quinta-feira, julho 12, 2007

A Sina - II (ou Da Estatofilia)

Começo por saudar o interesse e o nível geral dos comentários ao postal anterior. Antes de emitir também o meu parecer -e adiantando desde já que não cultivo nem uma visão idílica nem infernal do regime salazarista - permitam-me (sem querer parecer o Manuel Monteiro) que atire mais umas achas para a fogueira. Já que estamos em época de incêndios...

«Esse socialismo de Estado, que muitos apregoam e aconselham como um regime avançado, seria, na verdade, o sistema ideal para lisonjear o comodismo nato e o delírio burocrático do comum dos portugueses. Nada mais cómodo, mais garantido, mais tranquilo, do que viver à custa do Estado, com a certeza do ordenado no fim do mês e da reforma no fim da vida, sem a preocupação da ruína e da falência. O socialismo de EStado é o regime burguês por excelência. A tendência para esse regime, entre nós, deve, portanto, procurar-se mais no fundo, falho de iniciativas da nossa raça do que noutras preocupações de ordem social. O Estado não paga muito mal e paga sempre. É-se desonesto, além disso, com maior segurança, com segura esperança de que ninguém repare. As próprias falências, os desfalques, as irregularidades, se há compadres na governação, são facilmente afastados e os défices cobertos - regalia única! - pelos orçamentos do Estado. As iniciativas, por outro lado, não surgem, não progridem, porque o padrão é imaterial, quase uma imagem. As coisas marcham com lentidão, com indolência, com sono. É possível que essa socialização tenha dado ou possa vir a dar óptimos resultados em qualquer outro país. Entre nós, os resultados não podem ter sido piores nalgumas experiências já feitas. Basta citar os Transportes Marítimos, os Bairros Sociais, os Caminhos de Ferro do Estado... Apenas uma excepção, que me lembre: a Caixa Geral de Depósitos. Essa é, realmente, uma iniciativa admirável do Estado Português, que tem prestado ao País, ao desenvolvimento da sua economia, sobretudo nestes últimos anos, incalculáveis serviços. (...)
Sou absolutamente hostil a todo o desenvolvimento de actividade económica do Estado em todos os domínios em que não esteja demonstrada a insuficiência dos particulares. Admito, sim, e procuro a cada momento desenvolver a intervenção dos poderes públicos na criação de todas as condições internas ou externas, materiais ou morais, necessárias ao desenvolvimento da produção. Essa intervenção é, mercê das dificuldades da época e dos problemas postos pela economia moderna, não só necessária, como cada vez mais vasta e complexa. Qualquer economia nacional que se encontrasse desacompanhada e desprotegida soçobraria em pouco tempo. Mas isso dificilmente se pode chamar socialismo de Estado.»

- Adivinhem quem?...


Nota: Chamo a atenção que estas declarações são de 1932. A entrevista foi publicada no DN, entre 19 e 23 de Dezembro desse mesmo ano.

2 comentários:

  1. É dele. Foi a política de reorganização das Finanças. O corporativismo era isso

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  2. Como estamos a caminho do socialismo é por isso que a CML tem pelo menos o dobro da gente que devia ter... e em outros sítios a situação não deve ser melhor...
    Temos bairros sociais, mais bairros sociais e ainda bairros sociais com quase todo o maralhal a receber do estado por não ter emprego decente.Por isso é que é preciso mais imigração...

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