself economically by going to Ukraine. I couldn’t imagine doing that for any value.»

Puro amor à camisola. Um idealista.

«I support Azov, to the fullest. But I don’t support NATO, Or the EU, but ultimately I feel as if NATO gets involved there won’t be anything, as far as a nationalist goes, worth or left fighting for.

How do you see the conflict from a geopolitical perspective?

American meddling in Ukraine has caused the Russian invasion.»

 Ukraine war can be simply placed by two prospectives, the Nationalist war, and Zelenski’s war.»

 Em resumo, mais ainda que uma guerra, uma confusão. Ucranianos contra ucranianos, nacionalistas (segundo este) pouco natofilos, o proxy gang, e por aí adiante.

Agora, quando a nossa esquerda woke e a nossa direitinha toina torcerem os narizinhos sensíveis a estes companheiros de esquina, sempre podem capacitar-se que, ao menos estes, em compensação, sempre deram o coiro à causa. Não é só saliva e eloquência monga de monta-sofás e mata-gambuzinos.


E o segundo capítulo, em tandem com o primeiro:

«As Westerners send aid, here’s how Ukraine’s corrupt elites are profiting from the conflict»

The Monaco Battalion

While Ukraine has undergone a general mobilisation affecting all men under the age of 60, many former and current high-ranking officials, politicians, businessmen, and oligarchs have moved to safety abroad – mainly to the EU. 

          (...)

   “There is little to prevent a field commander from diverting some of the equipment to buyers, aka the Russians, the Chinese, the Iranians or whomever while claiming the equipment and weapons were destroyed…”

           (...)

«Medical supplies are also being stolen. The Telegraph reports that “some of the donated supplies later made their way onto the hospitals’ pharmacy shelves: priced, and listed for sale.” Health workers appropriate medicine, bandages, and medical equipment, and resell them to patients for whom they were intended to be free, the article says.»

          (...)

«War for some, Gucci for others

Enormous cash flows from Western countries are continuously used by corrupt Ukrainian officials for personal enrichment and to acquire luxury goods.

In a recently busted corruption scheme, Odessa customs smuggled shirts, backpacks, sports shoes, belts, and other luxury items by Givenchy, Gucci, Polo, Dolce & Gabbana, Michael Kors, Chanel, Louis Vuitton, and Armani under the guise of army equipment.

          (...) 

«To take another example, in May 2022, Western countries abolished customs duties for Ukraine. Within a week, over 14,000 passenger cars were imported into the country.»


  Em resumo, um mimo. Coisa edificante de se ler. 


sábado, novembro 26, 2022

Corrupção tipicamente russa

 

«Bankman-Fried's FTX, senior staff, parents bought Bahamas property worth $300 mln»

Quem sai aos seus...

Há uma obra dum grande autor russo que recomendo vivamente: "Pais e Filhos", de Ivan Turguéniev. Hei-de até tecer um postal com textos paralelos entre esta obra e "Os Demónios", de Dostoievski. Mas, de entre os muitos motivos para se ler "Pais e Filhos", sobressai um deveras memorável: a figura de Bazarov, um dos personagens principais... Emerge laureado dum epíteto inaugural (se não me engano, é aí cunhado pela primeira vez): Nihilista. 
O livro, no fundo, trata do velho confronto imarcescível entre as velhas gerações conservadoras e as novas gerações revolucionárias. Esta trapalhada não é assim tão recente quanto se julga: já Aristófanes a denunciava e ilustrava vinte e quatro séculos atrás. Desde então, ciclicamente, grassa e contamina como as epidemias. Dos goliardos às luzes, dos nihilistas aos utopistas vários, é toda uma fauna sempre viçosa, ruidosa e excitada. Nos últimos tempos, passou de cíclica a permanente. A zaragata etária, no âmago da bernarda social, tem mesmo vindo a ganhar foros de verdadeira convulsão obsessiva e pluri-subsidiada. É um investimento como outro qualquer, dir-me-ão os pragmáticos. Só que, neste caso, tem-se investido muito. A começar no Canibal Soros... e secundados, ao que rezam as crónicas, neste fedelhódromo da FTX (e respectiva parentela) - afinal, o Partido Democrático constitui a Neo-Internacional/Komintern. E é aqui que sobressai o exotismo: parece que entre os "investidores maiores" não grassa a epidemia. Serão imunes ao zaragato-vírus? Dir-se-ia até, fazendo fé nos registos históricos, que entre eles não existe conflito porque não existem contra-partes: é uma permanente revolucionarite aguda. Pais e filhos não debatem nem combatem: reforçam-se. Conservadorismo é para goyns.*

PS:_ Aqui deixo, para já, a célebre passagem de Turguéniev onde nasce o famoso conceito:

«Pois é - interrompeu Pável Petróvich -, pois é: convenceram-se de tudo isso e não fazer nada a sério?
- Decidimos não fazer nada - repetiu Bazárov, soturnamente.
De repente sentiu-se agastado consigo mesmo, por se explicar tão longamente perante aquele aristocrata.
 - Apenas injuriar?
 - E injuriar.
 - E chama-se a isso nihilismo?
 - E a isto chama-se nihilismo - repetiu de novo Bazárov, desta vez com especial impertinência.»

Anotem, se fazem favor, que não andará muito longe do ainda mais célebre "é preciso mudar tudo para que tudo fique na mesma". E sobre revolucinhações ficamos, para já, falados.

* - Sim, um certo exagero da minha parte. Existem (e sempre existiram) judeus que não estão pervertidos ao Talmud. Serão minoritários, ou até residuais, mas como eu nunca gostei muito de chusmas...

sexta-feira, novembro 25, 2022

Disfonia das Quatro Estações (rep)

(A propósito da data de hoje, parece-me sempre oportuno recordar...)



 Antes que me esqueça, há uma rectificaçãozinha que, em termos históricos, compete fazer: Não há um Portugal antes do 25 de Abril e um Portugal depois do 25 de Abril. Em bom rigor, há dois, antes e depois. Ou seja, quatro. Situando: Um Portugal antes de 27 de Setembro de 1968; um Portugal entre esta data e o 25 de Abril de 1974; um Portugal após o 25 de Abril; e um Portugal pós 25 de Novembro de 1975. chamemos-lhes, respectivamente, Fase 1, fase 2, fase 3 e fase 4, para facilitar a exposição.

Na fase 2, tentou enterrar-se a fase 1 e plantar-se sobre ela uma quimera.
Na fase 3, tratou de  liquidar-se o império e escavacar a quimera.
Na fase 4, absorveu-se a fase 3, e recauchutou-se a quimera a expensas externas, o que, como era mais que óbvio, só podia redundar na dissolução do país.
Tudo isto traduzido em termos mais poéticos, ou meramente pictóricos: À primavera Marcelista, seguiu-se o verão Comunista, donde amadureceu o outono capitalista e agora, com a fatalidade das estações, aguarda-nos o inverno...  ainda não se sabe bem de quê, mas, seguramente, será rigoroso. 
Bem avisaram os antigos que o tempo é circular. Estamos de volta a Salazar? Não, estamos de volta a 1580. Somos pequenotes, mas gostamos de viver à grande. Viver e, mais ainda, morrer, pois então. Um alcácer-quibir de larvas mercantis e consumistas, eu sei, não é bem a mesma coisa que um Alcácer-Quibir de guerreiros. Mas, dentro do microcosmos fétido, foi o que se pode arranjar... E ao menos o Ricardo Salgado não desapareceu nas areias do deserto, para nos vir assombrar durante os séculos vindouros. 


PS: Temos o monstrengo, é certo, mas esse também já não nos assusta: habituámo-nos a ele de tal modo, que até o elegemos para a presidência desta cegada (entretanto arreado e substituído por um sempre-em-pé-de-micro). É, assim, uma espécie de monumento vivo ao nosso naufrágio colectivo. Simbolicamente, instalado no mesmo e preciso local donde, há quinhentos anos, partiram as caravelas - Belém. 

PS 2: Quanto a nós, não, francamente não sei, quanto demora ainda até ficarmos exaustos... de ser a antítese de nós próprios.

quinta-feira, novembro 24, 2022

Escola de Marionetes

 Pare, escute e olhe, um Zelicoso pode sempre esconder outro... Zelicose é sempre que o Império quiser. Os slogans podem ser múltiplos e todos eles actuais.

Uma viagem ao mundo do Caos Inc - proxy wars, fake revolutions & shit values for all .

O autor é americano, ex-marine e reside na Tailândia. Um sujeito com os alqueires bem medidos, que venho acompanhando, esporadicamente, nestes últimos meses. 




Patrocínio do otariado




 «In 2022, the Flemish government will pay €175 763.87 in membership fees to the World Economic Forum (WEF) and 27 000 Swiss francs (about €27 300) as participation fees to the annual meeting of the WEF in Davos. This is according to Flemish minister-president Jan Jambon's response to a parliamentary question by Flemish MP Sam van Rooy.»

A ver se eu percebo bem: o governo flamengo exala a expensas dos contribuintes flamengos; o tal de WEF exala a expensas do governo flamengo e, quiçá, de outros (des)governos do mesmo jaez (fora os super-privados e batmãs que tais, pela porta do cavalo). Portanto, o otário contribuinte - neste caso flamengo - tem muito com que se esmifrar e espremer todo. Até porque com a propriedade distributiva da exalação não se brinca.

Não que, neste especial caso, isso me cause especial aflição. Sobre os flamengos e a Bélgica em geral Baudelaire teceu considerações muito apropriadas. As únicas merecedoras de nota que li até hoje. Assim, de memória, e salvo erro, ficou-me na retina aquela do "a Bélgica é um bocado de merda que a França segura na ponta dum pau". Parece-me uma imagem justa. Tão apropriado como a capital desta Europa invertebrada ser, justamente, em Bruxelas. Nada como estabelecer (e emanar) no centro da substância.

terça-feira, novembro 22, 2022

O dinheiro - VII. O Poder e a moeda. Parte 1






 

«CARIÃO - Oh, O mais velhaco de entre todos os homens! És então Pluto e calavas-te?
CRÉMILO - Tu, Pluto, com essa aparência desgraçada! Ó Febo Apolo e deuses e génios e Zeus, que dizes? Tu és verdadeiramente o tal?
PLUTO - Sim.
CRÉMILO - Aquele mesmo?
PLUTO - Mesmíssimo.
CRÉMILO - Donde é que vens - diz - com esse ar sujo?
PLUTO - Venho de casa de Pátrocles que se não lava desde que nasceu.
CRÉMILO - E esse mal como o sofreste? Diz-me.
PLUTO - Foi Zeus que me fez isto, por má vontade aos homens. Quando eu era rapaz, ameacei que só me dirigiria aos justos e sábios e honestos. E ele fez-me cego, para que não distinguisse nenhum deles. É assim que ele inveja os bons.
CRÉMILO - Mas ele só é honrado pelos bons e justos.
PLUTO - Concordo contigo.
CRÉMILO - Ora vejamos! Se voltares a ver como dantes, fugirás então dos maus?
PLUTO - Prometo.
CRÉMILO - Procurarás os justos?
PLUTO - Sem dúvida. Há muito que os não vejo.
CARIÃO (Apontando os espectadores) - E não é maravilha nenhuma, porque eu também não, apesar de ver.
PLUTO - Deixai-me os dois agora, porque já sabeis tudo a meu respeito.
CRÉMILO - Não, por Zeus, mas muito mais te seguraremos.
PLUTO - Não anunciava eu que vocês estavam para me arranjar sarilhos?
CRÉMILO - E tu - peço-te - deixa-te persuadir e não me abandones, porque não descobrirás, ainda que o procures, homem de melhor carácter do que eu.
CARIÃO (Para os espectadores) - Não, por Zeus, não há outro senão... eu
PLUTO - Isso é o que todos dizem. Mas quando verdadeiramente me apanham e se tornam ricos, simplesmente ninguém os excede em velhacaria.
CRÉMILO - É assim, realmente, mas nem todos são maus.
PLUTO - Pelo contrário, por Zeus, todos sem excepção
    - Aristófanes, "Pluto" (A Riqueza)

Nos nossos dias existe uma convicção um tanto ou quanto mal amanhada, mas deveras conveniente, que proclama aos quatro ventos e brisas associadas a seguinte lei indiscutível: o Poder corrompe. Pensemos no Deus Omnipotente e teríamos então qualquer coisa como o Absoluto Corrupto (reductio ad absurdum). Ah, mas não, é só entre os homens que funciona assim, até porque Deus é, por natureza, incorruptível. Mas nem todos os poderosos foram corruptos, citando alguns na nossa própria história: D.Afonso Henriques, D.Pedro I, D.João II, Salazar. Vou dizer-vos onde funciona inexoravelmente assim: nos romances do Marquês de Sade. Porque onde também não funcionava dessa forma era na Grécia Antiga. Aristófanes, a experimentar em primeira mão o fenómeno, vai direito ao cerne: o que corrompe o homem é a riqueza. É o próprio Pluto que o declara: "quando me apanham e se tornam ricos simplesmente ninguém os excede em velhacaria.» E assim deparamos, pela primeira vez, preto no branco, o carácter corruptor e degradante do dinheiro. 
Voltando agora ao nosso tempo. Testemos a tese. O nossos primeiros-ministros de fancaria, mesmo com maioria absoluta na assembleia palramentar, é o poder que os corrompe? Muito mais poder, poder a sério, não corrompeu D.Afonso Henriques, D.João II ou Salazar. Como é que um poderzinho de cacaracá causa tamanhos vícios nestes? Que significa a corrupção senão compra e venda (activos, passivos), ou, em muitos casos, ainda mais insidiosos e venais, pura chantagem, ameaça velada, torpe sedução. Digamos doutra forma: homens fortes, homens fracos. Um homem fraco qualquer coisinha o tomba, o tenta, o salda, o varre. Porque, na essência, aquilo que faz forte um homem é uma forte convicção no espírito, uma tenacidade na vontade, uma certa auto-suficiência na vida. E um módico de inteligência que, uma vez na política, lhe permite saber que o todo é mais importante e, necessariamente, mais forte que cada uma das partes; e que representar esse Todo, consiste, per si, numa posição dominante, acima, nomeadamente, dos agentes económicos e dos circos da riqueza. É por isso que mais facilmente descamba no totalitarismo (ou seja, num excesso de poder) do que na corrupção. Hitler ou Stalin são casos emblemáticos disso mesmo. A corrupção dum homem de estado equivale, bem vistas as coisas, a uma alienação de poder, ou melhor dizendo, de função. A criatura cede (qual quota em sociedade comercial) parte da sua função, da sua comodidade, ao comprador. Ou seja, deixa de ser um homem de estado, um político, e degrada-se a traficante. A sua dignitas devém mercadoria, a sua posição um balcão, o seu cargo uma loja. É o poder que o corrompe?  Antes diria que é mais o seu contrário: a sua impotência, enquanto político e homem de estado. A sua impotência intelectual, ética e política. Isto convertido em sistema dá qualquer coisa como a "democracia liberal". Na realidade não passa duma acracia: duma ausência efectiva de poder ao nível do Estado, e ainda mais ao nível do Povo. É irrelevante haver eleições, como são irrelevantes os resultados das mesmas. O processo está pervertido e viciado à partida. O governo não é soberano, o povo não só nada ordena, como refocila avidamente na desordem e vegeta num estado de alienação induzida e bombada ininterruptamente por cadeias de desinformação e deformação opressivas e calafetantes. Entretanto, esta acracia efectiva assenta num tripé sustentador: anomia, abulia e aloarquia. Que traduzem, respectivamente, a desordem dos valores, o desânimo da vontade própria, a dependência duma governação alógena. Que, nestas degradadas circunstâncias, a trafulhice, a velhaquice, a venalidade, a resignação, a morbidez, a cobardia, a traição, o mercenarismo, a corrupção e o sicofantismo geral vicejem, frutifiquem e se tornem infestantes é o efeito óbvio e necessário. De resto, basta atentar no nosso próprio exemplo enquanto nação: monarquia -> poliarquia  -> aloarquia.
A quem convém então esta tese do "poder corrompe"? Precisamente àqueles que vicejam da implantação da impotência e da desordem entre os povos e respectivos governos. Os mesmos que, com base numa riqueza sem freio e sem limite, tudo pervertem, infiltram e contaminam; a começar pelas  próprias estruturas governativas - desde os respectivos processos e trampolins eleiçoeiros até aos critérios de gestão subsequentes e, sobretudo, ao controle pela trela de todo o aparato de sicofantas vigilantes na Mass-media. No regime de acracia, a imprensa cripto-controlada passa por livre, a expressão ultra-filtrada trafica-se como voz do progresso e o totalitarismo implícito, em construção e hermetização permanentes, mascara-se de fim da História - fim, enquanto realização plena e corolário definitivo. Toda e qualquer não aceitação, disputa ou cepticismo é, de chofre, degradado a retrogradismo hirsuto, conspiração contra o melhor dos mundos, crime de lesa-enxame. O regime de acracia é, assim, um estado terminal. Na medida exacta em que, para lá dele, só o apocalipse, a catástrofe global, o fim do mundo. Por analogia, é uma espécie de pistola apontada, com percutor armadilhado, à cabeça da humanidade. Tentar afastá-la ou afastar-se dela é premir o gatilho. O outro aspecto, especialmente ilustrativo da irracionalidade do fenómeno é, nessa declaração absurda, arbitrária e aleivosa de fim/conclusão do processo, estar a negar-se em absoluto o próprio conceito, princípio e totem supersticioso que lhe deu corpo e justificação desde a eclosão revolucinhária: a própria ideia de progresso. É o mesmo que dizer: a partir daqui não há cá mais progresso nem necessidade dele. Acabou; é comer e calar.
Mas tornemos à riqueza. Corrompe necessariamente o homem? Aristófanes é pessimista, nesse aspecto. Todavia, não me parece que seja fatal. Socorro-me de exemplos da vida prática e histórica da nossa própria comunidade: Alfredo da Silva, no antigamente; Rui Nabeiro, no pós-abrilice, só para citar dois exemplos. Não cederam à corrupção e enriqueceram a comunidade, beneficiaram substancialmente o país. Decerto a CUF não era uma empresa angélica, mas era um empório a muitos títulos extraordinário.  E extraordinário no bom sentido: um autêntico modelo. A Delta confunde-se com a própria vila de Campo Maior. Estes homens enriqueceram e enriqueceram os outros; respeitaram, nomeadamente os seus empregados, e foram e são respeitados. Merecem um lugar na história, tal qual um general competente e audaz. Por conseguinte, mesmo nos tempos actuais, problemáticos a muitos títulos, e sobretudo em sede da riqueza, não é forçoso que o dinheiro corrompa. Corrompe a maioria, mas nunca foi a maioria que decidiu coisa que se visse. O caso é que, assim como, na economia, (r)existe uma minoria cada vez mais reduzida de gente heróica, também na para-economia, existe igualmente, e em contrapartida, uma minoria cada vez mais escroque e facínora geradora não de riqueza benéfica, porque integrada na comunidade, mas de corrupção plutofacciente, isto é, riqueza extraída como tortuoso malefício, gangrenante parasitismo anti-social, anti-económico, anti-cultural e anti-político (no sentido de anti-histórico). Àquela riqueza poderíamos também chamar de fundamental, e a esta de infundada e afundadora. E, neste paralelismo, lá regressamos nós às origens do problema, como o colocou inauguralmente Aristóteles: a diferença, e o confronto, entre o firmado na natureza, fundado na terra; e o ficcionado estritamente no ar e multiplicado indefinidamente sobre os mares do comércio. Ou, por outras palavras, o dinheiro enquanto meio cujo princípio e fim se conhecem e o dinheiro como princípio e fim de si mesmo, enquanto mera ampliação desarvorada, do qual, em bom rigor, ninguém sabe donde veio nem para onde vai. Dinheiro absoluto, em suma. Cripto-riqueza. Não instrumento de soberania, mas soberano instrumentalizante de pseudo-soberanias, soberanias fictícias, meramente convencionais. E note-se que quando se diz "absoluto", é na sua plena acepção etimológica: des-ligado. Desligado e desarvorado como em tempos já aqui se descreveu:

Ora, o dinheiro absoluto desliga-se do homem, tal qual o homem absoluto se desliga do cosmos e de Deus. Este Des-ligamento do dinheiro ao homem -este absolutismo "monetário" - traduz-se numa redução ao nada: ad nihil enquanto origem/proveniência; para-nihil, enquanto fim. Engendra-se dinheiro a partir do nada, do ar, do infundado; almeja-se com esse macaqueamento rasteiro do próprio Génesis,  com essa antítese manifestamente satânica (Satã, significa, na etimologia da aramaico onde foi vertido o texto original, o adversário, o antagonista), o vazio e a própria negação da Criação e da espécie humana enquanto agente duma civilização. Ou seja, enquanto intérprete nobre, legítima e diversificada de políticas (políticas, em suma, sediadas (fundadas) na própria diversidade geográfica e histórica). Donde a emergência duma cripto-economia (uma teo-finança) que se arvora e a tudo se pretende sobrepujar como apolítica. Leia-se, antipolítica na tripla síntese  de para-política, epipolítica e supra-política.  Manifestações e epifenómenos emblemáticos disso são todos aqueles casulos criptocráticos onde se refinam e alambicam, com ares de convénio anual de superdruidas, todo um neo-mundo devidamente desossado e convertido em papa universal (entenda-se, geoculinária única e definitiva). Não são fruto da política, mas, isso sim, da sua negação, do seu banimento, cancelamento e redução ao absurdo.
Por outro lado, mas na mesma lógica, o desligamento do dinheiro ao Homem  acompanha, ao longo dos tempos, o desligamento do dinheiro à própria moeda. No fundo, o esvaziamento religioso do dinheiro. E é essa viagem, assaz sombria e tortuosa, que tentaremos acompanhar ao longo dos próximos episódios. Entretanto, e como fecho deste, julgo já não ser possível recusar o óbvio: o absolutismo monetário é, na verdade, um amonetarismo (ou desmonetarismo). No que as eclosões caóticas mais recentes do circo das cripro-moedas é um sinal mais do que esclarecedor: estarrecedor. Aguardem só pelos efeitos...





Death Star

 Pretende ser uma compilação exaustiva do desastre FTX até ao momento, com escalpelizações e vislumbres adicionais. Para mim vale como fonte de mais dados e dangerous liaisons. 

A Grand Unified Theory of the FTX Disaster


No centro, parece-me, uma teoria curiosa da "Death Star":

What is the Death Star, exactly?

Much has been said about the obviously inappropriate relationship between FTX and Alameda. Thankfully, Arnold Kling provides the correct explanation from the chair of an actual Economist:

Let’s retell this story using entities of the U.S. government. The Treasury is like FTX, issuing tokens that it calls bonds. The Fed is like Alameda Research, taking these tokens on its balance sheet to try to support their price.

You’re going to say, “Wait. The Fed is issuing its own tokens, called money. The analogy does not hold.”

But Quantitative Easing did not work by issuing money. Instead, the Fed borrowed from banks, by paying interest on reserves and doing “reverse repos.” Just like Alameda Research, it took a levered position in Treasury tokens. Now the Fed is bankrupt. It has to be bailed out by the Treasury (you and me). Unlike FTX, the Treasury can still get away with issuing tokens.

Who could even think up such a scheme?