quinta-feira, janeiro 15, 2015

A Obscenidade que nos alumia




A obscenitas remonta a Roma antiga onde já significava "indecência", "impudícia".  Por seu turno, "obscenus", adjectivo, era mais vasto: além de indecente, traduzia hediondo, horrendo, repelente e, noutra acepção mais reveladora, sinistro, funesto, de mau agouro.
Considerava-se naquela época que o mau presságio vinha do lado esquerdo. "Scaevus"  (esquerdo) significava também "sinistro", "desfavorável". "Scaevitas" era, por isso, a "desventura", a "infelicidade". E "Scaeva" designava "presságio", "agouro".
Obscenus conduz-nos a "ob-scaeva", ou seja, defronte do mau agouro, do mau presságio.
O nosso tempo é um tempo em que, mais que um combate feroz ao sagrado, assistimos a uma ocupação do território deste não tanto pelo simples profano (que só existe, na medida em que contrapõe, coabita e convive com o sagrado), mas, sobremaneira, pelo obsceno. Que, na verdade, não se contrapõe, sobrepõe-se. Não é a convivência que expressa ou exibe, mas a expropriação, a descrença e a devassa. A guerra ao sagrado traduz-se, entre outras maquinarias, na impugnação da regra - todo o tipo de regra. Por isso, o obsceno entrincheira-se no seu domínio e fortaleza fetiche: a Lei. Não espanta que o despudor, a desvergonha, o descaro, o cinismo, a desfaçatez se ostentem e arroguem sem qualquer temor, já que a própra lei - que vai sendo alfaiatada e entretecida à medida da desordem instalada - os protege e calafeta. Estando o sagrado usurpado pela lei, quem detém o mecanismo de legifacção, detém um poder absoluto sobre os corpos e as consciências. E exerce-o a rigor, sem qualquer rebuço nem escrúpulo. 
Entretanto, à medida que vai corroendo e soterrando o sagrado, o obsceno alastra como uma névoa negra e pestilenta que tudo cobre, penetra e uniformiza. Campeia assim a obscenidade não apenas nas artes, como também na justiça, na economia, nos governos, nas administrações, nos exércitos, nas polícias, nas famílias e, súmula permanente e ininterrupta de tudo isto, nos mass-media - seus centro fulcral de propagação e disseminação tóxica. As próprias éticas e as morais  empoleiram-se em valores puramente obscenos. É sinistro, hediondo e repelente, pois é. E não augura, acreditem, nada de bom.
Mais claro que isto, meus filhos, não consigo ser.



PS: talvez não percam nada em reler isto:
«Palavras com raíz -1. Regra»

9 comentários:

  1. Pois. Pior cego é aquele que não quer ver. A democracia ocidental é um vulcão prestes a entrar em erupção.

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  2. É necessário MANIFESTAÇÕES PELO DIREITO À SOBREVIVÊNCIA!
    (uma nota: os Nazis-à-USA irão opôr-se -> eles andam sempre à procura de pretextos para negar o direito à sobrevivência de Identidades Autóctones)
    .
    Todos diferentes, todos iguais!...
    -> Isto é: TODAS as identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta!...
    {nota: Inclusive as de 'baixo rendimento demográfico' (reprodutivo)!... Inclusive as economicamente pouco rentáveis!...}
    Resumindo: os 'globalization-lovers' que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa!
    .
    .
    .
    P.S.
    -> Nazismo não é o ser 'alto e louro', bla bla bla,... mas sim... a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!
    -> Para além dos hitlerianos, existem outros... um exemplo: os 'HOLOCAUSTERS' MAIS MASSIVOS DA HISTÓRIA (na América do Norte, na América do Sul, etc) são precisamente aqueles que buscaram/procuraram pretextos para negar o direito à Sobrevivência de Identidades Autóctones... nomeadamente, e em particular,... aqueles que argumentam que a sobrevivência de Identidades Autóctones prejudica a economia.
    .
    P.S.2.
    Separatismo-50-50.

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  3. Gabo a persistência do Pvnam. É assim uma espécie de ecologista franciscano apelando à coexistência pacífica entre as focas e as orcas.

    :O))

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  4. " Depois de o ler , em vez de um cretino qualquer, sinto-me um cretino importante" ( plágio "ajeitado...).
    Cpmts.

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  5. De acordo com zazie: GRANDE TEXTO.
    e não precisei de o ler senão uma vez.
    Abraço, Dragão.

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  6. Receio que estaremos ultrapassados, pela realidade.
    Os ovos começarama eclodir, as trevas estão de feição, e só vejo nevoeiro.
    Ás vezes, sinto-me um bocado orfão, era preciso aparecer alguém, que indicasse o caminho.
    Se o permitissem, claro.
    Não auguro nada de bom.

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  7. De facto, não se perde nada e ganha-se muito em relembrar isto o que escreveu em 2008:

    « Se me pedissem para traduzir numa única palavra esta anti-Regra vulgarmente conhecida por Estado, eu não hesitaria: O Mal. Uma monstruosidade contra a qual o combatente ideal teria que congregar a coragem dum Cristo e a tenacidade dum Hércules. »

    É o estado em que estamos, da obscenidade que nos encadeia.

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  8. Da minha parte, obrigado.

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