Num alarde público de benevolência exacerbada, alguns leitores sugerem que eu edite em forma de livro uma espécie de "antologia" aqui do blogue. Devo dizer que esse livro já existe. Intitula-se "À Queima-Roupa", o nº1 da Primeira edição está na minha posse, pelo que posso informar que é de 17 de Março de 2007. Quer isto dizer que existe uma "antologia" até 2007. De 2007 para cá não existe, embora eu próprio reconheça que tremeluzem alguns textos que não me envergonham, nem aqui nem em lado nenhum. Acrescento ainda que não me lembro rigorosamente da maior parte dos textos que escrevi; e um dos raros prazeres que desfruto é redescobri-los vários anos depois. Na verdade, é como se não fossem meus. E, em bom rigor, até nem são. Pertencem à musa. Porque sem ela nada feito. Eu ainda sou daqueles que acredita imenso na inspiração, e muito pouco na transpiração. Até porque sei e experimento ao vivo e em pessoa que só quando estou realmente inspirado é que acontecem determinadas coisas. Para entendimento cabal disto, recomendo até um postal aqui no antro, da série "Palavras com Raiz": "Entusiasmo".
De qualquer modo, o "À Queima-Roupa" foi, como devem calcular, um dos grandes acontecimentos culturais da época (pós-Revolução) e alguns predestinados (assinale-se, dum amplo espectro político e epistemológico, o que só me honra e desvanece, ainda hoje) conseguiram mesmo, após épicas refregas e disputas, um exemplar (ainda por cima, autografado). Excepto a Zazie que, merecidamente, abotoou-se com dois (um autografado por mim, outro pelo Ildefonso). Desses ilustres abençoados pela lotaria, apenas um, que eu me aperceba, continua ainda hoje visita fiel da casa: o Carlos. O mundo dá muitas voltas, cada vez mais vertiginosas, e a força centrífuga é lixada!... E o meu feitio corrosivo e implacável também não ajuda.
Enfim, em jeito de memória comemorativa desse tempo, bem como reportagem documental do extraordinário evento, de modo a não deixar dúvidas aos mais cépticos ou incréus, aqui fica o rescaldo do lançamento, a propósito da Feira do Livro subsequente (não por acaso, datado de 10 de Junho de 2007):
O livro
"À Queima-Roupa", de César Augusto Dragão, não esteve disponível nesse lamentável acontecimento cultural que hoje terminou, sob o enganoso título de " 77ª Feira do Livro de Lisboa". As "Edições Lança-Chamas" tudo fizeram para estar presentes, mas, infelizmente, a perversidade, o encanzinamento e a burrocracia congénita da CML, em torpe conluio com a APEL, não o permitiram. E todavia as nossas condições eram da mais elementar justiça, modéstia e simplicidade; a saber 1. Substituição daquela ridícula e gigantesca bandeira verde-rubra hasteada no topo do Parque Eduardo VII pela bandeira deste blogue, em idêntico tamanho, e apenas iluminada com holofotes; 2. Melhoramento das infra-estruturas de apoio à feira, através do acréscimo de um bordel nocturno que serviria, em simultâneo, de stand de vendas da nossa editora; e de um ringue de boxe, onde César Augusto procederia à distribuição de autógrafos, alternadamente, nos livros e nos críticos da especialidade; 3. Concessão de honras de estado, com direito a batedores avançados, majoretes e fanfarra, de cada vez que o nosso César Augusto visitasse a feira. De realçar, que a nossa boa vontade chegou ao ponto de abdicarmos do
felatio simbólico a César Augusto Dragão por Margarida Rebelo Pinto, do queijo da Serra e presunto de Chaves à discrição para todos e da luta de orelhas (ou
orelha-de-ferro) entre José Rodrigues dos Santos e Miguel Esteves Cardoso. É verdade; chegámos mesmo ao extremo de aceitar como opcional o
Aston Martin e a suite presidencial no Ritz. Mesmo assim, nada feito. Eram mais que evidentes -eram sobrepujantes! - a má fé e o fundamentalismo saloio daqueles energúmenos. Assim, não admira que a cultura neste país não vá a lado nenhum e estagne num repugnante e pantanoso compadrio. É uma vergonha!
Aqui fica, pois, registada, para memória e indignação dos vindouros, a fidedigna denúncia de tão vil tramóia.De caminho, e em jeito de compensação para tamanha sabotagem das artes, se é que tal é possível, passamos a transcrever uma resenha sucinta das críticas mais importantes entretanto vertidas em honra do mirabolante cartapácio.
«Um livro inesquecível. E não digo isto apenas porque, neste particular momento, tenho um sujeito extremamente mal encarado a apontar-me uma caçadeira à cabeça e um outro igualmente carrancudo de facalhão em riste. É realmente uma obra próxima do imortal. Ao contrário de mim, infelizmente. Que, ainda para mais, tenho uma pele deveras frágil ao sol - fará agora a um ferro em brasa.»
- Ernesto F. Mendes, "DN", 31.04.2008
«Entre declarar “À Queima-Roupa” a obra prima dos últimos 24 meses ou levar com uma picareta de rompante, não hesito e espero que fique bem claro: "À Queima-Roupa", de César Augusto Dragão, é a maior obra da literatura portuguesa depois que a Antártida começou a descongelar!... O próprio César Augusto, se não é a reencarnação de Swift, Cervantes, Dostoievski e vários outros grandes vultos das letras lusas, num verdadeiro muesli cultural todos-em-um, parece!...»
- Eduardo Almôndega Coelho, "Visinha", 30.02.2007«Faltam-me as palavras para descrever o que sinto. E alguns dentes para soletrá-las coercivelmente também. Dificuldades, essas, que as beiças inchadas por via dum valente pontapé voador circular (segundo me explicou gentilmente o técnico encarregue da entrega) só amplificam. Foi, de facto, senhoras e senhores, meninos e meninas, uma tareia monumental. Que suportei estoicamente, diga-se, com cristã longanimidade, e que, finalmente, louvado seja Deus, começa a dar os seus frutos: sim, vejo agora como está escrito num estilo arrebatador. Ou melhor dizendo, espreito, na medida em que um hematoma repolhudo e um sobrolho derribado mo permitem. Sim, acho que diviso por fim com certa nitidez: realmente é um livro devastador, um lirimoto de grau 20 na escala grega, sou forçado a confessá-lo. Pronto, já podem chamar o 112?...»
- Chico Graça Moura, "Jornal de Letras", 31.06.2007«Digo-o sem qualquer rebuço: se deram o Nobel ao Saramago, a César Augusto Dragão, no mínimo, deviam entregar a França, a Áustria, a Checoslováquia, os Paises-Baixos, a Polónia, a Ucrânia e a Escandinávia. Tenho mais amor às minhas unhas do que à verdade. Mas, entretanto, alguma alma caridosa que forneça uma xuxa a Lobo-Antunes: aquele dedo não resiste muito mais!... »
- Jean Claude Delmas, "Revue Littéraire", 61.05.2007“À Queima-roupa”, de César Augusto Dragão, é um obra sólida, contundente, que nos deixa mergulhados numa intensa comoção. Cada parágrafo conta. Sei do que falo: acabo de levar com ela, repetidas vezes, na cabeça. Uma capa duríssima! Só me apetece chorar.»
- "Nicolau Toy do Amaral", "Expresso", 03.13.2007
«Por amor da sua saúde e, especialmente, da minha e dos meus filhos reféns em parte incerta: encomende já o livro, leia-o de fio e a pavio e reconheça: este homem não é um génio, é um deus!... Ou, no mínimo, um super-herói, um super-homem!...»
- Carlos Hipotenusa, "Derpertai", 23.23.2006
«A leitura de “À Queima-Roupa”, de César Augusto Dragão tem para a crítica literária a importância que o nascimento de Jesus Cristo teve para a História Universal: há um antes e um depois. Antes de a ler, é-se, tão somente, crítico; depois de lê-la, tornamo-nos idólatras.»
- Gertrudes Cândida Meireles, "Bordados e decorações", a publicar brevemente.
«Não li, nem preciso. É daquelas obras que fica bem em qualquer estante. A encadernação vale o dinheiro. Uma verdadeira pechincha! Combina na perfeição com qualquer reposteiro ou jogo de maples.»
- Paula Trombone, "Embalagens e etiquetas", 01.02.2001
«Tem palavras a mais e imagens a menos. Não entendi nada.»
- Engenheiro Ildefonso Caguinchas
Edições Lança-Chamas
Pela Direcção,
Assinatura irreconhecível
PS: A 1ª Edição está esgotadíssima e não há previsões, pelo menos nesta encarnação, de qualquer nova edição. Só por cima do meu cadáver. Quanto a uma nova antologia, pós 2007, vou pensar nisso.
> nova antologia, pós 2007, vou pensar nisso.
ResponderEliminarA Sangue Frio.
Caro Passante,
ResponderEliminarEsse realmente até seria um bom candidato a título. Com o poema homónimo a abrir...
Caro Dragão,
ResponderEliminarNova antologia com reedição, ou reimpressão, da primeira é que era. Que culpa tem um gajo de não saber da existência deste blog por essas alturas! Por essas alturas nem Franco Nogueira conhecia. Um verdadeiro Morcão!
A visita ao Dragão ganhou caracter obrigatório e acompanha outras rotinas diárias como engolir o tadalafil e o tromalyt.
ResponderEliminarClaro que o prazer da visita nada deve aos comprimidos mas sim a uma comunhão com as ideias do Dragão, reforçada nos últimos anos com a sua análise à questão da Ucrânia. Coincidência também na relação de vida com uma eslava (embora da zona ocidental da UA).
Um companheiro que visito com muito prazer.
Eu, um dos abençoados, ainda cá venho.
ResponderEliminarGrande Bruno!.. Forte abraço!
ResponderEliminarGrande livro sim. Continuo a vir aqui, também. O resto, ambos sabemos e nenhum de nós é lá muito "certo".
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarDesculpe o mail que lhe enviei. Foi a despropósito, pois só agora me apercebi que o livro está "esgotadissimo". Sendo assim, se um dia vier a reimprimi-lo ou a fazer uma outra edição dos seus fantásticos textos, manterei o interesse. Espero não estar nessa altura desatento.
ResponderEliminarObrigado.
Grande Zazie!... Beijinho. O resto, a parte que me lembro tem a ver com a idade de ouro da blogosfera (e lá está o Hesíodo a ter eterna razão) e é para guardar sempre na memória. A parte que não me lembro, já esqueci... pelo que não devia ser importante.
ResponderEliminarCaro Paulo Mariano,
ResponderEliminarfica registado o seu interesse, que agradeço, e, embora seja muito pouco provável qualquer reedição - aquela edição foi também uma revisitação aos livros a sério, do antigamente, cosidos entre cadernos, com lombada e capa dura (o encadernador faleceu entretanto) -, mas caso aconteça, terei o cuidado de avisar antecipadamente.
Na altura, a propósito, e se bem me lembro, aproveitei para piratear os leitores, espoliando-os de uma vultuosa maquia. A bandeira do blogue não é apenas decorativa: assinala toda uma vocação existencial e atávica. Não sou daqueles que anda pelo mundo, rasteira e farisaicamente, a moralizar sobre o passado e os rudes e indómitos antepassados que lá moram. Não, bem pelo contrário: honro-os e emulo-os com todas as minhas forças e os meios de que disponho. :O)
E eu, não conto?
ResponderEliminarAinda aqui passo. e ainda guardo, no cofre, o exemplar autografado.
Beijinho retribuído, Dragão!
ResponderEliminar«...idade de ouro da blogosfera...»
ResponderEliminarUm blogue é a melhor forma de divulgar conteúdo e informação, ao contrário das chamadas "redes sociais" que publicam uma avalanche de informação e conteúdo que a maioria não lê, nem interpreta, fica pelo "gosto" e a "partilha", por vezes culminando com um rápido comentário que funciona praticamente como uma ejaculação para quem o escreve.
Um blogue bem redigido, com bom aspecto, e conteúdo de qualidade - como é o caso do Dragoscópio - prevalece na Internet e traz consigo não só os Leitores(as) habituais e antigos, mas também outros, mais modernos, e ambos contribuem pela sua qualidade nos comentários e partilha de ligações nos mesmos, para fazer o blogue crescer em audiência.
Conheço o Dragoscópio desde 2005, se não estou em erro.
Desiludido na vida real com o campo que se dizia "Nacionalista", "Patriótico", "Identitário", "Tradicionalista", afastei-me, e isso incluiu também um interregno na leitura de blogues ligados a essas temáticas.
Voltei a ler o Dragoscópio recentemente, e com prazer verifiquei que a qualidade se mantém no conteúdo que o Sr.º César Dragão e o Sr.º Eng.º Ildefonso Caguinchas, por aqui publicam.
Esta página deve ser a única na blogosfera Lusitana de carácter verdadeiramente Tradicionalista, Nacionalista, Patriótico, e Identitário, com interessante conteúdo sobre História, Geopolítica, e Filosofia.
Para terminar, não posso deixar de fazer referência à saudosa Rádio Vulva, que poderia voltar, desta vez em formato de radiodifusão via Internet, o chamado «podcast».
P.S.: Deve fazer a reedição do primeiro livro seguida da edição de nova antologia de textos.
Caríssima, (A Tal)
ResponderEliminarde si jamais me esqueço. E se assim, por algum instante ou modo pareceu, vou já ali ciliciar-me em penitência!... :O)
Permita que oscule o chão que pisa.
« Eu ainda sou daqueles que acredita imenso na inspiração».
ResponderEliminarTem bons motivos para acreditar e bem merecer dela, meu caro.
Caro Figueiredo,
ResponderEliminarA Rádio Vulva voltará. E em força. Prometo.
Quanto às novas tecnologias, eu pedregulho me confesso. Mas tentarei ver se aprendo qualquer coisa.
"Esta página deve ser a única na blogosfera Lusitana de carácter verdadeiramente Tradicionalista, Nacionalista, Patriótico, e Identitário, com interessante conteúdo sobre História, Geopolítica, e Filosofia."
ResponderEliminarVoilá!
VIVA SALAZAR! 134 ANOS!
ResponderEliminarPartidos Políticos - António de Oliveira Salazar - 1949
https://www.youtube.com/watch?v=9EksApCA35k
«Tem palavras a mais e imagens a menos. Não entendi nada.»
ResponderEliminar- Engenheiro Ildefonso Caguinchas
Eu estar pá, prênamente dacordo pá. E dizer mais, ter uns palavra muito dificil pá. Ler o Dragão é vortar e vortar e vortar a ler aquele livro dos palavras pá. Quê porras pá.
Os portugueses dizer quê primêro sêstranha e quê despois sentranha. E és verdade pá.
Cá espero novo livro :)
Carlos
PS
"... Na verdade, é como se não fossem meus. E, em bom rigor, até nem são. Pertencem à musa....."
Eu logo vi... lol lol