Em 04 de Maio do Ano da Graça de 2004, o Dragoscópio, este local nefasto e hediondo, publicava o postal que se segue. Chamo a atenção para a "Agenda Progressista" que nele se vaticinava... E por favor não julguem que disponho de quaisquer dotes oraculares. Trata-se apenas da previsibilidade - mais que óbvia, parola e otusa - da imbecilidade militante. E globe-trotter.
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A fazer fé no meteorismo mediático, que a todas as horas ribomba e nos azucrina as orelhas, os grandes problemas da humanidade para o próximo milénio, pelo menos, resumem-se, se tanto, a meia dúzia. É uma lista pequena mas premente: diariamente, são feitas homilias, telejornais, e o espírito ruminante da manada é atafulhado com essa palha noticiosa. Ou melhor, é uma espécie de pó anabolizante, de engorda rápida, que lhe misturam na ração.
Mas enunciemos esses grandessíssimos e gravíssimos problemas:1. Interrupção voluntária da gravidez
2. Eutanásia
3. Casamento entre homosexuais
4. Adopção de crianças por casais homossexuais
5. Legalização das drogas moles
6. O sexto é opcional. Uma espécie de sobremesa.
Se é certo que já vivemos no melhor dos mundos, uma vez resolvidos estes tremendos problemas é-nos garantido que passaremos a viver no mais excelente dos paraísos.
Sobre a questão 1., já falei aqui atrás e mantenho integralmente o que então bramei. Sobre a 2., elucubrarei brevemente. Por hoje, atenhamo-nos às duas que, de entre todas estas urgentes, são, sem sombra de dúvida, as mais importantes: a 3. e 4., pois claro.
De facto, não sei o que será da humanidade, do planeta, da civilização, se continuarem a vedar os altares e os nenucos vivos aos gays. É preciso acabar com esse resquício fascista. É, sim senhor! Até porque, atestam-no várias sumidades espertíssimas, pode nascer-se gay como se nasce preto ou branco ou mongolóide ( Trissonomia 21, para pessoas do jet-set).
Pois bem, eu hoje sinto-me liberal. Em conformidade com esse meu singular (e raro) estado de espírito, proclamo que os homossexuais devem poder casar. Mas casar com todas as regras: não só pelo registo civil como também pela Igreja. Especialmente, pela igreja. Já estou mesmo a imaginá-los no dia de Santo António, aos magotes cacarejantes, "elas" de vestido e véu, eles de fraque rosa choque, todos a posarem para a fotografia, os sinos a badalarem em júbilo cristão, e o padre, diáfano, a benzer e a abençoar a panelei..., quer dizer, os novocrentes.
Vão por mim: Deixem-nos casar pela igreja, permitam que se enpanzinem de hóstias e vereis que Deus ressuscita, o ateísmo passa de moda e até o Carlos Esperança corre a peregrinar Fátima. Mais: Até a Santíssimia Inquisição volta e ninguém protesta.No capítulo do casório, se me permitem, vou ainda mais longe: além do civil e do religioso, também deveriam ter direito ao tradicional, aquele matrimónio típico das áfricas em que o noivo tem que pagar alambamento ao pai da "noiva". Uns cabritos, uns bacalhaus, umas latas de conserva e uns litros de gasolina sempre são alguma compensação para um pai que tenha o azar de lhe nascer um filho bichon..., quer dizer, homossexual. Ao menos, não é só prejuízo.Quanto à adopção de crianças, logicamente, também estou de acordo. É deixá-los. Devem até ter prioridade em relação aos casais hetero. Basta que se equipem as crianças com (primeiro) fraldas (e depois) cintos de castidade. Pelo menos até atingirem a maioridade. Ou então, reune-se uma comissão de sábios especialistas, daquelas muito iluminadas e peregrinas, que apura, em menos de nada e sem margem para dúvidas, quais as crianças homossexuais e quais as heterossexuais, pois, segundo a novociência, elas já nascem com essas singularidades, coitadinhas. Uma vez determinada essa idiossincrassia inata, os casais homo adoptam crianças homo e os casais hetero adoptam crianças hetero. Já agora, se não é pedir muito, convinha que os americanos aperfeiçoassem a máquina das ecografias de modo a que a bendita prospecção pudesse ser feita logo no útero materno. Por lei constitucional, e em correcção judicial ao erro da natureza, os nascituros gays passariam a ser expropriados aos progenitores naturais e entregues a famílias homo. Poupavam-se, com isso, desgostos à família inicial e burocracias à adoptiva. Tinha ainda outra vantagem: se deixássemos os homos adoptarem bebés, todos, sem excepção, passariam a insurgir-se contra o aborto, e já não se gastava tempo nem dinheiro com referendos. Em vez de abortarem, as mães preocupadas com o seu futuro nas discotecas e passereles, entregavam os empecilhos para adopção. Donde se depreende, mais uma vez, que resolver os problemas dos gays é resolver, por simpatia, todos os problemas da humanidade.Todavia, não nos admiremos se daqui por uns tempos, resolvidos estes enormíssimos problemas, irrompam de pronto -e aos gritos - outros, talvez menores, sua prole, mas não menos candentes. Assim, precavendo desde já o iceberg que esta pequena ponta visível anuncia, o melhor mesmo é irmos adiantando serviço. Para o efeito, e acautelando futuras e fatais erupções:
* Autorize-se, desde já, o divórcio entre homossexuais;* Reservem-se-lhes lugares exclusivos nos parques de estacionamento, como já existe para os deficientes (é justo e obedece à mesma lógica);
* Priorizem-se-lhes assentos nos transportes públicos, como já existe para grávidas, idosos e acompanhantes de crianças de colo;
* Instaure-se uma discriminação positiva na sociedade pró-Apartheid sexual, tal qual se fez na África do Sul no pós-Apartheid racial.
* Decretem-se cotas mínimas gays no parlamento, no governo, nas carreiras judiciais, nas forças de segurança e nas forças armadas. Sem esquecer os bombeiros, os hospitais e todos os serviços que impliquem o uso de farda; sobretudo a Marinha;
* Isentem-se de impostos;* Obriguem-se as instituições bancárias a abrirem linhas de crédito Homo, como já existem outras como o "Crédito Sénior", ou "júnior", ou "crédito agrícola", etc;
* Criem-se bolsas de estudo para homossexuais;
* Subsidiem-se escolas, infantários, creches, liceus e universidades homossexuais;
* Instituam-se reservas e coutadas homossexuais, sobretudo na cultura e nas artes, isto é, legalize-se o actual comércio informal naquelas áreas; concedam-se alvarás;
* Converta-se a TV2 em canal gay;* Nos restaurantes, aviões e espaços quejandos, além de áreas para fumadores e não fumadores, estabeleçam-se também áreas para homossexuais e não-homossexuais.
* Consigne-se na lei a homossexualidade como atenuante, senão mesmo alibi, para qualquer tipo de crime, sobretudo económico;Em resumo, converta-se "homossexualidade" em critério prioritário. Seja daquilo que for.
Com isto, termino. Espero que este meu contributo para a paz social e a descompressão de jornais e televisões não caia em cesto roto. (Que é como quem diz...)
Entretanto, fica desde já a promessa:Numa próxima oportunidade, tenciono debruçar-me sobre os gordos e os feios. Também se nasce gordo ou feio, quanto a isso, então, é que não há mesmo dúvidas, e também se é discriminado negativamente por causa disso.
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Agora reparem, depois da cegada que foi o recente referendo ao aborto, nas notícias de hoje pode já ler-se:
«Juventude Socialista reapresenta lei para casamentos "gays"»À esquerda barbie poderemos sempre chamar tudo menos surpreendente.
A despenalização do aborto obriga alguem a pratica-lo?
ResponderEliminarO reconhecimento da existência da homossexualidade contamina alguém?
Entendo estas intervenções como objectivo de abrir discussões, a partir da idiea que por se ser descriminado pelo aspecto físico se legitimam outras descriminações.
Se não diria: Mas que confusão vai nesta cabeça! Salva-se a ironia e o estilo.
Foi por alturas deste post que me tornei fã ehehe
ResponderEliminarJá estava à espera desta segunda "medida do pacote´, só me surpreende por falarem tão cedo.
Mesmo que mais nenhum motivo existisse, bastaria olhar mais do alto (como tu consegues) para se resistir a este admirável mundo que se apresenta pela frente
O Erecteu, por exemplo, ainda anda pela raminha e deixa-se ir na onda. Como se esta onde não tivesse um programa doutrinário por trás e como se esse programa não fosse um mundo às avessas e plastificado
ResponderEliminarO esfinctereu, perdão, erecteu, ainda não deve ter lido a nova bojarda totalitario-censória do Oliveira Arrastão...
ResponderEliminarBrilhante, caro Dragão!
ResponderEliminarEh! eh! eh!
ResponderEliminarÓ sr. Erecteu, mas que belo argumento! A eventual despenalização da tortura também não obriga ninguém a praticá-la.
"Diria": Presumo que seja a favor. Mas que cabeça vai nessa confusão! Mas não digo.
Fico esclarecido depois do coment que aqui apagaram onde citava CC.
ResponderEliminarMeter a tortura pela IVG se não é meter os pés pelas mãos´...
Fico esclarecido, também, que a penalização do aborto, será para 2C, uma medida útil para dissuadir a sua prática clandestina e que os filhos indesejados que se lixem.
Ora 2C, felicito-te por teres a cabeça tão bem arrumada.
Devido à tua iluminada opinião, ó Erecteu, opinião essa que ganhou o ignóbil referendo, é que filhos indesejados se vão "lixar" daqui em diante. Porque os seus papás, antes e durante a foda, não se lembraram que não queriam filhinhos.
ResponderEliminarPela minha parte, eles deviam nascer. Como nasceram tantos que eu conheço, que não foram "desejados".
A vida não é um blog, pá.
E, sim senhor, a penalização do que quer que seja dissuade a sua prática. É dos livros.
isto agora é umas atrás das outras...
ResponderEliminarou uns atrás dos outros (referendos).
Sou um leitor assíduo do seu “blog”, mas nunca comentei, apenas me diverti a ler.
ResponderEliminarMas desta vez e por acumulação de vários textos superiormente escritos neste sítio da Internet, “vai ter de ser”!
Excelente, caro Dragão, excelente!
O Sentinela.