Aqui há tempos, ao telefone, indagava-me o meu irmão (sim, tenho um irmão), em tom desprezativo : "Já viste o governo que temos?"
Resposta minha: "Temos? É precisamente essa a minha dificuldade: não vejo nem me apercebo que exista, ou minimamente se exercite, governo algum!"
Mas, que diabo, já devíamos estar habituados. Pior: calejados. Mesmo ao ponto de criar corno. Eu já assisti, ao vivo, a preto e branco e a cores, a governos do Dr. Oliveira Salazar, do Marcello Caetano e aos desgovernos subsequentes, no pós-Triplo D: Debandada/Descalabro/Demorreia. A ideia que tenho desta época tão mimosa, que já beira o meio século nem sequer é de bom ou mau governo. Ser bom ou mau já pressupunha alguma coisa onde assentar a categorização. E o facto é que não há nada, substracto ou substância alguma. É apenas algo que não governa nem sai de cima. Aliás, como aqui já escrevi em tempos, «Portugal tem estado sem governo nos últimos decénios. Isto não significa nenhum atestado de excelência àquele conjunto de pessoas que governava o país antes do 25 de Abril. Significa apenas que aqueles que faziam oposição ao regime, a partir de 1974, transferiram-se para a Oposição ao país. Isto é, depois de derrubarem o regime, aproveitaram a embalagem, e trataram de derrubar o país. Era o que sabiam fazer: oposição. Foi o que continuaram a fazer, afincada e fervorosamente. Desbancado o governo que não permitia oposição, a oposição, ressacada e recalcada de mais de meio século de jejum, tratou de engendrar e instalar um regime de absoluta ausência de governo. De exclusiva e furiosa oposição. Onde as várias oposições respiram e acordam todas as manhãs para se oporem - umas às outras, por principio, e todas juntas ao país, por fim. Bem como a qualquer hipótese, ainda que remota e fantástica, de governo. No mínimo, depreende-se da dinâmica intrínseca desta gente, para compensar de cinquenta anos sem oposição, o país deverá penar cem anos sem governo».
Assim, todas estas tricas, laricas, batefundos e lambe-escândalos de efervescência, com que o pagode se entretém e refocila na própria abjecção, não passam disso mesmo: episódios sucessivos da telenovela eleiçoada. O mais recente não chafurda apenas no anedótico: convoca a galhofa desatada. Envolve um Galamba qualquer mai-lo respectivo assessor (tirava bicas e ia buscar o jornal, presumo). Os pormenores, entretanto, competem com os detalhes, e as minúcias atropelam as gigúcias. Queixa crime do ministro contra o ex-acólito já dão corda à judiciária. Sonegou um computador do Estado ou afinal aram dois? Chegou a roupa ao pelo a duas funcionárias e à chefe de gabinete ou foi, de facto, a chefe de gabinete e uma funcionária? É bode espirratório, conspirratório ou ovelha ranhosa de conveniência? Era mesmo PS ou BE infiltrado? Enfim, estão a ver o nível da bernarda, da tauromaquia instalada...
De tal ordem, que a assembleia aos gritos - a casa da coxa, pois - já reclama a sua parte no quinhão, o seu lugar de cabeceira no simpósio. Esta espécie mal extraída de gente relambe-se e esmera-se em atirar excremento uns aos outros. E não vivem apenas disso: engordam. A idade das luzes estertora mesmo num badanal de luzidios.
Adenda: "Antigo adjunto de Galamba que provocou terramoto no governo... é treinador do Benfica"
Logo vi.
E já percebemos, finalmente, o critério de selecção do actual Enchido Costa para o seu desgoverno absoluto: Vai ao berçário da cultura.
> Era o que sabiam fazer: oposição
ResponderEliminarNão me tinha ocorrido, mas não está mal visto. Por exemplo, em 1974 o primeiro acto legislativo foi o divórcio - opunham-se ao casamento. Depois opuseram-se variada e sucessivamente às colónias, à solvência, à independência, etc.
De momento, enquanto esperamos a nomeação de um gauleiter cá para a zona administrativa, vão-se opondo à existência e à morte natural, à reprodução dos autóctones, à propriedade de imobiliário, etc.
É genial a forma como têm uma cornucópia inesgotável de ideias estúpidas. Se eu fosse de conspirações dizia que alguém lhas fornece com más intenções, mas nah, isso é impossível, decerto que é um fenómeno natural.
«...De exclusiva e furiosa oposição. Onde as várias oposições respiram e acordam todas as manhãs para se oporem - umas às outras, por principio, e todas juntas ao país, por fim. Bem como a qualquer hipótese, ainda que remota e fantástica, de governo...»
ResponderEliminarO Presidente Rui Rio, que foi o único e último representante de um projecto de governo para o País e opositor ao Governo do Sr.º Primeiro-Ministro, António Costa, e restantes partidos políticos representados no Parlamento, por várias vezes referiu-se ao que acabou de escrever.
Estamos a assistir a um cenário e cenas degradantes, mais do que todas as outras já ocorridas em 49 anos, e que representam o culminar da mediocridade do criminoso, corrupto, e anti-democrático, regime liberal/maçónico imposto pelo golpe de Estado da OTAN em 25ABR74, e os seus representantes, que são autênticas aberrações.
Será isto o princípio do fim do regime e do actual sistema político-constitucional ainda vigente? Provavelmente, mas o pior é que não se vislumbra uma estrutura com um grupo de pessoas capaz de elaborar, levar a cabo, e dirigir um Projecto de Nação.
Uma coisa é certa, a Pátria está em perigo, para resgatá-la, defender a República, garantir o Interesse Nacional e o bem-comum dos Portugueses, o Parlamentarismo tem de ser abolido, no seu lugar instaurar o Presidencialismo, e avançar a todo o vapor com Regionalização (ou Federalismo se assim quiserem chamar).
Segundo a Tradição as Armas e Insígnias de Dom Miguel, encontram-se à espera de um Nobre que voltará a empunhá-las contra a subversão.
Post-Scriptum: O último parágrafo não é da minha autoria.
«É genial a forma como têm uma cornucópia inesgotável de ideias estúpidas»
ResponderEliminarHá um determinismo no fenómeno.
Dados os princípios e os fins por que se regem (e apontados no postal) não lhes é possível terem outras.
O próprio acto eleitoral é uma ideia estúpida que não funciona. Com cinquenta anos de comprovação empírica e atestado geral. :O)
Já agora, por uma definição possível, uma "ideia mesmo estúpida" é algo que em tese até parece maravilhoso, mas que, na prática, só gera o caos e o inferno.
A ideia estúpida, entretanto, é uma coisa. A insistência desenfreada nessa ideia não será apenas estúpido, mas criminoso. O actual regime, suspeito, não é apenas um flagelo: é uma forma colectiva de auto-flagelação. O povinho tem bem o que merece e o que, estupidamente, patrocina.
ResponderEliminarCaro Dragão, o seu irmão não lê o seu blog?
ResponderEliminarhehheehe!!
Vivendi,
ResponderEliminarNão. De todo. Nem eu faço questão disso. Aliás, para ser franco, não posso assegurar que não lê. Posso apenas garantir que nunca falámos disso. Depois, ele é muito mais novo que eu. Pertence a outro tempo, outra geração... Mas não é nada burro.
Curioso como a sapiência tem de dar voltas ao mundo para comunicar com gente genuinamente disposta ao conhecimento... pois à nossa volta muita vezes encontramos apenas um deserto de ideias e à realidade pequena e é assim nas famílias, amigos, colegas de trabalho, vizinhos e por aí vai... e não se resume à falta de inteligência do próximo, mas à falta de vontade.
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