Mas despondera-se o palhadino na minha direcção. Ou como dizem os brasideiros, Deus os abençoe: parte para a ingnorância. Viagem utópica, reconheça-se, em nave de loucos, já que viaja sem sair do mesmo sítio. Registe-se (e louve-se), todavia, o progresso: largou as fraldas da lamúria frouxa (aquele menino insultou-me) e os vapores da sindicância patarata -, e fez-se homenzinho (tanto quanto a actual metamorfose lho permite, isto é, senão em realidade, pelo menos em esforço): atirou-se à besta escamosa como deve ser: em quase português ( fora aquele início horripilante; alguém lhe deveria explicar que as rimas em prosa horripilam) e não naquele porteirês de fazer escalvar um santo. Sempre tem a sua utilidade o Dragoscópio. E maior prémio que esse não conheço. Isto, quanto à imperial. Vamos agora aos tremoços.
Qual o pretexto para tão promissora investida? Encho-me de esperanças. Lenha não falta por aí. Palha também não. Tralha a clamar fogo é a que se queira (livros, então...). Os dragões são, por excelência, seres desarrumados, solipsistas e babélicos que transportam qualquer ala feminina (conjugal ou doméstica) à exasperação. Digo mesmo para com as minhas escamas: ah, mítico réptil, prepara-te que vais ler das boas!...
Porém, ó anticlimax!, que selecciona o belicoso Nostradamasus para pasto da sua pirotecnia? Não o dragão em besta, em toda a sua exuberante e radical brutalidade retrógada, medieval e obscurantista, mas um momento de amabilidade hipotética, de condescendência urbana e tolerância democrática. Ou seja, uma nuvenzinha minha, simpática e transitória - uma monarquia com parlamento, partidos, sufrágio universal, separação efectiva entre o poder executivo e legislativo, com autoridade mas sem absolutismos, representação genuína do voto, despartidarização e, por conseguinte, independência administrativa do aparelho de Estado, inibição ao desgoverno pelo caciquismo partidesco - é a isto que o sapo eminente se lança, de risota em riste e chocarro na ponta? Ora bolas. Ora malvas! Ora urtigas! Eu aqui, muito bem posto, à espera que o sapo Valente desembestasse na minha direcção, largando a devastação ao meu antro, a pilhagem ao meu tesouro e o resgate glorioso da prima Vera das minhas garras, e afinal o ilustre fana-se e queda-se a deitar fogo à própria habitação, a pilhar chalaças de jacobinismo elástico e a resgatar-me gargalhadas aos recessos da cavernosa entranha. Temos tomba-bastilhas de alguidar! Em modo chiclet, buble-gum: masca e bufa o próprio balão da fantasia, que depois rebenta à espadeirada. É um bufão, este sapo Valente. O Tomba-bastilhas, diabos o levem, é um tomba-pastilhas!...
Larga os cachorros à monarquia decorativa, com a rasquice dum marteleiro e sem a contundência dum tradicionalista. Podia buscar aqui no blogue que encontrava artilharia a sério e não bisnaga de carnaval. Mas a amnésia não deixa. Olha que bem pilhado! Que esperteza saloia!...
Monárquico utópico, apoda-me, com severidade, este Voltaire de Liliput. Perfilemo-nos: A Obsessão atira-se à Utopia; a Patologia investe contra a Poesia; o realismo fantástico estremece perante o realismo amnésico ML (marktinguista-leninista) ao assalto. Mas nada de pânicos: Perscutemos ao microscópio...a pastilha elástica do pequenote.
Afinal, onde está a Utopia? Vamos lá a catar essa pulga malfazeja. É a monarquia que é utópica? Portugal foi uma utopia durante 800 anos, até que se curou e desceu á terra (enfim, à lama) no dia 5 de Outubro de 1910? Ou é só a monarquia constitucional que é utópica?: Então Espanha, Holanda, Suécia e Reino Unido são utopias - locais miseráveis, infestados de comunistas, onde se pratica a troca directa, anda tudo de coche, em ceroulas com atilhos, e os pajens infestam os ministérios? Ou é só a monarquia tradicional, a utópica, porque vivia num palácio, sem direito nem esquerdo, nem deputados palrapiantes?
Ampliemos a lente...
Infecta e rabia onde a utopia? Serão os "homens bons" (que não aparecem no texto depenicado, mas o tomba-pastilhas
foi pilhar num outro ainda a contender-lhe com a meritíssima veneta)?... Mas sejam esses
bons homens. Em Portugal haver homens bons é uma utopia, uma impossibilidade fantástica? Na realidade amnésica do erudito Nostradamasus, a bondade desapareceu para parte incerta, emigrou? Entre nós, doravante, e sem remissão nem esperança, é tudo feio, porco e mau (mas feio, porco e mau em relação a quê - a uma beleza, higiene e bondade utópica ou meramente estrangeira?), ou feio, porco e menos-mau. Não acreditar piamente nisto, é isso que é a utopia? Trata-se então dum maniqueísmo de estrebaria - já não decorre uma perpétua pugna entre a luz e as trevas, ou, actualizando, entre o asseio e a porcaria: é entre a porcaria e a imundície. Filosofia política de Bidonville? Talvez. Exemplo prático: O actual porco de serviço à salvação da confraria contra a imundície ameaçadora é um tal Passos Coelho, que a todos os badalhocos de boa vontade e sentido realista cumpre exaltar, lambuzar e promover. Tivemos o Estado Novo, a seguir o Estado de Direito e agora vamos entrar no Estado de Chiqueiro a valer. Será esta a contra-utopia? A panaceia milagrosa, entre banha da cobre e língua de sapo, cozinhado sob bafo de bruxa, que o Nostradamasus excelentíssimo tem para oferecer ao hipocondríaco e incauto transeunte? Quem não é porco é imundo? É essa a questinha, a causa para tanta comichão, ou coceira, como dizem os nossos primos transatlânticos, Deus no-los guarde a abençoe? (Isto sou eu a dar graxa ao auditório do outro lado do oceano, porque deste já vi que não me safo)...
Mas não nos extraviemos. De volta à lente...
Fermenta pois onde, esse fungo nefasto da Utopia?
Será o rei ser um homem, de carne e osso e não uma ideia ou conceito luminoso e tremeluzente, em
neon-lights, como "povo"? Ou "estado"? Ou "lei"?... Se fosse de loiça das Caldas é que era gebo e contra-utópico? Se fosse de paleio e ficção, estilo soberano do Bordalo a expedir manguito, já não era? Se fosse por soberania eólica e verbo de encher (ou pastilha elástica) também não?...
Ou será o caso inaudito do Rei nomear o Primeiro-Ministro? É isso que é utópico? Se for um cacique partidário, um gungunhana de Massamá, um Pinóquio das beiras ou um soba das berças, aí, já é realismo amnésico da mais fina, racional e demarcada extracção? Isso não choca o sapo nem o sapo choca a virtude? É o haver critério que é utópico? As pessoas não se esmeram nem destacam nos seus misteres, não progridem por mérito próprio nas suas profissões? Não há bons alfaiates, bons médicos, bons advogados, bons músicos, gestores, comerciantes, padres, actores, artesãos, operários, agricultores, etc? Ou o país está confinado ao alguidar da DisFunção Pública, donde, pelos vistos, coacham sapos (e grafo com ch, porque onde acha o sapo, acha a rã, pelo que co-acham ambos, em perpétua e quimérica amálgama) e chatos, em roncafónica sinfonia? Haver uma sociedade desinfestada fora dos partidos, é isso que é utópico? Haver, repito, gente honesta, proba e decente, é essa a utopia que excita a risota ao sapo? Ou apenas colide com o mundo pantanoso com pretensões a
civitas Dei dos feios, porcos e menos maus?
Não, talvez utópico mesmo seja o "interesse nacional"? Interesse nacional é uma coisa que só mesmo um Campanella ou um Fourier poderiam congeminar. Pelo contrário, e como antídoto, no
realismo amnésico reina sobretudo, e em pleno, o desinteresse nacional, de patinha dada com o amor urânico e ensofregado ao interesse internacional ou extranacional. Coisa de azeiteiros ideológicos, enfim. O patriotismo destes cavalheiros é do mais desinterssado que há, daí a sua superlativa e concelebrada virtude: desinteressam-se do seu povo (que dizem representar e ordenham em conformidade), desinteressam-se do passado, desinteressam-se do futuro, desinteressam-se da sua alma, consciência, honra, palavra, ou o que lhe queiram chamar; desinteressam-se do Estado; desinteressam-se da verdade; desinteressam-se da realidade; desinteressam-se da sensatez, desinteressam-se, em suma, de tudo o que não corrobore, alimente e premeie a tara compulsiva ao serviço do seu ego exorbitante. Não espanta pois que, impregnado neste caldo ambiental, o Sapo Valente habite conforme a estação, ora no pântano, ora no alguidar. Trabalha no alguidar e vai de férias ao pântano. Noção de nação não lhe assiste. Não lhe interessa a nação, tão pouco a noção: apenas o obsidia o umbigo donde espreita, sindica e denuncia.
Porfiemas na ampliação...
Haver uma elite (
vade retro aristocracia!) no novo regime, coacha, com mofa, sua senhoria. E confunde logo a seguir, como é useiro e vezeiro: uma elite de pajens. Raio de elite, ó desmajestade! Se são pajens não são elite: ou mandam as serviçais na casa do Nostradamasus? Pelos vistos, mandam e leccionam. Junto com o conselho superior ambulatório de táxistas e comadres do bairro. Mas seria utopia uma elite de pajens? Ou é inveja simples dos pajens da actual elite de sapos pajens da porcaria? Os deputados pajens, os ministros pajens, os directores pajens, os generais pajens, até os blogues pagens e toda a actual e real elite pajem do cacique a bombar, da hora que passa no país a arder, é isso o
realismo amnésico, a contra-utopia faceira? A mesma que convoca o Nostradamasus excelentíssimo ao soleníssimo regalo, ao compenetrado siso e à refastelada beatitude, devidamente morigeradas com a leitura plácida dos matutinos, vespertinos e revistas, em delíquio apantufado de neo-lorde da mansão às avessas?
Ou será o parlamento de circunstância, segundo o anfíbio, a Utopia? Um parlamento pouco diverso do actual, fora a representação integral e não mascarada do sufrágio mais a independência real e concreta do executivo (que não seria coisa pouca, convenhamos), é de circunstância? Então o actual nem de circunstância é: é de pacotilha. Não vamos mais longe: quando, como no momento actual, não há uma sabujice compenetrada da maioria parlamentar ao gungunhana eleito (eleito ponto e vírgula, nomeado pelo bonzo presidencial), é o fim do mundo, da democracia e do estado de direito em cuecas, sem atilhos. Temos o quê, um despotismo nada esclarecido - na verdade, completamente toino - em vigor! Uma trafulhice aciganada onde o desplante cavalga a patranhice. Quem define actualmente o "interesse nacional"? Na prática, ninguém. Na bruma de Avalon, o Cavaco Silva, essa acrópole, e o moço de frete de serviço, aquele tipo que padece humilhações e abusos crónicos e continuados na rua e desforra-se em casa na mulher e nos filhos, ambos os cromos, reconheça-se, em gravata de escrúpulo sem atilhos. Isso é que é o
realismo amnésico? Quer que lhe descreva os anteriores presidentes do rancho folclórico, o vidente? Julgo que não é preciso.
E porque raio ou carga de água suja (coca-cola, se preferir), estaria o interesse nacional em oposição absoluta aos americanos? A
Monarquia utópica é o hospício donde o sapo Valente medita, reina, despacha e expede? Está a perorar então do reino da fantasia dele ou da minha? Pergunta estúpida; pois se é o domicílio dele que está a arder...
Ser independente não é nenhum bicho de sete cabeças, ou amuleto azarado que convoca desgraças e catástrofes sobre o portador, e muito menos é ser hostil. O facto de eu usar porta da rua e janelas com fecho de segurança, não significa que eu sou hostil aos meus vizinhos. Sejam eles grandes ou pequenos, ricos ou pobres. Significa apenas que entra quem e quando eu convido. Significa apenas que disponho duma soberania própria. Os tipos nas penitenciárias, manicómios, campos de trabalho forçado, etc, também dispõem de portas e janelas. Só que não são eles que as controlam, nem a soberania é deles. Além disso, ser aliado não é necessariamente sinónimo de ser vassalo ou sabujo. Mas no realismo amnésico, ser pajem dos Estados Unidos, ou da Alemanha, ou de Angola, ou a Patagónia da Baixo, desde que pague as contas dos batráquios instalados, é que é chique, mimoso e contra-utopia a valer:
Eita diplomacia!... Porque abominar a dependência frenética e compulsiva ao crédito ou a cedência borrada à mão armada, isso é utópico. Olha que formosura epistémica!
Assim, que o Nostradamasus excelentíssimo arme em okupa da nefelipolis alheia e dela se ponha a emitir baboseiras isso em nada obriga ou responsabiliza a outra parte. Apenas lhe outorga, a essa, direito a indemnização, Com juros de mora.
Por outro lado, que o sapo Valente cultue uma pátria-alhúrica afectiva em nada nos convoca á conterraneidade, nem, tão pouco, ao estado de guerra. Apenas me intriga um fenómeno: porque não emigra com o corpo para o éden onde retouça e ceva o espírito. Ou seja, porque não se converte a algo mais que um fruste e desterrado arremedo de putativos inquilinos do condomínio para-celestial?...
Depois, uma utopia alimentada a broa de milho e copo de vinho não se afigura lá muito credível entre as utopias. Mesmo que regredisse, por artes necromantes, à boa bacalhauzada do Bidonville, as outras quimeras de regressão adamica (pré pecado original) snobar-nos-iam de pedestal - "olha-me para estes tugas, os pindéricos do costume, a armar ao pingarelho!..." E, por causa do pivete, ninguém duvide, lá nos devolveriam, a toque de caixa, ao
realismo amnésico, onde nunca falta hamburguer, pizza e coca-cola nas manjedouras da grei. Petiscos gourmet, esses, só para os porcos menos maus ou apenas mais iguais que os outros. Em todo o caso, em que ficamos: é uma utopia ou uma pousada para ascetas?
Quanto a
iphones, facebooks, googles e outras gingajogas que tais, a razão porque, eventualmente não poderiam ser usados na minha utopia (admitindo que a sua era minha) é porque já estavam completamente requisitadas e ocupadas na construção da utopia de outros. Vivo satisfeito sem grande parte disso: devo ser um alucinado. Os pombos-correios também ficariam muito onerosos dado que tinham sido privatizados. Navegaríamos seguramente no mar, que o temos em abundância, e não em alguidares de batráquios falidos, que não têm dinheiro para mandar cantar um cego, mas, não obstante, torram fortunas em bugigangas de utilidade e necessidade mais que duvidosa e a crédito mais que descerebrado. E com astrolábio, bússula e pelas estrelas se não houvesse dinheiro para gps. Com astrolábio deram os portugueses do antanho a volta ao mundo e chegaram a todo o lado (utópicos duma figa!); com iphones, Ipads, gps, mais um bar de ferraduras a fazer de botas, vão estes portugueses do cuspo actuais a lado nenhum, senão pelo ralo da história abaixo. Mas nada de aflições: Claro que os anfíbios oligarcas (respectivos pajens, escudeiros, assistentes e auxiliares) do
realismo amnésico, em compensação, andam em veículos topo de gama de fabrico germânico. O que, concedo, na monarquia utópica, se fosse a minha, embora possível, não seria objecto de veneração.
Com respeito à "giena", esse lugar exótico e místico, haja decoro e paciência, pois pertence na íntegra, por direito de patente e estábulo, ao digníssimo sapo-criador. Que se aconchegue e refastele nela, por muitos e bons anos, é tudo o que lhe desejo. Há lá melhor Seichelle do que essa para a justo e merecido turismo ou romântica lua de mel!...
Em relação a um
hipotético regresso ao escudo, posso deduzir aí a tal utopia tão procurada? Os Britânicos vivem na utopia? Os Polacos na utopia vivem? Foi por serem utópicos que os Polacos escaparam à crise e os Islandeses dela saíram a sete pés? O ilustríssimo Nostradamasus, Sapo Valente, reputado palhadino da mudança irrequieta, afinal, estima de refocilar na estagnação? (mais uma questão estúpida, eu sei, os sapos adoram pântanos)... O situacionismo mimoso é de tal ordem compulsivo que qualquer esboço de alteração ou demanda, por tímido e débil que seja, leva logo labéu, carimbo e estigma? Teremos, nesse caso, que concluir: realismo amnésico é um Estado não dispor duma das ferramentas principais da soberania - a faculdade de emissão de moeda própria. Utopia é o estado dispor dessa possibilidade. Muito bem. Os Estados Unidos (mesmo não sendo exactamente o Estado, mas algo delegado dele) são então o quê - uma utopia, uma semi-utopia, uma topia mista, um croquete de utopia, o quê? Diz-nos a realidade que são a maior potência mundial. Mas só devemos imitá-los no come e caga, nas bugiganguices; nas coisas sérias não, ai de nós! - somos obrigados a extrapolar da lógica anfíbia. Afinal, parece que não é a
monarquia utópica (admitindo-me a morar nela) que se contrapõe e diverge da nação americana: são os realistas amnésicos. Se eles, os States, são fortes devemos, na medida do possível, imitá-los a eles e não àqueles que se prostram perante eles. Será assim tão difícil de perceber? É. Na mente altamente racional dos realistas amnésicos seguir os bons exemplos é praticar o seu oposto. Segue-se o exemplo do lobo de que modo? Fazendo de ovelha. Vamos discutir o quê com malucos?
O que vem reforçado logo a seguir, com a eclosão rotineira de contra-senso militante em que o Nostradamasus excelentíssimo desova e reproduz. Depois de tanto paleio fantástico, o regime da tal "utopia", afinal, pasme-se, é igual aos outros. Outra vez: em que ficamos? É utópico ou banal? Turbilhona na quimera ou patina no tédio? Aspira a bovino ou apenas a gruim, o sapo ventoso?
E a "harmonia social", que despautério é esse? Acoitar-se-á aí, a utopia, esse ciclóstomo? Devia almejar o quê, no realismo amnésico - a luta de classes, a corrida de ratos, o insectódromo da ganância, a idolatria de Mamon, o concurso de chibos e quadrilhas, vulgo peregrinação dos caga-media, enfim, que finalidade crocante e catita?
Mas eis que arribamos, após longa e esfalfante jornada, aos pajens embasbacados diante do palácio das leis. Devem ser leis inefáveis e misteriosas, as do
realismo amnésico; escritas em tábuas sublimes, indecifráveis aos não-iniciados e apenas ao alcance, na plenoscopia, de certos alcatruzes da ciência, devidamente ataviados de avental esotérico (de pedreiro, magarefe ou ajudante de estrebaria), barrete simbólico e antolhos herméticos. Parece-me, todavia, exagerado o cepticismo quanto às capacidades hermenêuticas dos pajens. Confio até que rapidamente aprenderiam. Como? Ora, liam no "Correio da Manhã" e já estava: eis decifrada a cabeluda doutrina. Os bons exemplos vêm de cima. Numa penada, ei-los aptos a colocar a ridículo qualquer desembargador ou juiz de meia tigela, mai-los professores catedráticos todos do reino. Se o sapo emérito quer dar-se ares de esposo dilecto da ciência, convinha que não se deixasse trair, tão reiteradamente, pelas práticas de táxista. Portanto, sem espinhas: os pajens da fantasia do sapo faziam como o sapo e nem de pós de perlimpimpim precisavam. E as leis, depois de carregarem pela boca, naturalmente, grafavam, digitadas e filtradas na fibra óptica, pelo cu. Olé! E olaré.
E podia o rei Zinho ser bastardo? , inquere, com elevação, o Nostradamasus douto. Na monarquia utópica, se bem a vou entendendo desta visita guiada, como em todas as monarquias, essa questão candente só se coloca em tempos de crise hereditária. Lá está, o rei é de carne e osso, coisa nunca vista na história do mundo. Já na república do realismo amnésico, o pseudo-rei Zão, mais os tutores e representantes todos são, por natureza, conveniência, costume ou força de lei, filhos da puta. Registe-se a diferença assinalável: o príncipe na monarquia utópica pode até ser de mãe plebeia; enquanto na
república amnésica será sempre, quase de certeza, de pai incógnito. Ou seja, uns descendem do Pai, os outros da matéria.
Dito isto, eis que concluímos a demanda. Passámos o depoimento ilustre a pente fino e lente grossa e verificamos, com pasmo, que não se avista em lado nenhum, a famigerada Utopia. Que significa então o ápodo?
Significa que o Nostradamasus excelentíssimo padece, mais que de monomania, de monotonia. Coacha uma ideia (Morte aos gambosinos!), exibe uma tara obsessiva (regurgitar jornais velhos e papaguear novos) e apaixonou-se por uma falácia (
ad hominem). O resto é repisar isto, não apenas
ab omolete, mas
ad nauseam. Acoimar de
utopista é tentar, com a subtileza dum grunho para uma plateia de mongos, tentar reduzir o adversário a uma espécie repugnante (que me irmanaria, por exemplo, aos comunas, o fetiche sancho do pobre coitado). Devem calcular, caros leitores, os abalos que me causam estas cócegas. Convenhamos, arremessar com "utopista" a uma besta escamosa que come "anti-semita" ao pequeno almoço, "fascista " ao almoço e "nazi" ao jantar, é, no mínimo, pueril. O Tomba-pastilhas, do alto do balão de
chiclet, quer massacrar-me com quê - com bolinhas de sabão?
Vá lavar a boca e assoar o ranho.
E agora volto para dentro, regresso ao recato da ante-cabine, onde tenho hospedeiras para comer; e deixo novamente o blogue entregue ao piloto automático. Ele que navegue, que maltrate e aterrorize nuvens e passageiros. Eu, sinceramente, tenho coisas mais interessantes para fazer.