terça-feira, agosto 28, 2012

Da Tortura Fútil



«Governo perde no IVA o que ganha com corte de subsídios».


E consegue o prodígio de diminuir a receita fiscal através do aumento alarve e estapafúrdio de impostos.

Faz lembrar aqueles curandeiros do antanho, que, para curar uma anemia, sujeitavam o paciente a sangrias reforçadas e ininterruptas.

Nada disto, todavia, é surpreendente. Assombroso, verdadeiramente de espantar é que ainda ninguém tenha começado aos tiros.

terça-feira, agosto 21, 2012

Cientopolis? Algures entre a Tautologia, Procusta e o Clima


«Realismo n arte: realismo na ciência - passam com o tempo. Em 1859, a coisa a fazer era aceitar o darwinismo: agora muitos biólogos estão a revoltar-se e a tentar conceber outra coisa. A coisa certa a fazer era aceitá-lo na sua época, mas, como é evidente, o darwinismo nunca foi provado:
os mais aptos sobrevivem.
O que é que se entende por mais aptos?
Não os mais fortes, não os mais espertos -
A Fraqueza e a estupidez sobrevivem por toda a parte.
Não existe qualquer forma de determinar a aptidão excepto no facto de uma coisa sobreviver realmente.
"Aptidão", então, é apenas outro nome para "sobrevivência".
O darwinismo: Que os sobreviventes sobrevivem.»

- Charles Fort, "O Livro dos Danados"


Note-se que o agora destas considerações Forteanas correspondia a 1919.  Reduzir o "método científico" a uma tautologia manhosa poderá parecer excessivo. Dada a "heterodoxia" feroz do autor em questão, beirará mesmo o descrédito.
Mas. não obstante, um conceituado epistemologista contemporâneo vai ainda mais longe:

«Ainda que o empreendimento científico possa ser imparcial, seja qual for o sentido que a frase possa ter, o cientista, pessoalmente, muitas vezes não o é. Seja a sua obra predominantemente teórica ou experimental, por regra parece conhecer, ainda antes do projecto que tem em marcha, quase todos os detalhes do resultado a que chegará esse projecto. Se o resultado aparece rapidamente, tanto melhor. Se não, lutará com todos os seus aparatos e equações até que, sendo possível, apareçam resultados que se ajustem ao tipo de estrutura que estava prevista desde o início.»

- Thomas S. Kuhn , "Os Paradigmas científicos"

E um Físico de justo renome, eventualmente o mais importante do século XX, vai ainda mais além  na mordacidade.
«Uma nova verdade científica não se apresenta habitualmente de um modo  convincente aos seus oponentes...;  de facto, estes vão desaparecendo pouco a pouco e surge uma nova geração que está familiarizada com a verdade desde o princípio.»

- Max Planck

sábado, agosto 18, 2012

Os Protocolos dos Sábios de Teerão

Capa da revista porta-voz do neoconismo americano, em 20 de Agosto:




Postícula dum papagaio neoconinhas cá do burgo, em 17 de Agosto:




Ainda há bem pouco tempo, tive ocasião de aqui expor o poderio militar tremendo e a descomunalidade bélica dos iranianos. Portanto, nem sequer vou discutir a qualidade desta propaganda (dado que um quesito essencial para uma boa propaganda, como para qualquer obra de ficção, é a verosimilhança; ora, neste caso, tenta compensar-se a inverosimilhança grosseira com o despejo massivo permanente).  Não, remeto-me apenas a uma constatação simples: trata-se aqui do velho mito da "Conspiração Mundial", só que, doravante, de patas para o ar. A vítima de ontem, uma vez alforriada, investiu-se em  fogoso torcionário d'hoje. Porque, de facto, com todos e preceitos e conceitos, o que esta esta gentinha anda entretidíssima a escrever não pode ser descrito doutra forma senão como "Os Protocolos dos Sábios de Teerão".
Contra maníacos mixordeiros desta natureza há argumentos? Não; há camisa de forças. Que agora a clientela das alas furiosas dos manicómios se pavoneie em think-tanques e outras sargetas comunicantes, essa, já é uma  bizarria calamitosa  que o mundo, encharcado, padece e a razão debalde tentaria explicar.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Progresso, pois..

No século XIX, na Europa, uma pessoa com 40 anos era considerada velha. Porque a esperança média de vida da população em pouco ultrapassava essa idade. Neste dealbar radioso do século XXI, uma pessoa com trinta e cinco anos é considerada velha. Porque a esperança média de emprego da população extingue-se entre os 35 e os 40. Neste momento, aos trinta, já se é considerado perigosamente envelhecido. A diferença substancial entre o século XIX e o XXI é o estatuto na  epivelhice -  lá, passavam rapidamente a cadáver/defunto; cá, experimentam um limbo de transição, durante o qual se arrastam e definham zombificados. Na verdade, a putativa melhoria em termos quantitativos não se reflectiu em tremos qualitativos. Longe disso; o que se fez foi apenas prolongar e rentabilizar (em termos de indústria droguista, por exemplo) a degradação física, sobretudo, já que a mental, essa, com requintes de veneno, vai sendo metodicamente subministrada desde a nascença.

A obviofobia do obtuso


Afinal de contas, a Islândia é que tinha razão. Mas quando reina e campeia o obtuso, torna-se interdito o óbvio.
E o óbvio bradava à evidência: depois de décadas de lucro fácil e saque rápido no casino da finança, os mesmos que arrecadaram os ganhos fabulosos que arcassem agora com as inerentes e fatais perdas. Se eu for ao casino Estoril e estoirar lá o orçamento da família, ninguém atura que eu vá requerer depois reembolso às Finanças, pois não?

terça-feira, agosto 14, 2012

Aljubarrotas






O homem pode deixar corromper-se de múltiplas formas: pelo dinheiro, pelo vício, pela lisonja, pela inércia, pelo clima, pela colectividade, pela estupidez, pelo egoísmo, etc. Algumas destes factores são redundantes, eu sei. Muitas vezes operam até em tandem - duplo, triplo e até quadrúpulo! -, sem dúvida. Mas dois suplantam e imperam sobre todos os outros, como aqueles que mais vítimas humanas têm causado: o Poder e o Medo.
Ubíquos, implacáveis e inesgotáveis, difícil, senão quase sobrehumano, é resistir-lhes. Ainda mais porque operam em equipa, caçam em conjunto - àqueles a quem não corrompe o Poder, quase sempre corrompe o medo; e se a uns avassala  a soberba e a impiedade, a outros, geralmente tributários daqueles, subjuga a cobardia, a pusilanimidade e o servilismo. Escravos, todavia, são eles todos... Por uma razão muito simples e suficiente: nenhum deles é senhor de si.  De tal modo que uma lei universal e sinistra se vem perpetuando, através dos povos e séculos: quando maior o Medo, maior o Poder; e quanto maior o Poder, maior o Medo. Há quem diga que ambos, medo e Poder, não passam de duas faces horrendas do mesmo monstro. É possível. Aprendi na vida que se nesta há algo que a valha,  enobreça e plenifique, talvez se resuma numa palavra: resistência. Resistência a todos os tipos de corrupção (sabendo nós antecipadamente que a nossa própria natureza  nos armadilha o ànimo e embosca a vontade e sendo ela, a limite, uma forma garantida de corrupção), mas sobretudo ao Poder e ao Medo. Pois morrer, todos vamos; mas morrer inteiros, só mesmo alguns... raríssimos!.
Essa raridade exemplar é mesmo uma constante e uma certeza históricas. Que eu consiga vislumbrar, à parte Jesus Cristo que pertence a outra dimensão, ocorre-me, na Antiguidade, Diógenes. A título de ilustração, recordo um episódio paradigmático: convocado por um qualquer general de Alexandre, Diógenes ignorou olimpicamente a ordem. Enfurecido, o general reforçou o mandato com uma severa ameaça: ou Diógenes comparecia perante ele, ou ele, general, matava-o. Resposta do filósofo ao ordenança: "diz-lhe que não vou. nem irei nunca. E matar-me não é grande proeza nem nada que me tire o sono: qualquer escorpião consegue fazer isso."
Mas ocorre-me também, na História de Portugal, um outro caso, certamente único pelas suas circunstâncias: D. Nuno Álvares Pereira. Não o corrompeu o Poder, como nunca o corrompeu o Medo. Devia perdurar bem mais vivo na nossa memória colectiva, se nós, enquanto colectividade, não rastejássemos rendidos a escravos que nos oprimem e à subserviência imunda que nos labefacta e vicia.
Muito mais que simples figura histórica, Nuno Álvares é uma figura humana, a prova vivida e intemporal de que ninguém vence verdadeiramente as Aljubarrotas do mundo se não tiver, depois, a coragem e o despreendimento para vencer a Aljubarrota que há em si. A batalha mais difícil nunca é aquela que espera o guerreiro no campo; mas a que espera o vencedor dessa batalha. Quantas vezes ganhar o mundo não é perder a alma?...
Ele venceu ambas, as batalhas. E por isso perdura como herói justo. Ou santo, que é como os verdadeiros cristãos, que ele honrou e ilumina, chamam aos seus heróis.







A Metapilinha



A diferença mais evidente que existe entre um ateísta profissional e um leigo religioso - um católico, por exemplo, só para citar o exemplo mais numeroso entre nós -, reside na quantidade de horas semanais que devotam ao (chamemos-lhe assim)  "pensamento na religião". O católico gasta para o efeito cerca de duas horas semanais (geralmente ao domingo), ou seis ou sete, nos casos mais  fervorosos; o ateísta , por seu turno, emprega nisso todas as horas dos sete dias semanais, excepto aquelas em que não consegue, para sua grande pena, continuar acordado a ruminar e  cocabichar no assunto. A explicação para este aparente - e apenas aparente - paradoxo consiste, muito simplesmente,  na disparidade de faculdades psíquicas utilizadas por cada um deles no empreendimento: o católico entrega-se à fé (que, como bem sabemos, na espécie humana, tende a ser pequena, limitada, mesquinha e interesseira); o ateísta, em contrapartida, abandona-se à imaginação, a qual, por natureza e intuito,  transcorre, transpira e transborda, infatigavelmente, entre o absurdo, o obsceno e o infinito. De não espantar, por conseguinte, que o católico deslize em geral para a acédia, fazendo da religião um mero acessório da existência; enquanto o ateísta, por fatalidade agravada em vício, trepe à obsessão mais exaltada, em transbordo para a monomania ultra-feroz, fazendo da religião, mais que essência subtil (pois que toda a subtileza os repugna), o sol concreto da sua logoláxia. Naquele, em resumo, estamos perante o automatismo hebdomadário ao nível do tique; neste, ainda mais sofisticado, o devaneio excitante em recheio, guarnição e transporte para a auto-carícia... Fruto goro, por certo, de todo um  intelecto reduzido a metapilinha.


domingo, agosto 12, 2012

General Gay ou a Promoção do Capitão América




«With promotion, U.S. Army welcomes first openly gay general»


Toda a notícia é dum surrealismo cómico a beirar o rilhafoles. Mas a parte mais exótica e burlesca é esta:
"In June, the Pentagon hosted a Gay Pride Month event. And in July, members of the military wore their uniforms during a San Diego gay pride parade, the first time the Defense Department had allowed such a practice."

E não, não é uma sequela da rábula do Jo Soares, nem uma nova estrela do pink-rap: é mesmo o estado do "Ocidente".

O Oeste e o Far-West




O slogan do Presidente Wilson, por altura da Primeira Grande Guerra:
«The world must be safe for democracy».
Para Wilson, a Grande Guerra é, na essência, uma guerra de libertação das pequenas nações oprimidas, contra o imperaliamo e pelo direito desses povos infelizes e desvalidos à auto-determinação. Isto, pelos vistos, em nada invalidava (ou sequer inibia) a política do Big-stick, na linha do pensamento Monroe, praticada pelo mesmo Wilson e traduzida nas intervenções armadas no México, no Haiti, na República Dominicana, no Panamá (duas vezes), em Cuba, nas Filipinas, etc.

Em Março de 1947, no Congresso Americano, o Presidente harry Truman, enuncia a sua doutrina acerca do papel de policia global que a potência americana entende auto-arvorar-se (a bem da "estabilidade", proclamam): "Onde quer que uma agressão, directa ou indirecta, ameace a paz, está em jogo a segurança dos Estados Unidos; onde quer que a segurança dos Estados Unidos esteja em jogo, Washington contribuirá para restaurar a democracia". Truísmo esquisito, havemos de convir. Ou pescadinha de rabo na boca que, no fundo, significará que todas as democracias do mundo são projecções da democracia americana - o que, a limite, outra coisa não representará que o mundo inteiro como "projecto americano"; ou o planeta Terra como  uma "américa em Devir", ou um "dever ser" americano. Mas que traduzido naquilo que importa àquela mentalidadezinha de réptil calvinista dará qualquer coisa como "todos nós", resto do mundo, já nascemos em dívida com a "América". Justíssimo pois que eles andem pelo mundo a cobrar. Ou extorquir, como dizem as más línguas.

Em Janeiro de 1949, o mesmo Harry Truman, na "mensagem sobre o estado da União, Point IV, perora, em êxtase benemérito:
«temos de lançar um novo programa que seja audacioso e coloque as vantagens do nosso avanço científico e do nosso avanço industrial ao serviço do progresso e do crescimento das regiões subdesenvolvidas. Mais de metade da população deste mundo vive em condições próximas da miséria. A sua alimentação é insatisfatória. São vítim,as de doenças. A sua vida económica é primitiva e estagnada. A sua pobreza constitui um óbice e uma ameaça, tanto para elas como para as regiões mais prósperas... Só ajudando os seus mebros mais desfavorecidos a ajudarem-se a si mesmos a família humana poderá concretizar a vida decente e gratificante a que toda a gente tem direito. Só a democracia pode fornecer a força vivificante capaz de mobilizar os povos do mundo para uma acção que lhes permita triunfar não só contra os seus opressores mas também contra os seus inimigos de sempre: a fome, a miséria e o desespero.»

Tradução: O far-west agora é lá fora, onde aguardam ainda inúmeras tribos índias que urge pacificar, digo, democratizar.
O mesmo tipo que diz isto, não teve qualquer pejo em constituir-se, na História, como o maior genocida instantaneo de todos os tempos, ordenando o lançamento de engenhos atómicos sobre populações civis.

Em 1920, Evguéni Zemiatine, começa a escrever, na União Soviética, e inspirado nela, a distopia "Nós". Concluído em 1921, o manuscrito vai parar imediatamente ao índex, donde só sairá em 1988, data da primeira publicação da obra em língua russa. Principia assim:
«A  construção do Integral estará concluída dentro de 120 dias. Aproxima-se uma grande data histórica: aquela em que o primeiro Integral encetará o seu voo nos espaços infinitos. Há mil anos que os nossos heróicos antepassados reduziram toda a esfera terrestre ao pode do Estado único, e um feito ainda mais glorioso nos espera: a integração das imensidades do universo pelo Integral, formidável aparelho eléctrico em vidro e que expele fogo. É nossa missão submeter ao jugo benéfico da razão todos os seres desconhecidos, habitantes de outros planetas, que talvez se encontrem ainda no estado selvagem de liberdade. Se eles não entendem que nós lhes proporcionamos a felicidade matemática exacta, é nosso dever obrigá-los a serem felizes. Mas antes de qualquer outra arma, usaremos a do Verbo... Viva o Estado Único. Vivam os números. Viva o Benfeitor.»

Que o modelo socialista soviético tenha inspirado esta visão a Zemiatine não nos espanta. Todavia, que ela já na altura também se aplicasse- ipsis verbis! -  a outro empreendimento bem mais dissimulado, e perdure ainda hoje, com gana e garra sempre renovada, é fenómeno que não deveria nunca deixar de nos inquietar.
Até porque já estamos cansados de saber e experimentar a dentuça e a goela que se escondem detrás do tal "Verbo".


sexta-feira, agosto 10, 2012

Lying in a cuckoo's nest, ou O Ovo do Cuco



«The neocons also faced attacks from the reinvigorated paleoconservatives. The two groups were heirs of two differente intellectual traditions. The paleos followes the thinking of Edmund Burke and Thomas carlyle, who emphasize religion, social hierarchy, and status. The neocons were direct descendents of the Enlightenment; their ideias includes free markets, democracy, individualism,equal rights, an, later, Marxist theories of class struggle and greater government intervention in society.
For Kirk and other traditional conservatives, neoconservatism represented  a schism in the the left (like the trotsky faction of the Communist Party).
(...)
Another source of friction between the two groups was their differing views on Israel. Many on the right believed that the backing the neocons gave to Israel reflected a fanciful, democratic globalism rather than the genuine concern for American interests. Kirk complained that the neocons often mistook Tel Aviv for "the capital of the United States". Provoked, Decter charged that Kirk's sentiments echoed the old anti-semitic canard of "dual loyalty".»

- Murray Friedman, in "The neoconservative Revolution" (pp. 134/135)

O que é engraçado, no meio disto tudo, é como o assalto ideológico desta Quinta Coluna sionista à bancada da direita conservadora americana redunda no desterro dos seus genuínos representantes para um ghetto ideológico a  que, com a chutzpah operacional característica,  catalogam de "paleo". Cá está o "método do cuco: uma vez instalada a postura exógena no ninho da ave incauta, eis que a legítima descendência desta se vê   implacavelmente despejada pelo avantajado alienígena.

Stephen J. Tonsor, um historiador da Universidade de South California, terá colocado as coisas nos termos adequados:
«É esplêndido quando a prostituta da paróquia descobre a religião e se junta à igreja. Aqui e ali ela até desempenha bem uma excelente directora de coro, mas quando começa a dizer ao sacerdote o que ele deve  e não deve proferir nos Sermões de domingo, uma coisa é certa: as coisas foram longe demais.»

E realmente foram.

quinta-feira, agosto 09, 2012

A Revolução neoconas



Tenho para aqui um livro, que já adquiri e li há uns anitos, com um título deveras sugestivo:

"The neoconservative revolution".

Reparem como o "neoconismo" e a palavra "revolução" aparecem de mão dada. E faz todo o sentido. Assim como seria de todo descabido tentar conciliar o conceito "conservador" e "revolucionário", já "neoconas e revolucionário só espantará ou estranhará ao incauto.
Entretanto, se o título já brada, o subtítulo, então, é ainda mais deslumbrante:
«Jewish intellectuals and the shaping of public policy».

O autor é um sujeito chamado Murray Friedman, judeu daqueles muito vaidosos e ciosos da sua supremacia racial. O assunto é a tomada de assalto da política externa americana por um grupo de agitprop, que se vem reproduzindo (literalmente), proliferando e revezando, desde um mútuo background comunista/trotskista nos anos 30/40 até aos dias de hoje.
O livro constitui um encómio entusiasta a estes bravos e sagazes propagandistas que contribuiram em quantidade nada desprezível para o actual "estado de coisas". Ou de como o neoconismo não significa senão, de facto,  um neotrotskismo, onde o conceito de revolução permanente deu lugar ao lema da guerra permanente.

É desta prendada obra que passarei a postar alguns trechos mais emocionantes.

De resto, o livro pode ser lido ou consultado online AQUI. Recomendo-o vivavemnte. Uma óptima - e instrutiva - leitura de verão.

quarta-feira, agosto 08, 2012

Pluto é um eufemismo de Pig



A plutocracia não tem rosto(s). Por uma razão muito simples: tem focinhos. Em epigrafe um dos focinhos mais relevantes e asquerosos dos tempos actuais. Ou de como a "globalização" tem sido óptima para os business da mafia. Las Vegas, China/Macau...  E uma trela, em forma de teia, que vai de Romney a Bibi Netanyhau.
Pelo sim, pelo não, há que garantir refúgio a tempo e horas. Para que no caso da coisa dar para o torto não lhe suceda como ao seu mentor e modelo Meyer Lansky.

sexta-feira, agosto 03, 2012

Entre sociopatas e sociocidas



«Amid the economic crisis that began in late 2008 (and which continues to the present day), most governments have been cutting back their spending dramatically on education, health care, housing, parks, and other vital social services. However, there have not been corresponding cuts in their military budgets.
Americans, particularly, might seek to understand why in this context U.S. military spending has not been significantly decreased, instead of being raised by $13 billion — admittedly a “real dollar” decrease of 1.2 percent, but hardly one commensurate with Washington’s wholesale slashing of social spending.»

Quando assistimos ao clamor desinsofrido dos nossos pseudo-direitistas pela diminuição drástica e urgente no consumo orçamental com despesas "sociais", invariavelmente constatamos o silêncio mais solene e bizarro quanto ao consumo galopante (e no caso americano, verdadeiramente junkie) com despesas "sociopatas" (militares e securitárias). Segundo estes pensadores de saguão, gastar com a manutenção interna de escolas, hospitais, estradas e demais infraestruturas é péssimo e prejudica a exonomoia, tanto quanto expolia os contribuintes: em compensação, esbanjar com a destruição ou degradação de infraestruturas e condições de vida externas, senão óptimo, é um bem acima de qualquer crítica ou suspeita. No fundo, trata-se de mais uma espécie de globalização naturalmente democrática, quer dizer, o Estado transformado em instrumento de infernalização não apenas do estrangeiro mas também do indígena. À falta da distribuição da riqueza, distribui-se a desgraça. e a miséria. Aliás, faz imenso sentido: dado que o estado passou a ser anti-nacional deve tratar todos por igual: os endógenos e os exógenos, os de fora tanto quanto os de dentro. Eis, pois, a o novo capítulo da igualitarização às fatias. Ao mesmo tempo que o contribuinte paga para que brutalizem uns anónimos quaisquer num país longínquo, vê-se também brutalizado no seu próprio país, não apenas através da extorsão, como, sobretudo, da persecução, da degradação e da devassa sistemática.
Por seu turno, a nossa pseudo-esquerda embarca no mesmo silêncio cúmplice. A sua diferença em relação à pseudo-direita, além de nenhuma, resume-se a um detalhe mais aparente que eficiente: advoga o estado como instrumento da filantropia externa e de confiscação interna a bem não exactamente das genuínas necessidades ou razões sociais, mas da burocracia que se inflama, procria e prolifera em nome da assistência a essas necessidades. O que os outros se propõem delapidar em armamentos e políciarreias, entendem estes consumir em comissões, direcções, departamentos, institutos, fundações, observatórios, juntas, autoridades, e, claro, associações excursionistas e de apoio a toda a espécie de aberração catita ou minoria da moda. A generalidade da população desamparada tem assim à escolha entre um regime de gansgsters, onde uma minoria oligárquica se governa alarvemente com a maioria, ou um regime de proxenetas, onde uma minoria burocrática governa, em nome da maioria, para minorias criptofaccientes. Ou dito mais sinteticamente: podem optar, não me canso de dizer,entre sociopatas e sociocidas.
Neste quadro geral, o mínimo que se pode deduzir é que fugir aos impostos deixa de constituir crime perante a consciência. Raia já, tanto quanto um dever (moral), um direito ancestral: o de legítima defesa perante o risco da própria vida.


quinta-feira, agosto 02, 2012

Tales from Pornographic oceans



Relembrando um trecho sempre oportuno dum postal que aqui postei há pouco mais de um ano atrás:

Pois bem, na sociedade americana constatamos este sinistro paradoxo: ao mesmo tempo que é uma sociedade que faculta, facilita e incita ao desregramento, à violência, ao ego-rex, é uma nação com acessos paroxísticos e desgrenhados dum exorbitante e rústico puritanismo, duma moralidade a raiar a histeria evangélica, em recriação grotesca e labrega do génesis primordial - que é como quem diz, do paraíso como mero pretexto para o castigo e a condenação. Da liberdade como estreito parque jurássico para o pecado e a culpa. Tudo isto, claro está, coado, filtrado e bombado através de ecrãs. Absorvido, injectado e subministrado por via intra-venal. Uma nação genuinamente esquizofrénica? Temo bem que sim. E, no entanto, uma horda desenfreada que se arvora o título de locomotiva do progresso e da civilização. Exportadora em série e por atacado da sua própria esquizofrenia particularmente furiosa. Em todas as áreas e domínios, da cultura à economia, da educação à segurança, da ciência à propaganda. De tal modo que, ao mesmo tempo que são os que mais desrespeitam limites de défice, dívida ou tratado, são, com idêntica pressa, superlativa velhaquice e por manhosas vias, os que mais insuflam nos outros a exigência de austeridade forçada, crise crónica e rigor nas contas públicas. Ou, exemplo ainda mais emblemático, a sociedade que mais liberdade exporta pelo mundo, que mais libertação e democracia salda ao desbarato, é aquela que mais prisioneiros fabrica entremuros. Faz lembrar aqueles psicopatas que passam na rua por beneméritos e em casa brutalizam a mulher e os filhos. Ou aquele personagem de Stevenson que de dia era médico e à noite monstro.

Tem, de resto, imensa piada fazer uma paralelismo entre a Europa num furioso regime de austeridade, sobretudo em dieta militar (cruzes credo, nada de rearmamentos nem recaídas belicosas!) e uns Estados Unidos a torrarem à tripa forra em toda a espécie de gadgets, bombardeiros estratégicos, super-bombas, israelo-subsídios, operações desvairadas e esquadras sumptuosas por esse desgraçado mundo fora, num total declarado e descarado de 902.2 biliões de USD, fora o tal não declarado (e cada vez mais descarado) oriundo de tráficos cobertos e lavagens diversas, CIA-made, que igualará senão duplicar essa maquia.
De tal ordem. que as imagens que se seguem são duma eloquência brutal:



 Já agora, uma curiosidade: sabem a quanto ascendem as despesas militaes do Irão, essa ameaça maior para a humanidade democrática em geral e para a nata dessa orbe, os Estados Unidos, em particular?
Qualquer coisa como 7 biliões. Quer dizer, pouco mais que as despesas militares de, imaginem... Portugal.

A propaganda é fodida, não é?...



O Banksterismo última geração



«There have been plenty of banking scandals, but none quite like this: Investigators and political leaders believe that the manipulation of the Libor benchmark interest rate was the result of organized fraud.»


Se levarmos em consideração que, dum modo geral, a actual banca é  uma fraude organizada, como classificar uma fraude organizada por outra fraude? Mas era suposto que da reprodução de fraudes se gerasse o quê -   negócios honestos?...

quarta-feira, agosto 01, 2012

Funds for caos


«Head of DEA says he intercepted CIA cocaine shipments»



Que grande novidade!... Já meio mundo sabe (e a outra metade desconfia) que a CIA é um dos maiores traficantes mundiais de droga. Como é que julgam que eles arranjam dinheiro para as "operações cobertas"  (a "primavera árabe", por exemplo)?...
Além disso, há uma série de anos a esta parte que os tipos andam em roda livre. Um bocado como os banksteres: fazem o que lhes apetece e tratam da vidinha.
Lembram-se do Kosovo, quando a Sérvia foi obrigada a disponibilizar esse novo "território independente" na Europa? Pois é nem mais nem menos que a principal placa giratória, ou entreposto, para a produção afegã. Adivinhem quem supervisiona o negócio. Calculem, já agora, quem trata de abastecer e inundar a Rússia com heroína... A Mafia russa? Trata apenas da distribuição. Cada macaco em seu galho.

Utopias e Naves de Loucos (r)




Um pouco a propósito dum hipotético desidialismo americano, por contraposição, por exemplo, aos bolcheviques, lembrei-me de algo que já aqui tinha escrito em Maio de 2004 (este é um blogue a raiar o arcaico)...


«Os navegadores lançam as raízes da árvore genealógica da representação do bom selvagem e do paraíso terreal reencontrado. O Novo Mundo alimenta o ideal da fusão comunitária como remédio para a crise moral e social que mina o Velho Mundo.»
-Armand Mattelart, "História da Utopia Planetária -Da Sociedade Profética à Sociedade Global".

Desde então, há que reconhecê-lo, nunca mais o conceito "novo" deixou de galopar e redimir outros conceitos. O último capítulo dessa aventura, nestes nossos dias, fala-nos duma "Nova Ordem"... Mas já em 1898, após a invasão de Cuba pelo Corpo Expedicionário dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, futuro presidente, clamava: «a americanização do mundo é o nosso destino!» Não se tratava apenas dum desabafo entusiasta, dum delírio energuménico para animar as tropas. A doutrina do "Destino Manifesto" [dos Estados Unidos] já vinha desde James K. Polk e servira às mil maravilhas para confiscar belicosamente, ao México, o Texas, o Novo México, o Arizona, a Califórnia, o Nevada, o Utah, parte do Colorado e do Wyoming. Convertida em artigo de fé, esta doutrina passou a ser pregada, desde 1886, pelo reverendo Josiah Strong, o qual, com o fervor próprio dos iluminados, exortava à instauração urgente e redentora dum império cristão e anglo-saxónico. Em 1890, tão profusa sementeira colheu o seu principal fruto: "Alfred Thayer Mahan, professor do Naval War College, futuro almirante e artífice do poderio naval americano". Vai tornar-se o seu principal apóstolo. Uma nova geopolítica, baseada no domínio dos mares, iniciou-se então: "em direcção às Caraíbas, pelo golpe de mão sobre Cuba mas também sobre Porto Rico, considerados bastiões estratégicos do "mediterrâneo Americano"; em direcção à Ásia, pela conquista das Filipinas." «Nestas novas aventuras imperiais, o discurso messiânico roça o delírio. Elas são, aos olhos dos seus novos cruzados, a "manifestação da Vontade divina", o cumprimento do "desígnio da Providência", da "predestinação". "O que a nação ganhou com a expansão, escreve Mahan, invocando explicitamente a "religião de Cristo", foi uma ideia de regeneração, uma elevação do coração, a semente duma futura acção de beneficiência, uma possibilidade de sair de si mesmo e ir pelo mundo comunicar o dom que a nossa nação tão generosamente recebeu"». Ainda hoje podemos constatar os efeitos e os episódios mais recentes desta doutrina benemérita, por exemplo, no Iraque. Quer dizer, o vínculo entre a Nova Ordem e o Novo Mundo obedece a uma lógica transcendente, intrinsecamente "religiosa": o Novo Mundo é o Eden restaurado do Homem Novo, a oportunidade concedida por Deus à regeneração do Velho Mundo, decadente e corrompido. Mas isso é só a primeira fase. Existe depois um refluxo, um retrocesso, como nas marés... Ou seja: uma vez realizado e construído esse Novo Mundo, pelo Homem Novo, peregrino evadido do Velho Mundo (por obra e graça de Deus), compete-lhe transmitir essa regeneração ao resto do planeta. A Nova Ordem, temos o privilégio de testemunhá-lo, é só a última peripécia dessa odisseia. De facto, no fundo da alma americana, habita esta obsessão evangélica, este desígnio nacional por delegação divina, este imperativo categórico de levar a Boa Nova às Trevas e aos seus reféns. A americanização afigura-se, nesse sentido, uma espécie de Renascimento à escala planetária (e não já apenas ocidental), de que a globalização é só o penúltimo capítulo dum esforço entranhado e recorrente. Tentar explicar ou compreender esta aventura mirabolante em moldes estritamente racionais ou mesmo políticos revela-se duma precaridade confrangedora. O americanismo e a americanofilia não podem ser compreendidos sem a dimenção de crença paranóica, de fé religiosa que é, simultaneamente, o seu alicerce primordial e a sua força mística de combate.
Curiosamente, esta mesma mitologia, se bem que em moldes diversos, presidiu a outra peregrinação regeneradora, de promessas planetárias: a revolução bolchevique. Com o seu Homem Novo em trânsito para uma Nova-terra, paradisíaca e resgatada aos vícios e males do passado, materializa igualmente uma lógica protestante, de regenaração e ruptura histórica, de terraplenagem cultural e refundação cívica. Em ambos os modelos emerge essa novidade revolucionária -também ela essencialmente "protestante" -, da "redenção pelo trabalho". Quer dizer, o paraíso outrora perdido (quiçá, por causa da ociosidade) pode ser agora reconquistado através do labor humano - o Novo-Eden será necessariamente uma Humanofactura; assim o destinou Deus. Daí, naturalmente, germinam o culto da produção e a consagração da Indústria, como fórmulas de credo. Daí, igualmente, resulta a economia como Nova-teologia, a riqueza e o mercado como emanações Divinas (no caso americano), ou a mecanização e o plano científico como epifanias da Virtude (no caso soviético). Durante milénios, a espécie humana, nos intervalos da luta pela sobrevivência, entregou-se a sonhos e devaneios. Muitas vezes as coisas ficaram por aí, a pairar nesse limbo etéreo que tantas vezes tem a forma de meras palavras e a que chamamos, com algum desdém, utopia. Mas, subitamente, no século XX, em coacção ou reacção a esse fermento evangélico americanizante, amplificados e difundados numa profusão inaudita, como que as quimeras irromperam, à solta e em apoteose, pela realidade. No espaço de cem anos, o mundo cedeu o seu território a três utopias. Amargamente, em relação a duas delas, constatámos essa verdade de séculos, que só a amnésia treinada e inculcada sempre dissimula: o sonho hegemónico, uniformizante, quando desce à realidade revela o pesadelo que o anima e povoa. Se o mundo vai ou não despertar do terceiro, não sei. Afinal, os homens precisam de sonhos. Como diria Nietzsche, vale mais um mau sonho, que sonho nenhum (se bem que ele dissesse, em vez de sonho, "sentido" e este sonho não pareça ter sentido nenhum...)
Relembro apenas essa alegoria que Brand, em 1494, publicou, sob o título "A Nave dos Loucos". O enredo é simples e não de todo estranho: Num mundo às avessas, loucos, sem mapa nem bússula, embarcam, à deriva, em busca dos paraísos bem-aventurados. Como plano prévio exclusivo ao empreendimento está o comum acordo que irão de perigo em perigo, até soçobrarem finalmente em plena tempestade. Quem tenha dificuldade em imaginar, é só ir à janela. Ou ligar a televisão. De preferência à hora do telejornal.