domingo, janeiro 21, 2007

Memórias Palramentares



Em 9 de Outubro de 1975, salvo erro, Jerónimo de Sousa arengava na Assembleia Constituinte...

«Jerónimo de Sousa (PCP) - (...) é de lamentar que o Ministério através do Ministro e do seu Secretário não tivesse a ombridade de refutar a justeza dos pontos acordados perante os metalúrgicos, e se sirvam agora dos écrans da televisão para salvar a face acobardada perante o patronato.

(Agitação na Assembleia)

Porque é que... - tenta prosseguir J.S.
Uma voz: - Provocador!
J.S:: - Cala-te, amarelo!

(Burburinho)

Presidente: - pede-se a atenção.
J.S: - Amarelo!
Uma voz: - Está-nos a insultar.
Presidente: - Srs deputados, pede-se atenção.

(Apupos)

... Não há direito nem autorização para interromper o orador. O orador está no uso da palavra.

(As manifestações generalizaram-se a um grande sector do hemiciclo.)

J.S.: - Porque é que o sr. ministro procura atirar os camponeses contra os operários?

(Tumulto. Vozes de apoio de um lado e de desagrado de outro)

Presidente: - Pede-se atenção e pede-se que não haja diálogo, que não é permitido. O sr.deputado está no uso da palavra.

(O burburinho continua. A agitação é grande)

J.S.: Não sabe o sr. ministro...

(Aumenta de intensidade a agitação)

Presidente: - Pede-se atenção, srs deputados. A Mesa exige atenção.
J.S.: - Deixe lá, sr. presidente, a burguesia manifesta-se.
Uma voz: - Burguês és tu!
Outra voz: - Provocador!
Mais outra voz: - Vai trabalhar!
Presidente: - A Mesa exige atenção por razões que são dela e por razões que são do sr. deputado.
J.S.: Não sabe o sr. ministro...

(Burburinho)


Presidente: - Fazem favor de deixar prosseguir.
J.S.: - Não sabe o sr. ministro que nós, metalúrgicos, que estamos a auxiliar os camponeses com brigadas de fim de semana para ir arranjar os tractores, subsídios de 250 contos...

(Apupos e vozes dispersas. Aumenta de intensidade a agitação)

... O sr. ministro e o sr. secretário lembrar-se-ão dos camponeses quando estão a receber o cheque de dezenas de contos de salário? Porque é que o sr. ministro afirma que a portaria é um acto fascista? Porque é que o sr. ministro e o sr. secretário afirmam que é preciso trabalhar mais e ganhar menos? Por que será que o sr.ministro e o sr. secretário afirmam que as empresas estão em dificuldades? Que raio de Ministério de Trabalho é este?

(Gera-se o pandemónio, que se prolonga durante algum tempo. Deputados de pé manifestam atitudes agressivas)

Presidente: - Insisto em pedir atenção.
J.S.: - Então nós não temos dificuldades?
Uma voz: - Está calado, pá, vai trabalhar.
Ainda outra voz: - Tens mesmo cara de ser trabalhador!...

(Pandemónio. De punho erguido deputados do PC e do PS envolvem-se em discussão de sector para sector)

presidente: - Insisto em pedir a atenção. teremos de suspender a sessão, se continuarmos assim.
J.S.: - Posso continuar, sr. presidente? Posso continuar, sr. presidente?
Presidente: - O orador pode, evidentemente, continuar.
J.S.: Então nós não temos dificuldades? (...) É este o Governo de salvação nacional?
Vozes em coro: - É!

(Risos)

J.S.: - É assim que o Governo quer salvar a Revolução?
Vozes: - É!

(Risos)

J.S.: - Tal como no fascismo, nós mostraremos a força da classe operária e não tenhamos ilusões, srs. deputados.
Vozes: - Pois não!
Uma voz: - Vai trabalhar!
Outra voz: - Tu e o Américo Duarte sois a vergonha da nossa classe!»

- in "Cenas Parlamentares -Humor, agitação e ataques na Constituinte", de Victor Silva Lopes

Não, não era o fim da macacada. Era apenas o início.

3 comentários:

  1. O maior herói do hemiciclo, nesta vertente risível, chama-se Jaime Mil-Homens. Denodado deputado do PSD, por Aveiro, notabilizou-se em desancar com boquejos constantes quem lhe desagradava, real ou putativamente, oferecendo ao espectador, o paradigma do deputado burgesso.
    Avé, Mil-Homens! Fazes falta, para vergonha dos imitadores.

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  2. Soneto colocado por um anónimo na Campa do Dr. António Oliveira Salazar, alguns dias depois do seu falecimento, em Vimieiro, S. Comba Dão

    Não venho falar de gratidão
    Nem dizer-te, sequer, muito obrigado!
    Não me chega p’ra tanto o coração,
    Por mais que a fé o tenha dilatado!

    Um dia, falará de ti a História!
    Entre nautas, guerreiros mártires e Santos,
    Terá lugar mais um nome, outra Glória,
    A acrescentar a tantas e a tantos!

    Não é só da Pátria bem merecido
    Quem lhe oferece o sangue derramado,
    Mas também quem por ela haja vivido.

    Uma existência de sacrificado!
    Se p’lo rancor dalguns foste atingido,
    Também o foi Jesus Crucificado…

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  3. Caro José:
    1) Agradecia que não insulte um parente meu em 2º grau.
    2) O pobre dedicou toda a sua juventude a colar cartazes e a parasitar o JSD, tamanho esforço decerto merecia a devida recompensa.
    3) Ninguém mandou à população do distrito de Aveiro votar em massa no PSD e eleger o deputado Nº 876 da lista
    4) Ele agradece a reforma devida à dedicação ao serviço público.

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