sexta-feira, janeiro 16, 2015

Tourada à Francesa


A síntese com mais piada sobre toda esta coisa do Charlie-hebdo, li-a numa caixa de comentários. Passo a transcrever :
«...não simpatizo com terroristas , acho até que pena de morte é bem aplicada , a começar nos da ETA , mas também não simpatizo com comportamentos temerários. Se o toureiro leva uma cornada ? Problema dele, meu não .» 
                  - Marina.

Inspirado nesta musa (que em possuindo uma beleza equivalente à inteligência constituirá decerto uma ameaça séria ao trânsito das nossas cidades, vilas e aldeias), e em tributo à mesma, é o que se segue:

                                                      .......//........


Algures numa praça de toiros, por alturas da festa brava. Dois aficcioonados conversam e, escutando a sua conversa, vamos sabendo das peripécias no recinto.

- Então hoje não veio o Pedrito de Portugal?
- Não. Houve uma alteração de última hora.. Hoje é um  toureiro exótico, mas muito temerário: o Carlitos de França.
- Hum...Franceses a cortar orelhas a a touros, nem sei bem porquê,  mas não me soa bem... Ouvi dizer que eles são bons é a cortar cabeças a pessoas. E à máquina...
- Não, mas este é kosher. Vais ver que é jeitoso. 
-  Olha, atenção, já vão anunciar o touro.

(Voz, nos altifalantes:
- Com quatrocentos quilos de dinamite, da ganadaria Obibama Saudi & Filhos, o Islamofaxo!)

- Ouviste, pá? O Islamofaxo! Uma autêntica besta do apocalipse, segundo os relatos!  Parece que causou uma verdadeira chacina entre vacas e colegas de ganadaria, lá no pasto!.. Até campinos marcharam de enfiada! E jornalistas, quantos apanhou! Aí entornou-se o caldo..
- Pois foi. Li a notícia nos jornais. Tiveram que isolá-lo, porque estava a dar um prejuízo do caraças aos criadores!
- Lá vem ele! Olha só como  desembesta!... Aquele peão por um triz não entrava em órbita!...
- Irra, e é zurdo.Aposto que corneia baixo e investe de esguelha!...
- Um rematado velhacote, digo-te eu!
- Mas o Carlitos não tem medo. Repara como ele vai sarrabiscando a areia. Como se nada fosse. Sangue frio tem ele, lá isso!...
- Ah, mas ei-lo que cita!...

(Ouve-se a voz de Carlitos na arena, provocando  a besta : "eh toro beau, vite, vien ici!..." O touro, porém, não lhe liga. Resfolega com ruído, e fita, cheio de ódio, para lá das barreiras...)

 - Humm... Acho que o quadrúpede não sabe francês. Repara está mais interessado em escavacar as tábuas. Isto com toureiros franceses não resulta, é o que eu temia: sem tradutor não vamos lá! Nem nas nossas redes sociais o francês tem qualquer uso, quanto mais nas taurinas!... Se ainda fosse inglês, mesmo técnico, vá que não fosse...
 - Lá está tu com o teu pessimismo. Isto ainda se compõe. Basta ele picar o bicho. Uma ou duas bandarilhas e o bovino entende logo.
 - Sim, sim, dizes tu... Agora até saltou as tábuas e foi marrar  nos cabrestos para os curros! Contas antigas por resolver, certamente!...

(Novamente, a voz de Carlitos: Eh, mas qu'est que tu fais, pedaço d'âne?! Revien!  n 'est pas gentil ça, quoi!... Sacre bleau!...Quel brut!...)

 - Se bem percebo o franciú, está a chamar burro ao toiro. Não, com franceses nada feito. Se ele convoca um asno, como quer que lhe responda um touro?! E ainda por cima está de avental, em vez do traje de luces. E aquele barrete!... não lembra ao diabo. Ou então foi mesmo ao diabo que lembrou, porque o conjunto é um bocado patibular: Mais parece um açougueiro que um matador. É mais que natural que a alimária o despreze. Olha!...E afinal a muleta é um compasso!...
- Eh pá, se calhar começo a dar-te razão... Um perfeito talhante! Disse-me um  tipo da organização, que os franceses preferem o traje de Lumiéres ao de Luces. Embora aquilo mais lembre as trevas, de facto.  Mas enfim... O Tony Carreira também de lá veio e olha o êxito que ele agora tem
- Com mil diabos, que faz ele agora, o Avec?
- Ora, já percebeu que a alimária não entende a língua de Rabelais e, pelos visto, agora, está a tentar citá-lo com linguagem gestual. Mas com carinhas de cu, boquinhas e pilinhas isto não vai. O touro só entende de manguito para cima!...
- Eh pá, já começa a ser penoso. Que cretino! Nem o pai morre nem a gente almoça.

(Subitamente, Carlitos pára de gesticular e fazer caretas, e grita: Maomé, ó Maomé!..." Instala-se um grande silêncio nos até aí tumultuados curros. Carlitos insiste: Maomé, vien, gros-merdoso!... Ouve-se um galope atroador e o quebrar das portadas por onde irrompe um Islamofaxo escumante, visivelmente disposto à mais urgente das carnificinas...)

- Está furioso, o cornúpeto. Isto anima-se. Eu é que não me metia à frente daquilo!...
- Nem eu. Mas o Carlitos não arreda. Ah, valente!... parece que afinal temos homem!
- Olha-me esta, até nem toureia mal de todo, o galicoiso. Reparaste naquela chicuelina?... Olha, e agora o molinete!.... OLé!
- Estou a ficar pasmado...

(Começa a tocar musica na praça, mas, de repente, grande bruá nas bancadas!...)

- Meu Deus!, foi colhido, o Carlitos! Foi colhido, que horror!... Coitado do Carlitos!...
 - Não são de fiar, estes zurdos. Bem que avisei. O Islamofaxo acertou-lhe com uma cornada a rodar!
- Foi na ilharga, chiça, e leva-o ao espeto!
- Não, não foi nada na ilharga: foi na liberdade de expressão.
- Tens a certeza? Pareceu-me na ilharga.
- Estou-te a dizer e acabo de  confirmar com os binóculos: em cheio na liberdade de expressão.
- Bem, ao menos não foi no abono de família.
- Sim, graças a Deus! Até porque na liberdade de expressão já estava o buraco feito.
- Pois, não costuma ser grave. No máximo uma semana e já consegue fazer progresso à vontade. Até lá, remedeia-se com um tubo.




10 comentários:

  1. "Ao menos não foi no abono de família"

    eheheheheheh

    Consta que ela é mesmo muito bonita

    ";O)

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  2. O PA já a conheceu e disse que era bonita.

    Já o problema do Carlos de França é que se esqueceu de por perfume nos testículos antes de ir tourear o islamofaxo. A tradição já não é o que era. E quando a tradição não funcinima como deve ser não há conselhos liberais à Dr. Joaquim que sirvam.

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  3. «Se o toureiro leva uma cornada ? Problema dele, meu não .» marina
    .
    Mas havia de ser um problema de quem senão do próprio encornado?
    .
    Se uma cornada não incomoda muita gente, uma rajada delas incomadará muito menos. É a chamada lógica inversa.
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    Os jornalistas do Hebdo que o digam, se puderem.
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    Levaram rajadas de cornadas contundentes e fatais, o que não causa problema algum para a marina. Muito menos para mim. Os esburacados foram os toureiros, não fui eu nem a marina. Ora essa.
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    Anyway, ao contrário do toureiro da fotografia, os toiros de frança não escolheram buracos naturais. Criaram-nos, os sodomitas. Tem que se dar testemunho deste gesto viril. Criar buracos é quase como acabar com a virgindade. Macho que é macho faz isso e tem isso sempre bem presente.
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    Toiros rabetas é que me parece um atentado à liberdade do toureiro em particular e uma ofensa à dignidade dos toureiros em geral. Sem falar no impacto para a auto-estima da classe profissional.
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    O facto de usarem collans não retira nada ao argumento; vêm-se claramente as partes grosseiras. Umas aconchegadas para o lado direito. Outras para o esquerdo. Quando era rapaz tinha a mania das fisgas. Fui quase preso porque atirei do muro lá de casa contra as pernas de um policia uma fisgada de grampos. Eles não perceberam os meus argumentos. O Policia era apenas um boneco de treino para poder acertar, em dias de tourada, nos toureiros que usassem o material para o lado direito. Se eu os coloco para o lado esquerdo, se toda a minha familia tem pergaminhos em debruça-los para o lado esquerdo, odiamos todos aqueles que os tenham do outro lado. Isto sim, é bom motivo para fazer judiarias.
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    Mas pior do que isso tudo: os toureiros de frança não se queixaram. Nem à marina, nem ao dragão. Nem a mim próprio.
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    Consta porém que se terão queixado a Jeová:
    -Senhor, como é possivel que Vós permitais que Maomet envie touros bravos para nos encornar, nós que somos teus filhos abençoados e os escolhidos?
    -Não gozasteis com ele?
    -Um bocadinho Senhor. A ideia até era gozar com os 'estupidos que o seguem'.
    -Então, estais bem a ver, eu por muito menos já aniquilei vilas inteiras.
    -Mas poupaste os justos.
    -Pois foi, porque me pediram muito. A minha ideia era petrifica-los a todos de supeton, mas o vosso irmão que nomeei profeta, tinha argumentos inteligentes e contundentes e eu, vá, deixe-me ir na treta dele.
    -Mas, oh senhor Jeová, nós tambem fizemos bonecos com os simbolos dos cristãos em geral e com os papas católicos em particular, um ou outro judeu... não foram só os muçulmanos.
    -E...
    -E, Senhor, todos manifestaram descontentamento, mas só estes últimos é que nos encornaram à séria.
    -Pois não sei o que vos diga rapazes. Ide ali ao aquele atalho e falai com ele directamente.
    -Maomet está aqui Senhor?
    - Está, pois. Os católicos produziram tantas virgens pelos seculos afora que eu tive de chamar alguns muçulmanos lá de baixo para as aconchegar.
    - Então, quer dizer, Senhor, a estória das 70 virgens é mesmo verdade?
    - Parcialmente rapazes.
    - Como assim?
    - Eram de facto 70 virgens para cada jihadista dos anos 60, mas a produção de virgens tem vindo a diminuir bastante, pelo que, digamos, agora devemos ter umas 5 ou 6... para todos.
    - Isso é um problema, Senhor. E de entre tantos milhares de milhoes de jihadistas quem aconchega as raparigas em tão reduzido numero?
    - Maomet açambarcou-as todas rapazes. Ide lá. É logo ali depois do gabinete do meu Filho.
    .
    Rb

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  4. O Vivendi fez o favor de linkar no blogue dele uma entrevista do Pedro Arroja. E vi-a ontem à noite, no aeroporto de Amsterdam, enquanto apreciava a quantidade de loiras altas de olho azul.
    .
    O PA disse nessa entrevista, referindo-se aos cartoonistas de França, que o povo português guardou uma frase plena de sabedoria para aquele tipo de acontecimentos, que reza assim: «eles (os Charlies) estavam a pedi-las...»
    .
    Ora, eu que sou muito dado a este tipo de máximas populares, a ouvi-lo dizer aquilo, e a ver passar aquelas loiras deslumbrantes dei-lhe de imediato razão total. Elas estavam mesmo a pedi-las.
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    Pensamento puxa pensamento e eram para aí umas 2h da manha e dei comigo no ponto Nirvana, onde a filosofia atinge o ponto máximo. Ponto esse que chamarei de G. Isto, escusado será dizer, só está acessível a um punhado de Iluminados.
    .
    Nesse estádio mental, surgiu um problema grave. Elas estavam mesmo a pedi-las, o problema porém é que eu não lhes dei aquilo que elas estavam mesmo a pedir.
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    Dir-me-ão: porque és totó Rb. Se elas estavam a pedi-las tinhas que lhes dar.
    .
    É aqui que entra a filosofia avançada. Fiz-me esta pergunta profunda e intelectualmente pertinente a mim próprio: porque é que não lhes dás Rb se elas estão mesmo a pedi-las?
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    Preparava-me para desenvolver uma tese com método e racionalidade para responder aquela pergunta, quando oiço uma moça a falar em inglês que era a última chamada para um fulano com o meu nome. Sem tirar nem pôr. O primeiro e o ultimo nome eram os mesmos. O voo era o mesmo. Até a hora era a mesma que o meu voo.
    .
    Dirigi-me a uma menina loira bonita de morrer com fatiota azulinha clara, cabelo preso em rabo de cavalo, olho azul, mamas bem proporcionadas, uma saia justinha com um corte na parte de trás contundente, que estava mesmo a pedi-las e disse-lhe:
    - dê-me 10 minutos, sou aquele que chamou.
    - Eu levo-o comigo no carrinho, disse-me ela. É mais rapidinho.
    -Para onde? perguntei entusiasmado.
    - Para o gate F9, para onde haveria de ser? disse-me ela.
    - Ah, pronto.
    .
    PS. Quando apanhar o PA a jeito tenho que lhe contar esta estoria. Nem sempre quem um gajo pensa que está a pedir, está realmente a pedi-las.
    .
    Rb

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  5. «Mas havia de ser um problema de quem senão do próprio encornado?»

    Da mulher do encornado e, não raras vezes, do Caguinchas. Já o vi correr ainda meio por vestir.

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  6. «O PA já a conheceu...»

    Finalmente, algo que posso invejar ao PA.

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  7. Penso que o Jeová, e seus simpatizantes, se lhes perguntassem, diriam que é evidente que o Charlie estava a usar os jornalistas como escudos humanos.

    Pelo menos é o que costumam dizer...

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  8. Porra, o dragão já parece o ribeiro Cristóvão. Homem, afife-lhe no Pêra Manca.

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