A juntar às eleições no Iraque, ao Tsunami nas Maldivas e ao Holocausto da Segunda Guerra Mundial, outro dos grandes problemas nacionais, dos mais prementes e prioritários na agenda política, é a adopção de crianças por casais homossexuais.
Começo por dizer que não entendo, não é compreensível sequer, que os homossexuais sendo tão avançados, tão liberabundos, afrontando tão visceralmente a sociedade num dos seus núcleos fulcrais (a própria família biológica –e que eu saiba, não há outra), se tenham depois contentado com aquela farsazinha burguesa do casal. O maridinho e a esposa, a esposa e o maridinho, quiçá por turnos, numa monogamia tão rançosa quanto a dos piores burgueses de Stendhal. Para cúmulo, como se essa paródia grotesca já não bastasse, agora reclamam o resto dos acessórios, a filharada em comitiva, de lacinho e chapéu, para irem todos -muito dignos e apessoados - à missa, ao domingo. Antes disso, e depois também, é mais que certo que tratarão de mover o céu e a terra de modo a obrigar os padres a casá-los, a baptizar-lhes os fedelhos adoptivos, a dar-lhes catequese, e a ouvi-los –a todos, aos cabrões dos putos e aos estafermos dos pais – em confissão semanal. Menos que isso, ó da guarda, que é discriminação. Uma miséria, enfim! Mandá-los a todos para o caralho seria redundante.
Mas, isto do "casal" intriga-me. De facto, porquê casal homossexual? Porque não trio, quarteto, quinteto, caterva, centúria ou, como até bem mais emblemático seria, comboio? Porque carga de água se lembraram de arremedar a famelga tradicional, estúpida, obsoleta, e não o grupo de jazz, a tuna académica ou o expresso transcontinental? Porquê uma monogamia a todos os títulos gasta, nas vascas, e não uma poligamia, ou poliandria, ou policongresso itinerante?
Como quereis que vos levem a sério, ó bichonas, com essas parelhazinhas de imitação, de pechisbeque, de pacotilha? Casal por casal, o juiz, que não é parvo nenhum, entrega o desgraçado do órfão aos burgueses tradicionais, caga-se nos peregrinos. E acho muito bem. Mal por mal, antes aquele que já se conhece e contra o qual já existe legislação.
Agora imaginem: “Quarteto homossexual”, “comboio homossexual”...É catita, não? O meirinho anunciava: “meritíssimo, está lá fora um “comboio homossexual” que pede para adoptar uma criança, de preferência menino!” Aqui, o juiz, no mínimo, impressionado pelo número, hesitava, suspendia na balança e era forçado a admitir que vinte, ou duzentos (fora os contactos, as liaisons), sempre pesam mais que dois. Mesmo um quarteto ou quinteto, um trio que fosse, já acrescentavam qualquer coisa. Já o levavam a pensar duas vezes. Já o punham a fazer contas de cabeça, a extrair raízes quadradas, co-senos e algoritmos. Nestes nossos dias, a contabilidade é preciosa, vale muito, avassala as mentes. É preponderante. Agora assim, vão duas avantesmas amaneiradas, a cavalo num livro de cheques, de braço dado, e o que é que o meirinho murmura ao juiz? “meritíssimo, estão ali fora duas bichonas, armadas em barbies chocas, a pedirem criancinhas para irem brincar às casinhas!”
Em resumo: um casal homossexual, gay, ou o que lhe queiram chamar, não é digno de adoptar crianças porque é uma anedota de mau gosto, uma bimbalhice abaixo de cão, mais digna até de dó e cuidado clínico que propriamente de apedrejamento ou invectiva.
E se a inteligência e o conhecimento são limitados, a estupidez também deveria sê-lo. Urgentemente. Até por uma questão de higiene e saneamento básico. Quando não, é a própria sanidade mental das sociedades que entra em colapso. Porque em degradação consumptiva anda ela há muito tempo.
domingo, janeiro 30, 2005
sábado, janeiro 29, 2005
A Idade do Ouro
Num tempo primordial, idade do ouro deste blog, escrevia-se português em condições. Naturalmente, não havia público. Mas eu divertia-me mais. Estou a pensar em recuperar uma certa alegria perdida. Entretanto, em homenagem ao nosso primeiro Rei, que agora até tem um blogue, aqui deixo um texto, no meu modesto entender, este sim, de antologia.
E tu, ó Batnavó, vê lá se voltas pra casa! A tua mulher anda desesperada.
O GANDULO, 1ªReunião, 2ªFase
"Como prometi, vou agora expor o que foi hermeticamente tratado na primeira reunião do GANDULO, Fase 2, ou seja, enquanto o Caguinchas andou estupidamente à minha procura pelos lugares mal frequentados de Lisboa. Pró leitor retardatário, que só agora chegou ao Blog, esclareço que GANDULO significa Gabinete de Alarme, Neutralização e Denúncia das Urdiduras do Lobby Ogre.
E tu, ó Batnavó, vê lá se voltas pra casa! A tua mulher anda desesperada.
O GANDULO, 1ªReunião, 2ªFase
"Como prometi, vou agora expor o que foi hermeticamente tratado na primeira reunião do GANDULO, Fase 2, ou seja, enquanto o Caguinchas andou estupidamente à minha procura pelos lugares mal frequentados de Lisboa. Pró leitor retardatário, que só agora chegou ao Blog, esclareço que GANDULO significa Gabinete de Alarme, Neutralização e Denúncia das Urdiduras do Lobby Ogre.
Pois, basicamente, procedeu-se à compilação e classificação dos resultados da pesquisa, ou sejam, as notícias. Avaliou-se da sua credibilidade e também do teor alcoólico das fontes. Concluiu-se que estas, invariavelmente, golfavam uma zurrapa intragável, a não ser para o Caguinchas que é capaz de vampirizar ácido de baterias. Em suma: cada jornalista, cada marteleiro!...
Não obstante, dados os super-poderes de que estamos impregnados, isso não nos demoveu, nem, minimamente, desmoralizou. Por sugestão do Dinossauro, que tirou um curso de espírita por correspondência, emborcámos cada qual seu trotil, démos as mãos e convocaram-se as almas do Álém, na espectativa de que alguma bufasse o que realmente se passava. Felizmente, o Caguinchas não estava presente, senão desatava aos gritos, escandalizado, que aquilo eram métodos policiais. Mas avancemos.
Ao fim de pouco tempo, encarnou no Batnavó uma velhota meia taralhouca, que o Armindo taberneiro, escutando, se ajoelhou e persignou logo todo, clamando: "Mãezinha!". Apertámos com a velhota, um interrogatório à maneira, o Bisnau a assestar-lhe até com uma lanterna na fronha, mas a velhota não cantou nada.
"Fala, espírito!", ordenava-lhe, imperioso, o Dinossauro, autêntico Napoleão dos exorcismos; mas a velhota só choramingava e pedia o xaile, que se tinham esquecido de lho vestir durante o enterro. Também, se a ordem era pra falar, não percebo como é que ele queria que ela cantasse (às vezes, acho que também já não bate com eles todos certos...) Enfim, o Armindo lá prometeu ir levar o bendito xaile à sepultura e a defunta lá se foi embora.
Encorporou depois o Elvis a dizer que não estava morto, mas como ninguém ali percebia inglês, olhamos uns prós outros e encolhemos os ombros. O Elvis, por acaso cantou -o "It's now or never"-, mas era melhor que não tivesse cantado, porque desafinou pa caraças e não nos disse nada que já não soubéssemos. A seguir, encarnou o Sá carneiro, dizia ele, porque nós não acreditámos; também dizia que o tinham assassinado com uma bomba, mas a malta comentou: "sim, sim; pois, pois". No fundo, só pedia que lhe encontrassem o relógio, que tinha ficado perdido em Camarate.
Entretanto, na tasca, aliás Ciber-tasca, tinha-se gerado um certo tumulto, e o espaço, de pinta tradicionalmente fadista, abeirava-se agora perigosamente dum novo Woodstock. O que é que se passava?...
A puta da clientela ao ouvir o Elvis, deu-lhe prá nostalgia. Reparem que eu disse "a puta da", não disse "uma puta na", o que significa, portanto, toda a clientela e não apenas uma cliente. Antes fosse... Pois desataram a fervilhar de excitação, a armarem batefundo, a atraírem malta da rua e do bairro (que mal lhe cheira a novidade, são piores que tubarões atrás de sereia menstruada) e, catrapimba, num de repente, está o estabelecimento à pinha, com um arraial lá fora tipo Santo António.
"Toca outra vez o Elvis!", gritavam uns; "A Edith Piaf!", preferiam elas; "O FranK!...", implorava um maduro. Em suma: transformaram a nossa sessão espírita num sessão de "discos pedidos" e o pobre do Batnavó, médium de serviço, numa espécie nova e revolucionária de Jukebox! E o pior não foi isso; o pior foi o filho da puta do Batnavó que, não sei lá porque carga de água, (e friso bem. "água!") desatou a trinar feito a malograda e nacional-idolatrada Dona Amália!
"Povo que lavas no rio...", chilreava ele. E aquele povo todo, qual rio qual carapuça, lavado mas era em lágrimas que parecia um novo dilúvio do fim do mundo.
E digo-vos mais: se a seguir não tem aparecido o D. Afonso Henriques -que transportou o Batnavó, transfigurado, atrás do balcão do Armindo, à procura dum cutelo com que esquartejar aquela gente toda, enquanto gritava: "filhos da puta! espermatozóides de merda! macacos vendidos e capados!! delapidadores!!..." -, não sei, não sei mesmo, como é que aquele malfadado festival da canção iria acabar. Felizmente, lá desarvoraram porta fora, numa gritaria, com o Batnavó (pilotado pelo Afonso Henriques), de cutelo, atrás deles, e nós pudemos continuar com a reunião do GANDULO em paz. Aliás, teríamos continuado. Porque foi nessa precisa altura que reentrou o Caguinchas.
Acabava eu de dizer, um tanto preocupado, pró Dinossauro:
-"Ouve lá, e se aquilo não lhe passa?..."
-"A quem? Ao Batnavó, ou ao Afonso henriques?..." -Retorquiu ele, com a fleuma e sabedoria próprias de quem já viveu muitos anos e não vive já subjugado à tirania dos testículos."
- in "Dragoscópio", Janeiro de 2004
- in "Dragoscópio", Janeiro de 2004
sexta-feira, janeiro 28, 2005
Interlúdio Cultural
Cumpramos uma breve pausa nas hostilidades. Estou a reunir novas pólvoras para vos elevar, ainda e sempre. Entretanto, deixo-vos com um fascinante pedaço de prosa alheia...
«Essa ideia barroca perpassa por trás de Biathanatos. A de um deus que fabrica o universo para construir o seu próprio patíbulo.
Ao reler esta nota, penso naquele trágico Philipp Batz, que se chama na história da filosofia Philipp Mainländer. Foi, como eu, apaixonado leitor de Schopenhauer. Sob a sua influencia (e, talvez, sob a dos gnósticos), imaginou que somos fragmentos de um Deus que a si mesmo se destruíu, no início dos tempos, ávido de não ser. A história universal é a obscura agonia desses fragmentos. Mainländer nasceu em 1841. Em 1876, publicou o seu livro, Filosofia da redenção. Nesse mesmo ano suicidou-se.»
-Jorge Luis Borges, “Novas Inquirições”
«Essa ideia barroca perpassa por trás de Biathanatos. A de um deus que fabrica o universo para construir o seu próprio patíbulo.
Ao reler esta nota, penso naquele trágico Philipp Batz, que se chama na história da filosofia Philipp Mainländer. Foi, como eu, apaixonado leitor de Schopenhauer. Sob a sua influencia (e, talvez, sob a dos gnósticos), imaginou que somos fragmentos de um Deus que a si mesmo se destruíu, no início dos tempos, ávido de não ser. A história universal é a obscura agonia desses fragmentos. Mainländer nasceu em 1841. Em 1876, publicou o seu livro, Filosofia da redenção. Nesse mesmo ano suicidou-se.»
-Jorge Luis Borges, “Novas Inquirições”
quinta-feira, janeiro 27, 2005
Quero que o Internacionalismo se Foda!...
Entendamo-nos. Eu não tenho nada contra a democracia liberal. Em Inglaterra.
Eu não tenho nada contra o Comunismo. Em Cuba.
Eu não tenho nada contra a Social Democracia. Na Escandinávia.
Eu não tenho nada contra o Neo-Liberalismo ou mesmo o Neo-Conismo. Nos Estados Unidos.
Eu não tenho nada contra a cleptocracia. Em Angola.
Eu não tenho nada contra a Teocracia. No Irão.
Em não tenho nada contra a Tecnocracia. No Japão.
Aliás, nem contra, nem a favor.
Que fabriquem, que produzam, que se esfalfem, que exportem, que roubem, que massacrem, que procriem, que se comam uns aos outros ou às outras, pouco me interessa! Que o Diabo os leve ou Deus os transporte, quero lá saber!.
Eu respeito os outros, respeito toda a gente. Eles é que vivem lá, eles que se entendam. Se descobriram naquela a maneira assaz peculiar de se organizarem (ou desorganizarem, tanto faz), pois que sejam felizes, ou infelizes, mas, em todo o caso, que lhes faça bom proveito. Não me custa crer que é assim que se sentem bem. Longe de mim querer impor-lhes os meus modelos ou conceitos. As minhas taras ou fantasias. Não tenho especial fascínio por turismo, muito menos ideológico.
O que não suporto é que eles, quaisquer que eles sejam - ou enviados, eunucos, lacaios, procuradores, clones e delegados deles – me queiram vir impingir a mim o que só lhes diz respeito a eles. Me queiram afogar na felicidade ou infelicidade deles. Me queiram converter às manias ou fobias deles. Me queiram, enfim, encurralar nos currais ou manjedouras deles. Porque não se mudam eles – esses heldéres ao domicílio – para lá, já que aquilo tanto os fascina e obceca? Porque não se transplantam eles para esses paraísos terreais, em vez de quererem, à viva força, de martelo ou compressor, com laivos de paranóia e fervor de birra, importar esses territórios inteiros para cá? Acham que num espaço tão pequeno, tão exíguo, cabem essas traquitanas, essas feéricas babilónias todas?
Eu sou português, caralho! Nasci e hei-de morrer nesse estado, que poderá ser deplorável a muitos títulos, a mil e mais um, mas é o meu. Se Deus me mandou ser português, se ordenou ao destino que aqui me plantasse, que não venha cabrão nenhum apregoar-me o contrário. E tudo o que não seja isso, essa raiz que mergulha aos abismos e essa fronte que se levanta aos céus, é o contrário, é a negação, é o aniquilamento disso.
Mas isto sou eu. Cago-me em ecos e séquitos, passo bem sem companhias.
Os outros, esses que se arrepelam e amarguram com a pequenez e a pobreza do seu próprio pais (o que apenas reflecte a pobreza e a pequenez da ideia que fazem dele e de tudo), esses todos, se querem ser americanos, porque não vão ser americanos?
Se querem ser ingleses, porque não vão ser ingleses?
Se querem ser espanhóis, porque não vão ser espanhóis?
Se querem ser escandinavos, porque não vão ser escandinavos?
Se querem ser chineses, russos, suíços, austríacos, alemães, albaneses, esquimós, marcianos, porque não vão sê-lo duma vez por todas e desatravancam a passagem?!
Por gentileza, não me dou ao requinte de mandá-los de volta para a c*** -digo, vagina- da santíssima mãe deles. Mas, francamente, fico sem perceber porque raio se deram ao trabalho de sair de lá.
Eu não tenho nada contra o Comunismo. Em Cuba.
Eu não tenho nada contra a Social Democracia. Na Escandinávia.
Eu não tenho nada contra o Neo-Liberalismo ou mesmo o Neo-Conismo. Nos Estados Unidos.
Eu não tenho nada contra a cleptocracia. Em Angola.
Eu não tenho nada contra a Teocracia. No Irão.
Em não tenho nada contra a Tecnocracia. No Japão.
Aliás, nem contra, nem a favor.
Que fabriquem, que produzam, que se esfalfem, que exportem, que roubem, que massacrem, que procriem, que se comam uns aos outros ou às outras, pouco me interessa! Que o Diabo os leve ou Deus os transporte, quero lá saber!.
Eu respeito os outros, respeito toda a gente. Eles é que vivem lá, eles que se entendam. Se descobriram naquela a maneira assaz peculiar de se organizarem (ou desorganizarem, tanto faz), pois que sejam felizes, ou infelizes, mas, em todo o caso, que lhes faça bom proveito. Não me custa crer que é assim que se sentem bem. Longe de mim querer impor-lhes os meus modelos ou conceitos. As minhas taras ou fantasias. Não tenho especial fascínio por turismo, muito menos ideológico.
O que não suporto é que eles, quaisquer que eles sejam - ou enviados, eunucos, lacaios, procuradores, clones e delegados deles – me queiram vir impingir a mim o que só lhes diz respeito a eles. Me queiram afogar na felicidade ou infelicidade deles. Me queiram converter às manias ou fobias deles. Me queiram, enfim, encurralar nos currais ou manjedouras deles. Porque não se mudam eles – esses heldéres ao domicílio – para lá, já que aquilo tanto os fascina e obceca? Porque não se transplantam eles para esses paraísos terreais, em vez de quererem, à viva força, de martelo ou compressor, com laivos de paranóia e fervor de birra, importar esses territórios inteiros para cá? Acham que num espaço tão pequeno, tão exíguo, cabem essas traquitanas, essas feéricas babilónias todas?
Eu sou português, caralho! Nasci e hei-de morrer nesse estado, que poderá ser deplorável a muitos títulos, a mil e mais um, mas é o meu. Se Deus me mandou ser português, se ordenou ao destino que aqui me plantasse, que não venha cabrão nenhum apregoar-me o contrário. E tudo o que não seja isso, essa raiz que mergulha aos abismos e essa fronte que se levanta aos céus, é o contrário, é a negação, é o aniquilamento disso.
Mas isto sou eu. Cago-me em ecos e séquitos, passo bem sem companhias.
Os outros, esses que se arrepelam e amarguram com a pequenez e a pobreza do seu próprio pais (o que apenas reflecte a pobreza e a pequenez da ideia que fazem dele e de tudo), esses todos, se querem ser americanos, porque não vão ser americanos?
Se querem ser ingleses, porque não vão ser ingleses?
Se querem ser espanhóis, porque não vão ser espanhóis?
Se querem ser escandinavos, porque não vão ser escandinavos?
Se querem ser chineses, russos, suíços, austríacos, alemães, albaneses, esquimós, marcianos, porque não vão sê-lo duma vez por todas e desatravancam a passagem?!
Por gentileza, não me dou ao requinte de mandá-los de volta para a c*** -digo, vagina- da santíssima mãe deles. Mas, francamente, fico sem perceber porque raio se deram ao trabalho de sair de lá.
terça-feira, janeiro 25, 2005
A Transpolítica
Alguns amigos meus, gente anacrónica e afeiçoada a valores completamente fora de moda, assaltam-me ciclicamente, em tons indignados, escandalizados até, com a seguinte questão:
-“Mas, ó Dragão, tu não achas que estes políticos são uma caterva de traidores à Pátria?”
Eu, velho pirata empedernido, infame predador dos altos mares, que já assisti (e ajudei, enfim) a mais óbitos que partos, olho-os com alguma piedade, sincera comiseração, e largo pelo cerro dos dentes:
“Mas como raio quereis vós, almas de Deus, que eles sejam fiéis a uma coisa de que não fazem a mínima noção?!...nem Pátria, nem Povo, nem Humanidade, tão pouco! Sabem lá eles o que isso é. Não sabem, não querem saber e, naturalmente, têm espumante raiva de quem sabe. Porque se passar por traidores não os aflige nem uma milésima cagagésima parte dum pintelho anão, já passar por ignorantes chateia-os um bocado. Afinal, são licenciados, que diabo. E um licenciado, nesta pátria que eles fazem por desconhecer, sabe tudo. Brota da gestação universitária em triunfo, em apoteose; quer dizer: jubiloso, omnisciente, e de canudo em riste!”
Encaram-me então um tanto ou quanto perplexos, os meus interlocutores, mas não se dão por vencidos e voltam à carga, já mais em desespero, que, propriamente, em convicção:
-“Mas é demais, chiça! É que não têm um pingo de vergonha na cara!...”
-“E vós a dar-lhe!... – rebrindo-os, eu. – Pois se não têm cara como queríeis vós que eles a salpicassem com vergonha ou o que quer que fosse? Se vós a tendes e cultivais esse obsoleto hábito de a borrifar com um certo pudor, eles, não a tendo, borrifam-se outrossim para isso tudo!...O breve simulacro de ventas com que desfilam, num perpétuo carnaval, serve para suporte da maquilhagem, do disfarce ou da peruca. E poupem-me de antemão às lamúrias da falta de verticalidade, de dignidade, de hombridade!...A primeira operação a que se entregam, esses tais políticos, mal - ainda adolescentes - lhes aflora a vocação, é a extracção da coluna (eles chamam-lhe o “osso do siso”); depois depilam-se de todos e quaisquer escrúpulos; finalmente, almofadam-se com um silicone de velhacaria multi-usos, lubrificam o esfíncter, dissolvem os testículos, anabolizam a língua, desatravancam a bocarra de qualquer pejo ou verdade, e pronto: ai tendes os vossos políticos!...Agora, desamparem-me a loja, secai as lágrimas, e ide lá votar, que eu tenho mais que fazer!...”
-“Mas, ó Dragão, tu não achas que estes políticos são uma caterva de traidores à Pátria?”
Eu, velho pirata empedernido, infame predador dos altos mares, que já assisti (e ajudei, enfim) a mais óbitos que partos, olho-os com alguma piedade, sincera comiseração, e largo pelo cerro dos dentes:
“Mas como raio quereis vós, almas de Deus, que eles sejam fiéis a uma coisa de que não fazem a mínima noção?!...nem Pátria, nem Povo, nem Humanidade, tão pouco! Sabem lá eles o que isso é. Não sabem, não querem saber e, naturalmente, têm espumante raiva de quem sabe. Porque se passar por traidores não os aflige nem uma milésima cagagésima parte dum pintelho anão, já passar por ignorantes chateia-os um bocado. Afinal, são licenciados, que diabo. E um licenciado, nesta pátria que eles fazem por desconhecer, sabe tudo. Brota da gestação universitária em triunfo, em apoteose; quer dizer: jubiloso, omnisciente, e de canudo em riste!”
Encaram-me então um tanto ou quanto perplexos, os meus interlocutores, mas não se dão por vencidos e voltam à carga, já mais em desespero, que, propriamente, em convicção:
-“Mas é demais, chiça! É que não têm um pingo de vergonha na cara!...”
-“E vós a dar-lhe!... – rebrindo-os, eu. – Pois se não têm cara como queríeis vós que eles a salpicassem com vergonha ou o que quer que fosse? Se vós a tendes e cultivais esse obsoleto hábito de a borrifar com um certo pudor, eles, não a tendo, borrifam-se outrossim para isso tudo!...O breve simulacro de ventas com que desfilam, num perpétuo carnaval, serve para suporte da maquilhagem, do disfarce ou da peruca. E poupem-me de antemão às lamúrias da falta de verticalidade, de dignidade, de hombridade!...A primeira operação a que se entregam, esses tais políticos, mal - ainda adolescentes - lhes aflora a vocação, é a extracção da coluna (eles chamam-lhe o “osso do siso”); depois depilam-se de todos e quaisquer escrúpulos; finalmente, almofadam-se com um silicone de velhacaria multi-usos, lubrificam o esfíncter, dissolvem os testículos, anabolizam a língua, desatravancam a bocarra de qualquer pejo ou verdade, e pronto: ai tendes os vossos políticos!...Agora, desamparem-me a loja, secai as lágrimas, e ide lá votar, que eu tenho mais que fazer!...”
domingo, janeiro 23, 2005
Os Abortos
Mais uma vez, o tema era o aborto, esse pomo imarcescível.
Dizem-me –que eu não vi, que o Anacleto Louçã, chefe de fila da Associação de Amizade Portugal-Lacoste, em debate televisivo com outra luminária da politicosfera lusa, o inefável e untuoso filho mais novo de Helena Sacadura Cabral, essa emérita cozinheira e guardadora de tachos, terá usado do seguinte argumento, digo “cacete”, na terminologa Shelltoxiana:
-“Vossa Excelência não pode discutir o aborto porque não é pai, jamais contribuiu para o progresso demográfico da Nação!”
Convenhamos, é uma traulitada valente. No fundo, Anacleto queria insinuar que ficava mal aos paladinos da contra-aborção serem capitaneados por um paneleiro, ou rapaz gay, se preferirem. E convenhamos: fica. Uma direita que se deixa caudilhar por um larilas é um “cóio de vendidos e indigentes, é uma canoa em seco e só pode parir abaixo de zero”, como dizia o poeta, futurista e tudo. Mais anedótico - grotesco até - que isso, só mesmo um pedófilo a bradar contra o cancelamento de criancinhas, ou um canibal a indignar-se contra a interrupção no fornecimento de bebés.
Mas a traulitada, ou argumento se preferirem, que Anacleto, deste modo desabrido, assestou nos costados - mais habituados a outras carícias e aconchegos - do outro, sendo aceitável em género, peca, todavia, por um tanto ou quanto precipitado em espécie.
Não sei o que o filho da senhora doutora cozinheira respondeu, nem me interessa. Mas era fácil desmontar a falácia. Bastava responder:
-“Então Vossa Excelência acha que eu não me posso debruçar sobre o assunto, do aborto quer-se dizer, só porque não sou pai de nenhum, ou nenhuma?...”
É fácil de imaginar a confusão que não se instalaria de pronto na complexa canalização mental de Louçã. Entre o rewind o fast-forward, a neocassete patinaria, numa chiadeira fumegante. Hiato providencial que o produto da cozinheira com o arquitecto, aproveitaria para culminar, com aquela vozinha apinocada que se lhe reconhece:
-“Pois fique, VªExcª sabendo, que não sendo eu pai de nenhum ou nenhuma, sou, todavia, filho dilecto de dois, irmão de outros dois e poupo-lhe a enunciação fastidiosa de primos e correligionários. Ou julgava, Vª Excª, que esse apanágio era exclusivo seu, hein?! “
De facto, isto do aborto tem muito que se lhe diga. E é deveras mutilador perspectivar a coisa apenas a jusante. É sim. Há que enxergar também o fenómeno a montante. E aí o senhor Ministro pode falar de cátedra.
O grande público, cuja falta de memória é maiúscula (como dizia o outro), esquece muitas vezes que para se fazer um aborto, como qualquer outro nado-coiso, são de antemão necessários outros dois. Salvaguardando, claro está, aqueles episódios excepcionais em que a mãezinha, coitada, não tem culpa. O que, convenhamos, não é decididamente o caso.
Dizem-me –que eu não vi, que o Anacleto Louçã, chefe de fila da Associação de Amizade Portugal-Lacoste, em debate televisivo com outra luminária da politicosfera lusa, o inefável e untuoso filho mais novo de Helena Sacadura Cabral, essa emérita cozinheira e guardadora de tachos, terá usado do seguinte argumento, digo “cacete”, na terminologa Shelltoxiana:
-“Vossa Excelência não pode discutir o aborto porque não é pai, jamais contribuiu para o progresso demográfico da Nação!”
Convenhamos, é uma traulitada valente. No fundo, Anacleto queria insinuar que ficava mal aos paladinos da contra-aborção serem capitaneados por um paneleiro, ou rapaz gay, se preferirem. E convenhamos: fica. Uma direita que se deixa caudilhar por um larilas é um “cóio de vendidos e indigentes, é uma canoa em seco e só pode parir abaixo de zero”, como dizia o poeta, futurista e tudo. Mais anedótico - grotesco até - que isso, só mesmo um pedófilo a bradar contra o cancelamento de criancinhas, ou um canibal a indignar-se contra a interrupção no fornecimento de bebés.
Mas a traulitada, ou argumento se preferirem, que Anacleto, deste modo desabrido, assestou nos costados - mais habituados a outras carícias e aconchegos - do outro, sendo aceitável em género, peca, todavia, por um tanto ou quanto precipitado em espécie.
Não sei o que o filho da senhora doutora cozinheira respondeu, nem me interessa. Mas era fácil desmontar a falácia. Bastava responder:
-“Então Vossa Excelência acha que eu não me posso debruçar sobre o assunto, do aborto quer-se dizer, só porque não sou pai de nenhum, ou nenhuma?...”
É fácil de imaginar a confusão que não se instalaria de pronto na complexa canalização mental de Louçã. Entre o rewind o fast-forward, a neocassete patinaria, numa chiadeira fumegante. Hiato providencial que o produto da cozinheira com o arquitecto, aproveitaria para culminar, com aquela vozinha apinocada que se lhe reconhece:
-“Pois fique, VªExcª sabendo, que não sendo eu pai de nenhum ou nenhuma, sou, todavia, filho dilecto de dois, irmão de outros dois e poupo-lhe a enunciação fastidiosa de primos e correligionários. Ou julgava, Vª Excª, que esse apanágio era exclusivo seu, hein?! “
De facto, isto do aborto tem muito que se lhe diga. E é deveras mutilador perspectivar a coisa apenas a jusante. É sim. Há que enxergar também o fenómeno a montante. E aí o senhor Ministro pode falar de cátedra.
O grande público, cuja falta de memória é maiúscula (como dizia o outro), esquece muitas vezes que para se fazer um aborto, como qualquer outro nado-coiso, são de antemão necessários outros dois. Salvaguardando, claro está, aqueles episódios excepcionais em que a mãezinha, coitada, não tem culpa. O que, convenhamos, não é decididamente o caso.
sexta-feira, janeiro 21, 2005
A Grandessísima Loja
Encomendaram-me a análise. E como me apanharam num dia bem disposto, aí vai...
Eu –ignaro que sou – não sabia que existia maçonaria feminina. Julguei que nas lojas maçónicas normais, modelos de virtudes cívicas certamente, não praticavam o “apartheid” sexual. Que a descriminação genital não tinha lugar por aquelas bandas. Que eventualmente até cirandassem por lá encapuçados, numa espécie de Klu-Klux-Klan filantrópica, que era para dar estilo. Mas, pelos vistos, enganei-me. Engano-me sempre. Herdei a tara dum antepassado meu que cismava de dar porrada em moinhos.
Todavia, só uma mente cândida como a minha, descendente de tal ancestral, poderia conceber que não haveria necessidade de lojas maçónicas femininas. Mais: Grandes Lojas. A própria terminologia, está bem de ver, congrega um atractivo irresistível às damas: “loja”. Só isso já provoca tumultos, histerismo, pisadelas, correrias. Basta pensarmos em montras, modas, nova estação e –top of the pops!- saldos!!! A limite, uma espécie de Grandes Armazéns do Chiado do esoterismo. Ou o Grandela, que Deus tenha em eterno descanso!....
Estou mesmo em crer que, no que depender delas, não tardará muito a inaugurar-se o primeiro “shopping maçónico”.
Entretanto, do que por lá fazem, na mariológica loja, digo Grande Loja, apesar do mistério inerente a estes recintos, não será difícil adivinhar. A Grande Loja Maçónica feminina deve ter cabeleireiro, manicure, peeling, lipo-aspiração, ginásio, boutique, perfumaria, maquilhagem e todos esses tabernáculos essenciais a livre-pensadoras. As irmãs devem entreter-se em colóquios profundos a discutir a pele umas das outras, as unhas, o colesterol, a barriguinha, as úlimas da "Hola" ou da "Lux" e as lojas não maçónicas que urge peregrinar. Isto e uns cházinhos, umas canastas e uns bolinhos integrais pelo meio. Outrora fariam também croché, ou lavores (ou atirar-se-iam de paraquedas em frenesins enfermeiros), mas como agora se querem progressistas, falarão de sexo e orgasmos múltiplos ou tapetes de Arraiolos. A cavalo nisso tudo, farão o que os irmãos maçónicos também fazem: cuidarão de empregos, carreiras e sinecuras, para si, outra vez para si (que o multiemprego, para gente progressista, é um must), ainda para si, e, finalmente, para os entes queridos, esses querubins, e toda a família sagrada até à quarta geração.
Como a Abelha-Mestra da colmeia, uma bruxa chamada Maria Belo, tem consultório aberto e alvará de arúspice, digo psicanalista, aproveita o ajuntamento para ler umas sinas, lançar uns búzios e esquadrinhar horóscopos. Ocasionalmente, em datas festivas esotéricas, matam à facada um galo preto (ou branco, depende da lua), abrem-lhe as entanhas e espreitam lá para dentro... as analfabetas, claro está, com reverência e assombro; a maga, que é a única alfabetizada em tais vísceras, lendo as miudezas, decifrando o macabro puzzle, em suma: exercendo os poderes exegéticos que se lhe reconhecem. Depois, monta na vassoura e faz umas acrobacias, uns loopings e rasantes a pentear capim, que deixam a confraria ainda mais boquiaberta. A excitação atinge o clímax por alturas da aterragem, com cada qual a fugir para seu lado, espavorida e cacarejante; porque se descola que nem um pelicano e voa que nem uma andorinha, a bruxa-mestra, apesar do brevet tirado com Lacan sob o olhar benévolo de Derrida, aterra que nem um albatroz. Enfim, é - que ninguém duvide!- um nunca mais acabar de maravilhas e peripécias mirabolantes.
No meio de todo este deslumbrante cenário, remanesce-nos apenas uma singela minudência intrigante:
Se já há Lojas específicas para cada membro do casal (de resto como se passa em qualquer pronto-a-vestir ou sanitário público), haverá também, não direi Loja, mas pelo menos uma espécie de Quiosque para juvenis? Porque, não tenhamos dúvidas, um rebento da Maria Belo, lá pelas 13 primaveras, já deve ser um génio encartado, um progressista em rampa de lançamento, um foguetão de ideias pronto a tomar de assalto as galáxias. Filhos desta gente, nascem-lhes os sobredotes científicos (ou artísticos, tanto faz) ainda antes dos dentes.
Tudo isto, bem entendido, já para não falar nas Lojas Gay ou Unissexo. Não me vão dizer que os Macónicos, com aquele progresso todo a fervilhar-hes nas veias, são homofóbicos, pois não?!...
Eu –ignaro que sou – não sabia que existia maçonaria feminina. Julguei que nas lojas maçónicas normais, modelos de virtudes cívicas certamente, não praticavam o “apartheid” sexual. Que a descriminação genital não tinha lugar por aquelas bandas. Que eventualmente até cirandassem por lá encapuçados, numa espécie de Klu-Klux-Klan filantrópica, que era para dar estilo. Mas, pelos vistos, enganei-me. Engano-me sempre. Herdei a tara dum antepassado meu que cismava de dar porrada em moinhos.
Todavia, só uma mente cândida como a minha, descendente de tal ancestral, poderia conceber que não haveria necessidade de lojas maçónicas femininas. Mais: Grandes Lojas. A própria terminologia, está bem de ver, congrega um atractivo irresistível às damas: “loja”. Só isso já provoca tumultos, histerismo, pisadelas, correrias. Basta pensarmos em montras, modas, nova estação e –top of the pops!- saldos!!! A limite, uma espécie de Grandes Armazéns do Chiado do esoterismo. Ou o Grandela, que Deus tenha em eterno descanso!....
Estou mesmo em crer que, no que depender delas, não tardará muito a inaugurar-se o primeiro “shopping maçónico”.
Entretanto, do que por lá fazem, na mariológica loja, digo Grande Loja, apesar do mistério inerente a estes recintos, não será difícil adivinhar. A Grande Loja Maçónica feminina deve ter cabeleireiro, manicure, peeling, lipo-aspiração, ginásio, boutique, perfumaria, maquilhagem e todos esses tabernáculos essenciais a livre-pensadoras. As irmãs devem entreter-se em colóquios profundos a discutir a pele umas das outras, as unhas, o colesterol, a barriguinha, as úlimas da "Hola" ou da "Lux" e as lojas não maçónicas que urge peregrinar. Isto e uns cházinhos, umas canastas e uns bolinhos integrais pelo meio. Outrora fariam também croché, ou lavores (ou atirar-se-iam de paraquedas em frenesins enfermeiros), mas como agora se querem progressistas, falarão de sexo e orgasmos múltiplos ou tapetes de Arraiolos. A cavalo nisso tudo, farão o que os irmãos maçónicos também fazem: cuidarão de empregos, carreiras e sinecuras, para si, outra vez para si (que o multiemprego, para gente progressista, é um must), ainda para si, e, finalmente, para os entes queridos, esses querubins, e toda a família sagrada até à quarta geração.
Como a Abelha-Mestra da colmeia, uma bruxa chamada Maria Belo, tem consultório aberto e alvará de arúspice, digo psicanalista, aproveita o ajuntamento para ler umas sinas, lançar uns búzios e esquadrinhar horóscopos. Ocasionalmente, em datas festivas esotéricas, matam à facada um galo preto (ou branco, depende da lua), abrem-lhe as entanhas e espreitam lá para dentro... as analfabetas, claro está, com reverência e assombro; a maga, que é a única alfabetizada em tais vísceras, lendo as miudezas, decifrando o macabro puzzle, em suma: exercendo os poderes exegéticos que se lhe reconhecem. Depois, monta na vassoura e faz umas acrobacias, uns loopings e rasantes a pentear capim, que deixam a confraria ainda mais boquiaberta. A excitação atinge o clímax por alturas da aterragem, com cada qual a fugir para seu lado, espavorida e cacarejante; porque se descola que nem um pelicano e voa que nem uma andorinha, a bruxa-mestra, apesar do brevet tirado com Lacan sob o olhar benévolo de Derrida, aterra que nem um albatroz. Enfim, é - que ninguém duvide!- um nunca mais acabar de maravilhas e peripécias mirabolantes.
No meio de todo este deslumbrante cenário, remanesce-nos apenas uma singela minudência intrigante:
Se já há Lojas específicas para cada membro do casal (de resto como se passa em qualquer pronto-a-vestir ou sanitário público), haverá também, não direi Loja, mas pelo menos uma espécie de Quiosque para juvenis? Porque, não tenhamos dúvidas, um rebento da Maria Belo, lá pelas 13 primaveras, já deve ser um génio encartado, um progressista em rampa de lançamento, um foguetão de ideias pronto a tomar de assalto as galáxias. Filhos desta gente, nascem-lhes os sobredotes científicos (ou artísticos, tanto faz) ainda antes dos dentes.
Tudo isto, bem entendido, já para não falar nas Lojas Gay ou Unissexo. Não me vão dizer que os Macónicos, com aquele progresso todo a fervilhar-hes nas veias, são homofóbicos, pois não?!...
terça-feira, janeiro 18, 2005
O MOSTRENGO
«O mostrengo que está no fim do mar
na noite de breu ergueu-se a voar;
à roda da nau voou três vezes
voou três vezes a chiar,
E disse:" quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo
mus tectos negros do fim do mundo?»
E o o homem do leme disse, tremendo:
»El-Rei D.João Segundo!"
E o o homem do leme disse, tremendo:
»El-Rei D.João Segundo!"
- Fernando Pessoa, "Mensagem"
A figura do mostrengo é eloquente. Ainda hoje brame, para quem o quiser ouvir. Ainda hoje apavora quem o escuta e, pelo zoar do seu estrugir desumano, o imagina envolto em fiapos de tormento e cortinas de pesadelo.
Em Quinhentos, nesse tempo de coragem, de Audácia, mais que de ganância, os mares ressumbravam, infestados. Ao longe, nos oceanos, que iam vomitar-se lugubremente no abismo tartárico, senão na goela insaciável do próprio inferno em chamas, uivavam abominações medonhas, habitavam pavores inomináveis. Sob o manto vertiginoso das águas, moravam braços descomunais, tentáculos mortíferos, mandíbulas escancaradas prontas a devorar, a varrer e a despedaçar, sem dó nem piedade, a casca de noz e o insecto que se atrevessem, que experimentassem a viagem, que ousassem sequer o pensamento. Enfim, emboscados, sempre à espreita, famintos de dor e carne humana, cardumes de horrores patrulhavam os mares ignotos. Para quem escondia os olhos –como hoje ainda esconde -, o mostrengo era tudo isso. Escutava-se e dava vontade de nunca ter nascido.
Mas, na verdade, o mostrengo não habitava os mares: rodopiava fantasmagórico na alma dos homens. Tolhia-lhes o ânimo e quebrantava-lhes a força. E chiava –oh, com que tenebror ele chiava! - a enregelar o coração e a liquefazer a espinha. Que até os dentes crepitavam, os cabelos encaneciam e o chão nos chamava, em refúgio, para o mais humilde e obscuro dos seus orifícios.
Só que havia uma semente - uma centelha de odisseia - que Ulisses deixara por estas bandas. E uma semente pode muito. Mais que todos os medos. Mais que todas as filosofias, literaturas e ciências! Mais que a treva e os abismos. Porque uma semente sabe o caminho do céu. Rompe a lama e as angústias, fende os ares e as neblinas e estende os braços, feita árvore, a abraçar a luz e o firmamento. A saudar o sol e as estrelas. A respirar o sopro divino que dá vida ao mundo.
As sementes são a lenha dos sonhos. Os portugueses de Quinhentos foram a carne dessa semente.
E do chão agreste, triste, sujo e escuro, onde o medo os agrilhoava e mantinha encarcerados, rasgaram horizontes e elevaram-se para uma luz que os guiava a sul de todos os crepúsculos, à procura de edens e fontes sagradas, em busca de tesouros, de aventuras, de terras exóticas, mas, acima de tudo, ou como estrela guia para tudo isso, do mais bem-aventurado e exótico de todos os tesouros: a verdade.
Foram banhar-se no sonho e no abismo. Foram para o mar enfrentar o mostrengo que levavam na alma.
Guardamos essa memória nas veias e sabemos que não foi fácil. Sabemos que não foi uma coreografia sonoplástica e narcótica, como os filmes de hollywood. Que não foi insípido e inodoro. Que o cheiro a merda e sangue, a escorbuto e malária, a desespero e desinteria se misturaram muitas vezes, quase sempre, com o perfume da maresia, que entra pelos pulmões e descongestiona a alma. Que as lágrimas das mulheres salgaram o cais e as maldições dos velhos crismaram o vento. Que isso toldou o horizonte e açulou o mostrengo que de dentro de nós –nós naquele tempo – assombrava o mar.
Mas nós –nós naquele tempo – nós sem automóveis, televisões, figoríficos, nós sem electricidade nem água canalizada, nós sem subsídios nem peritos de pintelhices a granel, nós sem doutores da mula russa a parirem reformas de empreitada, nós sem formação profissional nem confortos, sem sindicato nem segurança social, nós sem computadores nem cinemas, nós sem petróleo nem diamantes, fomos capazes de uma obra colossal, fomos capazes dum milagre, a semente fez-se árvore.
Nós –naquele tempo muito mais magros, destituídos, ainda mais indigentes e pequenos que hoje – fomos capazes. Porque é que hoje não somos? Não somos capazes porque nem sequer somos nós. Entre aquele tempo e este tempo interpôs-se um limbo onde vagamos quais sombras penadas. Sobra-nos a matéria, o esterco que nos amortalha; sobram-nos bugigangas em catadupa, adubos, pesticidas e cuidados de flores de estufa, mas falta-nos o essencial: a vontade, esse gume afiado do espírito. Falta-nos aquele que a vaca da Isabel Católica, ao saber da sua morte, disse: “Morreu o Homem”
Mas não apenas o homem-rei, símbolo de um povo, da união sagrada entre terra, mar e gente, e duma vontade colectiva; também, e sobretudo, o Homem dentro de todos nós, o homem que sonha, o homem que navega, o homem que acredita.
Porque em vez dele, a velar o seu sono forçado, soltando peçonha e susto, reina o mostrengo. Adeja, rodopia e chia sem parar. Entoa a sua umbrífera lengalenda, que cobre, como uma névoa tóxica, venenosa, o sol e as estrelas, e entranha-se nos ossos, nos músculos, nas mentes, a roubar-nos toda a coragem, a decantar-nos toda a esperança.
“Sois fracos!”, chia ele, escarninho. “Sois débeis! Sois poucos! Sois pobres! Sois atrasados! Sois obsoletos! Sois a escória da Europa! Sois vis! Sois preguiçosos! Sois desgovernados, desorganizados, viciados, dependentes, individados, mesquinhos, intriguistas, fala-baratos, quezilentos, alarves, pacóvios...sois o desespero de Cristo!...” As suas asas negras esvoaçam por cima de nós, sombrias e, à noite –nesta infinita noite em que se tornou a nossa vida-, pressentimos que ele poisa, de colmilhos afiados, para nos vampirizar os sonhos. Mas mesmo nessa pausa hedionda, a sua cantilena exasperante não cessa: repercute em ecos descarnados, lutuosos, nas abóbadas do nosso pavor.
Mas que pensáveis vós que ele, esse mesmo mostrengo chiante, uivava há quinhentos anos atrás? -A mesmíssima gosma paralizante, a gémea baba de aranha dissolvente. Sem tirar nem pôr.
E os homens - daquele tempo em que ainda havia homens - deixaram para trás as lágrimas das mulheres, as maldições dos velhos, o espanto maravilhado nos olhos das crianças e saíram mar a fora, levando todo o medo consigo, e foram enfrentar a ululante avantesma lá onde o mundo acaba e o abismo começa. Saíram as naus da barra e o mostrengo infame ia por cima delas, como uma sombra de Outro-Mundo.
Choraram as mulheres porque viam ambos, praguejaram os velhos porque viam a abominação, maravilharam-se as crianças porque eram seus os sonhos que iam dentro dos homens, com a forma de mastros e velas.
Os homens não voltaram. Só o mostrengo voltou.
A figura do mostrengo é eloquente. Ainda hoje brame, para quem o quiser ouvir. Ainda hoje apavora quem o escuta e, pelo zoar do seu estrugir desumano, o imagina envolto em fiapos de tormento e cortinas de pesadelo.
Em Quinhentos, nesse tempo de coragem, de Audácia, mais que de ganância, os mares ressumbravam, infestados. Ao longe, nos oceanos, que iam vomitar-se lugubremente no abismo tartárico, senão na goela insaciável do próprio inferno em chamas, uivavam abominações medonhas, habitavam pavores inomináveis. Sob o manto vertiginoso das águas, moravam braços descomunais, tentáculos mortíferos, mandíbulas escancaradas prontas a devorar, a varrer e a despedaçar, sem dó nem piedade, a casca de noz e o insecto que se atrevessem, que experimentassem a viagem, que ousassem sequer o pensamento. Enfim, emboscados, sempre à espreita, famintos de dor e carne humana, cardumes de horrores patrulhavam os mares ignotos. Para quem escondia os olhos –como hoje ainda esconde -, o mostrengo era tudo isso. Escutava-se e dava vontade de nunca ter nascido.
Mas, na verdade, o mostrengo não habitava os mares: rodopiava fantasmagórico na alma dos homens. Tolhia-lhes o ânimo e quebrantava-lhes a força. E chiava –oh, com que tenebror ele chiava! - a enregelar o coração e a liquefazer a espinha. Que até os dentes crepitavam, os cabelos encaneciam e o chão nos chamava, em refúgio, para o mais humilde e obscuro dos seus orifícios.
Só que havia uma semente - uma centelha de odisseia - que Ulisses deixara por estas bandas. E uma semente pode muito. Mais que todos os medos. Mais que todas as filosofias, literaturas e ciências! Mais que a treva e os abismos. Porque uma semente sabe o caminho do céu. Rompe a lama e as angústias, fende os ares e as neblinas e estende os braços, feita árvore, a abraçar a luz e o firmamento. A saudar o sol e as estrelas. A respirar o sopro divino que dá vida ao mundo.
As sementes são a lenha dos sonhos. Os portugueses de Quinhentos foram a carne dessa semente.
E do chão agreste, triste, sujo e escuro, onde o medo os agrilhoava e mantinha encarcerados, rasgaram horizontes e elevaram-se para uma luz que os guiava a sul de todos os crepúsculos, à procura de edens e fontes sagradas, em busca de tesouros, de aventuras, de terras exóticas, mas, acima de tudo, ou como estrela guia para tudo isso, do mais bem-aventurado e exótico de todos os tesouros: a verdade.
Foram banhar-se no sonho e no abismo. Foram para o mar enfrentar o mostrengo que levavam na alma.
Guardamos essa memória nas veias e sabemos que não foi fácil. Sabemos que não foi uma coreografia sonoplástica e narcótica, como os filmes de hollywood. Que não foi insípido e inodoro. Que o cheiro a merda e sangue, a escorbuto e malária, a desespero e desinteria se misturaram muitas vezes, quase sempre, com o perfume da maresia, que entra pelos pulmões e descongestiona a alma. Que as lágrimas das mulheres salgaram o cais e as maldições dos velhos crismaram o vento. Que isso toldou o horizonte e açulou o mostrengo que de dentro de nós –nós naquele tempo – assombrava o mar.
Mas nós –nós naquele tempo – nós sem automóveis, televisões, figoríficos, nós sem electricidade nem água canalizada, nós sem subsídios nem peritos de pintelhices a granel, nós sem doutores da mula russa a parirem reformas de empreitada, nós sem formação profissional nem confortos, sem sindicato nem segurança social, nós sem computadores nem cinemas, nós sem petróleo nem diamantes, fomos capazes de uma obra colossal, fomos capazes dum milagre, a semente fez-se árvore.
Nós –naquele tempo muito mais magros, destituídos, ainda mais indigentes e pequenos que hoje – fomos capazes. Porque é que hoje não somos? Não somos capazes porque nem sequer somos nós. Entre aquele tempo e este tempo interpôs-se um limbo onde vagamos quais sombras penadas. Sobra-nos a matéria, o esterco que nos amortalha; sobram-nos bugigangas em catadupa, adubos, pesticidas e cuidados de flores de estufa, mas falta-nos o essencial: a vontade, esse gume afiado do espírito. Falta-nos aquele que a vaca da Isabel Católica, ao saber da sua morte, disse: “Morreu o Homem”
Mas não apenas o homem-rei, símbolo de um povo, da união sagrada entre terra, mar e gente, e duma vontade colectiva; também, e sobretudo, o Homem dentro de todos nós, o homem que sonha, o homem que navega, o homem que acredita.
Porque em vez dele, a velar o seu sono forçado, soltando peçonha e susto, reina o mostrengo. Adeja, rodopia e chia sem parar. Entoa a sua umbrífera lengalenda, que cobre, como uma névoa tóxica, venenosa, o sol e as estrelas, e entranha-se nos ossos, nos músculos, nas mentes, a roubar-nos toda a coragem, a decantar-nos toda a esperança.
“Sois fracos!”, chia ele, escarninho. “Sois débeis! Sois poucos! Sois pobres! Sois atrasados! Sois obsoletos! Sois a escória da Europa! Sois vis! Sois preguiçosos! Sois desgovernados, desorganizados, viciados, dependentes, individados, mesquinhos, intriguistas, fala-baratos, quezilentos, alarves, pacóvios...sois o desespero de Cristo!...” As suas asas negras esvoaçam por cima de nós, sombrias e, à noite –nesta infinita noite em que se tornou a nossa vida-, pressentimos que ele poisa, de colmilhos afiados, para nos vampirizar os sonhos. Mas mesmo nessa pausa hedionda, a sua cantilena exasperante não cessa: repercute em ecos descarnados, lutuosos, nas abóbadas do nosso pavor.
Mas que pensáveis vós que ele, esse mesmo mostrengo chiante, uivava há quinhentos anos atrás? -A mesmíssima gosma paralizante, a gémea baba de aranha dissolvente. Sem tirar nem pôr.
E os homens - daquele tempo em que ainda havia homens - deixaram para trás as lágrimas das mulheres, as maldições dos velhos, o espanto maravilhado nos olhos das crianças e saíram mar a fora, levando todo o medo consigo, e foram enfrentar a ululante avantesma lá onde o mundo acaba e o abismo começa. Saíram as naus da barra e o mostrengo infame ia por cima delas, como uma sombra de Outro-Mundo.
Choraram as mulheres porque viam ambos, praguejaram os velhos porque viam a abominação, maravilharam-se as crianças porque eram seus os sonhos que iam dentro dos homens, com a forma de mastros e velas.
Os homens não voltaram. Só o mostrengo voltou.
«O mostrengo que está pra cá do mar
Na noite de breu continu’a voar;
Por dentro da alma voa mil vezes
Voa mil vezes a agoirar,
E diz: “quem persiste ainda a sonhar
Com algo que não meu trono execrando
com céus acima deste pó imundo?
E a nau sem leme geme, sangrando :
Na noite de breu continu’a voar;
Por dentro da alma voa mil vezes
Voa mil vezes a agoirar,
E diz: “quem persiste ainda a sonhar
Com algo que não meu trono execrando
com céus acima deste pó imundo?
E a nau sem leme geme, sangrando :
”Quem há-de vingar D. João Segundo?...”
segunda-feira, janeiro 17, 2005
ComoTornar-se Americano em 3 Etapas
1ª Etapa. Excesso de peso
2ª Etapa. Obesidade
3ª Etapa. Obesidade Mórbida
Para o efeito, há todo um ginásio de flacidez psicofísica, onde os praticantes da lipodromia (corrida à gordura) se podem exercitar na aquisição de peso e volumetria. Destacam-se as principais estações, ou, pelo menos, aquelas que usufruem da especial predilecção dos concorrentes:
1. Televisão
2. Computador
3. Junk-food
4. Alcoolização precoce (ou toxicodependência alternativa)
5. Progenitores imbecilizados ou ausentes
O treino circular –rotação compulsiva, enfrenesiada e non-stop entre estas estações e aparelhos - conduz a resultados espectaculares e garantidos, em tempo recorde. Conseguem-se perfeitos americanos, tão balofos, flácidos e mentecaptos quanto os originais. Neste momento, Portugal mastiga e engole a bom ritmo. Ocupa mesmo um magnífico segundo lugar, a nível europeu. Mais um esforço e chegamos à medalha de ouro.
É enfardar, pequenada!...É andar a reboque, papá e mamãs!... Ao menos nisso, andam todos em Harvard. E já vão na pós-graduação.
domingo, janeiro 16, 2005
Um Blogue de Fulano de Tal
Dei comigo a pensar. É um distúrbio mental que ocasionalmente me visita e desinquieta. Nada de muito grave, tranquilizai-vos. Nada sequer que ponha em risco a minha sobrevivência ou a harmonia mortuária que urbanamente nos abençoa.
Num momento de ócio, lembrei-me desses grandes nomes da nossa blogosfera, e da cultura em geral, essas poderosas chancelas –os Mexias, os Pereira Coutinho e outros que tais -, e dei comigo –como já referi- a pensar. A matutar, melhor dizendo. Não sobre o seu –deles- talento ou genialidade, que são por certo descomunais e merecedores de todos os encómios deste mundo, nem, muito menos, sobre as obras-primas que produzem, pois também essas, quais tapetes mágicos donde os autores acenam longínquas esmolas a maltrapilhos mentais, me sobrevoam a grande altitude. Não; é coisa mais brejeira, mais ao nível subterrâneo dum biltre vandalizador da língua pátria como eu. Dum escrevinhador de vão de escada, enfim. Refiro-me ao “pedigree” daqueles anjos. Ou por outras palavras, e avançando-vos desde já, de chofre, com uma sinopse: a sua, deles, genialidade será paragénita – irrompeu-lhes um belo dia, cérebro a fora, como a acne nos rostos dos adolescentes menos dotados-, ou, pelo contrário, será congénita e herdada de linhagens insignes, pejadas de atributos e qualificações igualmente ofuscantes. O Mexia, por exemplo, é alguma coisa àquele senhor, todo ele inteligência, a escorrer argúcia, que é ministro? O Pereira Coutinho, de igual modo, partilhará laços de sangue com aqueloutro cavalheiro, superlativo empresário, a pingar riqueza, que até tem helicóptero e uma ilha privada na costa brasileira?
Há muitos outros e haverá, mesmo nestes, outras questões importantes –se além do génio, também tiveram acne? Ou bexigas doidas, ou pé chato, etc? Se, tendo helicóptero, o putativo parente, é ele que o conduz ou tem motorista? – mas não nos dispersemos. Contentava-me com a resposta à questão singela do pedigree. Têm-no ou não? São adquiridos ou congénitos? É dom divino, milagre pessoal, ou legado dum bando de espermatozóides excelentíssimo?
Cada vez mais estrangeiro no meu próprio país, ignoro com quantos neurónios tenho estes detalhes, estas ninharias. Estou certo que alguma alma benemérita - qualquer porteira, cabeleireira ou vendedora de peixe - cá do burgo saberá esclarecer-me sobre este assunto e resgatar-me às garras desta vexante ignorância.
Entretanto, depois de me cocegar por breves instantes, o pensamento evade-se, em espirais etéreas, pelos campos elísios da fantasia. Vislumbro-me, num delírio caleidoscópico de cores, sabores e aromas, ataviado dum apelido todo-viçoso, gazua desferrolhante ds mais renitentes portas. Dou comigo transportado num turbilhão de ideias, todas elas sublimes, elevadas, culminantes, a galope por vales de cornucópias. Num ápice, de olímpica empreitada, escrevo romances, contos, novelas, poemas, ensaios, artigos, decretos, livros de culinária, breviários, anedotas, cada qual mais sumptuosa que a precedente. Sinto-me implacável, sobrepujam-me relâmpagos e pirotecnias celestes em prelúdio de hiantes partos cósmicos. O prelo e os escaparates arfam e resfolegam, desejosos das minhas tiragens. Editores disputam-me, nem sempre civilizadamente, às vezes com tumultos. Faminto de posteridade rápida, atiro-me a ela à dentada, em braçadas de mariposa haurifegante. Um fulgor convulsivo e compulsivo invade-me, encharca-me, atesta-me de superpoderes. O universo inteiro sustem a respiração na iminência duma vírgula minha. Será vírgula? Será ponto e vírgula? Serão reticências?... Nada me escapa; não é apenas o écran do monitor: são paredes, azulejos de WC, papelões, cortinados, toalhas, vestidos, guardanapos. Escrevo e assino. Por onde quer que passe, deixo um rasto inconfundível, uma baba, um monco genial, único, demiúrgico. Interrompo apenas para recobrar fôlego, para confabular com as musas. Mas o talento extravasante, a energia artística efervescente, aos borbotões, não me dão tréguas. Propulsionam-me para mais grandiosos voos. Também os blogs –os sites, os fóruns, as play stations- não deixo impunes. Nada de Dragoscópios, Pinóquios, Solilóquios ou anonimatos que tais. Agora há toda uma família que me catapulta, todo um apelido luzidio que urge ostentar. Não é uma criatura qualquer que me transporta. Não é um mija-na-escada avulso que serve de invólucro a tamanho espírito. É uma criatura de marca. Uma embalagem personalizada. No topo, à entrada, já entrevejo até, em letras flamejantes, magnéticas, poderosas, o título radioso, atracção irresistível: “Estratosfera –um blogue de Fulano de Tal”. Debaixo, servindo de passadeira ao meu triunfo, num charco de saliva desbordante, as massas prostram-se, subjugadas, avassaladas, tomadas dum deslumbramento inaudito. É o “Fulano de Tal” que as atrai, que as mergulha num torpor vizinho do êxtase vegetal. O resto, poupemo-nos a trabalhos, é irrelevante.
Num momento de ócio, lembrei-me desses grandes nomes da nossa blogosfera, e da cultura em geral, essas poderosas chancelas –os Mexias, os Pereira Coutinho e outros que tais -, e dei comigo –como já referi- a pensar. A matutar, melhor dizendo. Não sobre o seu –deles- talento ou genialidade, que são por certo descomunais e merecedores de todos os encómios deste mundo, nem, muito menos, sobre as obras-primas que produzem, pois também essas, quais tapetes mágicos donde os autores acenam longínquas esmolas a maltrapilhos mentais, me sobrevoam a grande altitude. Não; é coisa mais brejeira, mais ao nível subterrâneo dum biltre vandalizador da língua pátria como eu. Dum escrevinhador de vão de escada, enfim. Refiro-me ao “pedigree” daqueles anjos. Ou por outras palavras, e avançando-vos desde já, de chofre, com uma sinopse: a sua, deles, genialidade será paragénita – irrompeu-lhes um belo dia, cérebro a fora, como a acne nos rostos dos adolescentes menos dotados-, ou, pelo contrário, será congénita e herdada de linhagens insignes, pejadas de atributos e qualificações igualmente ofuscantes. O Mexia, por exemplo, é alguma coisa àquele senhor, todo ele inteligência, a escorrer argúcia, que é ministro? O Pereira Coutinho, de igual modo, partilhará laços de sangue com aqueloutro cavalheiro, superlativo empresário, a pingar riqueza, que até tem helicóptero e uma ilha privada na costa brasileira?
Há muitos outros e haverá, mesmo nestes, outras questões importantes –se além do génio, também tiveram acne? Ou bexigas doidas, ou pé chato, etc? Se, tendo helicóptero, o putativo parente, é ele que o conduz ou tem motorista? – mas não nos dispersemos. Contentava-me com a resposta à questão singela do pedigree. Têm-no ou não? São adquiridos ou congénitos? É dom divino, milagre pessoal, ou legado dum bando de espermatozóides excelentíssimo?
Cada vez mais estrangeiro no meu próprio país, ignoro com quantos neurónios tenho estes detalhes, estas ninharias. Estou certo que alguma alma benemérita - qualquer porteira, cabeleireira ou vendedora de peixe - cá do burgo saberá esclarecer-me sobre este assunto e resgatar-me às garras desta vexante ignorância.
Entretanto, depois de me cocegar por breves instantes, o pensamento evade-se, em espirais etéreas, pelos campos elísios da fantasia. Vislumbro-me, num delírio caleidoscópico de cores, sabores e aromas, ataviado dum apelido todo-viçoso, gazua desferrolhante ds mais renitentes portas. Dou comigo transportado num turbilhão de ideias, todas elas sublimes, elevadas, culminantes, a galope por vales de cornucópias. Num ápice, de olímpica empreitada, escrevo romances, contos, novelas, poemas, ensaios, artigos, decretos, livros de culinária, breviários, anedotas, cada qual mais sumptuosa que a precedente. Sinto-me implacável, sobrepujam-me relâmpagos e pirotecnias celestes em prelúdio de hiantes partos cósmicos. O prelo e os escaparates arfam e resfolegam, desejosos das minhas tiragens. Editores disputam-me, nem sempre civilizadamente, às vezes com tumultos. Faminto de posteridade rápida, atiro-me a ela à dentada, em braçadas de mariposa haurifegante. Um fulgor convulsivo e compulsivo invade-me, encharca-me, atesta-me de superpoderes. O universo inteiro sustem a respiração na iminência duma vírgula minha. Será vírgula? Será ponto e vírgula? Serão reticências?... Nada me escapa; não é apenas o écran do monitor: são paredes, azulejos de WC, papelões, cortinados, toalhas, vestidos, guardanapos. Escrevo e assino. Por onde quer que passe, deixo um rasto inconfundível, uma baba, um monco genial, único, demiúrgico. Interrompo apenas para recobrar fôlego, para confabular com as musas. Mas o talento extravasante, a energia artística efervescente, aos borbotões, não me dão tréguas. Propulsionam-me para mais grandiosos voos. Também os blogs –os sites, os fóruns, as play stations- não deixo impunes. Nada de Dragoscópios, Pinóquios, Solilóquios ou anonimatos que tais. Agora há toda uma família que me catapulta, todo um apelido luzidio que urge ostentar. Não é uma criatura qualquer que me transporta. Não é um mija-na-escada avulso que serve de invólucro a tamanho espírito. É uma criatura de marca. Uma embalagem personalizada. No topo, à entrada, já entrevejo até, em letras flamejantes, magnéticas, poderosas, o título radioso, atracção irresistível: “Estratosfera –um blogue de Fulano de Tal”. Debaixo, servindo de passadeira ao meu triunfo, num charco de saliva desbordante, as massas prostram-se, subjugadas, avassaladas, tomadas dum deslumbramento inaudito. É o “Fulano de Tal” que as atrai, que as mergulha num torpor vizinho do êxtase vegetal. O resto, poupemo-nos a trabalhos, é irrelevante.
sábado, janeiro 15, 2005
A Bomba Gay
Sem surpresa, quanto a mim, leio no Diário Digital:
«O Ministério da Defesa norte-americano (Pentágono) considerou desenvolver um conjunto de armas químicas não letais para abalar a moral e a disciplina das tropas inimigas, tais como uma bomba sexual, indicam documentos secretos agora divulgados.
Uma das armas mais bizarras consistia no desenvolvimento de um afrodisíaco que tornasse os soldados inimigos sexualmente irresistíveis uns para os outros.
A intenção era provocar um comportamento homossexual generalizado entre as tropas, o que causaria um golpe «desagradável mas não letal» à moral dos soldados, refere a proposta.
Outras propostas incluíam armas que atraíssem enxames de vespas enfurecidas ou ratazanas furiosas para posições militares, tornando-as inabitáveis»
Ora, no mínimo, estes laboratórios peregrinos resvalaram para a redundância. Menosprezaram –e de que maneira- o generoso, dinâmico e estrénuo contributo da cultura americana para a disseminação da homossexualdade no mundo. Da homossexualidade e da impotência em geral. De facto, para que é necessária uma bomba, quando já se dispôem há muito de emissores, difusores e fumigenadores permanentes? Já diz o povo: o óptimo é inimigo do bom. E a coisa feita pela calada resulta sempre melhor que cometida às escâncaras, largada à bruta.
Contra-argumentaria o postulante que a bomba seria vocacionada apenas para países do terceiro mundo onde a televisão, o cinema e a internet ainda não chegassem com a exuberância necessária. Que a bomba se destinaria só a países francamente hostis, enquanto aqueles outros métodos se concentrariam nos países amigos e aliados. Soft-colonization, esta, explicitaria. Em contraponto à “fast-colonization”, à bomba, aquela, claro.
Mandá-lo-íamos aperfeiçoar o engenho, burilar uma via de inoculação não-explosiva (que dá muito nas vistas) e esmiuçar da sua rentabilidade, fazendo-o acompanhar, futuramente, dum estudo de mercado.
Quanto a atrair ratazanas furiosas e vespas enfurecidas, isso também já existe. Basta que se descubra petróleo em boas quantidades no subsolo dum qualquer pobre e desamparado país. Descobrissem-no na lua que havíamos de vê-las desembestar para lá, a correr –ou melhor, a voar.
Também a halitose é mais que redundante: Há muito que infestam o mundo com junk/fast-food, fármacos, químicos, pesticidas e, ultimamente, até com transgénicos e vacinas absolutamente putrefactivas das vísceras alheias. Halitose, flato e eructação pestilenta é o que não falta p’r’aí. Já não falando num fedor a cagaço, que até enjoa.
Resumindo: ir alguém, uma alma cândida e benemérita, oferecer tais gadjets aos dirigentes americanos resulta no mesmo que vir sugerir, em jeito pioneiro, contas off-shore aos manda-chuvas portugueses. Pois, mais que descobrir a pólvora, é inventá-la.
«O Ministério da Defesa norte-americano (Pentágono) considerou desenvolver um conjunto de armas químicas não letais para abalar a moral e a disciplina das tropas inimigas, tais como uma bomba sexual, indicam documentos secretos agora divulgados.
Uma das armas mais bizarras consistia no desenvolvimento de um afrodisíaco que tornasse os soldados inimigos sexualmente irresistíveis uns para os outros.
A intenção era provocar um comportamento homossexual generalizado entre as tropas, o que causaria um golpe «desagradável mas não letal» à moral dos soldados, refere a proposta.
Outras propostas incluíam armas que atraíssem enxames de vespas enfurecidas ou ratazanas furiosas para posições militares, tornando-as inabitáveis»
Ora, no mínimo, estes laboratórios peregrinos resvalaram para a redundância. Menosprezaram –e de que maneira- o generoso, dinâmico e estrénuo contributo da cultura americana para a disseminação da homossexualdade no mundo. Da homossexualidade e da impotência em geral. De facto, para que é necessária uma bomba, quando já se dispôem há muito de emissores, difusores e fumigenadores permanentes? Já diz o povo: o óptimo é inimigo do bom. E a coisa feita pela calada resulta sempre melhor que cometida às escâncaras, largada à bruta.
Contra-argumentaria o postulante que a bomba seria vocacionada apenas para países do terceiro mundo onde a televisão, o cinema e a internet ainda não chegassem com a exuberância necessária. Que a bomba se destinaria só a países francamente hostis, enquanto aqueles outros métodos se concentrariam nos países amigos e aliados. Soft-colonization, esta, explicitaria. Em contraponto à “fast-colonization”, à bomba, aquela, claro.
Mandá-lo-íamos aperfeiçoar o engenho, burilar uma via de inoculação não-explosiva (que dá muito nas vistas) e esmiuçar da sua rentabilidade, fazendo-o acompanhar, futuramente, dum estudo de mercado.
Quanto a atrair ratazanas furiosas e vespas enfurecidas, isso também já existe. Basta que se descubra petróleo em boas quantidades no subsolo dum qualquer pobre e desamparado país. Descobrissem-no na lua que havíamos de vê-las desembestar para lá, a correr –ou melhor, a voar.
Também a halitose é mais que redundante: Há muito que infestam o mundo com junk/fast-food, fármacos, químicos, pesticidas e, ultimamente, até com transgénicos e vacinas absolutamente putrefactivas das vísceras alheias. Halitose, flato e eructação pestilenta é o que não falta p’r’aí. Já não falando num fedor a cagaço, que até enjoa.
Resumindo: ir alguém, uma alma cândida e benemérita, oferecer tais gadjets aos dirigentes americanos resulta no mesmo que vir sugerir, em jeito pioneiro, contas off-shore aos manda-chuvas portugueses. Pois, mais que descobrir a pólvora, é inventá-la.
sexta-feira, janeiro 14, 2005
Manda a Vontade que me ata ao leme...
O meu Dicionário Shelltox Concise gerou acesa polémica acerca do termo "Bragança". Um digníssimo leitor insurgiu-se contra a definição dada. Protesta veementemente e discorda em absoluto. Congratulo-me. Execro unanimismos.
Sendo, não obstante, um fenómeno raro (o que muito me surpreende), ganha foros de preciosidade merecedora de destaque e honras de primeira página. Assim, em honra deste leitor destemido, a quem nunca poderei expressar toda a minha devida gratidão, passo a publicar as merecidíssimas invectivas com que me brindou e as (não direi farpas, porque as não merece) mas enfim, labaredas com que o distingo.
Meu caro Velho do Restelo,
Diz VªExcª:
“Escreves uma atoarda daquelas e queres ser tratado com paninhos quentes?Recebido com trouxas de ovos e copinhos de vinho fino?”
Digo-lhe eu:
Não exijo tanto. Contentava-me com uma cervejita e um pires de caracóis.
Diz Vª.Excª:
”Respeita a Dinastia que restaurou Portugal.”
Digo-lhe eu:
Prefiro honrar aquelas que o fundaram e engrandeceram. Mais que aquela que o “restaurou”, quer dizer, digeriu.
Diz VªExcª:
“Não repitas o pior da historiografia jacobina do sec.XIX.”
E eu digo-lhe:
Amén. Mas, Jacobino, eu?? E, já agora, porque não comunista? Ou então anarquista, libertino, luciferiano!...
Diz Vª.Excª:
“Tens capacidade para mais”.
E eu digo-lhe:
Pois tenho. Todos temos. A asneira, ao contrário da sabedoria, não respeita limites e galopa à rédea solta.
Diz VªExcª:
” Lê o Padre António Vieira e vais perceber”.
E eu digo-lhe:
Já li. E não percebi. Talvez fosse da tradução.
Diz Vª Excª:
“O sebastianismo é muito mais que uma fria manhã de nevoeiro”.
E eu digo-lhe:
Na meteorologia, lamento mas não posso acompanhá-lo; falta-me a erudição científica. Teremos que contentar-nos com a filosofia.
Diz VªExcª:
“Quando pensares nos Bragança lembra-te de Teófilo Braga, Carmona, Américo Tomás, Craveiro Lopes, Ramalho Eanes, Spínola, Costa Gomes, Jorge Sampaio”
E eu digo-lhe:
Precisamente. É esse o problema. Quando penso nos Bragança, lembro-me logo do Teófilo, do Carmona, do Américo, do Craveiro, do Ramalho, do Spínola , do Gomes, do Soares e, sobretudo, do –todo ele very british constitucionalista –Sampaio! E desata-me logo aquela horripilante terminologia (que tanto parece afligir VªExcª) –do usurpador e mentecapto – a badalar-me na cabeça.
Repete Vª Excª, (enfaticamente):
“És capaz de fazer melhor”
E eu digo-lhe:
Talvez. Mas a questão que agora me preocupa é: e VªExcª, será?
Diz VªExcª:
“Mas reconhece que não é assim que se começa uma conversa civilizada”.
E eu digo-lhe:
Reconheço. Para arranjar sarilhos com um Dragão, nada melhor que apodá-lo de “pequeno burguês” “viúva do Afonso Costa” e “jacobino”. É infalível. Convém é não descurar o arcaboiço e equipar-se, à cautela, com um bom fato de amianto.
Diz VªExcª:
“Lê uma boa História de Portugal”
E eu digo-lhe:
Queira, VªExcª, recomendar-me uma apropriada, não vão aquelas que já li serem das más. Em todo o caso, devo presumir que a idade ainda não o bafejou com os anos e experiência de vida suficiente para entender que o termo “boa História” é um oxímoro. Recomendar a alguém uma “boa História” é como recomendar-lhe um “bom veneno”. Se recebeu os anos, então sugiro-lhe que reclame, pois defraudaram-no no que concerne à inteligência.
Insiste VªExcª (benévolo):
“Lê António Vieira, tira as teias de aranha do escafandro”
E eu digo-lhe:
Subentendo que uma coisa, no seu soberano entender, implica a outra. Ao ler a criatura, as teias, por arte mágica, desaparecem. Hei-de experimentar, sob esse ângulo. Confesso que me espicaçou a curiosidade. É só o tempo de comprar um escafandro.
Diz VªExcª:
“Pensa antes de publicares os “clichés” jacobinos”
E eu digo-lhe:
É só antes disso que devo pensar? Porque se assim for, então nunca me será possível tão gratificante experiência (pensar, quero eu dizer).
Diz VªExcª:
“Por favor não digas que és monárquico.”
E eu digo-lhe:
Tem, VªExcª, toda a razão. Não digo. Até porque se ser monárquico é cantar o fado, ser proxeneta do apelido, decorar casas, orquestrar matrimónios, ter bigodes ou tudo isso que pela actualidade se pavoneia e amostra, eu estou nos antípodas. Fujo para o mar alto. De resto, basta atentar na bandeira que levo desfraldada no mastro grande. Não é verde rubra nem azul branca. E se acrescentarmos que - ao contrário de tantas outras (monárquicas e republicanas) que por aí fora se avistam -, não está ali por mera decoração ou folclore, pior um pouco.
Diz VªExcª:
“Ou se é monárquico, ou não. Não se fica a meio da viagem.”
E eu digo-lhe:
Devo, então, presumir que o monarcofilia é em tudo semelhante ao maniqueísmo e ao leninismo? Seja como for, acredito em VªExcª. Por isso mesmo reforço a ideia prévia: viagem tão turística não parece a mais recomendável ao meu batel. Este, horror do mundo, ronda por mares bem mais tenebrosos: da desforra, da aventura e da defenestração. E o cabrão do burguês é que as paga!...
Diz VªExcª:
“Um monárquico tem dois deveres de obediência: um institucional para com a Coroa (enquanto instituição) e um pessoal para com o Rei.Falhaste os dois.”
Digo-lhe eu:
Como não sou monárquico, no que até acaba de me passar atestado, lastimo muito, mas não falhei nenhum. Oxalá Vª Excª possa dizer o mesmo. Deveres de obediência, contudo, tenho mais que dois: para com Deus, com a minha pátria, com os meus irmãos e com a minha honra. E, juntamente com esses todos, para com o par de testículos com que Deus me enviou a este mundo.
Termino, se mo permite, com um aforismo que acaba de me ocorrer:
Portugal, meu caro amigo, o que precisa realmente é de ser refundado, que refodido já ele anda há muito!
Faça Vocelência por não refodê-lo mais do que ele já está e terá em mim um amigo para toda a vida.
Sem ironia, foi um prazer esgrimir consigo.
Será sempre bem vindo a bordo, mas temo bem que as tempestades e as carnificinas lhe melindrem as vísceras, senão lhe transtornarem de vez a mioleira.Além disso, pela sua graça, intuo que é daqueles que não ama o mar, prefere ficar a resmungar no cais e a agoirar naufrágios e abismos.
Não obstante, aceito o abraço de Vª Excª e devolvo-lho à maneira dos dragões. Que Deus lhe conceda boa fortuna.
Dragão
Meu caro Velho do Restelo,
Diz VªExcª:
“Escreves uma atoarda daquelas e queres ser tratado com paninhos quentes?Recebido com trouxas de ovos e copinhos de vinho fino?”
Digo-lhe eu:
Não exijo tanto. Contentava-me com uma cervejita e um pires de caracóis.
Diz Vª.Excª:
”Respeita a Dinastia que restaurou Portugal.”
Digo-lhe eu:
Prefiro honrar aquelas que o fundaram e engrandeceram. Mais que aquela que o “restaurou”, quer dizer, digeriu.
Diz VªExcª:
“Não repitas o pior da historiografia jacobina do sec.XIX.”
E eu digo-lhe:
Amén. Mas, Jacobino, eu?? E, já agora, porque não comunista? Ou então anarquista, libertino, luciferiano!...
Diz Vª.Excª:
“Tens capacidade para mais”.
E eu digo-lhe:
Pois tenho. Todos temos. A asneira, ao contrário da sabedoria, não respeita limites e galopa à rédea solta.
Diz VªExcª:
” Lê o Padre António Vieira e vais perceber”.
E eu digo-lhe:
Já li. E não percebi. Talvez fosse da tradução.
Diz Vª Excª:
“O sebastianismo é muito mais que uma fria manhã de nevoeiro”.
E eu digo-lhe:
Na meteorologia, lamento mas não posso acompanhá-lo; falta-me a erudição científica. Teremos que contentar-nos com a filosofia.
Diz VªExcª:
“Quando pensares nos Bragança lembra-te de Teófilo Braga, Carmona, Américo Tomás, Craveiro Lopes, Ramalho Eanes, Spínola, Costa Gomes, Jorge Sampaio”
E eu digo-lhe:
Precisamente. É esse o problema. Quando penso nos Bragança, lembro-me logo do Teófilo, do Carmona, do Américo, do Craveiro, do Ramalho, do Spínola , do Gomes, do Soares e, sobretudo, do –todo ele very british constitucionalista –Sampaio! E desata-me logo aquela horripilante terminologia (que tanto parece afligir VªExcª) –do usurpador e mentecapto – a badalar-me na cabeça.
Repete Vª Excª, (enfaticamente):
“És capaz de fazer melhor”
E eu digo-lhe:
Talvez. Mas a questão que agora me preocupa é: e VªExcª, será?
Diz VªExcª:
“Mas reconhece que não é assim que se começa uma conversa civilizada”.
E eu digo-lhe:
Reconheço. Para arranjar sarilhos com um Dragão, nada melhor que apodá-lo de “pequeno burguês” “viúva do Afonso Costa” e “jacobino”. É infalível. Convém é não descurar o arcaboiço e equipar-se, à cautela, com um bom fato de amianto.
Diz VªExcª:
“Lê uma boa História de Portugal”
E eu digo-lhe:
Queira, VªExcª, recomendar-me uma apropriada, não vão aquelas que já li serem das más. Em todo o caso, devo presumir que a idade ainda não o bafejou com os anos e experiência de vida suficiente para entender que o termo “boa História” é um oxímoro. Recomendar a alguém uma “boa História” é como recomendar-lhe um “bom veneno”. Se recebeu os anos, então sugiro-lhe que reclame, pois defraudaram-no no que concerne à inteligência.
Insiste VªExcª (benévolo):
“Lê António Vieira, tira as teias de aranha do escafandro”
E eu digo-lhe:
Subentendo que uma coisa, no seu soberano entender, implica a outra. Ao ler a criatura, as teias, por arte mágica, desaparecem. Hei-de experimentar, sob esse ângulo. Confesso que me espicaçou a curiosidade. É só o tempo de comprar um escafandro.
Diz VªExcª:
“Pensa antes de publicares os “clichés” jacobinos”
E eu digo-lhe:
É só antes disso que devo pensar? Porque se assim for, então nunca me será possível tão gratificante experiência (pensar, quero eu dizer).
Diz VªExcª:
“Por favor não digas que és monárquico.”
E eu digo-lhe:
Tem, VªExcª, toda a razão. Não digo. Até porque se ser monárquico é cantar o fado, ser proxeneta do apelido, decorar casas, orquestrar matrimónios, ter bigodes ou tudo isso que pela actualidade se pavoneia e amostra, eu estou nos antípodas. Fujo para o mar alto. De resto, basta atentar na bandeira que levo desfraldada no mastro grande. Não é verde rubra nem azul branca. E se acrescentarmos que - ao contrário de tantas outras (monárquicas e republicanas) que por aí fora se avistam -, não está ali por mera decoração ou folclore, pior um pouco.
Diz VªExcª:
“Ou se é monárquico, ou não. Não se fica a meio da viagem.”
E eu digo-lhe:
Devo, então, presumir que o monarcofilia é em tudo semelhante ao maniqueísmo e ao leninismo? Seja como for, acredito em VªExcª. Por isso mesmo reforço a ideia prévia: viagem tão turística não parece a mais recomendável ao meu batel. Este, horror do mundo, ronda por mares bem mais tenebrosos: da desforra, da aventura e da defenestração. E o cabrão do burguês é que as paga!...
Diz VªExcª:
“Um monárquico tem dois deveres de obediência: um institucional para com a Coroa (enquanto instituição) e um pessoal para com o Rei.Falhaste os dois.”
Digo-lhe eu:
Como não sou monárquico, no que até acaba de me passar atestado, lastimo muito, mas não falhei nenhum. Oxalá Vª Excª possa dizer o mesmo. Deveres de obediência, contudo, tenho mais que dois: para com Deus, com a minha pátria, com os meus irmãos e com a minha honra. E, juntamente com esses todos, para com o par de testículos com que Deus me enviou a este mundo.
Termino, se mo permite, com um aforismo que acaba de me ocorrer:
Portugal, meu caro amigo, o que precisa realmente é de ser refundado, que refodido já ele anda há muito!
Faça Vocelência por não refodê-lo mais do que ele já está e terá em mim um amigo para toda a vida.
Sem ironia, foi um prazer esgrimir consigo.
Será sempre bem vindo a bordo, mas temo bem que as tempestades e as carnificinas lhe melindrem as vísceras, senão lhe transtornarem de vez a mioleira.Além disso, pela sua graça, intuo que é daqueles que não ama o mar, prefere ficar a resmungar no cais e a agoirar naufrágios e abismos.
Não obstante, aceito o abraço de Vª Excª e devolvo-lho à maneira dos dragões. Que Deus lhe conceda boa fortuna.
Dragão
quinta-feira, janeiro 13, 2005
O Horror! A Tragédia!...Qual tsunami, qual carapuça!...
Andava eu a bedelhar ali para os lados dos Alertas, uns rapazes e rapariga bem humorados cujas diatribes acompanho (tudo o que seja “bota abaixo” pode desde logo contar com a minha álacre presença) , quando se me depara um caso de emergência nacional. Mais um daqueles estarrecedores problemas capazes de nos infernizarem a existência e espavorirem de vez o sono. Seguindo um link (temos que pensar em actualizar para “linque”) fui dar aqui, onde um –presumo que cidadão de ascendência não-ariana -, coberto de razão, a transbordar sapiência, emerso num caldo efervescente de indignação, se insurgia para quem o ouvisse. Motivo? Justíssimo:
Parece que o enviado da RTP, um tal Paulo Dentinho, se arvora como energúmeno de alto coturno sempre pronto a injuriar, a bandeiras despregadas, o bom nome dos israelitas. Já várias vezes, o dito facínora (eu sou testemunha e também reparei logo nisso), a pretexto de reportagens directas, os vem crismando, aos desvalidos israelitas, de judaicos, judeus, judengos, ou lá o que é. Seja o que for, é, como todos de imediato constatamos, gravíssimo. Não se admite: chamar judeus a israelitas. Nem a judeus, quanto mais a israelitas! Quando se chama judeu a alguém, sobretudo a um judeu, isso só pode significar um menoscabo retumbante, um insulto desabrido! Uma insinuação torpe e soez! Pior: uma conspiração genocida de terceiro grau! Os judeus não são judeus. Os judeus, sem excepção, são pessoas excepcionais, acima de qualquer suspeita, duma cultura e inteligência ancestrais, que Deus, um belo dia, em inefável Pessoa, escolheu para seus dilectos e predilectos herdeiros. Em suma: se não são semideuses, andam lá perto.
Sendo, por conseguinte, tão sublimes, cintilantes e predestinados, causam naturalmente invejas por onde quer que passem e, como nunca estão quietos, são vítimas recorrentes de todo o tipo de calúnias, malquerenças e injustiças. A Humanidade, de resto, passa a vida nisso – na inveja, na malquerença e na injustiça. Qualquer motivo é um bom motivo para lixar o próximo. Anda nisto, a grande vaca, há milénios. Mas os judeus, em se tratando de ser vítima, cismam que também comandam destacados. Acham até que o seu caso, como não podia deixar de ser, é duplamente gravoso: porque a humanidade dar-se ao desfrute de ensaiar essas violências entre si, que se lixe; agora exercitá-las sobre os judeus, francamente!... É gente de civilização, de responsabilidades, que diabo!... No mínimo, requer indemnização a dobrar. E retractação com juros, ad eternum.
Nós, portugueses, que passamos a vida a chamar cobras e lagartos uns aos outros e a dizer uns dos outros aquilo que Maomé não diz do toucinho, devemos, não obstante, preocupar-nos, descabelar-nos às mancheias, porque o Paulo Dentinho chamou judaicos aos israelitas.
Estupidamente decerto, ocorre-me perguntar: Então “judeu” ou “judaico” é insulto? Quem é este Nuno Guerreiro? –Um puro ariano?
Macacos me mordam, se não há p’r’àqui uma lógica transcendente. Ou perversa. O comum dos mortais não entende.
Do que é possível entender é que o tal Dentinho foi apanhado com a boca, e os dentes todos, na botija. Em flagrante e desarvorado crime de anti-semitismo reincidente.Aposto que congemina em segredo novo holocausto. Não tarda, descobrem-lhe mesmo uma suástica tatuada num recesso íntimo. E um micro-ondas lá em casa, com a estranha mas conveniente - e esclarecedora - forma duma cabina telefónica.
Um gajo que é capaz de chamar “judaicos” a “israelitas”, é capaz de tudo!...Ó da guarda!!...
Parece que o enviado da RTP, um tal Paulo Dentinho, se arvora como energúmeno de alto coturno sempre pronto a injuriar, a bandeiras despregadas, o bom nome dos israelitas. Já várias vezes, o dito facínora (eu sou testemunha e também reparei logo nisso), a pretexto de reportagens directas, os vem crismando, aos desvalidos israelitas, de judaicos, judeus, judengos, ou lá o que é. Seja o que for, é, como todos de imediato constatamos, gravíssimo. Não se admite: chamar judeus a israelitas. Nem a judeus, quanto mais a israelitas! Quando se chama judeu a alguém, sobretudo a um judeu, isso só pode significar um menoscabo retumbante, um insulto desabrido! Uma insinuação torpe e soez! Pior: uma conspiração genocida de terceiro grau! Os judeus não são judeus. Os judeus, sem excepção, são pessoas excepcionais, acima de qualquer suspeita, duma cultura e inteligência ancestrais, que Deus, um belo dia, em inefável Pessoa, escolheu para seus dilectos e predilectos herdeiros. Em suma: se não são semideuses, andam lá perto.
Sendo, por conseguinte, tão sublimes, cintilantes e predestinados, causam naturalmente invejas por onde quer que passem e, como nunca estão quietos, são vítimas recorrentes de todo o tipo de calúnias, malquerenças e injustiças. A Humanidade, de resto, passa a vida nisso – na inveja, na malquerença e na injustiça. Qualquer motivo é um bom motivo para lixar o próximo. Anda nisto, a grande vaca, há milénios. Mas os judeus, em se tratando de ser vítima, cismam que também comandam destacados. Acham até que o seu caso, como não podia deixar de ser, é duplamente gravoso: porque a humanidade dar-se ao desfrute de ensaiar essas violências entre si, que se lixe; agora exercitá-las sobre os judeus, francamente!... É gente de civilização, de responsabilidades, que diabo!... No mínimo, requer indemnização a dobrar. E retractação com juros, ad eternum.
Nós, portugueses, que passamos a vida a chamar cobras e lagartos uns aos outros e a dizer uns dos outros aquilo que Maomé não diz do toucinho, devemos, não obstante, preocupar-nos, descabelar-nos às mancheias, porque o Paulo Dentinho chamou judaicos aos israelitas.
Estupidamente decerto, ocorre-me perguntar: Então “judeu” ou “judaico” é insulto? Quem é este Nuno Guerreiro? –Um puro ariano?
Macacos me mordam, se não há p’r’àqui uma lógica transcendente. Ou perversa. O comum dos mortais não entende.
Do que é possível entender é que o tal Dentinho foi apanhado com a boca, e os dentes todos, na botija. Em flagrante e desarvorado crime de anti-semitismo reincidente.Aposto que congemina em segredo novo holocausto. Não tarda, descobrem-lhe mesmo uma suástica tatuada num recesso íntimo. E um micro-ondas lá em casa, com a estranha mas conveniente - e esclarecedora - forma duma cabina telefónica.
Um gajo que é capaz de chamar “judaicos” a “israelitas”, é capaz de tudo!...Ó da guarda!!...
terça-feira, janeiro 11, 2005
DICIONÁRIO SHELLTOX CONCISE do Dragão - A LETRA B
Na prossecução dessa tarefa meritória e urgente, para além de ciclópica, a que meti ombros, aqui fica a letra B. De Blog, entre muitos outros palavrões suculentos..
BABA s.f., saliva viscosa que escorre da boca; humor viscoso e nalguns casos infecto segregado por alguns animais, comentaristas, políticos, apresentadores e espécimes congéneres
BABADOURO s.m., microfone
BABEL s.f., balbúrdia de vozes; grande algazarra incoercível; sessão plenária; programa de grande informação
BABY-SITTER s.f., aparelho ou mercenário que, mediante pagamento, cuida de crianças durante a ausência - em prostituição legal -, dos pais; televisão
BACAMARTE s.m., salvo-conduto; cartão multibanco expedito; abre-te Sézamo da fortuna; critério de verdade na lógica real; ver também pistola ou metralhadora
BACILO s.m., agente infeccioso; forma embrionária de certos pensamentos, argumentos e ideologias
BACOCO adj., popular
BACONISMO s.m., sistema filosoficida de Bacon, cientista e filosofobo inglês (1561-1626), particularmente caracterizado pelo relevo dado ao método experimental como meio de entorpecimento e esterilização do espírito
BACOREJAR v.intr. grunhir; tecer enredos e mexericos; opinorreia típica do pequeno burguês
BÁCORO s.m., pequeno burguês
BACTÉRIA s.f., microorganismo vegetal (talófita) desprovido de sentido e núcleo celular (esquizófita) que, na maioria dos imbecis, é saprófita ou parasita, evidenciando a sua actividade em importantes reacções mentais químicas e na produção de ideias peregrinas, infecções fantasiosas e idílios virulentos
BADALO s.m., língua
BAIRRISTA adj., xenófobo
BAJULAR v.tr., lisonjear com fins interesseiros; informar; opinar; em muitos casos, escrever em jornais, livros e em grande parte dos blogues (ou blogs)
BALASTRO s.m., aglomerado de calhaus e pequenos monólitos sobre o qual assentam as travessas (chulipas) que suportam os carris nas vias férreas e as carreiras meteóricas de certos políticos nas Vias lácteas
BALÁZIO s.m., argumento definitivo; persuasão infalível; cura para certas maleitas
BALÍSTICA adj., ciência que estuda os movimentos e evoluções da lógica
BANANA s.f., cidadão da República Portuguesa homónima
BANCOCRACIA s.f., preponderância dos banqueiros nos negócios do Estado; regime económico mundial
BANDARILHA s.f., farpa ou dardo que se espeta no cachaço da besta; resposta a comentário bovino ou a opinião vacum
BANG-BANG s.m., a seguir ao Big-Bang; mundovisão da chamada “civilização americana”; direito internacional
BARATA s.f., insecto ortóptero e ortógrafo, da família dos Delgados, veloz e muito voraz, em geral doméstico, bajulador e de costumes plumitivos
BARBÁRIE s.f., História Universal; arcaísmo de Mercado; sinónimo de Economia
BARBARILOQUIA s.f., uso de linguagem bárbara; justificativa rcorrente dos Ministros das Finanças
BARBIE s.t.*, paradigma mental dos Estados Unidos e respectivas incubações por esse Mundo
BARBIE-WORLD (Mundo-Barbie) s.s.s.**, o Mundo depois de “globalizado”
BARBITÚRICO adj., de propriedades hipnóticas e antiespasmódicas; mass-media
BEATO adj., fanático particularmente feroz de qualquer crença, da qual retira motivação compulsiva para odiar e perseguir os outros; antropopata; antropofóbico
BEHAVIOURISMO s.m., psicologia do comportamento, doutrina de J. Watson, vidente americano (1878-1958), segundo a qual o objecto da psicologia aruspicina é exclusivamente limitado aos dados observáveis a partir das macaquices e caretas do paciente
BIBELOT s.m., bugiganga; pequena futilidade, geralmente artística, que serve de adorno à cultura dos países; escritor ou artista premiado
BIBLIÓFAGO adj., diz-se do animal (especialmente insectos, suas larvas e roedores domésticos) que destrói livros, malsinando-os e rilhando-os alvarmente; crítico literário; almôndega intelectual; EPC (electro-parvo-cardiograma)
BIBLIORREIA s.f., feira do livro; panorama editorial literário
BIG-BANG s.m., mega-explosão imaginária que, segundo certos delírios putativamente científicos, serve para explicar a origem do universo algures no Espaço; pode ser resumida da seguinte maneira: no princípio não havia nada, depois deu-se uma grande explosão e logo a seguir começou tudo aos tiros ( a sabedoria-mór consiste em fechar o círculo de caravanas mais depressa que os outros)
BISCATE s.m., cargo público; nomeação para o governo; cargo na administração duma empresa pública; sentido de Estado (em Portugal)
BISCATEIRO adj., o que vive de biscates; gestor público; empresário português; contentorista
BLOCO s.m., massa volumosa e compacta de uma substância pesada e estúpida que nem uma porta; em Portugal: Associação de amigos das camisas Lacoste (ou ~ de Esquerda); paralelepípedo de betão cego utilizado na construção de certas utopias terruginosas
BLOG s.m., local onde se recebem visitas e se conversa com estranhos; (nalguns casos patológicos: opinadouro; bacio das necessidades soturnas; algália mental)
BLOGOSFERA s.f., quinta dimensão; twilight zone; cretinódromo
BLOGUE s.m., o mesmo que blog, mas bem escrito.
BOATO s.m., notícia
BONIFRATE s.m., boneco articulado; pessoa sem vontade própria; espectador
BRAGANÇA s., dinastia usurpadora e mentecapta
BRUXA s.f, psicóloga
BUFO s.m., delator; vizinho; familiar invejoso
BULA s.f., (andar à) deambular à espera duma directiva superior inequívoca; andar à babugem de luminárias; acolitar; delamber nalgatórios instalados em qualquer promontório invejável
BULIMIA s.f., desejo compulsivo de comer e de coleccionar gorduras e tecidos adiposos, idiossincrático nos países modernos ocidentais
BURGUÊS p-s.***, síndroma mental complexa e muitas vezes hereditária, caracterizada por uma avidez porcina, uma mentalidade gananciosa, uma lógica calculista e um espírito inexistente; insigne nobilarca cuja provável e distinta linhagem remonta ao diabo ou, seguramente, a uma flatulência deste; por antonímia de “homem”, o sopro de Deus: peido do Diabo ( a ventosidade nauseabunda em oposição ao sopro vivificante)
BURRO s.m., ministro adjunto; nomeação política
BURLA s.f., acto de burlar; embuste; propaganda eleitoral
BURLESCO adj., diz-se de um género literário caracterizado pelo emprego de termos cómicos, arcaicos e vulgares para descrever coisas nobres e sérias; em Portugal: Orçamento Geral do Estado
BUROCRACIA s.f., sistema administrativo em que os cidadãos são encerrados num labirinto onde ficam condenados a zanzar ad eternum (ou seja, até morrerem de fome)
BURROCRACIA s.f., multitirania fragmentária e difusa cuja autoridade despótica emana duma miríade de familiares e apaniguados catrafilados na administração pública; coisa de funcionários; forma decretada de espólio e extorsão
* - substantivo transexual
** - substantivo sem substância
BABADOURO s.m., microfone
BABEL s.f., balbúrdia de vozes; grande algazarra incoercível; sessão plenária; programa de grande informação
BABY-SITTER s.f., aparelho ou mercenário que, mediante pagamento, cuida de crianças durante a ausência - em prostituição legal -, dos pais; televisão
BACAMARTE s.m., salvo-conduto; cartão multibanco expedito; abre-te Sézamo da fortuna; critério de verdade na lógica real; ver também pistola ou metralhadora
BACILO s.m., agente infeccioso; forma embrionária de certos pensamentos, argumentos e ideologias
BACOCO adj., popular
BACONISMO s.m., sistema filosoficida de Bacon, cientista e filosofobo inglês (1561-1626), particularmente caracterizado pelo relevo dado ao método experimental como meio de entorpecimento e esterilização do espírito
BACOREJAR v.intr. grunhir; tecer enredos e mexericos; opinorreia típica do pequeno burguês
BÁCORO s.m., pequeno burguês
BACTÉRIA s.f., microorganismo vegetal (talófita) desprovido de sentido e núcleo celular (esquizófita) que, na maioria dos imbecis, é saprófita ou parasita, evidenciando a sua actividade em importantes reacções mentais químicas e na produção de ideias peregrinas, infecções fantasiosas e idílios virulentos
BADALO s.m., língua
BAIRRISTA adj., xenófobo
BAJULAR v.tr., lisonjear com fins interesseiros; informar; opinar; em muitos casos, escrever em jornais, livros e em grande parte dos blogues (ou blogs)
BALASTRO s.m., aglomerado de calhaus e pequenos monólitos sobre o qual assentam as travessas (chulipas) que suportam os carris nas vias férreas e as carreiras meteóricas de certos políticos nas Vias lácteas
BALÁZIO s.m., argumento definitivo; persuasão infalível; cura para certas maleitas
BALÍSTICA adj., ciência que estuda os movimentos e evoluções da lógica
BANANA s.f., cidadão da República Portuguesa homónima
BANCOCRACIA s.f., preponderância dos banqueiros nos negócios do Estado; regime económico mundial
BANDARILHA s.f., farpa ou dardo que se espeta no cachaço da besta; resposta a comentário bovino ou a opinião vacum
BANG-BANG s.m., a seguir ao Big-Bang; mundovisão da chamada “civilização americana”; direito internacional
BARATA s.f., insecto ortóptero e ortógrafo, da família dos Delgados, veloz e muito voraz, em geral doméstico, bajulador e de costumes plumitivos
BARBÁRIE s.f., História Universal; arcaísmo de Mercado; sinónimo de Economia
BARBARILOQUIA s.f., uso de linguagem bárbara; justificativa rcorrente dos Ministros das Finanças
BARBIE s.t.*, paradigma mental dos Estados Unidos e respectivas incubações por esse Mundo
BARBIE-WORLD (Mundo-Barbie) s.s.s.**, o Mundo depois de “globalizado”
BARBITÚRICO adj., de propriedades hipnóticas e antiespasmódicas; mass-media
BEATO adj., fanático particularmente feroz de qualquer crença, da qual retira motivação compulsiva para odiar e perseguir os outros; antropopata; antropofóbico
BEHAVIOURISMO s.m., psicologia do comportamento, doutrina de J. Watson, vidente americano (1878-1958), segundo a qual o objecto da psicologia aruspicina é exclusivamente limitado aos dados observáveis a partir das macaquices e caretas do paciente
BIBELOT s.m., bugiganga; pequena futilidade, geralmente artística, que serve de adorno à cultura dos países; escritor ou artista premiado
BIBLIÓFAGO adj., diz-se do animal (especialmente insectos, suas larvas e roedores domésticos) que destrói livros, malsinando-os e rilhando-os alvarmente; crítico literário; almôndega intelectual; EPC (electro-parvo-cardiograma)
BIBLIORREIA s.f., feira do livro; panorama editorial literário
BIG-BANG s.m., mega-explosão imaginária que, segundo certos delírios putativamente científicos, serve para explicar a origem do universo algures no Espaço; pode ser resumida da seguinte maneira: no princípio não havia nada, depois deu-se uma grande explosão e logo a seguir começou tudo aos tiros ( a sabedoria-mór consiste em fechar o círculo de caravanas mais depressa que os outros)
BISCATE s.m., cargo público; nomeação para o governo; cargo na administração duma empresa pública; sentido de Estado (em Portugal)
BISCATEIRO adj., o que vive de biscates; gestor público; empresário português; contentorista
BLOCO s.m., massa volumosa e compacta de uma substância pesada e estúpida que nem uma porta; em Portugal: Associação de amigos das camisas Lacoste (ou ~ de Esquerda); paralelepípedo de betão cego utilizado na construção de certas utopias terruginosas
BLOG s.m., local onde se recebem visitas e se conversa com estranhos; (nalguns casos patológicos: opinadouro; bacio das necessidades soturnas; algália mental)
BLOGOSFERA s.f., quinta dimensão; twilight zone; cretinódromo
BLOGUE s.m., o mesmo que blog, mas bem escrito.
BOATO s.m., notícia
BONIFRATE s.m., boneco articulado; pessoa sem vontade própria; espectador
BRAGANÇA s., dinastia usurpadora e mentecapta
BRUXA s.f, psicóloga
BUFO s.m., delator; vizinho; familiar invejoso
BULA s.f., (andar à) deambular à espera duma directiva superior inequívoca; andar à babugem de luminárias; acolitar; delamber nalgatórios instalados em qualquer promontório invejável
BULIMIA s.f., desejo compulsivo de comer e de coleccionar gorduras e tecidos adiposos, idiossincrático nos países modernos ocidentais
BURGUÊS p-s.***, síndroma mental complexa e muitas vezes hereditária, caracterizada por uma avidez porcina, uma mentalidade gananciosa, uma lógica calculista e um espírito inexistente; insigne nobilarca cuja provável e distinta linhagem remonta ao diabo ou, seguramente, a uma flatulência deste; por antonímia de “homem”, o sopro de Deus: peido do Diabo ( a ventosidade nauseabunda em oposição ao sopro vivificante)
BURRO s.m., ministro adjunto; nomeação política
BURLA s.f., acto de burlar; embuste; propaganda eleitoral
BURLESCO adj., diz-se de um género literário caracterizado pelo emprego de termos cómicos, arcaicos e vulgares para descrever coisas nobres e sérias; em Portugal: Orçamento Geral do Estado
BUROCRACIA s.f., sistema administrativo em que os cidadãos são encerrados num labirinto onde ficam condenados a zanzar ad eternum (ou seja, até morrerem de fome)
BURROCRACIA s.f., multitirania fragmentária e difusa cuja autoridade despótica emana duma miríade de familiares e apaniguados catrafilados na administração pública; coisa de funcionários; forma decretada de espólio e extorsão
* - substantivo transexual
***- pseudo-substantivo
A seguir, a letra C. E agora já é tarde demais para pedirem misericórdia. Descarrilei mesmo.
segunda-feira, janeiro 10, 2005
O Inefável Fedor da Decadência ou Do Circus ao Tele-Circo
«Desocupada ou quase, esta população romana podia vir a ser perigosa, se bem trabalhada por um punhado de intriguistas. Distrai-la era, pois, uma necessidade política primordial: assim, a par das distribuições gratuitas, os “jogos” constituem um dos serviços públicos mais importantes do Estado. O número dos dias feriados não cessa de aumentar. É elevado de 65, sob a República, para 135, sob Marco Aurélio, e, mais tarde, para 175 dias. A partir desta época, pode dizer-se que a população passa a vida no teatro, no anfiteatro, no circo. ”O circo é o seu templo –diz Amiano Marcelino (...). O resto do tempo era unicamente vivido na recordação das festas passadas ou na esperança das próximas festas.” (...)
Os jogos, devido à sua multiplicação, mantinham as populações das cidades e até mesmo do campo, já que os teatros e anfiteatros são também para o pagus e não apenas para a cidade, numa incurável ociosidade. Mas a sua pior maleficência vinha-lhe talvez da própria natureza. Provocavam e desenvolviam o gosto pela crueldade e pela luxúria. (...)
Os jogos, devido à sua multiplicação, mantinham as populações das cidades e até mesmo do campo, já que os teatros e anfiteatros são também para o pagus e não apenas para a cidade, numa incurável ociosidade. Mas a sua pior maleficência vinha-lhe talvez da própria natureza. Provocavam e desenvolviam o gosto pela crueldade e pela luxúria. (...)
O povo deleitava-se sobretudo com os combates sangrentos, não só entre animais, mas também de homens entre si (gladiadores), ou de homens contra animais. Nele eram usados os condenados de direito comum ou os prisioneiros bárbaros. Na falta de condenados, a populaça reclamava que se prendessem os cristãos para os lançar às feras, ao que os magistrados obedeciam tremendo. (...)
Os candidatos às “honras” procuram por todo o lado animais estranhos, gladiadores e prisioneiros. (...)
No próprio teatro, o público não fica satisfeito se, no âmbito de uma representação, a ficção não der lugar à sangrenta realidade. Só suporta assistir à tragédia de Hércules no Monte Oeta se, no final, o herói for realmente queimado vivo. O mimo Laureolus foi crucificado e não foi uma crucificação simulada, mas sim real, efectiva. Aos jogos sangrentos vieram a suceder-se as pantominas obscenas. A isso vêm ainda juntar-se as festas orgíacas da Maiuma, no mês de maio, festas estas que um imperador tentou inutilmente suprimir. (...)
Pode parecer extravagante que um Estado tenha cultivado durante tantos e tantos séculos uma nevrose de tal modo perniciosa. Mas sem dúvida que também há-de chegar um dia em que nos espantaremos por a nossa civilização tolerar o alcoolismo, sem falar já de inúmeros espectáculos e exibições não menos deletérios do que os jogos dos antigos.»
- Ferdinand Lot, «O Fim do Mundo Antigo e o Princípio da Idade Média»
Como é bom de ver, qualquer semelhança entre a nossa época e o estertor do Império Romano, atrás descrito, é pura coincidência.
E quem insinuar que a Televisão dos nossos dias desempenha a função do circo daqueles, delira. É que fartámo-nos de progredir, caramba. Já temos satélites e naves espaciais, que diabo. E a populaça d’agora, benza-a Deus, já não se pela nem baba por sangrias, jogos e hecatombes, não senhor. Nem o Estado, mais uns quantos privados em quem este vai delegando as (dis)funções, lhos fornece de empreitada e ao domicílio. Jamais! De maneira nenhuma! isso é que era bom!...É uma diferença abissal, com um catano!...É uma evolução que só visto!...
Direi mais: quem disser uma barbaridade dessas, fala verdade com quantos dentes e, se lhe deitarem a unha, hão-de crucificá-lo com certeza!...
Pode parecer extravagante que um Estado tenha cultivado durante tantos e tantos séculos uma nevrose de tal modo perniciosa. Mas sem dúvida que também há-de chegar um dia em que nos espantaremos por a nossa civilização tolerar o alcoolismo, sem falar já de inúmeros espectáculos e exibições não menos deletérios do que os jogos dos antigos.»
- Ferdinand Lot, «O Fim do Mundo Antigo e o Princípio da Idade Média»
Como é bom de ver, qualquer semelhança entre a nossa época e o estertor do Império Romano, atrás descrito, é pura coincidência.
E quem insinuar que a Televisão dos nossos dias desempenha a função do circo daqueles, delira. É que fartámo-nos de progredir, caramba. Já temos satélites e naves espaciais, que diabo. E a populaça d’agora, benza-a Deus, já não se pela nem baba por sangrias, jogos e hecatombes, não senhor. Nem o Estado, mais uns quantos privados em quem este vai delegando as (dis)funções, lhos fornece de empreitada e ao domicílio. Jamais! De maneira nenhuma! isso é que era bom!...É uma diferença abissal, com um catano!...É uma evolução que só visto!...
Direi mais: quem disser uma barbaridade dessas, fala verdade com quantos dentes e, se lhe deitarem a unha, hão-de crucificá-lo com certeza!...
domingo, janeiro 09, 2005
ESQUADRÕES DA MORTE?...
Latinização dos Árabes?... A Nova estratégia na democratização do Iraque?...
Leiam aqui, na Newsweek.
E não percam os próximos episódios.
Dicionário Shelltox Concise do Dragão - LETRA A
Por súplica e rogo de várias famílias, decidi aumentar o Dicionário Sumaríssimo. Uma vez sem exemplo, ecutei o clamor das massas e apiedei-me. À falta duma bomba H, aqui vos deixo o Shelltox Concise, com uma especial dedicatória a todos os blogueres (ou bloguistas) pensantes.
ABERRAÇÃO, s.f., outrora, anormalidade anatómica, fisiológica ou psicológica; actualmente, o seu antónimo; nas sociedades modernas: vantagem decisiva; assunto prioritário na agenda política
ABORTO s.m., despejo voluntário; desembaraço; confusão entre embrião e fezes; ver também autoclismo
ABISMO s.m., precipício de que se desconhece o fundo; défice público; teleologia capitalista; dívida externa Norte-Americana; contravalor real do dólar
ACASO s.m., conjunto de factos sem causa aparente; o universo segundo a ciência; o país segundo os políticos
ACÉFALO adj., que não tem nada dentro da cabeça, fora uma substância gelatinosa, amorfa, adesiva e a fervilhar opiniões decalcadas de modelos à venda nas lojas da
Especialidade
AÇOUGUE s.m., lugar onde se vende carne; matadouro; planeta Terra
ACULTURAÇÃO s.f., adopção de nascituros ou incubações mentais alheias por indivíduos, casais, famílias ou mesmo povos estéreis
ADESÃO s.f., via ou expediente com intuito de enriquecimento ou contrapartida financeira
AGNOSTICISMO s.m., doutrina segundo a qual o espírito humano ainda se encontra impossibilitado de alcançar sobre certos fenómenos, como, por exemplo, a sua própria existência
AGNÓSTICO 1. adj., relativo ao agnosticismo; 2. s.m., indivíduo pleonástico que desconhece o Desconhecido e conhece o conhecido; ateu tímido
AGORAFOBIA s.f., receio mórbido dos largos espaços vazios (rua, praça, próprio cérebro, Via Láctea, afectividade, sentido da vida nas sociedades de consumo, etc)
ALIENÍGENA adj., pato-bravo; novo-rico; neo-escravo; humanidade do amanhã
ALFOBRE s.m., viveiro de pequenos nabos, cabeças de alho e hortaliças (todas excepto tomates) para transplante; juventude partidária
ALGOFILIA s.f., perversão instintiva que consiste na apetência da dor física
ALGÓFILO adj. e s.m., que ou o que sofre de algofilia; frequentador compulsivo de discotecas; adepto de alguns clubes de futebol
ALTERNE s.m., vida interna num partido político
ALUCINOGÉNEO adj. que provoca alucinações; Poder; cargo público no executivo ou legislativo da nação
ALUGUER s.m., contrato de locação de uma coisa móvel; matrimónio hodierno ocidental por oposição ao matrimónio antigo (de aquisição)
ALUNAR v., descer na lua; chegar (o líder político ao
comício partidário)
ALUNO s.m., cobaia; facínora; algoz; vítima; papagaio; eunuco; pulha (varia com a posição geográfica e o respectivo antónimo: professor)
AMBIDESTRO adj., onanista compulsivo e maníaco-digressivo
AMBISSINISTRO adj., desastrado de ambas as mãos; onanista frustrado; pianista de jazz ou dodecafónico
AMNÉSIA s.f., perturbação drástica da memória, sobretudo em políticos vitoriosos após sufrágio universal
AMOR s.n., palavra com quatro letras; arcaísmo; ultimamente, sentimento que nos impele para objectos valiosos ou para pessoas que se façam acompanhar desses objectos
ANALFABETO adj., que não sabe ler nem escrever
ANALFABRUTO adj., que só lê baboseiras e escreve porcarias
ANDROFOBIA s.f., aversão por tudo o que seja conotado com virilidade; doutrina predominante nas democracias liberais de inspiração anglo-saxónica; condição sine qua non para a sobrevivência da criptotirania global capitalista
ANDROPAUSA s.f., conjunto de alterações fisiológicas e psicológicos que outrora ocorriam no homem entre o 50 e os 70 anos mas que agora irrompem precocemente, e cada vez mais com maior frequência, a partir dos 10 anos
ANESTESIA s.f., supressão temporária da sensibilidade, mediante técnicas utilizadas em cirurgia, propaganda, religião, marketing, etc, para fins operatórios, exploratórios, terapêuticos, hemobdélicos, cleptomaníacos, estupefacientes e outros
ANSIOLÍTICO adj., que liberta da ansiedade; romaria compulsiva e hebdomadária a Centro Comercial
ANTICONCEPTIVO adj., meio mecânico ou químico destinado a possibilitar gruponanismos ou relações genitais efémeras e inopinadas; sodomia
ANTROPÓFAGO adj., membro duma tribo global particularmente feroz, faminta e que tem por totem sagrado uma montanha de bosta levedante que idolatram, sobre a qual sacrificam as suas vítimas e a que chamam “Mercado”
ANTROPOLATRIA s.f., adoração de um ser humano como se fosse deus; forma de idolatria frenética comum aos alienados em futebol, imprensa pink, música pop, cinema americano, arte moderna, etc
APELIDO s.m., detalhe essencial do Curriculo Vitae; garantia vitalícia de mordomia, apanágio ou sinecura
APOCATÁSTESE s.f., revolução periódica que reconduz os astros ao ponto de onde partiram; óbito e funeral das vedetas, ídolos, figuras públicas e similares
ARROTO s.m., expulsão ruidosa de gases do estômago pela boca; eructação; opinião do vulgo, que, nas academias, por arreveso, adquire ouropéis de erudição ; parecer debitado por especialista em programa de informação televisivo, radiofónico ou artigo impresso
ASININO adj., próprio de asno; voto útil
ASNÓDROMO s.m., recinto dedicado às competições, por correria, de asnos; campanha eleitoral; parlamento, assembleia municipal
ASSUADA s.f., reportagem de choque televisiva
ASTASIA s.f., dificuldade ou impossibilidade de conservar o corpo erecto ou de permanecer de pé; principal política do Estado em Portugal; propensão vertiginosa e mórbida para rastejar
ATMOSFERA s.f., camada gasosa para onde se lançam venenos e toda a espécie de poluentes; aero-lixeira
ATORDOAR v.tr., seduzir; persuadir
ATROCIDADE s.f., quando praticada por anglo-saxónicos ou israelitas: acto benemérito, filantropia, etno-pedagogia; por outros: crueldade abominável, genocídio
AUTISMO s.m., estado mental caracterizado por uma concentração mórbida do indivíduo sobre si mesmo; alheamento da realidade externa ao sujeito; gnoseologia neoliberal
AUTÓCLISE s.f., seringa de jacto permanente que serve para uma pessoa dar clisteres a si própria; controlo remoto do televisor
AUTOCLISMO s.m., descarga; interrupção voluntária da gravidez
AUTOFLAGELAÇÃO s.f., singular forma de penitência do povo potuguês; eleições; depositar o voto na urna
AUTÓMATO s.m., pessoa inconsciente que obedece à vontade de outrém; consumidor; eleitor
AUXOLOGIA s.f., estudo geral do crescimento dos seres vivaços e respectivas fortunas
AUTÓPSIA s.f., referendo; sondagem; inquérito à opinião pública
AZEMEL s.m., condutor de azémolas; almocreve; secretário-geral ou presidente de partido
Dentro em breve, a letra B.
ABERRAÇÃO, s.f., outrora, anormalidade anatómica, fisiológica ou psicológica; actualmente, o seu antónimo; nas sociedades modernas: vantagem decisiva; assunto prioritário na agenda política
ABORTO s.m., despejo voluntário; desembaraço; confusão entre embrião e fezes; ver também autoclismo
ABISMO s.m., precipício de que se desconhece o fundo; défice público; teleologia capitalista; dívida externa Norte-Americana; contravalor real do dólar
ACASO s.m., conjunto de factos sem causa aparente; o universo segundo a ciência; o país segundo os políticos
ACÉFALO adj., que não tem nada dentro da cabeça, fora uma substância gelatinosa, amorfa, adesiva e a fervilhar opiniões decalcadas de modelos à venda nas lojas da
Especialidade
AÇOUGUE s.m., lugar onde se vende carne; matadouro; planeta Terra
ACULTURAÇÃO s.f., adopção de nascituros ou incubações mentais alheias por indivíduos, casais, famílias ou mesmo povos estéreis
ADESÃO s.f., via ou expediente com intuito de enriquecimento ou contrapartida financeira
AGNOSTICISMO s.m., doutrina segundo a qual o espírito humano ainda se encontra impossibilitado de alcançar sobre certos fenómenos, como, por exemplo, a sua própria existência
AGNÓSTICO 1. adj., relativo ao agnosticismo; 2. s.m., indivíduo pleonástico que desconhece o Desconhecido e conhece o conhecido; ateu tímido
AGORAFOBIA s.f., receio mórbido dos largos espaços vazios (rua, praça, próprio cérebro, Via Láctea, afectividade, sentido da vida nas sociedades de consumo, etc)
ALIENÍGENA adj., pato-bravo; novo-rico; neo-escravo; humanidade do amanhã
ALFOBRE s.m., viveiro de pequenos nabos, cabeças de alho e hortaliças (todas excepto tomates) para transplante; juventude partidária
ALGOFILIA s.f., perversão instintiva que consiste na apetência da dor física
ALGÓFILO adj. e s.m., que ou o que sofre de algofilia; frequentador compulsivo de discotecas; adepto de alguns clubes de futebol
ALTERNE s.m., vida interna num partido político
ALUCINOGÉNEO adj. que provoca alucinações; Poder; cargo público no executivo ou legislativo da nação
ALUGUER s.m., contrato de locação de uma coisa móvel; matrimónio hodierno ocidental por oposição ao matrimónio antigo (de aquisição)
ALUNAR v., descer na lua; chegar (o líder político ao
comício partidário)
ALUNO s.m., cobaia; facínora; algoz; vítima; papagaio; eunuco; pulha (varia com a posição geográfica e o respectivo antónimo: professor)
AMBIDESTRO adj., onanista compulsivo e maníaco-digressivo
AMBISSINISTRO adj., desastrado de ambas as mãos; onanista frustrado; pianista de jazz ou dodecafónico
AMNÉSIA s.f., perturbação drástica da memória, sobretudo em políticos vitoriosos após sufrágio universal
AMOR s.n., palavra com quatro letras; arcaísmo; ultimamente, sentimento que nos impele para objectos valiosos ou para pessoas que se façam acompanhar desses objectos
ANALFABETO adj., que não sabe ler nem escrever
ANALFABRUTO adj., que só lê baboseiras e escreve porcarias
ANDROFOBIA s.f., aversão por tudo o que seja conotado com virilidade; doutrina predominante nas democracias liberais de inspiração anglo-saxónica; condição sine qua non para a sobrevivência da criptotirania global capitalista
ANDROPAUSA s.f., conjunto de alterações fisiológicas e psicológicos que outrora ocorriam no homem entre o 50 e os 70 anos mas que agora irrompem precocemente, e cada vez mais com maior frequência, a partir dos 10 anos
ANESTESIA s.f., supressão temporária da sensibilidade, mediante técnicas utilizadas em cirurgia, propaganda, religião, marketing, etc, para fins operatórios, exploratórios, terapêuticos, hemobdélicos, cleptomaníacos, estupefacientes e outros
ANSIOLÍTICO adj., que liberta da ansiedade; romaria compulsiva e hebdomadária a Centro Comercial
ANTICONCEPTIVO adj., meio mecânico ou químico destinado a possibilitar gruponanismos ou relações genitais efémeras e inopinadas; sodomia
ANTROPÓFAGO adj., membro duma tribo global particularmente feroz, faminta e que tem por totem sagrado uma montanha de bosta levedante que idolatram, sobre a qual sacrificam as suas vítimas e a que chamam “Mercado”
ANTROPOLATRIA s.f., adoração de um ser humano como se fosse deus; forma de idolatria frenética comum aos alienados em futebol, imprensa pink, música pop, cinema americano, arte moderna, etc
APELIDO s.m., detalhe essencial do Curriculo Vitae; garantia vitalícia de mordomia, apanágio ou sinecura
APOCATÁSTESE s.f., revolução periódica que reconduz os astros ao ponto de onde partiram; óbito e funeral das vedetas, ídolos, figuras públicas e similares
ARROTO s.m., expulsão ruidosa de gases do estômago pela boca; eructação; opinião do vulgo, que, nas academias, por arreveso, adquire ouropéis de erudição ; parecer debitado por especialista em programa de informação televisivo, radiofónico ou artigo impresso
ASININO adj., próprio de asno; voto útil
ASNÓDROMO s.m., recinto dedicado às competições, por correria, de asnos; campanha eleitoral; parlamento, assembleia municipal
ASSUADA s.f., reportagem de choque televisiva
ASTASIA s.f., dificuldade ou impossibilidade de conservar o corpo erecto ou de permanecer de pé; principal política do Estado em Portugal; propensão vertiginosa e mórbida para rastejar
ATMOSFERA s.f., camada gasosa para onde se lançam venenos e toda a espécie de poluentes; aero-lixeira
ATORDOAR v.tr., seduzir; persuadir
ATROCIDADE s.f., quando praticada por anglo-saxónicos ou israelitas: acto benemérito, filantropia, etno-pedagogia; por outros: crueldade abominável, genocídio
AUTISMO s.m., estado mental caracterizado por uma concentração mórbida do indivíduo sobre si mesmo; alheamento da realidade externa ao sujeito; gnoseologia neoliberal
AUTÓCLISE s.f., seringa de jacto permanente que serve para uma pessoa dar clisteres a si própria; controlo remoto do televisor
AUTOCLISMO s.m., descarga; interrupção voluntária da gravidez
AUTOFLAGELAÇÃO s.f., singular forma de penitência do povo potuguês; eleições; depositar o voto na urna
AUTÓMATO s.m., pessoa inconsciente que obedece à vontade de outrém; consumidor; eleitor
AUXOLOGIA s.f., estudo geral do crescimento dos seres vivaços e respectivas fortunas
AUTÓPSIA s.f., referendo; sondagem; inquérito à opinião pública
AZEMEL s.m., condutor de azémolas; almocreve; secretário-geral ou presidente de partido
Dentro em breve, a letra B.
sexta-feira, janeiro 07, 2005
Dicionário Dragoniano Sumaríssimo
Aqui deixo a Primeira Edição desta ferramenta indispensável ao passageiro deste caos (cada vez mais desorganizado) em que se vai transformando o nosso mundo e, por arrasto, o nosso país.Que vos faça bom proveito!...
AMIBA s.f., protozoário livre, comensal ou parasita, constituído por uma única célula mental nua que muda de forma por emissão de pseudópodes, comum nas águas dos charcos, pântanos e da vida pública portuguesa; também paradigma para a emulação popular
ANARQUIA s.f., forma unilateral de governação; meta da democracia
ATEÍSMO s.m., estirpe particularmente virulenta da imbecilidade; doutrina que professa uma crença beata na ciência
ATEU s.m., sectário que vocifera contra aquilo que não compreende
BLENORRAGIA s.f., inflamação purulenta das membranas mucosas e, no caso mais grave e aberrante, do próprio encéfalo. Neste caso, também conhecido popularmente por escantamento mental ou, na forma erudita, neoliberalismo
BOMBARDEAR v. tr., (com bombas ou mentiras) democratizar de urgência; reduzir à mendicidade espiritual; americanizar
CLEPTOMANIA s.f., inclinação mórbida para o roubo;
CLEPTOCRACIA s.f., sistema político em que a autoridade emana de cleptómanos; regime que, sob os mais variados disfarces ou avatares, avassala a predilecção dos países modernos
DEMAGOGO s.f., antónimo de Demagago; indivíduo que excita as paixões do povo, gloriando-se como paladino dos seus interesses, mas almejando apenas a prossecução dos seus desígnios escusos; sectário
DEMOCRACIA s.f., sistema político em que a autoridade emana de demagogos e respectivas seitas mais ou menos secretas; forma suavizada de pandemónio; governo levado do diabo: forma geralmente camuflada de oclocracia
DESENVOLVIMENTO s.m., subterfúgio para roubar as pessoas e atentar contra a Natureza e a paisagem
DIREITA s.f., o mesmo que esquerda, mas do outro lado do patamar
ELEIÇÃO s.f., esquema fraudulento, em regime de alternância, de manutenção de privilégios, prebendas e mordomias; forma mais ou menos sofisticada de fraude
EMPRESA s.f., mistério profundo; sucedâneo da família; em pequenas dimensões: forma mais ou menos demorada de suicídio
EMPRESÁRIO s.m., habitante da empresa; otário; esquizofrénico
ESQUERDA s.f., O mesmo que direita, só que na porta em frente
ESTUPIDEZ s.f., estado de graça; vantagem social decisiva
EVOLUÇÃO – s.f., deterioração; sofisticamento da depredação; ruína mental
GESTÃO s.f., pretexto para falência ou delapidação; expediente ou recurso empregue por biscateiros diplomados com o intuito de defraudarem os contribuintes, as finanças públicas, os operários e a credulidade dos respectivos progenitores; forma de conspiração contra a teoria Darwiniana das espécies
GESTOR s.m., indivíduo que vive de gestão
HIENA s.f., mamífero carnívoro, feroz e devorador de carne putrefacta, que vive por todo o lado, excepto nos polos; jornalista; telespectador
HOMEM s.m., mamífero primata, bípede, sociável, que se distingue de todos os outros animais pelo dom da palavra, pelo desenvolvimento intelectual e pelo facto de ser imaginário; da família dos seres mitológicos, como unicórnios, grifos e dragões
HOMOSSEXUAL adj., infrutífero, impotente, débil; indivíduo que sente atracção por indivíduos do próprio sexo, de preferência ricos; heteromasturbador compulsivo e obsessivo
HOMOSSEXUALIDADE s.f., forma alargada ou corolário lógico do matrimónio burguês
HORÓSCOPO s.m., análise política em Portugal
ILUSÃO – s.f., qualquer erro proveniente de uma aparência falsa; erro de percepção que consiste em tomar um objecto por outro; logro
ILUMINISMO s.m., o mesmo que ilusionismo
ILUSIONISMO s.m., arte de produzir ilusões; prestidigitação; expediente para engazupar basbaques, simplórios e papalvos
LENGALENGA s.f., alocução presidencial; linguagem das lesmas
LENOCÍNIO s.m., principal método de selecção entre políticos; preliminares do parlamentarismo
LESA-MARISCO (crime de) s.m., crime contra a sagrada burrocracia ou contra qualquer membro seu ou mordomia instituída
LIBERALISMO –s.m., grave distúrbio endocrinológico caracterizado por uma ausência crónica de testosterona (sintomas: disfunção eréctil, incontinência verbal, hipertrofia esfincterial, erotomania, etc)
LUZE-CU s.m., ver Pirilampo.
MACIÇO adj., imaginário, putativo
MAFIA s.f., nos países meridionais: estirpe benigna da "Administração Pública"; nos Estados Unidos: estrutura superior do Estado
MAGAREFE s.m., confunde-se cada vez mais com o termo "médico" ou "mecânico"
MANIA s.f., síndrome mental caracterizada por uma exaltação eufórica do humor, uma excitação psíquica com hiperactividade, insónia, etc., e, às vezes, por uma agitação motora mais ou menos acentuada (dança, gesticulação, etc); adolescência
MANÍACO adj., adolescente; político em campanha
MANIQUEÍSMO s.m., religião universal predominante e extremamente contagiosa
MASCULINO adj., com a cabeça a prémio; objecto de extermínio
MATERIALISMO s.m., variante aguda de preguiça mental
MODERNIZAÇÃO s.f., muleta retórica de que se socorrem aleijados mentais para efeitos deambulatórios
NARCOTRÁFICO s.m., tráfico ou negócio de estupefacientes; mass-media; publicidade
NEFELIBATA adj., pessoa ou designativo de pessoa que anda nas nuvens; longe da realidade; membro do governo, em Portugal
NEUROPATA s. 2 gén. Indivíduo afectado de perturbações mentais discretas, habitualmente compatíveis com a vida em sociedade; cidadão da comunidade europeia
OCLOCRACIA s.f., forma suavizada de balbúrdia e babelismo político; tumulto organizado PARLAMENTARISMO, s.m., o mesmo que palramentarismo
POLÍTICA s.f., palavrão; obscenidade extremamente grosseira; foder indiscriminadamente
PIRILAMPO s.m., intelectual
PSICÓLOGO s.m., adivinho; bruxo; cartomante; áugure
PSICOPATA s. 2 gén. Que padece de psicose; cidadão norte-americano
PSICOSE s.f., doença mental que afecta gravemente a relação do sujeito com a realidade e de cujo carácter mórbido o paciente não tem consciência
PUBLICIDADE s.f., forma massificada e difusa de lobotomia, legalizada e extremamente eficaz
QUADRILHA s.f., forma mais usual de associação política
RACIONAL adj., absurdo em que se acredita, desde que traduzível em linguagem numérica
RAZÃO s.f., faculdade de cálculo; justificação para qualquer coisa, especialmente coisas que a inteligência verifica que não têm justificação
RELAPSIA s.f., regime obrigatório de eleição em Portugal
REVOLUÇÃO s.f., esquema desembaraçado de promoção social
SABUJO s.m., funcionário de carreira
SÍMIO s.m, nome com que vulgarmente se designam o mono, o macaco, o bugio e alguns empreiteiros de obras públicas
SIMULAÇÃO s.f., ocupação predilecta dos governantes putativamente eleitos pelo povo
SOCIALISMO s.m., doutrina que defende o predomínio da sociedade sobre o indivíduo e de algumas famílias sobre a sociedade; ver também ilusionismo
SOFISTICADO adj., adulterado; jactante
SÚCIA s.f., malta do jet-set
SUÍNO adj., relativo a burguês
TÓXICO adj., que tem a propriedade de envenenar; praga artística ou literária infestante; método de trabalho entre historiadores
TOXICOMANIA s.f., hábito mórbido e tirânico de utilizar produtos tóxicos de efeitos sedativos, euforizantes ou estupefacientes; regime de vida nas sociedades designadas de modernas
UNIVERSIDADE s.f., sítio mal frequentado; tugúrio; incubadora de serpentes
UNIVERSO s.m., versão única das coisas
VANILÓQUIO s.m., conversa, entrevista ou debate transmitidos pela rádio ou televisão
XENOFOBIA s.f., antipatia pelas pessoas pobres estrangeiras, mas não pelas coisas
XENOMANIA s.f., mania de desprezar o que é nacional, porque é pobre, e de gostar do que é estrangeiro porque é rico e fica nos melhores hotéis
ZOOFILIA s.f., cópula com animais irracionais; endémico na classe média
AMIBA s.f., protozoário livre, comensal ou parasita, constituído por uma única célula mental nua que muda de forma por emissão de pseudópodes, comum nas águas dos charcos, pântanos e da vida pública portuguesa; também paradigma para a emulação popular
ANARQUIA s.f., forma unilateral de governação; meta da democracia
ATEÍSMO s.m., estirpe particularmente virulenta da imbecilidade; doutrina que professa uma crença beata na ciência
ATEU s.m., sectário que vocifera contra aquilo que não compreende
BLENORRAGIA s.f., inflamação purulenta das membranas mucosas e, no caso mais grave e aberrante, do próprio encéfalo. Neste caso, também conhecido popularmente por escantamento mental ou, na forma erudita, neoliberalismo
BOMBARDEAR v. tr., (com bombas ou mentiras) democratizar de urgência; reduzir à mendicidade espiritual; americanizar
CLEPTOMANIA s.f., inclinação mórbida para o roubo;
CLEPTOCRACIA s.f., sistema político em que a autoridade emana de cleptómanos; regime que, sob os mais variados disfarces ou avatares, avassala a predilecção dos países modernos
DEMAGOGO s.f., antónimo de Demagago; indivíduo que excita as paixões do povo, gloriando-se como paladino dos seus interesses, mas almejando apenas a prossecução dos seus desígnios escusos; sectário
DEMOCRACIA s.f., sistema político em que a autoridade emana de demagogos e respectivas seitas mais ou menos secretas; forma suavizada de pandemónio; governo levado do diabo: forma geralmente camuflada de oclocracia
DESENVOLVIMENTO s.m., subterfúgio para roubar as pessoas e atentar contra a Natureza e a paisagem
DIREITA s.f., o mesmo que esquerda, mas do outro lado do patamar
ELEIÇÃO s.f., esquema fraudulento, em regime de alternância, de manutenção de privilégios, prebendas e mordomias; forma mais ou menos sofisticada de fraude
EMPRESA s.f., mistério profundo; sucedâneo da família; em pequenas dimensões: forma mais ou menos demorada de suicídio
EMPRESÁRIO s.m., habitante da empresa; otário; esquizofrénico
ESQUERDA s.f., O mesmo que direita, só que na porta em frente
ESTUPIDEZ s.f., estado de graça; vantagem social decisiva
EVOLUÇÃO – s.f., deterioração; sofisticamento da depredação; ruína mental
GESTÃO s.f., pretexto para falência ou delapidação; expediente ou recurso empregue por biscateiros diplomados com o intuito de defraudarem os contribuintes, as finanças públicas, os operários e a credulidade dos respectivos progenitores; forma de conspiração contra a teoria Darwiniana das espécies
GESTOR s.m., indivíduo que vive de gestão
HIENA s.f., mamífero carnívoro, feroz e devorador de carne putrefacta, que vive por todo o lado, excepto nos polos; jornalista; telespectador
HOMEM s.m., mamífero primata, bípede, sociável, que se distingue de todos os outros animais pelo dom da palavra, pelo desenvolvimento intelectual e pelo facto de ser imaginário; da família dos seres mitológicos, como unicórnios, grifos e dragões
HOMOSSEXUAL adj., infrutífero, impotente, débil; indivíduo que sente atracção por indivíduos do próprio sexo, de preferência ricos; heteromasturbador compulsivo e obsessivo
HOMOSSEXUALIDADE s.f., forma alargada ou corolário lógico do matrimónio burguês
HORÓSCOPO s.m., análise política em Portugal
ILUSÃO – s.f., qualquer erro proveniente de uma aparência falsa; erro de percepção que consiste em tomar um objecto por outro; logro
ILUMINISMO s.m., o mesmo que ilusionismo
ILUSIONISMO s.m., arte de produzir ilusões; prestidigitação; expediente para engazupar basbaques, simplórios e papalvos
LENGALENGA s.f., alocução presidencial; linguagem das lesmas
LENOCÍNIO s.m., principal método de selecção entre políticos; preliminares do parlamentarismo
LESA-MARISCO (crime de) s.m., crime contra a sagrada burrocracia ou contra qualquer membro seu ou mordomia instituída
LIBERALISMO –s.m., grave distúrbio endocrinológico caracterizado por uma ausência crónica de testosterona (sintomas: disfunção eréctil, incontinência verbal, hipertrofia esfincterial, erotomania, etc)
LUZE-CU s.m., ver Pirilampo.
MACIÇO adj., imaginário, putativo
MAFIA s.f., nos países meridionais: estirpe benigna da "Administração Pública"; nos Estados Unidos: estrutura superior do Estado
MAGAREFE s.m., confunde-se cada vez mais com o termo "médico" ou "mecânico"
MANIA s.f., síndrome mental caracterizada por uma exaltação eufórica do humor, uma excitação psíquica com hiperactividade, insónia, etc., e, às vezes, por uma agitação motora mais ou menos acentuada (dança, gesticulação, etc); adolescência
MANÍACO adj., adolescente; político em campanha
MANIQUEÍSMO s.m., religião universal predominante e extremamente contagiosa
MASCULINO adj., com a cabeça a prémio; objecto de extermínio
MATERIALISMO s.m., variante aguda de preguiça mental
MODERNIZAÇÃO s.f., muleta retórica de que se socorrem aleijados mentais para efeitos deambulatórios
NARCOTRÁFICO s.m., tráfico ou negócio de estupefacientes; mass-media; publicidade
NEFELIBATA adj., pessoa ou designativo de pessoa que anda nas nuvens; longe da realidade; membro do governo, em Portugal
NEUROPATA s. 2 gén. Indivíduo afectado de perturbações mentais discretas, habitualmente compatíveis com a vida em sociedade; cidadão da comunidade europeia
OCLOCRACIA s.f., forma suavizada de balbúrdia e babelismo político; tumulto organizado PARLAMENTARISMO, s.m., o mesmo que palramentarismo
POLÍTICA s.f., palavrão; obscenidade extremamente grosseira; foder indiscriminadamente
PIRILAMPO s.m., intelectual
PSICÓLOGO s.m., adivinho; bruxo; cartomante; áugure
PSICOPATA s. 2 gén. Que padece de psicose; cidadão norte-americano
PSICOSE s.f., doença mental que afecta gravemente a relação do sujeito com a realidade e de cujo carácter mórbido o paciente não tem consciência
PUBLICIDADE s.f., forma massificada e difusa de lobotomia, legalizada e extremamente eficaz
QUADRILHA s.f., forma mais usual de associação política
RACIONAL adj., absurdo em que se acredita, desde que traduzível em linguagem numérica
RAZÃO s.f., faculdade de cálculo; justificação para qualquer coisa, especialmente coisas que a inteligência verifica que não têm justificação
RELAPSIA s.f., regime obrigatório de eleição em Portugal
REVOLUÇÃO s.f., esquema desembaraçado de promoção social
SABUJO s.m., funcionário de carreira
SÍMIO s.m, nome com que vulgarmente se designam o mono, o macaco, o bugio e alguns empreiteiros de obras públicas
SIMULAÇÃO s.f., ocupação predilecta dos governantes putativamente eleitos pelo povo
SOCIALISMO s.m., doutrina que defende o predomínio da sociedade sobre o indivíduo e de algumas famílias sobre a sociedade; ver também ilusionismo
SOFISTICADO adj., adulterado; jactante
SÚCIA s.f., malta do jet-set
SUÍNO adj., relativo a burguês
TÓXICO adj., que tem a propriedade de envenenar; praga artística ou literária infestante; método de trabalho entre historiadores
TOXICOMANIA s.f., hábito mórbido e tirânico de utilizar produtos tóxicos de efeitos sedativos, euforizantes ou estupefacientes; regime de vida nas sociedades designadas de modernas
UNIVERSIDADE s.f., sítio mal frequentado; tugúrio; incubadora de serpentes
UNIVERSO s.m., versão única das coisas
VANILÓQUIO s.m., conversa, entrevista ou debate transmitidos pela rádio ou televisão
XENOFOBIA s.f., antipatia pelas pessoas pobres estrangeiras, mas não pelas coisas
XENOMANIA s.f., mania de desprezar o que é nacional, porque é pobre, e de gostar do que é estrangeiro porque é rico e fica nos melhores hotéis
ZOOFILIA s.f., cópula com animais irracionais; endémico na classe média
terça-feira, janeiro 04, 2005
Indiana Qualquer-Coisa
Falhou a pantera, mas acertou no leão. Abateu três elefantes e só então o rinoceronte lhe virou o Jeep. Fez meio deserto num camelo e o resto numa avestruz. Escapou miraculosamente aos tuaregues e, por pouco, não era abocanhado por um crocodilo.
Encontrou-a, por fim, deslumbrante, às margens do Nilo.
Acabando de estrangular a jibóia, encarou-a, pupilas nas pupilas, numa promessa inequívoca de orgasmos eternos. Ela estatuiu-se, hipnotizada, a babar-se. Ele, num rompante másculo e dinâmico, sacudiu a tarântula do ombro, rebentou os botões da braguilha (ou o fecho éclair, se preferirem) e lançou-se, em voo picado, qual falcão peregrino, sobre tamanho portento da natureza. Rebolaram sobre a relva, num apocalipse de carícias, pulverizando roupas e esguichando urros. Dentro dele rugia um vulcão, dardejava um aríete; do lado dela pulsava um buraco negro, fremia todo um portal de volúpia. De como se entrechocaram, resfolegaram e, feitos hecatombe cósmica, refizeram as origens do Universo, deixo à imaginação do leitor.
Aproveitando uma pausa inopinada –enquanto ele corria a pontapé duas hienas mais atrevidas e esmurrava um gorila voyeur –, num momentâneo intervalo entre assaltos, ela foi buscar duas garrafas de coca-cola bem geladas.
Voltou em menos de nada, com as bebidas e um sorriso misterioso, giocondino. Ele, acabando de pôr KO o macacão, convergiu disposto a tudo.
Agarrou na garrafa que a beldade escultural lhe estendia e, voraz, solene, descomedido, a porejar testosterona, sacudiu um escorpião do bolso e verteu o refrigerante todo, dum gole só, através da goela sequiosa e consumptora. Ouviu-se um som frigitivo, a lembrar a efervescência do ácido sobre a pedra. Só então ele arregalou muito os olhos e desabou para a frente, em espasmos, palco duma congestão fulminante. Ou corrosão, tanto faz. Partiu o pescoço na queda, num nítido estalar das vértebras cervicais.
Quedou-se, por fim, lívido, hirto, definitivamente morto. Incapaz sequer de sacudir as formigas que trotavam já, ao assalto, por ele acima.
Ela foi colocar mais duas garrafas no congelador.
Quedou-se, por fim, lívido, hirto, definitivamente morto. Incapaz sequer de sacudir as formigas que trotavam já, ao assalto, por ele acima.
Ela foi colocar mais duas garrafas no congelador.
Acima de tudo, não gostava de ser apanhada desprevenida.
A Salvação das Aparências
Sentiu aquele repentino peso na cabeça, uma insuportável pressão no crânio a empurrá-lo para baixo, a atrai-lo ao chão, numa vertigem opressiva, alucinante!... Tentou, num derradeiro e sobre-humano esforço, manter-se erecto, vertical, enfim: salvar as aparências (sobretudo, abominava-lhe dar espectáculo, tornar-se alvo de olhares alheios, de basbaques sardónicos, gulosos de ridículo; imaginava-se já, com horror, no centro dum grande estardalhaço...) Mas não conseguiu:
-O Boeing 747, das Linhas Aéreas Ganenses, após um descontrolo inexplicável e no desfecho duma anti-espiral desgovernada, acertara-lhe mesmo em cheio na nuca.
domingo, janeiro 02, 2005
A Segunda Expulsão
E sai mais um conto irrisório, para começarmos bem o ano...
Partiu um dia para longe, de barco. À procura do paraíso, confessou aos amigos.
Encontrou uma ilha simpática, deserta, sozinha, no Pacífico Sul. Era aquilo mesmo, rejubilou. Tal qual como no seu sonho, o Paraíso, sem dúvida!...
Felicíssimo, exultante, desembarcou. Tratou de se instalar.
Acabava o telhado da palhota, quando lhe explodiu a bomba atómica mesmo debaixo dos pés.
E ainda nem sequer tinha comido nada, vejam lá bem!
sábado, janeiro 01, 2005
O Turismo Catastrófico
Acho que as agências de viagens portuguesas ainda não se aperceberam do filão que se insinua no horizonte. Ou então já e preparam-se para entesourar lucros fabulosos. Eu, no lugar delas, chilrearia de contentamento.
Refiro-me a uma nova modalidade de turismo que promete revolucionar roteiros e aspergir o luso basbaque em todas as direcções: o "Turismo Catastrófico".
A somar aos já tradicionais furacões das Caraíbas, surgem agora os maremotos no Índico. Além das potencialidades flagrantes para o "surf" e o "bodyboard", são, sobretudo, a mortandade e a destruição que atingem níveis espectaculares. O maremoto, a levar em conta a catadupa de imagens que diariamente vêm sendo despejadas pelos tele-basbaques de serviço, reúne num mesmo pacote enxurrada, inundação, desmoronamentos, desastres rodoviários, soterramentos, alúvios, descarrilamentos, e sei lá que outros prodígios interessantes. Em suma, um tal escaqueiramento de equipamentos, populações e infraestruturas, pelo menos com tal realismo, nem as mais desabridas megaproduções hollywoodescas, atravancadas de efeitos especiais, alcançam. E se pensarmos que todo aquele primor artístico foi puramente gratuito, realizado a custo zero, sem subsídios estatais nem produtores judaicos, sem cortes nem ensaios, pensado e executado em poucas horas, é de deixar qualquer um boquiaberto e estupefacto!...
Ainda mais o português que, como é bem sabido, mais que da natureza, é um contemplador desaustinado dos desastres da natureza. Disso e de centros Comerciais, passe a redundância. Mas se puder ver desastres em centros comerciais, como por exemplo o oceano a varrer aquilo tudo, então óptimo, ainda melhor, junta o delírio à mania. Portanto, ao saber deste manancial fora de portas, é mais que certo que nunca mais o seguram por cá. Mal lhe cheire a férias, a fim-de semana prolongado, ou mesmo sem ser prolongado, hei-lo de malas feitas para paragens exóticas, para terras convulsivas, com mares à solta, onde o espectáculo promete e a hecatombe se anuncia a letras gordas. Com que prazer desatará em filmagens do alto dos terraços, com que volúpia irá borboletear à babugem dos destroços, de roda dos presuntos, a mirar que nem um danado viúvas, desalojados e órfãos!... Com que enlevo peregrinará morgues e aterros mortuários, fortificando-se em óbitos e desgraças – tirando, enfim, a barriga de miséria da miséria dos outros! E se pensarmos que, naquela balbúrdia toda, de urbes inteiras de pantanas, de estâncias e resorts feitos em fanicos, até poderá remexer em sinistrados, garimpar desaparecidos e esgravatar entulhos, arriscamo-nos mesmo a que por lá fique, emigrado e enfeitiçado, sem querer saber mais dos reles desastres de auto-estrada cá da terriola. Se tanto, volta cá, em férias das férias, durante o verão, só por causa da época de incêndios. Isto, se algum furacão nas Américas ou terramoto na Turquia não o desviar, entretanto.
Em boa verdade, é difícil de imaginar, o quanto estes países bafejados pelos favores a atenções escaqueirantes da natureza podem lucrar, o dinheiro que não podem fazer com os nossos compatriotas!... A Tailândia, por exemplo, o melhor mesmo é ir desde já traduzindo para o idioma de Camões (aliás, para o idioma de Quim Barreiros, Emanuel e Toy) os menus, catálogos e tabuletas, porque aquilo, não tarda nada, vai fervilhar de portugueses esquadrinhadores, romeiros. Agora que junta, no mesmo package-tour, a pedofilia avulsa ao cataclismo épico, para o turista português médio, a fazer fé nas crónicas hodiernas, é todo um recanto da Terra que, num ápice, passou de atraente a paradisíaco.
E até há vulcões activos, sorrateiros, à espreita, fumegantes, não muito longe dali!...
Não é brincadeira nenhuma: Mais que a um turismo compulsivo, arriscamo-nos mesmo a uma emigração em massa. Migraram do interior para o litoral. Agora, ou muito me engano, ou emigram do litoral para a Tailândia.
Só cá ficam uns quantos nostálgicos, sonhadores inveterados... De 1755.