Andava eu a bedelhar ali para os lados dos Alertas, uns rapazes e rapariga bem humorados cujas diatribes acompanho (tudo o que seja “bota abaixo” pode desde logo contar com a minha álacre presença) , quando se me depara um caso de emergência nacional. Mais um daqueles estarrecedores problemas capazes de nos infernizarem a existência e espavorirem de vez o sono. Seguindo um link (temos que pensar em actualizar para “linque”) fui dar aqui, onde um –presumo que cidadão de ascendência não-ariana -, coberto de razão, a transbordar sapiência, emerso num caldo efervescente de indignação, se insurgia para quem o ouvisse. Motivo? Justíssimo:
Parece que o enviado da RTP, um tal Paulo Dentinho, se arvora como energúmeno de alto coturno sempre pronto a injuriar, a bandeiras despregadas, o bom nome dos israelitas. Já várias vezes, o dito facínora (eu sou testemunha e também reparei logo nisso), a pretexto de reportagens directas, os vem crismando, aos desvalidos israelitas, de judaicos, judeus, judengos, ou lá o que é. Seja o que for, é, como todos de imediato constatamos, gravíssimo. Não se admite: chamar judeus a israelitas. Nem a judeus, quanto mais a israelitas! Quando se chama judeu a alguém, sobretudo a um judeu, isso só pode significar um menoscabo retumbante, um insulto desabrido! Uma insinuação torpe e soez! Pior: uma conspiração genocida de terceiro grau! Os judeus não são judeus. Os judeus, sem excepção, são pessoas excepcionais, acima de qualquer suspeita, duma cultura e inteligência ancestrais, que Deus, um belo dia, em inefável Pessoa, escolheu para seus dilectos e predilectos herdeiros. Em suma: se não são semideuses, andam lá perto.
Sendo, por conseguinte, tão sublimes, cintilantes e predestinados, causam naturalmente invejas por onde quer que passem e, como nunca estão quietos, são vítimas recorrentes de todo o tipo de calúnias, malquerenças e injustiças. A Humanidade, de resto, passa a vida nisso – na inveja, na malquerença e na injustiça. Qualquer motivo é um bom motivo para lixar o próximo. Anda nisto, a grande vaca, há milénios. Mas os judeus, em se tratando de ser vítima, cismam que também comandam destacados. Acham até que o seu caso, como não podia deixar de ser, é duplamente gravoso: porque a humanidade dar-se ao desfrute de ensaiar essas violências entre si, que se lixe; agora exercitá-las sobre os judeus, francamente!... É gente de civilização, de responsabilidades, que diabo!... No mínimo, requer indemnização a dobrar. E retractação com juros, ad eternum.
Nós, portugueses, que passamos a vida a chamar cobras e lagartos uns aos outros e a dizer uns dos outros aquilo que Maomé não diz do toucinho, devemos, não obstante, preocupar-nos, descabelar-nos às mancheias, porque o Paulo Dentinho chamou judaicos aos israelitas.
Estupidamente decerto, ocorre-me perguntar: Então “judeu” ou “judaico” é insulto? Quem é este Nuno Guerreiro? –Um puro ariano?
Macacos me mordam, se não há p’r’àqui uma lógica transcendente. Ou perversa. O comum dos mortais não entende.
Do que é possível entender é que o tal Dentinho foi apanhado com a boca, e os dentes todos, na botija. Em flagrante e desarvorado crime de anti-semitismo reincidente.Aposto que congemina em segredo novo holocausto. Não tarda, descobrem-lhe mesmo uma suástica tatuada num recesso íntimo. E um micro-ondas lá em casa, com a estranha mas conveniente - e esclarecedora - forma duma cabina telefónica.
Um gajo que é capaz de chamar “judaicos” a “israelitas”, é capaz de tudo!...Ó da guarda!!...
Hilariante!...:)
ResponderEliminarC.L.
"Macacos me mordam, se não há p’r’àqui uma lógica transcendente. Ou perversa. O comum dos mortais não entende."
ResponderEliminarahahhaha ":O))) tem de haver, eles são uns chatos. Como diz o Animal aquilo é trauma da circuncizão. E depois fazem aqueles movimentos esquizitos com o pescoço, e a cabeça, à volta dos textos e dá nisto ":O)))
Pelo que li, deu-me a parecer que ao Nuno Guerreiro lhe mete uma verdadeira confusão usar essa definição no contexto político (vá-se lá saber porquê!).
ResponderEliminarNo entanto, não deixei de reparar num pequeno 'logo' que ele tem no lado esquerdo e que nos leva a: "judaica shop - sua lojinha judaica na web".
Pelo que vi, não se trata somente de religião.
Ordena-se o seu fecho ou muda-se-lhe o nome?
Como não ouvi o repórter a falar, nem vi a sua expressão enquanto apelidava de judeus, os israelitas, não poderei dizer se se tratava ou não da tal "profunda deturpação recheada de segundos sentidos óbvios" como diz o Guerreiro; por isso, fico-me com a ideia de que a deturpação está em quem lhe dá esse significado.
Excelente texto, Dragão.
:) :)
ResponderEliminarN.
De facto é muito triste Dragão, escreveres sem perceberes nada do que escreves… da próxima vez tens de pedir ao Nuno Guerreiro para te fazer um desenho.
ResponderEliminarJPT