quinta-feira, janeiro 31, 2008

A Estrada para Nenhures -I

Uma digníssima portuguesa, Deus a proteja e lhe dê muita saúde, acaba de dar à luz - pela terceira vez! - numa ambulância. Um dos bombeiros socorristas, emocionado, confessou que já era o segundo parto da mesma passageira a que assistia. ( Se dependesse dele, provavelmente, o recém-nascido seria baptizado "Déjavu". O que, não sendo a criança de raça afro-europeia, era capaz de ocasionar desgosto nos familiares).
Fenómenos destes, porém, mais que à perplexidade, transportam-me à meditação. E a primeira elucubrança que me ocorre é que a nenhum outro povo se ajusta tão bem a expressão inglesa "on the road" como ao nosso. Os portugueses são, de facto e cada vez mais, um povo na estrada. E se até aqui lá iam principalmente telefonar, existir e morrer, agora, numa vertigem magnetizada, também lá vão nascer. Em suma, nascem, telefonam e morrem na estrada. Um ciclo vital completo. E quando assinalo a estrada, por favor não abstraiam as bermas respectivas. Porque se dum lado, até hoje, por tradição, estacionavam as mães dos eleitos, em aluguer, a ganhar calo e tarimba na treva, doravante, no outro, gemem as mães dos eleitores, em apertos, esmifrando as entranhas no prodígio de dar à luz. Equilibra-se assim a via rápida, o fluxo concorrente entre o lucro egoísta e o altruísmo laborioso. Resumindo, vão brotar uns na orla defronte donde são concebidos os outros.

Disfunção eléctil

Uma síndrome não apenas americana mas global: a dificuldade em manter uma eleição. Também conhecida por impotência eleitoral.


quarta-feira, janeiro 30, 2008

De pantanas

A nova ministra da saúde vem recheada das melhores recomendações. Arguida num processo do Tribunal de Contas por descaminho de milhões do erário público, é, de facto, um pergaminho enaltecedor. Fala por si. E vale, no mínimo, dois ou três MBAs, daqueles extraídos de brinde na Farinha Amparo.
Num país normal, haveria um resquício de pudor a recomendar alguma sobriedade e contenção nestas trampolinices. Mas num país maravilhoso, como o nosso, a arrogância descarada de quem desgoverna até permite cortejos grotescos destes. E o país inteiro estaca, embasbacado, diante do espectáculo gratuito do desmazelo aos pinotes, rua abaixo, com o indecoro às cavalitas.
De facto, num país sério, um ministro indiciado, automaticamente, e por uma questão básica de ética, demite-se. Aqui, um político indiciado, além de indemnizado, sobe a ministro. Eis um regime de patas para o ar - uma república, mais que de bananas, de pantanas!
É mesmo caso para dizer, paraglosando o Camões: mudam-se os tempos, mudam-se os "à vontades". Agora, à mulher de César não basta parecer uma rameira: faz questão de exibir-se no Coliseu toda ataviada!

A propósito de Estudos

Os cientistas, tudo o indica, são como os historiadores: descobrem por encomenda. Trabalham à peça.

A Árvore das Patacas



Pode ler-se hoje, no Portugal Diário, uma curiosíssima notícia:
Ora bem, corrupção, branqueamento de capitais, abuso de poder e riqueza injustificada (sobretudo esta) são actividades perfeitamente lícitas no nosso país. Como eram em Macau, quando este território ultramarino se submetia à administração portuguesa.Visivelmente, (desconheço em que grau) são agora, sob autoridade chinesa, actividades criminosas e condenáveis. Mas o Ao Man Long, coitado, é que não devia ser assim penalizado. Man Long praticou a corrupção, o branqueamento de capitais, o abuso de poder e a ostentação de riqueza injustificada num tempo (ou num espírito) em que tudo isto, mais que justificado, era perfeitamente legal e promovido pelo Estado. Man Long estava a ser um funcionário exemplar, um responsável impoluto, um governante exímio. Mesmo que Man Long já tenha exercido exclusivamente no tempo da administração chinesa, o que é certo é que aprendeu e estudou no período português. Sabemos como a formação é determinante nestas coisas.
Não se admite, pois, uma inversão tão descabelada de valores. Man Long deitou-se com a civilização e acordou no no meio da barbárie.
Com arbitrariedades intempestivas destas, o que poderão pensar os nossos coelhistas e outros aparelhistas do PS, os comendadores da melancia, as afundações Oriente, os Stanley-Ho-ho-hos, em suma, o Dr. Mário Soares, decano da Mama e Pai adoptivo da Democracia?
Dirão que ainda não chegámos à Madeira, quanto mais à China. O Marinho que se cuide.

Tortura não, tratamento.

A pergunta que o Senilado americano fez ao Secretário de Estado da Injustiça: afogamento simulado é tortura?
Claro que não. É um mero estímulo desinibidor da timidez patológica e do mutismo pós-traumático dos pacientes. Se tanto, uma metodologia de persuasão benigna. Faz parte do tratamento.
Caso contrário, pela mesma ordem de ideias, poderia então perguntar-se: os choques eléctricos nos hospitais psiquiátricos são tortura?

terça-feira, janeiro 29, 2008

Reabertura ao púbico

Como recomenda o Manual, "se enfim o Acusado nada confessar, pode continuar-se a tortura um segundo dia e um terceiro, mas com a condição de seguir os tormentos por ordem e nunca repetir os já praticados, não podendo ser repetidos enquanto não sobrevierem novas provas, embora não seja proibido nesse caso o continuar por ordem (ad continuandum non aditerandum, quia iterari non debent, nisi novis supervenientibus indiciis, sed continuari non prohibentur)." O problema é que já cheguei ao quarto dia e o sacripanta porfia na sua obstinação tumular.
Enquanto recapitulo os procedimentos, de modo a não infringir a harmoniosa metodologia, proclamo uma pausa nos trabalhos.
Para já, fica assim. A tromba está irreconhecível, de tão rearranjada e camartelada que foi, mas apresenta algumas beneficiações oportunas. Ou então desnecessárias e irritantes, o que, bem vistas as coisas, vai dar ao mesmo. Assim, na coluna da direita, temos agora: a) uma sondagem bastante estúpida; b) o "Quentes e Más" - um rol diário de contrapropaganda; e c) o "Espalha-brasas", aquele apetrecho obtuso da Google, hoje, para efeito festivo de inauguração, dedicado a um dos ícones do nosso tempo: a McDonald's. Outros pinchanovos igualmente infernais -e não menos delirantes -advirão. O Engenheiro-Arquitecto não se cansa de reclamar uma zona olímpica com filmes escaldantes, ou, no mínimo, slide-shows de calendários camionistas, mas eu já o mandei exegetizar a "Bola" e dar banho ao cão.
Quanto aos comentários, depois de inúmeras peripécias e manigâncias, lá consegui alojar o "haloscan", esse tunning da interacção. Apenas para descobrir que, em consequência disso, desapareciam o cabeçalho do blogue e os outros comentários. Ora gaita! Desinstalei e voltei a instalar, mas nada feito. Dois dias depois, permanece o impasse, o reles berbicacho.
No entretanto, e para penúria dos meus deslumbrantes planos, voltamos ao calhambeque antigo - a caixa do blogger.
Quaisquer sugestões, imprecações, maldições e alucinações, tenham a bondade.

Pívias de luxo



Ó Dragão, tu vê-me isto: o piloto ejaculou-se e mandou com 20 milhões p'ó caralho!...

É o que dá o Estado fugir às suas responsabilidades: em vez de comprar bons jogadores pró Benfica, torra o carcanhol dos otários em sucataria camone.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Crónica duma guerra anunciada

Uma base militar chinesa no Irão?



Entretenham-se a conjecturar, enquanto eu prossigo o combate. O gajo continua a recusar o "haloscan". Está armado em intolerante.

Venceremos!...

Não desesperem. Estou a massacrá-lo.

domingo, janeiro 27, 2008

A Ribeira dos Milagres segue dentro de momentos

A ideia não é acabar com os comentários. Pelo contrário, é ampliar a oferta, passando a haver duas vias: uma (a do blogger) reservada aos moradores; e outra (a do Haloscan) reservada aos visitantes, quaisquer que eles sejam, mesmo psicopatas incontinentes.
O problema é que o Haloscan não está a cooperar.
Neste momento, prossigo com as minhas sevícias e torturas ao "template" a ver se o gajo confessa onde raio escondeu a pintelhice que está a foder esta merda toda.
Conto reabrir o WC com a brevidade possível. Aos mais à rasquinha, recomendo Imodium.

Prison break


Cansados de escavarem túneis para fora do ghetto, os palestinianos rebentaram com o muro e saíram pela brecha.
A polícia anti-motim egípcia, ultimamente, atirou-lhes com canhões de água. Os palestinianos agradeceram. Em júbilo, homens, mulheres e crianças aproveitaram para tomar banho e encher jerricans.

sábado, janeiro 26, 2008

Pedras milagreiras




Instado por Franco Nogueira, em 17 de Junho de 1966, para conceder uma entrevista a um jornalista inglês que pretendia recolher dados biográficos, Salazar redarguiu:
-"Biografias só interessam de pessoas que tenham um futuro político. Não é o meu caso. Eu só tenho um passado político; e isso, por conhecido, não interessa a ninguém. Cheguei ao fim. Os que vierem depois de mim, vão fazer diferente ou vão fazer o contrário e contra mim, e isso é que interessa."

Realismo ou resignação? Defeito ou virtude? Profecia, pelo menos.

Serve isto de intróito a mais um daqueles fenómenos bizarros em que Portugal tem sido pródigo nos últimos trinta anos. Não se sabe exactamente como, mas, germinando fetichisticamente de boatos, rumores e mitologias, instalou-se entre certa qualidade de indígenas mentecaptos a firme crença nas propriedades milagreiras da pedra tumular do antigo Presidente do Conselho. Para mais, em áreas mórbidas tão luso-endémicas como a chifradura e a impotência. Garantem os curandeiros avulsos e médiuns encartados que homem cornudo ou impotente, bem calafetado na crença e artilhado na devoção, marrando lá com o porta-chifres ou amassando a alcatra sob determinados luares e confluências, fica sarado em meia dúzia de sessões. É claro que há casos desesperados, de ramificação exuberante ou emasculação profunda, não raramente cumulados no mesmo impaciente ambulatório. Foi o que aconteceu na madrugada da pretérita quinta-feira. A notícia fala num suposto paralelo a servir de ferramenta ritual. Mas, na realidade, foi mesmo um par de cornos exorbitante. De algum animal de hastes fustigado por crónica e galopante tribulação. Sofrem horrores estas bestas.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Al-Drabices



Entre a Al-Qaeda e o Al Gore, a humanidade acotovela-se encurralada e sob sequestro. O terrorismo sitia-a no presente; a catástrofe climatérica embosca-lhe o futuro. E a polícia global interdita-lhe o passado. O progresso foi de tal ordem que já não tem para onde fugir. O balanço actual de todos os sonhos, idílios e utopias é o pesadelo permanente. E obrigatório.
Só que a ciência e a propaganda nem sempre coincidem. O Rossio transborda da Betesga.
Ainda agora um «cientista russo veio dizer que a Terra pode brevemente reentrar numa nova Idade do gelo».
Depois de terem mandado com a teoria muito conveniente do "petróleo biótico" para as urtigas e terem extraído crude a grande profundidade, os russos candidatam-se agora a estragar a fábula termopata. Abençoados sejam. Haja alguém que diga basta a tanta al-drabice.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

A Epistemofrenia




Está um verdadeiro Jornal do Incrível, este pasquim de eleição, o DN: Às segundas-feiras, um professor de economia inicia-nos aos mistérios e tribulações da fé; aos sábados, da parte da manhã, um investigador de biotecnologia guia-nos nos labirintos da economia e da baixa finança, e, da parte da tarde, um padre loquaz revela-nos os bifes mais tenros e as miudezas mais frescas no talho da filosofia. Nos restantes dias, uma panóplia de luminárias pujantes, ardendo numa voluntariedade não menos resfolegante, faz tudo menos aquilo que o seu título de rodapé poderia sugerir e, ainda menos, creditar - especialmente uns que se ornamentam com o crachá de "jornalistas". Como interpretar tamanha constelação de audácias? Esquizofrenia pública, gratificada e instituída? Bem pelo contrário. Antes se poderá dizer que está criada a figura do desespecialista, ou seja, o tipo que não sendo especialista duma determinada matéria, se dedica a ela de alma e coração, estripando-a e passevitando-a com todas as suas forças. Tudo isso, complete-se, para glória das três leis supimpalhonas do nosso tempo: 1ª-Num assunto, a convicção é directamente proporcional à ignorância; 2ª- A estupidez é proporcial ao espaço e tempo de antena; 3ª A audiência é um corolário bestial da sincronia obsessiva das duas anteriores. Por conseguinte, em vez de esquizofrenia, falemos antes de epistemofrenia.
A epistemofrenia é a evolução, senão lógica, seguramente real da epistemomania. O processo é cada vez mais visível nas folhas de jornal, tanto quanto nas pantalhas televisivas. Os especialistas, que faziam duma determinada matéria profissão, estão a perder terreno para os desespecialistas, que fazem dessa mesma matéria obsessão. Enquanto aqueles se preocupavam e adestravam no desenvolvimento dum determinado conhecimento, estes, com a temeridade própria dos convulsivos, dedicam-se freneticamente ao desenvolvimento duma patologia. Na perspectiva do público, das audiências, não é difícil adivinhar que os desespecialistas levam vantagem. Há provas, desde pelo menos há mil anos, que a multidão encontra mais atractivos nas manifestações tresloucadas dum energúmeno do que nos raciocínios complexos e maçadores dum erudito. Ora, os empresários da comunicação não dormem.

Despeço-me com uma pergunta tão lógica quanto fatal: num país onde os professores de economia tratam da religião, os investigadores de biotecnologia curam da economia e os padres amanham a filosofia , deveremos surpreender-nos que sejam ateus os maiores conferencistas de Deus e que um qualquer sapateiro diplomado assuma a chefia do governo?...

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Sementes de violência



Os judeus alemães estão furiosos. Porque este ano, em Munique, o dia de Carnaval calha na mesma data que o Dia Internacional do Holocausto, ou seja, 27 de Janeiro.
Realmente, parece-me de franco mau gosto marcar o dia do Carnaval Bávaro para a mesmo dia do Entrudo judaico.
E como se isto não bastasse, os educadores alemães estão a falhar clamorosamente na sua devota missão de holo-endoutrinamento dos jovens. O descalabro é de tal ordem que até a palavra "judeu" anda convertida numa das imprecações mais comuns entre os estudantes alemães; e, para cúmulo, durante as peregrinações de estudo aos crematórios de Auscwitz, as classes manifestam mais interesse pelos pormenores técnicos do que pelos aspectos dramáticos do santuário.
Tudo isto suscita-me uma variação de Goldberg acerca dum velho ditado: quando se exagera na benzedura acaba-se de nariz partido.

Sem excepção

«Aqui estamos sobre estamos sobre este globo há doze mil anos a girar fastidiosamente em torno do Sol, e sem adiantar um metro na famosa estrada do progresso e da perfectibilidade: porque só algum ingénuo de província é que ainda considera progresso a invenção ociosa desses bonecos pueris que se chamam máquinas, engenhos, locomotivas, etc., ou essas prosas laboriosas e difusas que se denominam sistemas sociais.
Nos dois ou três primeiros mil anos de existência trepámos a uma certa altura da civilização, mas depois temos vindo rolando para baixo numa cambalhota secular.
O tipo secular e doméstico de uma aldeia ária do Himalaia, tal como uma vetusta tradição o tem trazido até nós, é infinitamente mais perfeito que o nosso organismo doméstico e social. Já não falo de gregos e romanos: ninguém tem bastante génio para compor um coro de Ésquilo ou uma página de Virgílio; como escultura e arquitectura, somos grotescos; nenhum milionário é capaz de jantar como Lúculo; agitavam-se em Atenas ou Roma mais ideias superiores num só dia do que nós inventámos num século; os nossos exércitos fazem rir, comparados às legiões de Germânicos; não há nada equiparável à administração romana; o boulevard é uma viela suja ao lado da Via Ápia; nem uma Aspásia temos; nunca ninguém tornou a falar como Demóstenes - e o servo, o escravo, essa miséria da Antiguidade, não era mais desgraçado do que o proletário moderno.
De facto, pode-se dizer que o homem nem sequer é superior ao seu venerável pai - macaco; excepto em duas coisas temerosas - o sofrimento moral e o sofrimento social.
Deus tem só uma medida a tomar com esta humanidade inútil: afogá-la num dilúvio. Mas afogá-la toda, sem repetir a fatal indulgência que o levou a poupar Noé; se não fosse o egoísmo senil desse patriarca borracho, que queria continuar a viver, para continuar a saber, nós hoje gozaríamos a felicidade inefável de não sermos...»

- Eça de Queiroz, "O Natal" (in Crónicas e Cartas)

Parece que o Eça não acreditava nem no santíssimo pugresso nem em eleitos. Ou excepções. Qualquer tipo que olhe - fria e honestamente - para o mundo (e cem anos depois, pior ainda) corre, seriamente, esse risco.
Por outro lado, agora que o homem se arvorou em Deus, mais tarde ou mais cedo, assumirá a totalidade das prerrogativas. Não progrediu merda que se visse, mas cresceu. Está mesmo um homenzinho: já se consegue exterminar sozinho.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Felizmente, há lunáticos



a) «Bank of America net sinks 95 percent»
b)«Australian Markets Lose $300 Billion In 21 Days»
c) «Bush Becomes Supplicant for Saudi's Aid to Help Avoid Recession»
d)«Bank of China suspended in Shanghai amid subprime worries»
e) «World's Largest Bond Insurers Collapsing!»
etc, etc.

Em compensação, hoje mesmo, José Sócrates, afirmou, de olhinhos esbugalhados em devota certeza, que 2008 vai ser um ano de crescimento económico. Terá sido a sua nova equipa de assessores financeiros - o professor Karamba e o Mestre Bambo, debruçados, em brainstorm sincronizada, sobre as miudezas sibilinas duma galinha preta - quem, sem margem para quaisquer dúvidas, lho augurou e garantiu. Uff!, ainda bem. Assim já podemos dormir perfeitamente descansados.

Caguinchas na clandestinidade

Passei à clandestinidade. Esse Dragão fáxista, à falta de argumentos, recorre à espingarda. Não me calará. E como castigo já aí tem o resultado, o murcão:
« O penico global está instalado nas bolsas».

Humanidade sindical! Humanidade sindical!...

Espingardas e resgates

A Remington 870 Express é uma bela arma. Carregada de sal grosso, então, faz maravilhas. Neste momento, o Engenheiro-Arquitecto desce em boa velocidade a Calçada do Monte e vai atravessar o Largo do Terreirinho, estou capaz de apostar, em tempo record. Pela embalagem com que saiu, quase me atrevo a vaticinar que há-de galgar o Martim Moniz em menos de cinco minutos. Acabo de enviá-lo ao quinto dos infernos e ao diabo que o carregue, a ele mais todo o seu cristianismo Ronaldo e benfiquismo evangélico. Mas sei que não passa do Poço do Borratém. Onde parará para comprar "A bola" e rilhar dois ou três pastéis de bacalhau foragidos da ASAE.
Por falar nisso, escutei por aí um alarme de terrorismo iminente. Parece que há indícios de tramóias da Al-caída alvejosas da nacinha. Isto é completamente delirante e inverosímil. Os al-caídos são doidos varridos mas não são parvos nenhuns. Já o expliquei aqui por diversas vezes e com detalhe exemplar: somos imunes ao terrorismo. Qualquer terrorista internacional, por mais raivoso e ressacado que esteja, sabe que não tem qualquer hipótese por estas bandas. Num país como o nosso, onde campeia uma rede de estradas convertidas em tanatódromos e uma seita de pulhíticos ainda mais fatais e arrepiantes que as estradas, a Al-caída, por muito esforçada e espectacular que fosse, por desumana e impiedosa que obrasse, corria sérios riscos de passar despercebida. Se tanto, era vir fazer cócegas nos pés a um Cristo.
Capacitemo-nos: com terroristas nacionais como os nossos, os internacionais não têm a mínima chance. Nem audiência. Só a bicha que teriam que gramar, o engarrafamento de filhos da puta à espera de vez para molestar os cidadãos, deixá-los-ia mergulhados em completa estupefacção e desânimo.
Além do mais, quem já tem a ASAE escusa de temer a Al-Caída. Está vacinado.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

O Tutano da problenáutica da questão

Aproveito enquanto o Dragão não volta d'ir à Svetlana (na volta, encontrou também a prima, a Irina e a amiga da prima, a Natalia), para pôr esta chafarica nos eixos, a falar de coisas realmente importantes, para as pessoas que realmente interessam. Dado que o problema da nação continua a ser o mesmo e o único a partir do qual derivam todos os outros, continua em marcha o nosso imparável Movimento... Contr'ós dragões, contr'ós leões, marchar marchar!...

MANIFESTO DO FUNDAMENTALISMO BENFIQUISTA

Informam-se todos os genuínos Benfiquistas, que a Lista de apoio a Eusébio para a presidência do nosso Glorioso, está em marcha! As nossas promessas, que tencionamos cumprir, são:

1. Terraplanagem do novo estádio e reconstrução do antigo, o verdadeiro, o Glorioso, o infernal, o maior da Europa!
2. Utilização de todos estes jovens palradores, que se dizem muito Benfiquistas, mas apenas são anti-Porto, nas obras de contrução: como serventes, trolhas e quejandos, à boa maneira antiga, do primeiro estádio (das Amoreiras, se bem me lembro, mas também a minha memória já não é o que era...) Poderemos assim testar o seu "amor ao clube"...Um estádio para Benfiquistas erigido por Benfiquistas!...
3. Construção da Estátua do nosso Pantera Negra, dez vezes maior, em duplicado, mas agora dentro do estádio, detrás de cada baliza, para apavorar as equipas visitantes!...
4. Extinção da SAD. Conversão do clube também em partido político, com assento na Assembleia da República. Conquistaremos a Maioria Absoluta e lançaremos novas leis, totalmente democráticas, passando o nosso interesse clubista a identificar-se com o "interesse nacional".
5. Fuzilamento dos actuais jogadores (salvo nenhumas excepções) bem como da equipa técnica vergonhosamente entregue a um espanhol! Por decreto, requisitaremos os melhores jogadores a jogar em Portugal, (ou no estrangeiro, desde que cidadãos nacionais, e a começar pelo Cristiano Ronaldo), passando a equipa do Benfica a ser também a Selecção Nacional!
6. Por decreto e revisão constitucional, o Benfica passará a ser igualmente considerado Campeão Honorário, podendo todas as outras equipas, dentro dos moldes convenientes, competir para o segundo lugar!
7. Proibição rigorosa de jogadores e treinadores estrangeiros na nossa equipa! (Muito menos castelhanos!!!) Aliás, a nossa equipa dispensará treinador, pois será uma máquina letal perfeitamente oleada.
8. Adjudicação de receitas do Orcamento de Estado para o engrandecimento e manutenção grandiosa do nosso clube! As percentagens dos Negócios Estrangeiros, da Defesa e da Educação serão suficientes...Senão, recorra-se também às da saúde! Porque a Defesa, a representação externa, a educação e a sanidade do nosso povo dependem das vitórias e da saúde do nosso Glorioso!
9. Mobilização das massas para um apoio esmagador, em qualquer parte do globo, de Lisboa à Antártida, da nossa equipa!
10. Inscrição compulsiva (se necessário) de todos os cidadãos como sócios da nossa colectividade! Cartão de sócio passa a servir também como Bilhete de Identidade Nacional e Passaporte. Registo obrigatório à nascença!
11. Inerentemente, tanto a bandeira como o hino também deverão ser alterados: a bandeira passará a ser vermelha e branca; e o hino nacional será o Hino do Benfica!...
12. As inscrições obrigatórias no nosso clube serão retroactivas, abrangendo até ao Rei Fundador e respectiva mãe.
13. Igualmente, a Igreja Católica deve abjurar do seu arreigado erro: a Santíssima Trindade não é Una em Deus, mas sim no Benfica, sublime colectividade de que tanto o Pai como o Filho como o Espírito Santo (já não falando na Nossa Senhora e nos santos todos) são fervorosos adeptos.
14. Encontrada a verdadeira Fé, deverão todos os desempregados e ociosos reembarcar em caravelas de modo a ir expandi-la pelo mundo. Também podem ir de autocarro, se enjoarem em alto-mar, ou mesmo nos cacilheiros.
15. Todos os jogadores do nosso clube, terminada a sua gloriosa carreira futebolística, serão beatificados; e canonizados, à hora da morte. Sua Eminência, o Santo e Bento Padre declarará o nosso estádio como primeiro Santuário da Cristandade.
16. O árbitro que apitar uma grande-penalidade contra o nosso clube, será acusado de heresia grosseira, conspiração demoníaca, e acabará lapidado na praça pública.
17. Para qualquer jogo do Benfica, nas categorias de infantis, iniciados e seniores, haverá tolerância de ponto; sempre que jogar a equipa principal será declarado feriado nacional.
18. O 10 de Junho passará a ser Dia do Benfica e dos benfiquistas, que é o mesmo que dizer "Dia de Portugal", só que com mais rigor.
19. No dia 25 de Dezembro celebrar-se-á a inscrição, por S. José, do Menino Jesus no Benfica. O pai Natal, esse, dispensa comentários.

Benfiquista verdadeiro, contamos contigo!! Já basta de galinhas e galinhices: Queremos a nossa águia, autêntica, de volta!!! PARTICIPA!!!... Envia donativos, acções, jóias de família, relógios Rolex para onde bem quiseres, mas junta-te a nós!


Adenda e esclarecimento: Como tratamento alternativo, o actual bando de amélias e bailarinas que enverbonha as camisolas do Glorioso dentro de campo e fora dele, todos vestidinhos com o equipamento altreinativo pinkagaio, mais o orelhudo hum-hum, poderão ser sumariamente sovados, enxovalhados e escorraçados em assembleia geral; e, logo de seguida, atirados aos leões do Jardim Zoológico.

A bem do Benfica (que é como quem diz da Humanidade),

Engenheiro-Arquitecto Ildefonso Caguinchas & Euclides Dinossauro (sacerdote-redactor)

domingo, janeiro 20, 2008

Modernizem-se!





Ao contrário do Labaredas, eu até concordo com a ASAE. Ainda mais quando impede os ciganos de venderem levis e lacostes maradas nos mercados e feiras. Não se admite. É um atentado à economaria. Os gajos têm mesmo é que vender droga pelos arrebaldes e deixarem-se de contrafracções. Alguém tem que meter na linha esta ciganada retógrada e anacrómica!... 'Dasse!

Slogan beato-nacinhal



«Cristianismo só há um, o nosso - o cristianismo Ronaldo e mais nenhum!»

E nada de heresias. O rapaz estava só com os amigos e as putas. Não havia lá pastorinhos, nem leões, nem gajos esquisitos a envernizar não sei o quê e a dar sebo não sei aonde. Basta de má língua!...

sábado, janeiro 19, 2008

O pretexto é o paleio. Essencial é o Benfica!

Diz-me o Labaredas:
«Engenheiro-arquitecto, vê-me lá o que esse mânfio queixumoso quer, que eu tenho que ir ali à Svetlana e já volto."
Belas encomendas que este gajo m'arranja! Dei comigo às aranhas com um paleio, uma renda de bilros ainda mais fanhosa qu'a dele. Mal espremido, parece que é um bacano que andou a enfardar anhósticos, anteus e quequefonistas e aquilo caiu-lhe mal. O gajo não parava de mandar vir c'o cardápio, a clamar ao gerente e em vias d'ir ao Gregório, que agora até 'tava a canjinha da fé-fé e mais não sei das quantas, mas podes ficar tranquilo, ó Jorra-lumes: Aquilo não é contigo. Tu, marisco, nem vê-lo. Sou testemunha. Camarões e lavagantes, nem lhe tocas. Santolas, então, dão-te agonias só de vê-las. Pior ainda se recheadas. "Tirem-me essa merda da frente!", até coiciferas, quando te trazem a conta. É isso e a ASAE. Fazem-te azia. Não, ó leiteiros (ou toiros ou lá o que é), aqui o meu amigo César, é só tremocinho tigre, como o Santo Eusébio, que o guito é pouco e não dá para tudo: ou putas ou marisco. E ele entre conas e cruztáceos, prefere regalar a cabeça de baixo. Chama-lhe parvo. Eu chamava-lhe era paneleiro se assim não fizesse. Antes apanhar um escantamento na cabeça de baixo por excesso de tesão na de cima, que apanhar um escantamento na cabeça de cima por fominha de crica na de baixo. Percebes? Percebes também não. Percebes nada, neribi, também não há verba. Quanto mais anhósticos, anteus e quequefonistas!... Eu nem sabia que essa merda se comia. Não admira que o bacano ficasse despatético. Oh pá, chavaleiro, toma compensan qu'isso passa! Compensa, logo existe. Ou desiste, insiste, faz como quiseres, mas vai com calma. Pára, escuta e olha, um paleio pode sempre esconder outro. O melhor é ires pela passagem subterrânea: a passagem de nível sem anjo da guarda pode ser perigosa.
Agora, ó Dragão, 'tás-me a ouvir?, onde eu vi qu'este bacano é cá dos meus foi quando o gajo, no meio de toda aquele berimbéu, exclamou:
Não, 'tás a ver, ó Draga-Bilhas, mete-conogarfadas é de gajo que sabe da poda. E a cena afinal, além das putas (e que ricas putas, meu irmão: putas de qualidade q'um gajo até se baba todo e fica em ganas de zarpar de urgência lá prás inglaterras!), também meteu pastorinhos, sábios, leões, cobardes e gajos esquisitos. Informa-nos o doutor. E eu a julgar que tinha sido só o Nani e o brasuca Anderson. No fim de contas, uma rabaldaria tipo coliseu de Roma! Qual bacanal de atletas, qual carapuça: uma molhada com o circo Chen! São uns mentirosos, os jornalistas. Intriga-me sobretudo o Herodes: nem sequer joga no Manchester. Mas também lá andava, na confusão. Será primo do Drogba? Certo é que era um dos cinco na orgia. Algum chavalo das camadas jovens, na volta. Mas sempre te digo, sócio, isto com pastorinhos, sábios, grandes felinos e gajos esquisitos é um cristianismo que me desilude à brava. Assim não, assim não rezo. Mesmo que funcionasse como na natureza, estilo cadeia alimentar - os gajos esquisitos comiam os pastorinhos, os leões comiam os gajos esquisitos, a malta comia as putas e os sábios tocavam punheta em contemplação -, mesmo assim era a atirar para o porco. Enoja-me um bocado. Tudo ao molho e fé em Deus, nem na grama nem na cama. Com cristianismos destes não vamos lá. Se é como o bacano diz, Dragão, desilude-me à brava, este Cristiano... Ronaldo.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Em Legítima defesa



Era fatal: «ASAE entope tribunais com 1279 processos-crime».

Já diz o ditado que não há fome que não dê em fartura. Neste caso deu em soltura, uma verdadeira diarreia de turbo-esbirraria assanhada.
Mas o que é mais curioso, neste país onde a classe política se entrega ao nepotismo, ao clientelismo e à traficância de influências mais desbocados, impudentes e militantes, é desencadear-se um tal frenesim policial, uma tal assuada galfarra sobre a iniciativa privada -e sobretudo sobre a pequena e média iniciativa privada. A exigência zelota ao nível da economia só faz algum sentido quando acompanhada e tutelada por uma probidade exemplar ao nível da Administração Pública. Melhor dizendo, políticos desonestos, traficantes, troca-tintas, mixordeiros e ciganões não podem exigir, dum dia para o outro, o absoluto contrário disso aos cidadãos que dizem representar. Não basta dar a ordem: há que dar o exemplo. Uma classe política ao nível de Angola não pode decretar, à pressão, ou na ponta do cacetete, um tecido empresarial ao nível da Escandinávia. Não é fast-government, é lusocídio ao ralenti. Muito mais que simplex, é econocídex e rapinex. O poder não escorado na ética e puramente exercido na prepotência é tirania. Sob a capa de reforma chique, é uma revolução...das tripas - um chiqueiro. Um governo que, pior que desprezar os seus governados, passa a hostilizá-los abertamente, torna-se um cancro. Uma síndrome de imuno decadência adquirida. Uma mafia encapotada de facínoras e apaniguados. Não governa, corrói; não legisla, conspira; não administra, confisca.
Não obstante, alguns dos sicofantas e papagaios acólitos de plantão ao Olimpo burrocrático bradam de volúpia e ventriloquejam de paixão coral. Todos os danos colaterais são aceitáveis, porque agora ir-se-á, finalmente, acabar com a fuga aos impostos. Essa harpia dos orçamentos! Essa hidra instalada e colapsante! É em nome dela, dessa pugna épica contra o monstro, que a ASAE vai colocar a Floresta de Sherwood na ordem. Hurra!... Longa vida ao Príncipe Joinho e ao seu Xerife de Nothing! O problema é que são os mesmos que instalaram a Hidra, que vivem principescamente à conta, que agora, em ímpetos ultra-pasteurizantes, alardeiam querer acabar com ela. E é assim que os barões comensais, entre o arroto do jantar de ontem e o flato que prenuncia o almoço d'hoje, mandam avançar a prebostaria para correr da sala do banquete com a chusma de mendigos que cata as migalhas e com os canídeos oportunistas que rapam os ossos.
O mais espampanante de tudo isto, é que, regra geral, são os nossos tolerantes de serviço -que toleram tudo e mais alguma coisa, especialmente em forma de supositório pelo cu acima ou de xarope pela goela abaixo, quem agora proclama toda uma imensa intolerância à fuga aos impostos. Cães de colo atiçam, assim, cães de fila e sabujos de montaria.
Porém, a verdade é mais crua e simples: num país onde a Administração Pública (enxertada na partidarquia obrante) e toda a vasta cabeleira de simbiontes, que com ela convora e prolifera, se entregam, sem qualquer freio nem pudor, à delapidação dos impostos, à parasitagem do Orçamento, enfim, ao esbulho sistemático dos cidadãos, a fuga destes aos impostos deixa de ser crime - passa a ser legítima defesa.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Moral da história

Começo mesmo a desconfiar que nestes crentes modernaços, beatos turistas de dentuça arreganhada, a consciência funciona como um táximetro. Entendem que Deus lhes paga no Além ao quilómetro. É por isso que são tão bondosos à distância e, não raramente, uns belos sacanas, uns pulhas consumados para quem tiver o azar de viver ou passar perto.

Safaris filantropicais




Ontem, à hora do almoço, reparei no caixote televisivo: um padre anunciava a sua expedição caritativa à Guiné e era festejado e aclamado em directo. Reuniu capitais, comprou com eles um jeep, atestou-o de bens essenciais (presumo) e preparava-se (e prepara-se) para um Lisboa-Dakar-Bissau. O país, embevecido, bebe-lhe o exemplo e inveja-lhe a peregrinação. Ah, que santo homem!...
Isto, tenho que confessá-lo, animou-me também a mim. Fiquei, quase direi, radiante. Não tanto pela proeza do cura em rali - o mais certo é nem chegar à Guiné nem aos pobrezinhos da dita: uns quaisquer bandidos do deserto Mauritano, imensamente carenciados, ficam-lhe com tudo, o jeep, o recheio, o passaporte e o que mais Alá lhes aprouver, poupando-lhe até a maçada final da barafunda distribuideira à pretalhada -, mas por um motivo bem mais comesinho: isto, um raid beneficiente deste jaez, só pode significar que os pobres, indigentes e miseráveis, de todas as idades e marcas, que diariamente trepam nos sensos deste país não existem. Melhor dizendo, à medida em que ascendem nas estatísticas, desaparecem da realidade. É o chamado efeito aspirador do INE. Só assim são compreensíveis estes actos desesperados dos beneméritos compulsivos ou profissionais, como este cura motorizado, ou aqueloutros que a televisão, numa noite destas, também exibia gastando as férias num animado safari de pinta-paredes no Senegal profundo. Sem pobres e miseráveis neste país, por via da voraz haurição estatística, estas santas pessoas têm que partir para África, para o Malabar, para a Coxichina, em busca, não já de especiarias, mas de coitadinhos aflitos a quem distribuir esmolas e bafos de ternura.
Sobretudo, é mais um sinal claro do progresso formidável que a todos nos deslumbra: antigamente, iam para África dar tiros nos animais : eram safaris de caça. Depois, passaram a fotografá-los: eram foto-safaris. Agora, já vão na fase de ir dar de comer, vestir, falar e rir aos indígenas: são os safaris filantrópicos. Filantropicais, melhor dizendo.
Evoluiram muito desde que Cristo recomendou que amassem o próximo. Agora, evasores militantes, já vão na fase de amarem sobretudo o longínquo. Quanto mais afastado e exótico, melhor. São tele-amantes, turistas peregrinos . A miséria e respectiva urgência são proporcionais à distância.
A caridade é o pretexto. O essencial é a viagem.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Esfolando o Skinner

"


À boleia da sugestão do Glutão d'hóstias residente nas caixas de comentários desta espelunca, onde me recomenda a leitura de Skinner, aproveito para citar, bem a propósito, um termo do Dicionário Shelltox Concise do Dragão...


BEHAVIOURISMO s.m., psicologia do comportamento, doutrina de J. Watson, vidente americano (1878-1958), segundo a qual o objecto da psicologia aruspicina é exclusivamente limitado aos dados observáveis a partir das macaquices e caretas do paciente. (O tal Skinner é da escola deste).


E já que estamos na letra B, dou ainda, de bónus, mais dois termos que convém ir sempre rememorando:


BIG-BANG s.m., mega-explosão imaginária que, segundo certos delírios putativamente científicos, serve para explicar a origem do universo algures no Espaço; pode ser resumida da seguinte maneira: no princípio não havia nada, depois deu-se uma grande explosão e logo a seguir começou tudo aos tiros ( a sabedoria-mor consiste em fechar o círculo de caravanas mais depressa que os outros).

e


BURGUÊS p-s.***, síndroma mental complexa e muitas vezes hereditária, caracterizada por uma avidez porcina, uma mentalidade gananciosa, uma lógica calculista e um espírito inexistente; insigne nobilarca cuja provável e distinta linhagem remonta ao diabo ou, seguramente, a uma flatulência deste; por antonímia de “homem”, o sopro de Deus: peido do Diabo ( a ventosidade nauseabunda em oposição ao sopro vivificante) .


*** - Pseudo-substantivo.

Finalmente, compete-me atestar que, em relação ainda ao Skinner, o próprio nome da criatura diz tudo:
Burrhus Frederic Skinner.
Lá está, meus amigos: só mesmo um jumento para entender e apreciar outro.

Deixo-vos com a chamada "Caixa do Skinner" (bom exemplo da pedagogia do nosso tempo):

Legenda: O Glutão Timóteo na sua fase roedora, de juvenil marxista. Na imagem, onde diz "food" entendam, naturalmente, "wine".

Intolerância ao cativeiro



Dragão menino, houve uma época em que me dediquei à colecção de pássaros. Pintassilgos, verdilhões, bicos-de-lacre, capturava-os em armadilhas de visgo e engaiolava-os durante uma temporada. Pardais, piscos, carriças, felosas era escusado. Ao contrário dos anteriores, não se aguentavam na prisão. Enmurchesciam, não comiam nem bebiam, por mais insectos ou incentivos que eu lhes desse, feneciam e morriam a breve trecho. Deixavam-se morrer, melhor dizendo. Antes a morte que tal sorte, deviam eles pensar. E, no meu modesto entender, hoje que penso nisso, pensavam bem.
Descobri assim que havia aves tolerantes e aves intolerantes ao cativeiro. As granívoras adaptavam-se com relativa facilidade, as insectívoras nem por sombras. As intolerantes eram as que tinham mais amor à liberdade. Não a uma liberdade qualquer, conceptual, inefável, retórica, mas uma realidade concreta, vital, irredutível: a sua.
Da mesma forma, apenas em palco diverso, quando os labregos caras-pálidas à conquista da Terra prometida deram com os Sioux e lhes infernizaram a vida, descobriram rapidamente que os pele-vermelhas não se aguentavam em cativeiro nem, pior ainda, serviam para trabalhar. Os índios, diabos os levassem, eram completamente intolerantes ao trabalho e à escravatura. Foi então que os colonos começaram a importar africanos, peles-escuras exóticos que, ao contrário dos pele-vermelhas residentes, eram duma tolerância magnífica à canga e ao chicote.
Uma tolerância semelhante, se bem que encoberta e edulcorada com balelas do Santo Mercado, é o que se procura e promove com a mão-de-obra emigrante destes nossos dias. É essa a tolerância-mor que se destila sob o adestramento frenético e obsessivo em todas as outras tolerâncias.
O mais engraçado disto tudo é que tinha mais civilização na unha dum pé um Sioux que qualquer um daqueles babuínos protestantes por todo ele todo abaixo. No entanto, acabaram com a civilização dos Sioux. E depois vieram acabar com a nossa. É nisso que andam.
Houve civilizações que caíram às mãos de bárbaros. A nossa, desgraçada maior, está a finar-se às patas de macacos engravatados.

PS: Os pássaros cativos da minha infância, não chorem as queridas leitoras, pois não morreram na prisão. Após um breve purgatório chilreante, devolvi-os à liberdade. Tal qual a morte, um dia destes, me há-de devolver a mim.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Intolerância ao formigueiro



Há coisa de meio século, escrevia Aldous Huxley no prefácio do seu "Brave New world":
«À medida que a liberdade económica e política diminui, a liberdade sexual tem tendência para aumentar, como compensação. E o ditador (a não ser que tenha necessidade de carne para canhão e de famílias para colonizar os territórios desabitados ou conquistados) fará bem em encorajar esta liberdade. Conjuntamente com a liberdade de sonhar em pleno dia sob a influência de drogas, de cinema e da rádio, ela contribuirá para reconciliar os seus súbditos com a servidão que lhes estará destinada.»

Há intolerâncias essenciais. São estas que eu enuncio como fulcrais e determinantes numa civilização. O tipo de comportamentos e posturas que, por exemplo, são perfeitamente toleráveis num rebanho de ovelhas, numa manada de vacas, ou num bando de galinhas são, de todo, intoleráveis ao homem digno desse nome. Imaginando que, um dia destes, temos um planeta perfeitamente globalizado (isto é, uniformizado, normalizado, terraplenado) e hiper-controlado por um cripto-directório central Todo Poderoso, isso não constituirá, de maneira nenhuma, uma civilização. Atestará, pura e simplesmente, duma imensa, acabada e total exploração agro-pecuária, supervisionada por um complexo financeiro-industrial. Será sem dúvida um espanto de tolerância, de progresso catita e higienismo pimpão - direi mesmo: um pocilga ultra-pasteurizada (os suínos refocilarão felizes e os donos também, posso até admitir) -, mas não lhe restará nem ponta de civilização. Porque não lhe sobrará nem pinga de humanidade.
Ora, é essa a principal intolerância duma verdadeira civilização: a intolerância à desumanidade.

A Natureza da civilização

A vitalidade e a grandeza duma civilização, qualquer que ela seja, medem-se pela sua intolerência. Intolerância ao homicídio, ao roubo, ao incesto, à corrupção, à cobardia, à mentira, à injustiça, etc, etc. Intolerância ainda, e especialmente, à escravatura e colonização por outra cultura. Quando as civilizações começam a ser sobremaneira tolerantes não significa que são mais fulgurantes e avançadas: significa apenas que entraram em declínio e que se aproximam fatalmente da extinção. A intolerância, fundada em leis, mitos, princípios, história comum e tradições, funciona para a civilização como as defesas do organismo para o indivíduo: quanto menos tolerantes forem aos vírus e bactérias infecciosos e quanto menos indulgentes forem para com as tendências venais do próprio, mais saudável será o conjunto. No dia em que as defesas começam a confraternizar com os bacilos, a tratá-los com toda a deferência, a recebê-los em festa, sabemos o que acontece. Ou chegou a velhice, anunciando a morte; ou chegou a doença, anunciando a febre, o delírio, a náusea e o tratamento de urgência. A corrida aos médicos e remédios.
Intolerância não significa repressão. Ao contrário da manhosice freudiana que equipara civilização a repressão, a intolerância, enquanto cimento civilizacional, significa, outrossim, que a civilização é um sistema de continências, de refreamentos espontaneamente cultivados, ou seja, aprendidos, transmitidos e guardados por todos. Civilizado é aquele que honra a civilização a que pertence.
É à medida que decaem, que declinam, que perdem o vigor, que as civilizações se tornam tolerantes e, em simultâneo, repressivas. Perdido o equilíbrio, tornam-se excêntricas e caem no excesso. Aquilo que deixou de ser guardado e cultivado por todos, passa a ser policiado e imposto brutalmente por alguns. O destino último, após rixas, zaragatas e corrupções, será a desagregação.
A civilização grega era intolerante, tal qual a civilização cristã foi intolerante. No entanto, foi no auge da tolerância que Atenas condenou Sócrates à cicuta e a Santa Madre Igreja largou os cães da inquisição. Farmacon, elucidativamente, no grego original, significa "remédio" e "veneno". A corrida ao remédio, no caso das civilizações, é sempre um acto de desespero tardio. E tanto quanto a luta, anuncia o estertor.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Entre Pandora e Madalena




É curioso que o meu homónimo das Neves imite na metodologia os ilumino-cientistas que tanto o afligem. Estes dizem: "antes da santa razão iluminada e cientificadeira eram as trevas"; ele, pela mesma ordem de ideias, certifica: "Antes da Santa Madre Igreja eram as trevas, o paganismo obscurantista". Pergunto-me se não terão andado na mesma escola...
Por outro lado, um paganismo obscurantista que se dá ao luxo dum Homero, dum Hesíodo, dum Ésquilo, dum Píndaro, Sófocles, Platão, Aristóteles etc, etc, etc, havemos de convir, se é "obscurantista", então, como diria o Areopagita, ou alguns místicos mais exacerbados, é duma "treva muito luminosa". Tomáramos nós uma escuridão daquelas. Enfim, um paganismo que serviu de tutor mental e muleta lógica aos principais santos pensadores da Igreja, no mínimo, merecia um pouco mais de consideração. Digo eu.
Depois, como se isso não bastasse, foge-lhe a pena para a verdade, ao bom professor de economia, e acerta com a granada no próprio pé. A Igreja criou o capitalismo muito antes dos protestantes (oba, que vitória magnífica!) e foram os valores da Igreja - tolerância, caridade e progresso - "que criaram a sociedade contemporânea" ( ena, ena, temos o "progresso" hasteado a valor -não o fazia tão progressista, ó caro homónimo das Neves).
Mas então se foi uma Igreja tão luminosa, tolerante e progressista quem pariu esta bela coisa onde actualmente vagamos, de que se queixa amiúde o caro homónimo das Neves? A cria não é espectacular e um rico enlevo para qualquer progenitor? Sinto-me tentado a deduzir que a sua costumeira crítica é, bem no fundo, uma auto-crítica. A sua apologia idílica esconde afinal um profundo "mea culpa". São os Pecados da Igreja aquilo a que chamamos o mundo actual? Bem vistas as coisas, a Igreja andou, por estes milénios fora, a engendrar abortos - o protestantismo, o iluminismo, o capitalismo, o ateísmo, o racionalismo, o luciferanismo mais conhecido por humanismo, etc. Andou ela a fazê-los e nós a pená-los. Uma Igreja abortadeira, esquizóide, dividida entre Deus e mamom, que muito gáudio (e proveito) deve ter dado ao meu primo do Apocalipse. Abortos, ainda por cima, resultantes de gravidezes histéricas. Puros meteorismos fantasmagóricos. Desarranjos intestinais.
Porque, com efeito, agora que penso nisso, foi da Igreja que saiu Lutero; como foi da Igreja que manaram as universidades onde havia de ser forjado o iluminismo da santa razão; e é invariavelmente nos seminários da igreja (por piedade omito os Jesuítas) que brotam grandessíssimos revolucionários e veterinários sociais da mais virulenta estirpe. Quase apostava que o bode velho foi seminarista. Mais, a este respeito, permita até que lhe cite um episódio deveras emblemático e edificante, passado por alturas da Revolução Francesa. Tem dois capítulos. No primeiro, em 30 de Maio de 1791, um deputado da Assembleia "Constituinte" propõe a abolição da pena de morte na República, por ser "essencialmente injusta" e porque "multiplica os crimes muita mais que os previne"; no segundo, em 12 de Agosto de 1793, no mesmo local, em nome dos Jacobinos, um delegado obscuro "pede o levantamento em massa de todos os franceses e a prisão de todos os suspeitos", e termina com a fórmula famosa: "coloquemos o terror na ordem do dia!" Dando início às "grandes fornadas" para o cadafalso. Sabe qual dos dois era Maximiliano Robespierre, caro homónimo das Neves? Eu digo-lhe: o primeiro. O segundo foi uma criatura chamada Claude Royer. Abade e cura de Chalon-sur-Saône. São as ironias da História, sempre a rirem-se detrás dos paramentos da propaganda.
Serve tudo isto para lhe dizer que, se bem que em moldes menos arrogantes, até concordo consigo: a Santa Igreja é realmente a Madre de tudo isto. A Grande Incubadoura. Para o bem e também para o mal. Que o mal tenda a sobrepor-se ao bem é mistério antigo, que já Caim experimentou e a nós nos deixa sem saber, com clareza, se a qualidade de filhos que somos decorre dos pecados da mãe ou da ausência do pai.

PS: A Igreja faz cá falta. Imensa, quase me atreveria a dizer. Mas uma Igreja que deixe de rojar-se aos pés dos homens. Uma que esteja erguida diante dos homens e se ajoelhe e peça perdão diante de Deus. Bem precisa. E os senhores sacerdotes, beatos e acólitos de serviço fariam melhor se, em vez de emularem e competirem na asneira com os ateístas de plantão, fossem imitar as pedras das catedrais: firmes, verticais, significativas e, acima de tudo, silenciosas. Imunes à algazarra. Desafiantes ao tempo.
Por passatempo esporádico, confesso que gosto de comparar estes fala-baratos da virtude e da Graça com Jesus diante de Pilatos. No lugar Dele, uma vez perguntados sobre o que era a Verdade, aposto que nem teria havido crucificação: ainda hoje lá estavam a explicar ao romano e a seduzir os fariseus. Nem era pela coragem que venciam o Mundo: era pelo tédio. E pelo sono.


domingo, janeiro 13, 2008

Lá volta a Nau Catrineta que tem muito que blogar!...

O Zé do Telhado tornou a fazer das dele. Premiador relapso e contumaz, torna a distinguir-me por algo onde, claramente, a sua generosa fantasia e a realidade não concordam. Nem se interseccionam sequer. A mim, infame oportunista, resta-me agradecer, remetendo daqui um abraço amigo e um conselho de idêntica espécie: Zé, não abuses da bebida, pá! Não queiras dar cabo dos teus bons fígados, ó cibermarujo. Olha que para maus fígados, já basto eu!...

Que tenhas um excelente 2008 e vê lá se ganhas juizo!

(Bem, mas se teimares em não ganhar juízo, ganha ao menos o Euromilhões e que pró ano cá nos encontremos de novo, com saúde e bom humor, que já não é nada mau. )

sábado, janeiro 12, 2008

Pink-pongue ou o Gayzismo Kosher




Tel Aviv planeia tornar-se a capital gay do planeta.


Não sei o que é que os santos rabis pensarão disto. Sobretudo aqueles que proclamam que Ihavé deu Israel aos judeus. E a Torah até diz que sim. Mas também lhes deu uma belas leis, onde reza e prescreve até, a páginas tantas do Levítico: "Não coabitarás sexualmente com um varão; é uma abominação".
Vão argumentar que isto só diz respeito aos judeus, não aos gentios? Que não há inconveniente nenhum em sacar umas massas aos abomináveis de toda a parte, desde que os judeus não se contaminem e se purifiquem depois devidamente?
Bem, lamento muito, mas o texto não é lá muito cooperante nem flexível nessa matéria. Logo adiante especifica, sem grande margem para dúvidas:
«Quanto a vós, cumprireis os meus decretos e os meus preceitos, e não cometereis nenhuma dessas abominações, quer o natural da terra, quer o estrangeiro residente no meio de vós. (...) Que esta terra não tenha que vomitar por a terdes tornado impura, como vomitou o povo que a habitava antes de vós.»

Mesmo assim, estão dispostos a arriscar a sorte? Aquele dinheirinho todo é irresístivel, fora as potencialidades lobbyescas?... Vão contratar uma daquelas firmas de advogados de Nova Iorque, muito espertos e rinofóricos, para endrominar o Senhor?...
Seja. Resta-me então recordar-vos aquele belo capítulo do Deuterónimo - as "Maldições":
«Mas se não escutares a voz do Senhor, teu Deus, guardando e cumprindo todos os seus mandamentos e preceitos que hoje te prescrevo, cairão sobre ti todas estas maldições e ficarão contigo. Serás amaldiçoado na cidade e amaldiçoiado nos campos. Maldito o teu cabaz e a tua arca. Maldito o fruto das tuas entranhas, o fruto da tua terra, a cria dos teus bois e os filhotes das tuas ovelhas. Maldito serás quando entrares e maldito quando saíres.
O Senhor mandará a maldição, a desgraça e a ruína para tudo aquilo a que lançares a mão, até que sejas aniquilado e destruído sem demora, por causa dos teus delitos, por O teres abandonado. O Senhor te enviará a peste até te fazer desaparecer da terra, onde vais entrar para dela tomar posse. O Senhor atingir-te-á com tísica, febre, inflamação, delírio, secura, ardência e palidez, que te perseguirão até sucumbires.» (Deuterónimo, 28, 15-22)
Enfim, caros génios congénitos, são duas páginas inteiras de tratamento especial, que fazem parecer o III Reich uma brincadeira de crianças. Eu, digo já, se fosse comigo, não arriscava. Ser "oprimido e maltratado todos os dias", já me basta esta corja bruxelosa que nos (des)governa; dispenso bem, e para cúmulo, os zelos legais do Senhor. Até porque a prova de que, diante deste receituário inquietante, estamos perante a mais pura das verdades, surge logo a seguir, quando se garante:
«e serás escarnecido por todos os reinos da Terra» (Idem, 28, 25).

Vêem?!... Sereis escarnecidos. Eu já comecei.
Com profecias não se brinca.

PS: Porém, quando «muitos rabis progressistas abraçam activamente relações gay e admitem gays nos Seminários Rabínicos,» é caso para dizer: enquanto for só o meu escárnio e dos reinos da terra...

Snoopy ou O Pequeno-Irmão

A Google decidiu terminar a "AdSense partnership" com a Incredimail. A Incredimail, providencial coincidência, é uma empresa israelita. Para todos aqueles que têm exposto belos anúncios nos blogues respectivos e estão agora devidamente fichados num certo sítio que eu cá sei, vão os meu parabéns. Não desanimem, rapazes!...

PS: A propósito, isso, em compensação, dá algum guito que se veja?...

Is this Fraud??

Será que os votos de Ron Paul foram electronicamente transferidos para McCain?...
Das duas uma: ou os resultados, ou o vídeo foram forjados.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Hojo

Hoje vale tudo? Não,
a palavra é que não vale nada.
P'ra toda esta malta castrada
da honra, memória e coração.

Hoje vale tudo? Não,
vale, se tanto, a ponta dum corno.
Estes portuguesinhos com dono
nematelmintes da situação.

Hoje vale mesmo tudo? Não,
hoje é o nada que tudo vale.
O absoluto zero zenital

do cume do génio a rasar o chão;
o traque içado a sopro divinal
e a gonorreia d'alma feita brazão.

A Argumentúcia anti-referendária - II.

Argumentículo Terceiro: O referendo é, de certa forma, redundante. O povo avulso tem os seus representantes eleitos na Assembleia da República, a quem passou devida procuração por quatro anos. Estes podem igualmente, em seu nome, ratificar ou não os Tratados Internacionais.

- Ora bem, o povo avulso, através de eleições periódicas, escolhe entre determinados partidos que apregoam e garantem determinados programas. Os programas até estão escritos, são repetidamente jurados diante de milhões de testemunhas e funcionam como "contratos de promesa". Todavia, uma vez triunfante, cada cacique reinante no partido vencedor (e quanto maior a maioria, pior), constitui governo e marimba-se positivamente para o pré-acordo nupcial. Tendo sido eleito sob o compromisso solene de baixar impostos, levanta-os; de reduzi-los, multiplica-os; de criar empregos, extingue-os; de combater a corrupção e o nepotismo, açambarca-os; de proceder a específicos referendos, contorna-os. Quer dizer, contratado para fornecer determinado produto, não só não o entrega, como, a maior parte das vezes, realiza o seu oposto. Que fariam as pessoas, se em vez da moradia pré-acordada e paga, lhes apresentassem uma casota de cão, ou em vez do Mercedes-Benz sinalizado produzissem um triciclo de criança? Indignavam-se, certamente. Enfureciam-se, faziam queixa à polícia e aos tribunais. Infelizmente, as pessoas parecem dar mais importância à casota e ao automóvel do que ao futuro dos filhos e dos netos. Além de que a polícia e os tribunais andam sob trela invisível, mas deveras efectiva.
Somos forçados a concluir que uma democracia assim é uma fraude descarada e sistemática. Uma ciganice pegada.
O facto é que os representantes que são oferecidos periodicamente ao sufrágio popular resultam duma escolha prévia dum cacique reinante - o capataz partidário do momento. Ora, essa selecção constitui, por si, também um contrato de promessa: os respresentantes são seleccionados com base no compromisso de, uma vez impingidos ao povo, pagarem o investimento através da obediência canina ao cacique que os deferiu. Ou seja, são representantes do cacique antes de serem representantes do povo. E agem em conformidade. A primeira promessa é que conta; a segunda é meramente folclórica. Os putativos representantes do Povo na Assembleia da República representam, antes de tudo, o seu cacique partidário; tal qual o cacique partidário investido e sustentado por eles em turbo-soba da nacinha representa, antes de tudo, os seus accionistas parlamentares e familiares (partidários, meta-partidários, nacionais e internacionais). A este circuito fechado da mais vergonhosa trafulhice tribal e oligárquica chamam eles "disciplina partidária" ou "fidelidade parlamentar".
Pois bem, sendo que todos estes bandoleiros de bancada e ministério se representam e legitimam exclusivamente uns aos outros, servindo-se apenas do voto popular como gazua ou trampolim para os seus assaltos à Coisa Pública, não sobra qualquer espaço de genuína representação pública. O povo avulso, não é tido nem achado nisto tudo. O cacique pergunta aos seus representantes na Assembleia se concordam e ratificam; os parlamentares respondem ao seu régulo e representante no Governo, naturalmente, que sim. Na verdade, o cacique nem pergunta, ordena; e os perguntados nem respondam, prostram-se e veneram.
Uma operação desta qualidade e envergadura, poderá ser uma sublime macacada, uma olímpica intrujice, uma solene farsa, poderá ser tudo menos uma acto de legitimação nacional. O país real só fornece as costas: para corcel da sela destes jóqueis, para faqueiro destas cozinheiras, para gabinete destes conluios; e o fundo das ditas : para glorificação destes tratados. E regalo destes tratantes.

Quanto ao povo, não é soberano: é analfabeto e patego. Por isso é que assina de cruz... Procurações em branco.
Um regime destes não é corrigível através de eleições, reformas, nem revoluções. Porque um regime destes não se muda: varre-se!

quinta-feira, janeiro 10, 2008

A Argumentúcia anti-referendária - I

Os principais argumentículos contra a realização de referendos são bem conhecidos e repenicados. Passo a enunciá-los, acompanhados dos sopapos que merecem. No presente postal, tratarei dos primeiros dois.


Argumentículo Primeiro: Os portugueses não se interessam pelo referendo. Comparecem em percentagens cada vez mais reduzidas, marimbam-se para o solene acto, fazem manguitos a esmo. Resumindo: São uns irresponsáveis militantes. Gente indigna de tão generosa concessão.

- É verdade. Tem sido esse o fenómeno recorrente. Não obstante, com idêntica má catadura, os portugueses têm descomparecido, maioritaria e escandalosamente, em eleições nacionais de todo o tipo - autárquicas, legislativas e presidenciais - e isso não tem inibido os anõezinhos percentuais vencedores das mesmas de se laurearem e gigantonearem com maiorias absolutas, tanto quanto de se gloriarem em delírio com legitimações fulgurantes e locupletanços anexos. Mais, qualquer maioria absoluta de meia tigela conquistada à boca destes píveos desafluxos é entendida como autorização solene para uma ditadura a prazo. Portanto, se o desinteresse das pessoas é um bom argumento para não realizar referendos, igualmente é um bom argumento para não realizar eleições.


Argumentículo Segundo: Há certas questões de transcendente importância que não devem estar sujeitas ao capricho dos plebiscitos e do povo avulso, mas apenas de profissionais políticos dotados de superlativas clarividências e investidos de superpoderes voláteis.

- Sou o primeiro a admitir que um país não deve andar aos caprichos da turba, sobretudo quando essa turba é diariamente intoxicada, desmiolada, manipulada e estupidiformada por vários canais de televisão, rádio, jornal e revista, replicados por uma constelação de bullblogues, digitenzias, tico-tanques e pornorreias afins. Principalmente, porque sendo essa turba manipulada sem dó nem piedade, os seus caprichos são induzidos e mais não corporizam que os interesses de quem remotamente a telecomanda. Aceito igualmente, e por implícito efeito acumulado, que o povo avulso esteja cada vez menos lúcido e apto a escolher livremente o que quer que seja. No entanto, mais que capaz, essa massa anónima e desqualificada é tida como indispensável e soberana na eleição dos tais profissionais clarividentes -presidentes da república, deputados, governos, etc - que, após culinária urnopédica, se aboletam aos lemes e úberes da Coisa Pública. Ora, se os caprichos da turba são excelentes para eleger tão inefáveis tutores da pátria, não se compreende como ~possam não ser bastantes para opinar sobre assuntos que claramente excedem a gestão ordinária delegada nos mesmos? Relembro que, em tese, estes pinóquios engravatados são investidos para admininistrarem o país, não para aliená-lo. Brada pois à evidência: se o povo avulso não é credível para ser ouvido sobre questões extraordinárias relativas ao seu destino colectivo, então também não é credível para eleger qualquer tipo de representantes ao despacho dessas mesmas questões. E devém, em consonância, um povo cativo duma menoridade e imaturidade atávicas e perpétuas, bem como absolutamente inibidoras de qualquer poder decisório, (de)legal ou administrativo. Os seus tutores, implicitamente, deveriam ser nomeados por supra-entidades externas. Quanto mais longínquas melhor. A limite, Deus. Ou o Presidente dos Estados Unidos da América, Seu actual representante na Terra.
Recapitulando: quem não é confiável para se pronunciar e legitimar em referendo, muito menos é confiável para se pronunciar e legitimar em eleições. Pelo que, no actual regime, e como fica exposto, ao abdicar da legitimação por referendo, o Governo abdica da sua própria legitimidade e comete, grosseira e descaradamente, um abuso, mais ainda que de poder, de confiança. Donde decorre que qualquer português, tanto quanto o direito, tem o dever de apresentar queixa do seu próprio - e exorbitante! - Governo aos tribunais.

Também tu, Brutus?...

Em 10 de janeiro do ano 49 aC, Júlio César atravessava o Rubicão. Desse dia memorável ficou-nos o célebre dito: Alea jacta est. E a sorte estava, de facto, lançada. Até, pelo menos, ao azar dos Idos de Março.
No próximo dia 10 de Janeiro, amanhã mais exactamente, Bush «deslocar-se-á à cidade de Ramallah, na Cisjordânia, para se reunir com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e depois irá a Belém para visitar a Igreja da Natividade». Não é exactamente um Rubicão, mas é o arremedo que esta nossa Idade do Plástico tem para oferecer como exemplo mal-acabado de Neo-César. Um misto de Frankenstoy e Action-barbie. Também há quem diga que, depois dos Reis Magos, chegou a vez do Rei Mongo visitar a Presépio Primordial, mas adiante. O que eu realmente gostava de chamar a atenção é para uma turva eventualidade:
Imaginem que durante a visita às áreas sob responsabilidade Palestiniana acontecia alguma coisa desagradável ao bom do George W...


Longe vá o agouro. Mas que era quase tão bom como o 11 de Setembro, alguém pode negar?...
E quando a vontade, a necessidade e a oportunidade se reúnem à mesma hora no mesmo local, não sou eu quem gostaria de estar por perto.

terça-feira, janeiro 08, 2008

O Velho Testamento



Na imagem em epígrafe, podemos ver o Cartaz que espera George W. Bush à chegada a Jerusalém, durante o seu actual périplo pelo Médio Oriente.
Para fundamentar e escorar devidamente a imagem, permitam que junte algumas passagens bíblicas que comprovam, à exaustão, da legitimidade da mesma, bem como da inefabilidade santa da metodologia então utilizada.

«Terminado o massacre dos habitantes de Ai tanto no campo como no deserto, para onde haviam saído em perseguição dos israelitas, depois de todos terem sido passados ao fio de espada, todo o Israel voltou à cidade, matando toda a população. O número dos que morreram naquele dia, entre homens e mulheres, foi de doze mil, todos da cidade de Ai. Josué não retirou a mão que tinha levantada com o seu dardo, até serem mortos todos os habitantes de Ai. Os israelitas tomaram para si os rebanhos e o espólio da cidade, conforme o Senhor havia ordenado a Josué. Josué incendiou a cidade de Ai, reduzindo-a para sempre a um montão de ruínas, como ainda hoje está."
- Antigo Testamento, (Josué, 8, 24-28)

«Então, Josué, voltando, tomou Haçor e matou o seu rei. Haçor era, antigamente, a capital de todos esses reinos. Passaram a fio de espada todas as pessoas que viviam nesta cidade, votando-as, depois, ao anátema. Nada ficou de quanto nela vivia e Haçor foi incendiada. Josué tomou também todas as cidades desses reis aliados, passando-os a fio de espada, acabando por votá-los ao anátema, segundo a ordem de Moisés, servo do Senhor
- Idem (Josué, 11, 10-12)

«Foi nessa altura que Josué se pôs em marcha e exterminou os anaquitas da montanha, de Hebron, de Debir, de Anab e de todas as montanhas de Judá e de Israel, votando-os ao anátema com suas cidades. Não ficou nem um único anaquita na terra dos filhos de Israel; escaparam apenas alguns em Gaza, Gat e Asdod.»- Ibidem (Josué, 11, 21-22)

«Em seguida, subiu com todo o Israel de Eglon a Hebron, e atacaram a cidade. Tomaram Hebron e passaram a fio de espada a cidade com o seu rei, os seus arrabaldes e tudo o que nela vivia, sem escapar ninguém, como tinham feito em Eglon. A cidade foi votada ao anátema com todo o ser vivo. Dali, Josué voltou-se contra Debir, com todo o Israel, e atacou-a. Apoderou-se dela, juntamente com o seu rei, passou-os a fio de espada e votou ao anátema todo o ser vivo que nela havia, sem escapar ninguém.»
- Ibidem (Josué, 10, 36-39)

Em resumo, é bom saber que ainda há quem se mantenha fiel às tradições ancestrais. E, que diabo, heranças são heranças. Especialmente, em se tratando de empáfia, fanatismo psicopático e predestinacinha. Nesta chicana toda, só vislumbro um ligeiríssimo embaraço: Ai as velinhas!... Ai a máscara!...




Método Predictor infalível para as Presidenciais Americanas

Quem vai ganhar as presidenciais americanas?
Os caros leitores gostariam de adivinhar sem margem para quaisquer dúvidas?
É simples.
1. Juntem os candidatos a candidatos todos, bem juntinhos, num molho.
2. Observem-nos a todos com muita atenção.
3. Vejam bem qual é o pior de todos - o mais bufão, invertebrado, estúpido e alucinado.
4. Já viram?
5. Pronto. É esse! A presidência já não lhe escapa.
Tão fatal como o destino.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Assédio no Estreito



Os americanos queixam-se que foram assediados, no Estreito.
Os iranianos dizem que não assediaram.
Os americanos ameaçam que não vão tolerar futuros assédios, nem a eles nem aos seus aliados (entenda-se "aqueles micromegas cujo nome nunca deve ser pronunciado").
Afinal, em que é que ficamos?
Proponho uma votação:
a) Quem acha que toda esta novela é por causa do putativo programa de armamento nuclear?
b) Quem acha que é por causa do preço do petróleo?
c) Quem acha que é por causa do Estreito estar em vias de ser alargado?

domingo, janeiro 06, 2008

Vae victis!

Realmente, parece que o "Público" perdeu a cabeça. No caderno P2 da edição de hoje, a páginas 4, pode ler-se "Os cruéis ocupantes aliados". Uma sinopse sombria acerca do livro "After the Reich", de Giles MacDonogh - a história degradante da ocupação aliada da Alemanha pós-III Reich.

À pergunta "os bons também cometem atrocidades?", a resposta já tem milénios:
Os "bons", quase sempre, são os que mais atrocidades cometem. E por três razões muito simples, óbvias e exaustivamente comprovadas:
1. Porque os bons são sempre os vencedores;
2. Porque cometem atrocidades a pretexto de castigar as atrocidades dos maus, isto é, dos vencidos;
3. Porque, ao contrário dos maus, podem cometer atrocidades com total sossego, talante e impunidade. Não raramente, maquilhando-as cinicamente de justiça e outros chantillis propagandiosos. Ou não fosse a Historiografia actual, e ao fim e ao cabo a de sempre, uma arte de confeitaria.

Por outro lado, qualquer um que cometa atrocidades devidamente fardado, enquanto está a cometê-las, comete-as sistematicamente por bem, em nome dum qualquer progresso ou lógica imperiosa, convencido de que está a ser bom, a mundificar, ou seja, a extirpar males e sujidades do mundo. A possibilidade de cometê-las, às atrocidades necessárias, serve-lhe, normalmente, de bastante justificação. Na medida em que dispõe desse poder e dessa oportunidade, usufrui dessa razão. Acha ele. Continua a achar. Não aprende.

E sobre tão lúgubre e rastejante assunto, fiquemos por aqui. O nosso triste historial, no que concerne à carnificina intra-específica e compulsiva em que pelos séculos nos vamos esmerando, fala por si. Eloquentemente! E ficou bem crismado na célebre frase de Breno, o Gaulês, aos romanos derrotados em Ália: Vae Victis! (Ai dos vencidos!)

E ai dos vencedores que não entendem que amanhã, fatalmente, chegará também a vez deles.

A Hominicultura de Aviário

Porque é que as chamadas doenças do sistema imunitário - patologias como a febre do feno, asma, diabetes e esclerose múltipla, entre várias outras menos vulgares e mais sinistras -, têm vindo a proliferar nos países desenvolvidos, ao contrário dos países por desenvolver?...
Desde há dez anos que os cientistas que estudam o assunto chegaram a uma conclusão: excesso de higiene. O que até para o leigo é quase intuitivo: se a função faz órgão, e faz, então o sistema imunitário, em deixando de ter intrusos com quem se ginasticar, atrofia-se, destrambelha-se e, ao estímulozinho mais extravagante, desata a atacar o organismo que é suposto defender. Por outras palavras, sem funções, torna-se disfuncional. Disfunciona.
Experimentem criar uma planta na natureza, ao ar livre e outra da mesma espécie numa estufa. Qual das duas, uma vez adulta e exposta à intempérie, é mais resistente e adaptada? É a de melhor raça? A de genes campeões? Raça o olho do cu! Genes o centro da peida! É a que se treinou e fortaleceu ao longo da vida (neste caso, da infância e da juventude). É a que se habituou ao combate contra as dificuldades. É a que desenvolveu resistências às adversidades. Resumindo: é a que viveu! Nas plantas, como nos homens, o mimo, o apaparicamente, a superproteção do parque artificial são bons para criar enfos, repolhos artificialmente insuflados que, à primeira ventania, choram pela mãezinha, pela estufa, em suma, pelo paraíso perdido. Quer física, quer mentalmente. Em perdendo a redoma, perdem a vontade e o viço.
"O que não me mata, fortalece-me", dizia Nietzsche. E eu, activamente, subscrevo. Nos antípodas dos higienistas de todas as brigadas. Mas sobretudo destes frenéticos do euroclismo burrocrático. Em nome da fobia à morte, andam a incutir-nos o medo à vida.
E no fundo, não pretendem criar gente mais saudável: querem apenas gente mais dependente. Mais viciada em higienismos, drogarias e sulfatações. Encurralada em cidades, as grandes estufas. Os Grandes Aviários.

sábado, janeiro 05, 2008

Vai uma aposta?

E, mais adiante, acrescenta: "CIA agents have infiltrated into the international militant groups."
Caramba, que exagero! A CIA só os treinou, arma e telecomanda; não precisa de infiltrá-los.
Mas mesmo que não tenha sido a Al-Caída, pode não ter sido a CIA: pode ter sido o MI6. Ou os Russos. Ou aqueles cujo nome nunca deve ser pronunciado. E até mesmo o próprio partido da senhora Bhutto. É só escolher. Certeza, para mim, só há uma: eu não fui.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Contos do vigário


Sobreviventes do Holocausto acusam o Estado israelita de lhes surripiar os fundos sociais. Em rigor, metade dos 7.7 milhões que lhes estavam destinados em 2007 nunca lhes chegou às carteiras.

A culpa, presumo, é dos alemães.

Isto lembra-me uma anedota que li, um dia destes, num curioso site da internet portuguesa... E passo a transcrever:

«Jacob levou o Jacobzinho, filho de 6 anos, para um voo panorâmico de helicóptero.
- Quero levar o meu filhinho a passear - disse Jacob ao piloto.
- São 100,00 euros.
O judeu não aceitou mas, como o garoto começou a chorar, o piloto propôs uma solução:
- Muito bem, eu levo-os a passear, ao senhor e ao seu filho. Com uma condição: se você não gritar durante todo o passeio eu não lhe cobro nada. Se você gritar, paga o dobro.
Jacob aceitou e embarcou com o filho no helicóptero.
Durante o voo, o piloto fez voos rasantes, diversas piruetas, desceu e subiu bruscamente e Jacob, com os olhos arregalados, manteve-se mudo como uma rocha.Depois de pousar, o piloto inquiriu, curioso:
- Você aguentou muito, sem um pio sequer...não sentiu medo ou vontade de gritar?
- Senti muito medo e quase gritei... principalmente quando o Jacobzinho caiu pela janela...»

Agora a pergunta crucial: Sabem que site era este, onde li esta anedota? Um site anti-semita? Têm a certeza?

Então dêem uma espreitadela aqui...

quinta-feira, janeiro 03, 2008

A Ciber-tasca em perigo, ou o Chóninhas Bobone do Béu-béu



Reina um ambiente fúnebre aqui na tasca, digo ciber-tasca. O Armindo Taberneiro vagueia com ar de morto-vivo (mais morto que vivo, diga-se), e arrepela a barba de quatro dias, enquanto rumina furiosamente o palito de dois. Arvorando uma carantonha patibular de meter aflição, titubeia como se estivesse no corredor da morte e lança-nos uns remelosos de despedida verdadeiramente dignos de reportagem. A malta escuta-lhe os gemidos e persigna-se, solidária.
-"Estou desgraçado... - lacrimuge a cada passo. - Se faço como eles exigem, perco a clientela e vou à falência. Se faço como a clientela gosta, os gajos fecham-me esta merda e fico na miséria!... Puta de vida, puta vida! Dilema do caralho!... Mas porque é que eu não emigrei pró Luxemburgo, como o meu primo Ornelas?!..."
- "Está hamstérico!..." - Confidencia-me, preocupado, o Engenheiro Ildefonso Caguinchas. - "Isto da ASAE está-lhe a dar uma azia!... O gajo nem sabe para onde se há-de virar!..."
Como não sou de pentear derrotas, tento incutir-lhe ânimo:
-"Coragem, ó Armindo! A malta está contigo. Se os gajos te fecharem a porta, entramos pela janela!..."
-"Pois claro. - Reforça o Caguinchas. - Ou então nem entramos nem saímos, passamos a morar cá dentro. Assim com'ássim, já passo mais tempo aqui que em casa. E as brasileiras é só mandá-las vir pelo telefone!..."
-"Olha!... - Reverbero, num clarão arquimédico por alturas do eureka. - A solução, em último caso, é mesmo essa: em vez de clientes, passamos a moradores. A hóspedes! Convertes o espaço de público em privado. Ou então declaras isto como tasca maçónica. Promovemos o Engenheiro a arquitecto e já ninguém se mete contigo. Para a camuflagem ficar perfeita, mandas capar o "Benfica" e passamos a chamar-lhe "Laica"!..."
- "Alto aí! - Brama o Ildefonso, avespanhado. - Os tomates do "Benfica" são sagrados. Se é para mutilar o animal não contem comigo!..."
-"Não seja por isso. -Riposto, apaziguador. - Não se transexiona o cachorro. Há melhor: dizes que isto é um casino típico e está feito. Nos casinos não se aplicam as leis da ASAE nem da DGS. Foi o próprio soba-jagunço da ASAE quem ensinou o truque!...."
Enquanto vamos desbobinando estes cenários galvanizantes, o Armindo fita-nos com olhos vagamente alucinados. A certa altura, caleidoscopando os farolins de médios a máximos, explode estrondosamente, expelindo uma nuvem heteróclita de impropérios, gafanhotos e restos do palito (que, mais caralho menos foda-se, se pode traduzir para português suave no que se segue):
-"Amigos da onça! Calhordas! Flembusteiros! Eu aqui nesta angústia e vocês ainda gozam com a minha desgraça!... Ainda me encharcam o toutiço com maluqueiras sem pés nem cabeça?! Hein?!! Acham bem mofar da desgraça alheia? Temos agora o quê - ratazanas fedorentas? Cágados ninja?!..."
-"Mas qual quê, ó Armindo... - Protesto com veemência. - Ninguém está a mofar, ora essa. Eu, pelo menos, estou a falar a sério, juro que estou, que o Engenheiro, como todos sabemos, nunca se sabe."
- "Engenheiro não, arquitecto. - Corrige o Ildefonso. - Ou melhor, engenheiro arquitecto. Universal."
Mas o Armindo está deveras nervoso e não amaina. Pelo contrário, amarinha às paredes e trepa aos azeites. Produzindo sulfurescências e enxofraduras do seguinte teor:
-"Olha, ó Dragão: eu quero que tu mais esse canivete suiço das profissões liberais vão ao grande caralho que vos foda! Se acham que eu tenho cara de burro ainda vos prego um par de coices!..."
Nunca vimos o Armindo numa tal fúria. Não vão regressar-lhe os caprichos do cutelo, bem tento desarmadilhá-lo:
-"Mas, ó Armindo, que macaco te mordeu? Será que não vês como também estamos aqui preocupados com esse teu terrível problema e tentamos pesquisar uma solução? Somos teus amigos, pá! essa desconfiança quase nos ofende. O Caguinchas até já tem os olhos húmidos."
Pois é, ó Armindo, meu velho. - Confirma e certifica o Ildefonso. - É da sede. Sempre que me falta o vinho na goela, desata-me a nascer água dos olhos. Deixa-te de merdas, ó Thor das adegas, e traz mas é um penalty do especial!..."
Esta convocatória brusca ao dever tem o condão de acordar o Armindo do seu transe pré-licantrópico. Com a bênção de Darwin, o autómato sobrepõe-se à besta. Num ápice, ciranda maquinalmente e regressa de trás do balcão com a pomada requesitada. Transfigurado, graças agora a Deus, para a pessoa sebosa do costume, vai conferenciando enquanto atesta o copo:
- "Isso seria tudo muito bonito se não fossem os chibos!..."
- "Chibos?! - Ouriço-me eu, apanhado desprevenido.
- "Pois. - Riposta ele. - Chibos, bufos, porcos-sujos. O mundo está cheio deles e neste país até transbordam!..."
- "Será, mas aqui entre a malta não há chibos! - Obsto, resoluto. - Direi mais: o bairro inteiro está contigo. De alma e coração. Já disse que partia os cornos ao primeiro que se baldar!..."
-"Então e o Chóninhas Bobone do Béu-béu?..." - Relembra-me ele, com serena erudição.
Amarga recordação que rompe o idílio de toda uma comunidade humana: o Chóninhas do Béu-béu. A ovelha ranhosa da rua. O sicofanta de plantão aos caixotes. O psicoxiúro fanático das higienes cá do burgo. O fã histérico das ASAEs todas do planeta. O mordomo-bravo da municipalidade almeidante. Como é que me fui esquecer duma tal anémona patrulheira?... É o cabrão do Alzheimer a corroer-me os circuitos, provavelmente, diabos o levem.
Neste momento confuso, o leitor interroga-se, mas eu explico: Chamamos-lhe o Chóninhas Bobone do Béu-béu porque só se avista fora da toca - um rés-do-chão esquerdo onde vive emboscado, mirone e rosnador o restante da vida-, conduzido pela trela dum canino ridículo, seu mentor, director artístico e ídolo religioso. O cortejo de ambos é invariável: à frente marcha o quadrúpede soberano; atrás, e pela trela, segue o bípede lacaio e afectado. O cerimonial implícito também nunca varia. Cumpre mesmo uma espécie de rito sagrado: o caniche marechalante vai farejando e mijando rodas, troncos de árvore e candeeiros; o servo obediente escudeira-o com fidelidade, de mãozinha pronta e saqueta devota. Tudo aquilo atinge o clímax por altura da desova fétida do béu-béu. Chegados ao altar da sua eleição, este, retroagachando-se em semidecúbito anal, começa a ganir, mimoso, enquanto arreia a bosta no passeio indefeso. O acólito, cheio de ternuras, estimula-o na fineza plutocrática: "Vá Bibi, só mais um bocadinho, está quase!... Ai que lindo presente que fez o meu Bibi!... Agora a papá vai recolher o tesouro..." E lá estende a mãozinha enluvada na saqueta-de-vénus, arrecadando a pérola com volúpia - no bolso, se não houver um caixote perto.

Era mesmo numa ménage republicana destas que as duas alimárias estavam, um dia destes, vínhamos, eu e o Engenheiro (agora Engengeiro-Arquitecto) Ildefonso Caguinchas, a passar. Diante duma tal sincronia urbanescente, o Ildefonso, repugnado, não se conteve de bradar:
- "Chiça!, que nojice!" E, para reforço sólido das palavras, cuspiu - sonora e protocolarmente - no chão.
Apercebendo-se do gesto, o Chóninhas Bobone, dedilhando a trampa do Béu-béu, rosnou e pingarelhejou de lá qualquer coisa sobre etiqueta e boas-maneiras. Quis o azar que o Engenheiro -um tísico quando lhe convém - ouvisse. Aproximou-se do delicado mas acocorado indivíduo e declamou-lhe com exactidão:
- "Desculpe a minha distracção, cavalheiro. Não me apercebi, tanto ou mais que da sua cara de penico, da sua cara de cu a pedir penico. Com recipiente tão oportuno e exigente, a próxima, juro, não cometerei o crime de desperdiçar no chão. "
E dito isto, sem mais delongas nem prelúdios, repimpou-lhe um bela lostra na tromba. Que legendou do seguinte modo:
-"E agora que já se sente mais lubrificadinho é só, à maneira da Carochinha, prometer alvíssaras a um qualquer progressista Ratão que o encave, que piça minha não é escovilhão de boca de esgoto."


Depois disto, não admira que o Armindo Taberneiro tema as velhacaturas e malsinarreias do Chóninhas Bobone mais o seu ilustre e apofântico Béu-béu.