Em Junho de 2011, era inaugurado em Portugal o Observatório da Corrupção.
Ora, sendo certo, sabido e certificado que há tanta corrupção em Portugal como poços de petróleo, minas de diamantes e manadas de mamutes, que raio se propõem eles observar - o nada?
Ora, sendo certo, sabido e certificado que há tanta corrupção em Portugal como poços de petróleo, minas de diamantes e manadas de mamutes, que raio se propõem eles observar - o nada?
De resto, os nossos preclaros deputados, com toda aquela acutilância moral que os caracteriza, esgalga e derreia , já haviam constatado e patenteado o mais que óbvio e evidente aos olhos do mundo inteiro e arredores: sendo o país, por beneplácito divino, imune à corrupção, impermeável ao suborno e absolutamente inexpugnável ao ilícito patrimonial, dispensa toda e qualquer legislação contra o enriquecimenmto ilícito. Entre nós, por isso mesmo, não só todo o tipo de enriquecimento é lícito (já que, como o Serafim Calvino revelou, toda a riqueza é justa, pulcra e aspergida lá dos éteres por Deus Nosso Senhor em Cupido), como também, e sobretudo, essa opção é-lhe, por natureza e geografia, rigorosamente inacessível. Não havendo ilícito entre nós, qualquer enriquecedor peregrino, mesmo que voluntária (e quiçá suicidariamente) o demandasse, não o encontraria disponível nem acessível em lado nenhum. E tanto assim é que assistimos, nestes últimos anos, a várias ilustrações vivas e gritantes disso mesmo: Dias Loureiro vê-se na contingência de ter que emigrar para Cabo verde. Duarte Lima corre ao Brasil, onde o ílicito é barato e abundante; Pina Moura esfalfa-se entre Cabora Bassa e Madrid; Isaltino Morais, e tantos outros, vêem-se obrigado a viajar até à Suiça, sempre que a vertigem lhes ocorre; Paulo Portas, suspeita-se, atravessa Pirinéus e Alpes, duma assentada, até à Alemanha; e José Sócrates, só quando desembarcou em Paris, é que pôde, finalmente, encontrar coisa que se visse... Está mais que provado que a esterilidade desértica dos nossos solos para o cultivo do ilícito, tanto quanto da corrupção, mai-lo respectivo suborno simbiótico, força os nossos produtores de riqueza mais expeditos (ou meramente excêntricos) à emigração agenciante, primeiro enquanto pesquisadores, depois enquanto nidificadores (o ilícito, de todo, não consegue sobreviver entre nós; nem em estufas, nem em incubadoras artificiais; pelo que a sua criação, procriação e desenvolvimento, requer sempre cuidados específicos e ambiente propício).
Concomitantemente, dada a ausência mais completa de ilícito entre nós, tanto quanto o enriqueccimento, também o empobrecimento ilícito se torna impossível. Da mesma forma que vale tudo para alguém enriquecer, vale também praticamente tudo para empobrecer, de preferência os outros ( primeiro na figura e orçamento do Estado, mas depois, esgotado este, nas pessoas particulares e avulsas que estiverem mais à mão). E a relação é de tal modo íntima entre estas modalidades, que está comprovado que quanto mais alguém enriquece nestas peculiares condições, tanto mais empobrece em seu redor.
Por outro lado, convém recordar que não apenas a corrupção inexiste adentro das fronteiras portuguesas: também a pedofilia, excepto naturalmente entre o clero católico, mas isso pela razão singular desses elementos serem funcionários dum Estado estrangeiro, que é, como devem saber, o Vaticano. A prova mais acabada de que o processo Casa Pia não passou duma mistificação anti-democrática, anti-republicana e, sobretudo, anti-maçónica (da imprensa reaccionária monárquica, quem mais...) foi a descrição dum dos antros de prevaricação como situado em Elvas. Ora, toda a gente sabe que, a ser verdade o ignóbil ilícito, ele teria que localizar-se necessariamente do outro lado da fronteira, em Badajoz - isto, no mínimo (e com algumas reservas, pois, dada a proximidade da nossa fronteira e a influência obsidiante do nosso saudável clima, a inibição ao ilícito seria até considerável).
E quem diz a pedofilia, diz a própria mentira. Então para esta, a incapacidade aguda da generalidade da população, mas sobretudo dos jornalistas, dignitários, pantacandidatos (ou seja, candidatos a tudo e mais alguma coisa), vedetas do jet-frete e homens de letras, além de lendária, chega a ser embaraçosa. Completamente inaptos para a efabulação, a ficção e o enredo, limitam-se à enunciação enfadonha de tratados de lógica, auto-vivissecações, análises da urina, registos de propriedade e actas de confessionário (coroladas, nos piores casos, com reportagens ao ralenti das últimas férias no cu de judas - literalmente).
Quase a acabar, umas palavrinhas sobre a traição e a prostituição. Aquela, como é bem sabido, foi definhando, paulatinamente, desde a última defenestração pública de relevo, e encontra-se praticamente extinta na nossa pátria. Mesmo para trair a mulher, os portugueses têm que recorrer ao crédito-viagem e percorrer longas distâncias, até ao Brasil, Caraíbas e Seichelles, arrostando, quantas vezes, maremotos, furacões e caterings low-cost). Já a prostituição, essa, benignizou-se completamente - debalde procurar uma prostituta, em dias de hoje, nas ruas ou em casas da especialidade. Agora são, para todos os efeitos, "trabalhadoras do sexo". Não tardam sindicalizadas. Fora as que trabalham no Parlamento, claro está - essas são empresárias da vida fácil.
Voltemos então ao Observatório da Corrupção... Vai observar, portanto, o Nada. Só não é hercúlea, a tarefa, porque em boa verdade é heideggeriana. Na senda do último grande filósofo ocidental, e da sua "Introdução à Metafísica", Portugal avança e acrescenta: porquê observarmos a corrupção e não apenas o Nada? Ora, não dispondo de corrupção, eis que nos debruçamos, perscrucientes, sobre o Nada- o nada, nicles, népia, coisa nenhuma!
A juntar a uma chusma de observatórios que observam tudo e mais alguma coisa, mas, em bom rigor, não observam nada, eis finalmente um observatório que observa tudo aquilo que os outros não alcançam. O Nada, repito.
O leitor mais céptico e amovediço interrogará: merece o balúrdio que se gasta nela, uma espreitação tão peregrina e inefável? Respondo: senhores, a metafísica não tem preço. E o Nada, uma vez bem esquadrinhado e patenteado ainda gera um fonte de receitas descomunal ao país, providencial sortilégio nesta hora de tão grande necessidade. Basta lembrar-se que metade do "espírito" dos computadores (a net inteira de lés a lés) é nada - zero. Sem o Nada (na pessoa do seu número 0), que relembro, só chegou à Europa no século XII ou XIII (confiram no google ou na wikicoisa), por intermédio dos árabes, jamais teria havido capitalismo e, consequentemente, salvação da humanidade. Ainda hoje, grande parte dos recursos financeiros mundiais são extraídos do Nada. Aliás, não há nada mais transaccionado nos dias de hoje que o Nada. Tanto que o Nada alastra por todo lado: das instituições bancárias às próprias almas. Os maiores crânios da humanidade actual estão cheios de Nada (e de si, por arrasto). Até já existe um Prémio Nobel para o Nada, carinhosamente eufemizado sob o epíteto de "Paz". Há tanta paz no mundo como corrupção em Portugal. Mas como a iliteracia mundial não compreenderia "um Prémio Nobel do Nada", eles tiveram que improvisar com a "Paz". O mesmo se passa entre nós: ninguém aceitaria um Observatório do Nada; daí eles têm que colorir com "Corrupção".O qual, em todo o caso, é pago com dinheiros essencialmente comunitários. O que quer dizer que não nos sai do bolso do orçamento. Bem, na verdade, até sai - esguicha naquele item onde consta o pagamento dos 3.000 milhões de juros do resgate, à onzeneirice europeia. Ao fim e ao cabo, eles têm que se fazer pagar.... A troco de - pois é, pois é - Nada.
Voltemos então ao Observatório da Corrupção... Vai observar, portanto, o Nada. Só não é hercúlea, a tarefa, porque em boa verdade é heideggeriana. Na senda do último grande filósofo ocidental, e da sua "Introdução à Metafísica", Portugal avança e acrescenta: porquê observarmos a corrupção e não apenas o Nada? Ora, não dispondo de corrupção, eis que nos debruçamos, perscrucientes, sobre o Nada- o nada, nicles, népia, coisa nenhuma!
A juntar a uma chusma de observatórios que observam tudo e mais alguma coisa, mas, em bom rigor, não observam nada, eis finalmente um observatório que observa tudo aquilo que os outros não alcançam. O Nada, repito.
O leitor mais céptico e amovediço interrogará: merece o balúrdio que se gasta nela, uma espreitação tão peregrina e inefável? Respondo: senhores, a metafísica não tem preço. E o Nada, uma vez bem esquadrinhado e patenteado ainda gera um fonte de receitas descomunal ao país, providencial sortilégio nesta hora de tão grande necessidade. Basta lembrar-se que metade do "espírito" dos computadores (a net inteira de lés a lés) é nada - zero. Sem o Nada (na pessoa do seu número 0), que relembro, só chegou à Europa no século XII ou XIII (confiram no google ou na wikicoisa), por intermédio dos árabes, jamais teria havido capitalismo e, consequentemente, salvação da humanidade. Ainda hoje, grande parte dos recursos financeiros mundiais são extraídos do Nada. Aliás, não há nada mais transaccionado nos dias de hoje que o Nada. Tanto que o Nada alastra por todo lado: das instituições bancárias às próprias almas. Os maiores crânios da humanidade actual estão cheios de Nada (e de si, por arrasto). Até já existe um Prémio Nobel para o Nada, carinhosamente eufemizado sob o epíteto de "Paz". Há tanta paz no mundo como corrupção em Portugal. Mas como a iliteracia mundial não compreenderia "um Prémio Nobel do Nada", eles tiveram que improvisar com a "Paz". O mesmo se passa entre nós: ninguém aceitaria um Observatório do Nada; daí eles têm que colorir com "Corrupção".O qual, em todo o caso, é pago com dinheiros essencialmente comunitários. O que quer dizer que não nos sai do bolso do orçamento. Bem, na verdade, até sai - esguicha naquele item onde consta o pagamento dos 3.000 milhões de juros do resgate, à onzeneirice europeia. Ao fim e ao cabo, eles têm que se fazer pagar.... A troco de - pois é, pois é - Nada.
O imaginativo Karel Capek, que há um século pôs o eslavo "robot" no vocabulário mundial, também escreveu um divertido livrinho que em português levou o título de A Fábrica do Absoluto.
ResponderEliminarPartindo da premissa panteísta, a invenção da conversão total de matéria em energia tem óbviamente consequências graves - quando se converte matéria em nada, o que fica à solta é o "absoluto", a alma das coisas, a essência espiritual.
"Hilarity ensues", como dizem nos filmes.
Está assim desvendando o que os merdocratas alcançaram ao longo de 40 anos tem para os portugueses.
ResponderEliminarUma mão cheia de nada.
Actas, caraças!
ResponderEliminarVou já lá, Bic.
ResponderEliminar☺
ResponderEliminarAgora são, para todos os efeitos, "trabalhadoras do sexo". Não tardam sindicalizadas.
ResponderEliminarJá tardam um bocado... Ahah!
https://youtu.be/8LfGbNXYHqw?t=1000